Edição crítica

As edições críticas de manuscritos são publicações acadêmicas que visam fornecer uma representação confiável e precisa de um texto. Essas edições são normalmente produzidas por meio de um processo de crítica textual, que envolve a comparação de diferentes versões manuscritas de um texto e a tomada de decisões editoriais sobre como apresentar o texto da forma mais precisa e autêntica possível. Acompanham notas e aparatos que subsidiam a leitura adotada.

Existem dois tipos principais de edições críticas: as diplomáticas e as ecléticas.

Uma edição diplomática é um tipo de edição crítica que visa reproduzir um manuscrito o mais fielmente possível, incluindo sua ortografia, pontuação e formatação. O editor de uma edição diplomática normalmente transcreve o manuscrito usando um sistema padrão de símbolos para representar leituras variantes, abreviações e outras características do texto. O objetivo de uma edição diplomática é fornecer aos estudiosos uma representação clara e precisa do conteúdo du manuscrito. As variantes e alternativas de leituras vão anotadas no aparato crítico. A Bíblia Hebraica Kittel é uma edição diplomática do manuscrito massorético de Lenigrado.

Uma edição eclética, por outro lado, é um tipo de edição crítica que usa uma combinação de diferentes versões manuscritas para criar um novo texto que representa o melhor julgamento filológico sobre um original imaginado. Edições ecléticas normalmente envolvem um processo de comparação e avaliação de diferentes versões manuscritas, identificação de leituras variantes e tomada de decisões editoriais sobre quais leituras incluir no texto final. Apesar dos nomes, tanto o Texto Receptus (baseado originalmente em seis manuscritos) e o contemporâneo Texto Crítico (baseado em milhares de fontes) são edições ecléticas.

Quanto à extensão, uma edição crítica classifica-se em editio minor ou edição manual e editio major. A editio minor é destinada a ser em um só volume, portanto, com menor número de notas a aparatos críticos. A Bíblia Hebraica Stuttgartensia e o Novum Testamentum Graece são exemplos de edições manuais. Uma edição maior busca reunir um número maior de detalhes, como a transformação do texto ao longo da história. Está em curso a publicação da Editio Critica Maior do Novo Testamento Grego.

Johannes Janssonius

Johannes Janssonius (1588– 1664) ou Jan Janszoon, Joannis Jansson foi um editor e cartógrafo holandês.

Filho de um livreiro e editor, foi um dos mais bem-sucessidos editores e livreiros de sua geração. Tinha lojas em Amsterdam, Danzig, Estocolmo, Copenhague, Berlim, Königsberg, Genebra e Lyon.

Jansson editou a Bíblia Hebraica de Manasseh Ben Israel e uma edição do Textus Receptus do Novo Testamento grego, em 1639, certamente a empregada por João Ferreira de Almeida para sua versão em português.

BIBLIOGRAFIA
Cavalcante Filho, Jairo Paes. “O método de tradução de João Ferreira de Almeida: O caso do Evangelho de Mateus.” Mestrado em Ciências da Religião. Universidade Metodista de São Paulo, 2013.

Janssonius, Johannes. Η ΚΑΙΝΗ ΔΙΑΘΗΚΗ Novum Testamentum: Ex Utraque Regia, Aliisque optimis editionibus summo studio expressum. Amsterdam: Typis ac Sumptibus Joannis Janssonii, 1639.

Textus Receptus

O Textus Receptus (sigla TR), em sentido estrito, é o nome dado à família de versões impressas do Novo Testamento entre o século XVI e o final do século XIX.

Trata-se de um texto eclético feito da comparação de alguns poucos manuscritos bizantinos tardios, iniciada por Erasmo de Roterdã. Não é a mesma coisa que Texto Majoritário ou Texto Bizantino. Por exemplo, entre o TR de Scrivener e o Texto Majoritário da edição de Hodges e Farstad (1985) há 1,838 diferenças.

As versões mais conhecidas do Textus Receptus são as de Erasmo, Stephanus, Beza, Elzevier e Scrivener.

As primeiras edições do Textus Receptus foram feitas por Erasmo em 1516, 1519, 1522, 1527, 1535. Logo apareceram edições de igual teor, algo que seria hoje pirataria, por Aldo Manucio 1518, Gerbelius 1521, Cephalius 1524 e 1526, e Colinaeus 1534.

Com Stephanus (Robert Estienne), veio sua influente Editio Regia de 1550. Seria a primeira a fornecer um aparato mostrando leituras variantes. A próxima revisão substancial veio com as edições de Teodoro Beza de 1565, 1582, 1588 e 1598. Por fim, a edição de Elzevir (1633) consolidou a predominância do TR.

O Textus Receptus serviu de base para boa parte das traduções da época da Reforma. Lutero empregou a edição de Erasmo de 1519 para o Alemão. João Ferreira de Almeida utilizou a edição de Jan Jansson (1639). A versão King James, por ser uma revisão de várias versões anteriores, reúne leituras diversas, mas teve influência maior da edição de Beza 1598. A versão Almeida Corrigida Fiel não foi baseada nessas edições da era da Reforma, mas na edição de Scrivener 1894.

Outras edições contemporâneas da Reforma, como a Aldina 1504 e a Complutense, são semelhantes, mas não foram influenciadas pelo TR. Mas o inverso é verdadeiro: vieram a influenciar a formação do TR.

O termo “Textus Receptus” vem do prefácio da edição de Elzevir (1633) em Leiden, o qual afirmaram o consenso da época:

Textum ergo habes, nunc ab omnibus receptum: in quo nihil immutatum aut corruptum damus. “Então você mantém o texto, agora recebido por todos, no qual nada é corrompido”.

Os avanços dos estudos do Novo Testamento grego do século XVIII por biblistas como John Mill, Richard Bentley, J. J.Wettstein, J. A. Bengel e J. J. Griesbach apontaram vários problemas com o TR. Em resposta essas questões, no século XIX iniciaram as pesquisas que culminaram nos textos críticos atuais.

BIBLIOGRAFIA

Metzger, Bruce M. The Text of the New Testament, 2d ed. Oxford: Oxford University Press, 1968.