Ernesto De Martino

Ernesto De Martino (1908- foi um etnólogo, filósofo e historiador das religiões italiano, nascido em Nápoles em 1908. Ele é mais conhecido por seus estudos sobre as crenças e rituais populares do sul da Itália, especialmente na região da Campânia.

Inicialmente formado como filósofo, o trabalho de De Martino focou na relação entre antropologia, psicologia e mitologia. Ele estava interessado em compreender como os indivíduos e as comunidades lidam com situações de crise, como doenças, morte e mudanças sociais, através do uso de rituais e crenças.

Ernesto de Martino contribuiu com os conceitos de ‘presença’ e ‘crise de presença’ no que se refere ao bem-estar humano e ao papel do ritual na abordagem das incertezas da vida. Esses conceitos elucidam como os indivíduos navegam na instabilidade inerente à existência.

De Martino usa o termo “presença” para descrever o esforço humano para dar sentido à vida enquanto enfrenta uma incerteza potencial. Refere-se ao estado de estar totalmente engajado e consciente no momento presente, apesar da instabilidade inerente à vida. Este conceito sugere um esforço consciente para encontrar significado e estabilidade em meio aos desafios da vida.

Por outro lado, “crise de presença” refere-se aos momentos em que os indivíduos mergulham no caos ou experimentam uma perturbação no seu sentido de estabilidade e significado. Estas crises podem ser desencadeadas por vários fatores, tais como desafios pessoais, mudanças sociais ou incertezas existenciais. A exploração da “crise da presença” por De Martino implica uma compreensão da fragilidade do bem-estar humano e da constante ameaça de desestabilização.

O antropólogo via o ritual como resposta. De Martino sugere que os rituais desempenham um papel crucial na abordagem da ‘crise de presença’. Os rituais, neste contexto, envolvem lidar com os aspectos “negativos” da vida, a fim de “normalizar” ou restaurar um sentido de ordem e significado. Ao participar em rituais, os indivíduos tentam mitigar os efeitos perturbadores das crises e recuperar um sentido de presença e estabilidade.

Uma de suas obras mais famosas é “A terra do remorso: um estudo do tarantismo do sul da Itália” (1961), em que investiga o fenômeno do tarantismo, um ritual de dança tradicional praticado na região de Salento, na Apúlia. De Martino interpretou o tarantismo como uma resposta cultural ao trauma psicológico, especificamente o medo de ser picado por uma aranha tarântula, e viu-o como uma forma de resolver conflitos internos e restaurar o equilíbrio psicológico.

Outro trabalho importante de De Martino é “Magic: A Theory of Culturological Explanation” (1958), no qual apresenta uma teoria da magia como um sistema cultural de símbolos e significados que permite que indivíduos e grupos enfrentem a incerteza e a mudança.

Quanto à cosmovisão e mudança social, De Martino explorou como as religiões vernáculas oferecem visões de mundo alternativas e sistemas simbólicos que podem capacitar comunidades marginalizadas para desafiar as estruturas sociais dominantes.

O trabalho de De Martino sobre a continuidade histórica entre formas antigas de religião popular e movimentos carismáticos modernos sobrevive em certas formas rituais e elementos simbólicos. Tais aspectos persistem ao longo dos séculos, transformando-se mesmo à medida que se adaptam a novos contextos culturais.

O papel do corpo e da corporalidade na experiência religiosa pode ser relevante para a compreensão das práticas como possessão de espíritos, dança ritual e cura pela fé. O corpo seria um local onde significados sociais e culturais são inscritos e contestados.

Embora não tivesse estudado o pentecostalismo italiano diretamente, suas teorias foram aplicadas nos estudos etnográficos conduzidos pelo antropológo George Saunders.

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