Expiação

Expiacão, em termos teológicos, refere-se ao ato de reparar ou restaurar as condições afetadas por uma transgressão, culpa ou pecado. O objetivo da expiação é a reconciliação, o perdão e a restauração da comunhão com o divino. A expiação pode assumir formas e significados específicos, como no cristianismo, onde a encarnação, ensinos, obras, morte, ressurreição e ascenção de Jesus Cristo integram a obra expiatória pelos pecados da humanidade.

A palavra grega ἱλάσκομαι (hiláskomai) e seus cognatos (ἱλασμός, ἱλαστήριον) refletem temas expiatórios. Em geral, o verbo hiláskomai expressa a ideia de apaziguar, propiciar ou tornar favorável alguém, frequentemente uma divindade. Essa ação pode ser realizada através de sacrifícios, orações ou outras formas de devoção. O termo carrega consigo a noção de remover obstáculos que impedem um relacionamento harmonioso com o divino, como a culpa, o pecado ou a impureza.

No Antigo Testamento grego (Septuaginta), hiláskomai é usado para traduzir o verbo hebraico “kaphar”, normalmente traduzido como “expiar”. Nesse contexto, a expiação está relacionada à remoção da culpa e do pecado através de ritos e sacrifícios, restaurando assim a comunhão com Deus. O Dia da Expiação (Yom Kippur) era um momento crucial no calendário religioso judaico, no qual o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos para aspergir o sangue do sacrifício sobre a Trono da Misericórdia ou Propiciatório (ἱλαστήριον – hilastérion), a tampa da Arca da Aliança, simbolizando a purificação do povo, do santuário e a reconciliação com Deus.

No Novo Testamento, o conceito de expiação adquire novas nuances com a figura de Jesus Cristo. Em Romanos 3:25, Paulo descreve Jesus como o ἱλαστήριον (hilastérion), aquele que Deus “propôs” para expiação dos pecados. Essa passagem tem sido interpretada de diferentes maneiras, mas a ideia central é que Jesus, através de sua morte sacrificial, removeu os obstáculos que separavam a humanidade de Deus, possibilitando a reconciliação e o perdão. A iniciativa divina é enfatizada, pois é Deus quem oferece Jesus como o meio de expiação.

O uso de hiláskomai e seus cognatos no Novo Testamento levanta questões importantes sobre a natureza da expiação e sua relação com a justiça e a misericórdia divinas. Alguns estudiosos argumentam que a expiação em Cristo representa uma mudança radical em relação à visão sacrificial do Antigo Testamento, enquanto outros enfatizam a continuidade entre os dois Testamentos. Independentemente da interpretação específica, a expiação em Cristo é central para a teologia cristã, expressando a profundidade do amor de Deus e a restauração da comunhão entre Deus e a humanidade.

BIBLIOGRAFIA

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