Textus Receptus

O Textus Receptus (sigla TR), em sentido estrito, é o nome dado à família de versões impressas do Novo Testamento entre o século XVI e o final do século XIX.

Trata-se de um texto eclético feito da comparação de alguns poucos manuscritos bizantinos tardios, iniciada por Erasmo de Roterdã. Não é a mesma coisa que Texto Majoritário ou Texto Bizantino. Por exemplo, entre o TR de Scrivener e o Texto Majoritário da edição de Hodges e Farstad (1985) há 1,838 diferenças. Contudo, o tipo textual do Textus Receptus em geral se enquadra em leituras da família do tipo bizantino, exceto no livro de Atos e em partes do Apocalipse, onde predominam um tipo alexandrino.

Para sua primeira edição, a qual se tornaria o texto-base para o Textus Receptus, Erasmo utilizou os seguintes manuscritos:

Designação LocalizaçãoSéculoFamília TextualConteúdoUso por Erasmo
Códex 1Basileia, Universitätsbibliothek, AN IV 2Séc. XIIBizantinaEvangelhos, Atos, EpístolasFonte primária para a maior parte do Novo Testamento
Códex 2Basileia, Universitätsbibliothek, AN IV 1Séc. XVBizantinaEvangelhos, Atos, EpístolasSuplementou o Códex 1
Códex 2eBasileia, Universitätsbibliothek, AN III 11Séc. XIIBizantinaEvangelhosUsado para comparação
Códex 1rBasileia, Universitätsbibliothek, AN IV 2, fol. 194–206Séc. XIIBizantinaApocalipseÚnico manuscrito grego completo do Apocalipse disponível para Erasmo
Códex 3Basileia, Universitätsbibliothek, AN III 15Séc. XVBizantinaEvangelhosUsado esporadicamente
Códex 4Basileia, Universitätsbibliothek, AN III 12Séc. XIIBizantinaEvangelhosUsado para comparação
Vulgata LatinaN/AN/AN/ABíblia InteiraRetrovertida para o grego para lacunas/leituras pouco claras

As versões mais conhecidas do Textus Receptus são as de Erasmo, Stephanus, Beza, Elzevier e Scrivener.

As primeiras edições do Textus Receptus foram feitas por Erasmo em 1516, 1519, 1522, 1527, 1535. Logo apareceram edições de igual teor, algo que seria hoje pirataria, como as de Aldo Manucio 1518, Gerbelius 1521, Cephalius 1524 e 1526, e Colinaeus 1534.

Com Stephanus (Robert Estienne), veio sua influente Editio Regia de 1550. Seria a primeira a fornecer um aparato mostrando leituras variantes. A próxima revisão substancial veio com as edições de Teodoro Beza de 1565, 1582, 1588 e 1598. Por fim, a edição de Elzevir (1633) consolidou a predominância do TR.

O Textus Receptus serviu de base para boa parte das traduções da época da Reforma. Lutero empregou a edição de Erasmo de 1519 para o Alemão. João Ferreira de Almeida utilizou a edição de Jan Jansson (1639). A versão King James, por ser uma revisão de várias versões anteriores, reúne leituras diversas, mas teve influência maior da edição de Beza 1598. A versão Almeida Corrigida Fiel não foi baseada nessas edições da era da Reforma, mas na edição de Scrivener 1894.

Outras edições contemporâneas da Reforma, como a Aldina de 1504 e a Complutense, são semelhantes, mas não foram influenciadas pelo TR. Mas o inverso é verdadeiro: tanto a Aldina quanto a Complutense vieram a influenciar a formação do TR.

O termo “Textus Receptus” vem do prefácio da edição de Elzevir (1633) em Leiden, o qual afirmaram o consenso da época:

Textum ergo habes, nunc ab omnibus receptum: in quo nihil immutatum aut corruptum damus. “Então você mantém o texto, agora recebido por todos, no qual nada é corrompido”.

Os avanços dos estudos do Novo Testamento grego do século XVIII por biblistas como John Mill, Richard Bentley, J. J.Wettstein, J. A. Bengel e J. J. Griesbach apontaram vários problemas com o TR. Em resposta essas questões, no século XIX iniciaram as pesquisas que culminaram nos textos críticos atuais.

BIBLIOGRAFIA

Metzger, Bruce M. The Text of the New Testament, 2d ed. Oxford: Oxford University Press, 1968.

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