Ancião

O termo “ancião” (πρεσβύτερος, presbyteros em grego, de onde vem presbítero e presbitério; זָקֵן, zaken em hebraico) na Bíblia, refere-se a pessoas mais velhas e experientes que atuavam em prol de saus comunidades.

No mundo antigo, a idade e a experiência eram altamente valorizadas, e as pessoas mais velhas assumiam naturalmente posições de influência em diferentes esferas sociais. A igreja primitiva seguiu esse modelo cultural, reconhecendo nos mais maduros fontes de sabedoria e orientação.

No Antigo Testamento, os anciãos se referem tanto às figuras respeitadas que aconselhavam as aldeias, as tribos e o povo de Israel. Como mediadores informais, eram responsáveis por administrar a justiça, resolver conflitos e tomar decisões importantes para a comunidade.

No Novo Testamento, o termo “ancião” é usado para descrever ministros dentro da igreja cristã primitiva. Eles eram responsáveis por manter a ordem, preservar a doutrina e cuidar do bem-estar espiritual do rebanho. Em 1 Timóteo 5:2 aparece as anciãs ou presbyteras na obra de cuidado da igreja.

Um dos tratamentos mais exaustivos sobre os anciãos na igreja primitiva foi compilado por Alastair Campbell (1994), em The Elders: Seniority within Earliest Christianity, onde argumenta que o ministério da igreja primitiva era exercida por um grupo de anciãos, e não por um único indivíduo e tampouco seria um cargo distinto. Demonstrou que o papel dos anciãos não era uma posição formalmente designada com deveres específicos, mas sim um status honorífico adquirido de maneira orgânica, baseado no respeito e na sabedoria acumulados por muito tempo dentro da comunidade.

Os termos usados no Novo Testamento para se referir aos anciãos, como presbyteros, pastores e episkopos (supervisor) inicialmente descreviam qualidades e funções dentro da comunidade, e não um cargo oficial. Em Atos 20 esses três termos aparecem de forma intercambiáveis. Os escritos da igreja primitiva (Clemente de Roma 44.4-5, Didaquê 13.3; 15.1-2, Pastor de Hermas Vis. 2.2.6, 3.5.1, Mand. 11.9, Sim. 9.15.4) usam os termos ​​de forma intercambiável, descrevendo uma pluralidade deles dentro de cada congregação local com função de ministério e cuidado pastoral sem hierarquia. Ao longo da Carta aos Filipenses (5.3; 6.1; 12.2) Policarpo fala apenas de uma pluralidade de πρεσβύτεροι e διάκονοι; o termo ἐπίσκοπος nunca aparece. O episcopado monárquico (um único bispo governando uma cidade ou região) se desenvolveu mais tarde na história da igreja.

Os costumes da igreja primitiva, com base no Novo Testamento e em escritos cristãos antigos, indicam que as estruturas de governança eram fluidas e variadas, e que os anciãos emergiam naturalmente como figuras respeitadas devido à idade, experiência e maturidade espiritual. Há poucas evidências de que, nos primeiros tempos do cristianismo, permitem inferir que os anciãos fossem formalmente nomeados ou ordenados. O termo traduzido para ordenação ou imposição das mãos simplesmente significa “indicados” ou “eleitos mostrando as mãos”.

A condição de ancião não era conferida por um ato formal, mas sim construída ao longo do tempo, por meio da demonstração constante de virtudes cristãs, sabedoria e compromisso com a comunidade. Esse reconhecimento se dava de forma espontânea, sem necessidade de nomeação ou ordenação formais.

Não havia na igreja primitiva nada similar à gerusia, conselho deliberativo autoperpetuante que elegia seus próprios membros por aclamação.

Havia uma flexibilidade e a diversidade do papel dos anciãos na igreja primitiva. Eles exerciam diferentes funções, como ensino, pregação, aconselhamento pastoral e mediação de conflitos. O que um ancião fazia dependia tanto das necessidades da comunidade quanto dos dons individuais que possuía.

BIBLIOGRAFIA

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Uma consideração sobre “Ancião”

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