Caverna dos Tesouros

Caverna dos Tesouros é uma narrativa parabíblica e obra pseudoepigráfica (atribuída a Efrém, o Sírio) composta em siríaco no final do século VI, com versões em árabe e etíopes. Algumas recensões confundem-se com outra obra similar, o Conflito de Adão e Eva com Satã. Deve sua introdução ao mundo ocidental por Giuseppe Simone Assemani (1687-1768).

Este texto antigo representa uma das primeiras obras cristãs que reconta a história das interações de Deus com a humanidade, desde Adão até Cristo.

O autor da Caverna dos Tesouros referiu-se à sua obra como “O Livro da ordem da sucessão das Gerações”, ou seja, a descendência de Cristo desde Adão. Rejeitou as tabelas genealógicas comumente usadas entre seus contemporâneos, afirmando que elas haviam sido destruídas pelo exército babilônico liderado por Nabucodonosor. Consequentemente, o autor procurou fornecer uma genealogia alternativa, que cristãos, árabes, núbios, egípcios e etíopes consideraram confiável no rastreamento de suas respectivas linhagens.

O título “Caverna dos Tesouros” provavelmente carrega um duplo significado, simbolizando tanto o status do livro como um repositório de conhecimento valioso quanto a lendária caverna onde, segundo a tradição, Adão e Eva viveram após serem expulsos do Paraíso. Dizia-se que esta caverna continha materiais preciosos como ouro, incenso e mirra, daí o “A Caverna dos Tesouros”.

Embora a Caverna dos Tesouros Siríaca ofereça detalhes mínimos sobre os atributos físicos da caverna em si, outro texto, o “Livro de Adão e Eva”, dedica uma seção inteira para descrever as características da caverna e a vida diária de Adão e Eva em seu interior.

Um tema consistente nesses escritos é a tipologia de Adão como prefiguração de Cristo. Notavelmente, uma seção proeminente do texto, conhecida como Hexaemeron, narra a criação e divide a história humana em várias eras (eons) ou “dias”. Depois, cobre os 5.500 anos desde a criação de Adão até o nascimento de Cristo. Esta extensa linha do tempo é dividida em cinco milênios, cada um compreendendo mil anos, e um capítulo final cobrindo os quinhentos anos restantes, culminando no advento de Cristo. Os capítulos abrangem:

O primeiro milênio: Desde a criação do mundo até os descendentes de Sete descendo de sua morada na montanha e misturando-se com os descendentes de Caim.

O segundo milênio: abrangendo desde a invenção da música pelos descendentes de Caim até a época do Dilúvio.

O terceiro milênio: Abrangendo o período desde o Dilúvio até o reinado de Ninrode.

O quarto milênio: Começando com a ascensão de vários reinos (Egito, Sabá, Ofir, Havilá, Índia) e continuando até o juiz Eúde.

O quinto milênio: abrangendo o período desde a era do juiz Eúde até o reinado de Ciro, o Grande.

O sexto milênio: detalhando os quinhentos anos desde o reinado de Ciro até o nascimento de Cristo.

Similar à midrash judaica e ao Livro dos Jubileus, essa versão cristianizada integra a narrativa bíblica (expandida) para contemplar outros povos na história de salvação. É uma obra importante também para crítica textual, pois atesta que foram usadas diferentes fontes das disponíveis hoje para o Antigo Testamento.

Deixe um comentário