J. Denny Weaver

J. Denny Weaver (nascido em 1946) é um teólogo americano e professor emérito de Religião na Bluffton University.

Nasceu em Hutchinson, Kansas. Obteve seu PhD em Religião pela Universidade de Chicago.

Contribuiu ao conceito teológico de não violência e pacifismo, particularmente em seu livro “The Nonviolent Atonement”, publicado em 2001. Neste trabalho, argumenta que o foco da teologia baseada na violência e na ideia de que a morte de Jesus era necessária para expiar o pecado humano perpetua um ciclo de violência e reforça estruturas de poder opressivas.

A visão alternativa de expiação de Weaver centra-se na ideia da “narrativa Christus Victor“, que vê a vida e os ensinamentos de Jesus como uma forma de vencer os poderes do pecado e do mal. J. Denny Weaver demonstra a integralidade da justiça social e da pacificação na teologia e na prática cristã.

Outros trabalhos ​​de Weaver incluem “Becoming Anabatist” e “The Ethics of Nonviolence”, ambos os quais exploram a interseção da não-violência e do cristianismo. Suas contribuições para o discurso teológico foram influentes nas tradições anabatista e menonita, bem como em conversas mais amplas sobre o papel da religião na promoção da paz e da justiça.

Johann von Hofmann

Johann Christian Konrad von Hofmann (1810-1877) foi um teólogo, historiador e biblista luterano alemão. Foi expoente do neoluteranismo ou a escola de Erlangen, um movimento teologicamente conservador.

Filho de pais aderentes ao Avivamento Continental que emergiu do pietismo suábio de Johann Albrecht Bengel, teve uma educação humanística e científica. Lecionou nas universidades de Friedrich-Alexander- Erlangen-Nuremberg e de Universidade de Rostock.

O trabalho de Von Hofmann sobre hermenêutica bíblica enfatizou a importância de entender o contexto histórico e cultural dos textos bíblicos. Treinado na historiografia de Leopold von Ranke, que o significado da Bíblia só poderia ser totalmente compreendido pela compreensão do contexto em que foi escrita, incluindo o idioma, a cultura e o contexto histórico. Também enfatizou a importância de interpretar a Bíblia como um todo coerente, com cada parte contribuindo para a história geral da salvação. Como teórico da hermenêutica, antecede Martin Heidegger, Hans-Georg Gadamer, Rudolf Bultmann e Paul Ricoeur quando situa as historicidades da linguagem e do intérprete bíblico. Em sua abordagem, antecede a crítica canônica.

A compreensão de Von Hofmann da Bíblia como “Heilsgeschichte” ou “história da salvação” enfatizou a continuidade da obra salvadora de Deus ao longo da história, desde a criação até a redenção. A profecia não é primordialmente uma previsão de eventos futuros, mas a própria história na forma da palavra. Os fatos da história sagrada, a proclamação profética que deles surgiu e seu cumprimento no futuro são obra de um único e mesmo Espírito Santo e, portanto, um com o outro. No entanto, esposava um dispensacionalismo de duas fases: a Lei e o Evangelho. Considerando a inspiração das Escrituras localizada em sua totalidade narrativa, via a Bíblia como uma história unificada do plano de Deus para salvar a humanidade por meio da pessoa e obra de Jesus Cristo. Assim, dispensou modelos de inspiração atomística, como a inspiração do ditado ou das palavras.

A compreensão de Von Hofmann sobre a expiação enfatizou a centralidade da morte e ressurreição de Cristo como meio de salvação. A expiação seria como um evento único e irrepetível, no qual Cristo cumpriu todas as expectativas proféticas do plano de salvação. A exigência de satisfação ou de um pagamento do pecado pertencia à economia da Lei. Portanto, na graça é incorente conceber a expiação de Cristo por teorias de sastifação, forenses ou vicárias. Antes, pelo amor de Deus na graça, Cristo proporciona comunhão com Deus para alcançar o destino original do ser humano na história de Salvação.

Contribuiu para renovação da teologia trinitária quando apontou a importância de entender a natureza trina de Deus como um aspecto chave da história da salvação. O Pai, o Filho e o Espírito Santo trabalhando juntos em harmonia para realizar o plano de salvação de Deus, com cada pessoa da Trindade desempenhando um papel único no processo. A soteriologia trinitária de Hoffmann antecede os modelos pentecostais clássicos (Durham, Francescon) e contemporâneos (Macchia, Yong, Vondey) de doutrina de salvação cooperativa entre as pessoas divinas.

Ainda que pouco lembrando, foi influente nos pensamentos de Oscar Cullmann, Wolfhart Pannenberg, Gustaf Aulén e Gerhard Forde.

BIBLIOGRAFIA

Becker, Matthew L. The self-giving God and salvation history: The Trinitarian theology of Johannes von Hofmann. A&C Black, 2004.

Becker, Matthew. Appreciating Johannes von Hofmann. The Day Star Journal: Gospel Voices in and for the Lutheran Church–Missouri Synod. 2013.

Hofmann, J. Schutzschriften fur eine neue Weise, alle Wahr heit zu lehren (1856-59).

Gottfried Menken

Gottfried Menken (1768-1831) foi um teólogo reformado alemão.

Gottfried Menken iniciou seus estudos teológicos na Universidade de Jena e foi muito influenciado pela combinação da filosofia natural com o biblicismo pietista. Na década de 1790, Menken pregou em vários lugares no Baixo Reno, incluindo Wuppertal.

Ao longo de sua carreira, Menken serviu como pastor na congregação reformada em Frankfurt am Main, Wetzlar e Bremen. Era um oponente ferrenho do racionalismo, mas também não era um seguidor da doutrina oficial. Menken foi espiritualmente influenciado por Bengel e pelo médico Samuel Kallenbusch, particularmente em relação à sua rejeição da doutrina do sofrimento de Cristo como punição.

Menkel era um proponente a União Mística ou do Santo Amor, um modelo similar ao da Influência Moral de Abelardo, para a doutrina da Expiação. Junto de Rudolph Stier, Karl Friedrich Klaiber, Johann Gerhard Hasenkam, Menken sumarizava a expiação nesta fórmula: “que Deus é amor, e o que não é amor também não está em Deus” (dass Gott die Liebe ist, und was nicht Liebe ist , auch nicht in Gott ist).

Embora Menken pertencesse à igreja reformada, ele não era confessional e baseava suas doutrinas na própria Bíblia. Os pensamentos e crenças teológicas de Menken foram considerados únicos e muitas vezes controversos durante seu tempo, o que contribuiu para seu impacto significativo na teologia na Alemanha.

Trono da Misericórdia

O Trono da Misericórdia (em hebraico כַּפֹּרֶת kaporet e em grego ἱλαστήριον hilastērion) ou propiciatório era a tampa de ouro colocada na Arca da Aliança, com dois querubins batidos nas pontas. Ali nesse espaço de propiciação, Deus se manifestava e as petições e purificações realizadas.

O termo grego pode significar tanto “propiciação” (agradar ou apaziguar) ou “expiação” (purificação) ou algo “expiatório”, mas no grego bíblico tinha o significado especial da tampa do propiciatório cobrindo a Arca da Aliança.

Notoriamente, Paulo invoca essa figura do Trono da Misericórdia em Rm 3:25, o qual em uma tradução informada pela semântica seria: “Deus o expôs publicamente [Jesus] em sua morte como o Trono da Misericórdia [hilastērion] acessível por meio da fé. Isso foi para demonstrar sua justiça, porque Deus em sua tolerância havia desconsiderados os pecados passados”.

Com esse sentido de proiciatório, o termo aparece também em Hebreus 9:5: “E sobre a [arca], os querubins da glória, que faziam sombra no Trono da Misericórdia [hilastērion]; das quais coisas não falaremos agora particularmente.”‘

BIBLIOGRAFIA

Bailey, D. P.“Jesus As the Mercy Seat: The Semantics and Theology of Paul’s Use of Hilasterion in Romans 3:25”. Dissertação doutoral na University of Cambridge, 1999.

Teoria da confissão vicária

A teoria da confissão vicária ou do arrependimento vicário é uma teoria acerca da obra de reconciliação e expiação proporcionada por Cristo. A vida perfeita de Cristo foi o ato reconcilador entre humanidade e Deus. Seu maior proponente foi o teólogo escocês John McLeod Cambpell.

A teoria da confissão vicária nega que houve uma transação entre Deus e a humanidade para perdão de pecados. O sacrifício de Cristo foi uma revelação do amor de Deus e uma restauração do relacionamento entre a humanidade e Deus. A visão da expiação como uma satisfação da justiça divina (teoria da satisfação) por meio da punição (teoria da substituição penal) seria inconsistente com a ideia de um Deus amoroso.

As bases bíblicas são 2 Co 5:19; Jo 3:16; Lc 15:11-32.

Em 1856, Campbell publicou On the Nature of the Atonement (A Natureza da Expiação), que procurava entender a expiação à luz da Encarnação. A vida, obra e morte de Jesus Cristo seria um todo indivisível. Campbell afirmava que a mente divina em Cristo é a mente de uma filiação obediente perfeita para com Deus e de uma irmandade perfeita para com os homens. Através da Encarnação, Cristo viveu vicariamente no lugar da humanidade e em seu lugar, tornando-se um sacrifício perfeito e completo que reconcilia a humanidade com Deus. Jesus se apresenta em nosso lugar, mas não recebe a pena por nós, porém confessa perfeitamente nossos pecados.

É uma perspectiva próxima à teoria da influência moral de Pedro Abelardo. Tanto Campbell quanto Abelardo argumentam que a expiação é principalmente sobre a reconciliação entre Deus e a humanidade, em vez de punição ou satisfação pelo pecado. Contudo, Campbell apresenta suas nuances. A reconciliação seria um processo divino em curso, não se limitando a um evento da vida de Cristo. Ao invés de focar na transformação moral da humanidade pela obra de Cristo (como Abelardo), Campbell salienta o lado divino. A vontade divina de Cristo de cumprir toda a obediência leva junto a humanidade à Deus. Nesse sentido, é uma obediência vicária (em favor da humanidade), mas não substitutiva.

A perspectiva de Campbell pode ser bem entendida por uma ilustração de dois amigos, no qual um deles ofendeu o outro. Como dois amigos que se desentenderam, a expiação seria um processo de contínua reconciliação. O amigo faltoso (a humanidade pecadora) precisa admitir, compreender e empatizar pelo dano causado. Se o amigo ofendido (Deus) não tomar a iniciativa de manifestar seu afeto, mágoa e desejo de reconciliação, o ofensor seguirá em estranhamento, desconfiança e reativo ao perdão. Por isso, Deus ofereceu em Jesus Cristo a chance de reconciliação.

BIBLIOGRAFIA

McLeod Campbell, John. The Nature of the Atonement. 1856.

Torrance, T. F. Scottish Theology: From John Knox to John McLeod Campbell. Edinburgh: T. & T. Clark, 1996.

Teoria do prêmio

A teoria do prêmio ou teoria premial da reconciliação é uma doutrina que explica a morte de Cristo como um benefício para a humanidade.

Essa doutrina há raízes em várias vertentes. Entre morávios e pietistas, a ideia do Cordeiro — frágil e obediente até a morte — providencia o sangue expiador de forma triunfal. A salvação seria o prêmio conquistado por Cristo. Essa posição contrastava com concepções de substituição penal prevalente entre luteranos e reformados na escolástica protestante.

No século XIX, em um sermão publicado no Pietisten em 1872, o teólogo sueco Waldenström sustentou que Cristo morreu na cruz para reconciliar a humanidade com Deus. Deus Pai era o sujeito da reconciliação, não o objeto como no processo penal substitutivo.

Seu raciocínio é o seguinte.

1) A queda do homem não causou nenhuma mudança no coração de Deus;

2) Portanto, Deus não ficou irado ou com desejo de vingança para com a humanidade. Assim, não haveria ofensas que tornaram-se um obstáculo para a salvação do homem;

3) A mudança trazida pela queda afetou somente o homem, pois ele se afastou de Deus e se tornou pecador, e se separou Dele;

4) Como um resultado, uma expiação era necessária. No entanto, esta expiação não para apaziguar a Deus e assim torná-lo misericordioso, mas para trazer uma reconciliação que salvaria o homem do pecado e o tornaria justo;

5) Esta expiação ocorreu em Jesus Cristo.

Waldenström enfatizou a natureza imutável e o amor infalível de Deus, ilustrados pela parábola de o filho perdido, tema semelhante em Moody. O evangelista americano, de forma inconsistente, empregava similar teologia.

Em contraste, enquanto as teorias forenses desde Anselmo depende da punição, a de Waldenström depende do perdão. É chamada de teoria premial, porque na analogia forense não se trata de evadir-se da condenação, mas ganhar a causa da salvação. É uma teoria de expiação vicária (Cristo morre pelos pecadores e em lugar dele), mas não punitiva ou substitutiva (Cristo não recebeu a punição humana). Antes, Cristo é o campeão da humanidade como Verdadeiro Homem.

Uma retomada da teoria premial foi proposta pela teóloga católica Eleonore Stump. Stump se baseia em várias fontes filosóficas e teológicas, incluindo as obras de Tomás de Aquino, Anselmo e Jonathan Edwards.

De acordo com Stump, a teoria premial da expiação trata o pecado não como uma violação da justiça de Deus, mas sim como uma falha em alcançar o bem que Deus pretende para nós. O objetivo da expiação, portanto, não é simplesmente apaziguar a ira de Deus, mas sim trazer uma restauração do relacionamento entre Deus e a humanidade e reparar o dano causado pelo pecado. Isso requer um processo de reconciliação, perdão e restauração focado em realizar o bem que Deus deseja para nós.

Para entender essa teoria, considere a analogia de uma bela peça de cerâmica que foi quebrada em vários pedaços. A teoria premial da expiação diz que o plano de Deus seria restaurar a cerâmica à sua beleza e ordem, em vez de simplesmente punir a pessoa que a quebrou. Isso envolveria reunir e remontar cuidadosamente as peças, preencher as rachaduras e lacunas e suavizar as arestas. O processo de restauração exigiria muito cuidado, habilidade e atenção aos detalhes, mas o resultado final seria uma bela peça de cerâmica restaurada. Foi o que Cristo fez, pois somente ele seria capaz de restaurar.

Da mesma forma, o pecado teria destruído a bela ordem da criação e danificado o relacionamento entre Deus e a humanidade. O objetivo da expiação não é simplesmente punir o pecador, mas restaurar cuidadosamente o relacionamento rompido e reparar o dano causado pelo pecado. Isso envolve um processo de reconciliação, perdão e restauração que requer grande cuidado, habilidade e atenção aos detalhes, mas que, por fim, leva à restauração completa da criação e à reconciliação de todas as coisas com Deus.

BIBLIOGRAFIA

Andersson, Axel Teodor. The Christian Doctrine of the Atonement According to PP Waldenstrom. Covenant Book Concern, 1937.

Stump, Eleonore. Atonement. Oxford University Press, 2019.

Waldenström, Paul Peter. The Reconciliation: Who was to be Reconciled?: God Or Man? Or God and Man?: Some Chapters on the Biblical View of the Atonenment. John Martenson, Publisher, 1888.

Teoria do resgate

A teoria do resgate é uma perspectiva sobre obra de rendenção de Jesus Cristo.

A teoria do resgate ensina que Jesus Cristo morreu como sacrifício de resgate, o qual teria sido pago a Satanás (a visão mais dominante) ou a Deus Pai. A ênfase é sobre a morte de Jesus Cristo, o que ela significa e seu efeito na humanidade. O foco do resgate é libertar da escravidão do pecado. A morte de Jesus seria um pagamento para pagar a dívida da humanidade herdada a partir de Adão.

O resgate ou a redenção era o preço pago pela libertação de escravos ou da alforria. As bases bíblicas principais são Mt 20:28 e 1 Pe 1:18-19.

Pressupostos de escravidão e cativeiro na Bíblia aparecem como nossa escravidão sendo pecado, culpa, maldição (Gl 3:13), sujeição sob um domínio (1 Co 15:56). O resgate bíblico teria vários aspectos, como a libertação da escravidão, restauração à liberdade e ao privilégio de filhos de Deus, pagamento da redenção, preço pago a alguém com alguma reivindicação anterior.

Outros trechos para fundamentar essa teoria seriam 1 Tm 2:6, Tt2:14, Hb 9:12, Ef 1:7, Rm 3:24-25. Enquanto algumas passagens empregadas para embasar o resgate pago a Satanás são Cl 2:15 João 12:31; Hb 2:14-15, 9:12 .

Frequentemente o resgate é explicado ao lado da Teoria da Influência Moral. A teoria de Christus Victor é semelhante, com Cristo resgatando os pecadores, porém sem o pagamento. Ficando a humanidade cativa desde Adão, a justiça exigia que Deus pagasse um resgate a Satanás. Entrentanto, Satanás não percebeu que Cristo não poderia ser mantido nos grilhões de morte. Uma vez que a morte de Cristo foi feita como resgate, a justiça foi satisfeita e Deus providenciou a libertação completa.

Esta teoria encontra suas raízes na Igreja Primitiva, particularmente em Orígenes do século III. Seu maior expoente na Antiguidade foi Gregório de Nissa.

Gregório fez uma analogia com um anzol em sua Oração Catequética. Uma vez que a humanidade estava sob o poder do diabo (ou morte) depois da Queda no Éden, a justiça de Deus exigia que Deus reconquistasse a humanidade através do pagamento de um resgate (Cristo) em vez de tomá-la de volta à força. Após a queda, ao invés de a humanidade retornar a um estado imutável e animal, o ser humano passou a ansiar em tornar-se cada vez mais perfeito, mais parecido com Deus, mesmo que a humanidade nunca entenda, muito menos alcance, a transcendência de Deus. A vinda de Cristo atendeu esse anseio enquanto o Diabo foi enganado em aceitar como resgate um pagamento que ele não poderia reter: a morte de Cristo. Portanto, o triunfo de Cristo removeu a barreira de acesso a Deus.

No dizer de Máximo, o Confessor:

O Senhor preparou Sua carne no anzol de Sua divindade como isca para o engano do Diabo, para que, como a serpente insaciável, o Diabo tomasse Sua carne em sua boca (já que sua natureza é facilmente superada) e estremeceria convulsivamente no gancho da divindade do Senhor e, em virtude da carne sagrada do Logos, vomitar completamente a natureza humana do Senhor, uma vez que ele a engoliu. Como resultado, assim como o diabo anteriormente atraiu o homem com a esperança da divindade e o engoliu, também o próprio diabo seria atraído precisamente com as vestes carnais da humanidade; e depois vomitaria o homem, que havia sido enganado pela expectativa de tornar-se divino, tendo o próprio diabo sido enganado pela expectativa de tornar-se humano. A transcendência do poder de Deus se manifestaria então através da fraqueza de nossa natureza humana inferior, que venceria a força de seu conquistador. Além disso, seria mostrado que é Deus quem, usando a carne como isca, vence o diabo, e não o diabo conquistando o homem, prometendo-lhe uma natureza divina.

Ad Thalassium 64

Em tempos recentes, C.S. Lewis usou a cena da morte do leão Aslan em suas Crônicas de Nárnia, algo que poderia ser visto como teoria do resgate conforme a analogia do azol de Gregório de Nissa. No entanto, em seus outros escritos teológicos, Lewis apresenta versões de uma teoria da recapitulação.

A principal controvérsia com esta teoria é o ato de pagar ao Diabo. Entretanto, nem todos os adeptos da teoria do resgate acreditam que quem foi pago foi o Diabo, mas neste ato de resgate Cristo liberta a humanidade da escravidão do pecado e da morte.

BIBLIOGRAFIA

Boaheng, Isaac. “A Theological Appraisal of the Recapitulation and Ransom Theories of Atonement.” E-Journal of Religious and Theological Studies 8, no. 4 (2022): 98-108. 

Gregório de Nissa. Oração Catequética.

Ray, Darby Kathleen. Deceiving the devil: Atonement, abuse, and ransom. Pilgrim Press, 1998.

Teoria participatória da expiação

A teoria participatória ou participativa da expiação é uma perspectiva teológica sobre a obra redentora de Cristo. Por essa teoria, a salvação humana é possível pela participação na obra redentora mediante a união com Cristo pelo Espírito Santo.

Nessa perspectiva, a obra redentora de Cristo vai desde sua encarnação até a ascensão, com sua vida e seus ensinos sendo relevantes para a justificação. No entanto, não se trata de um modelo de expiação pelo exemplo, mas pela alteração do estado humano pelo Deus encarnado. A salvação seria a participação humana na vida de Deus.

A epístola de Hebreus é o principal texto que descreve um relacionamento participativo entre Cristo e os crentes. Os crentes participam da obra de Cristo e compartilham de sua identidade, ensinos e benefícios salvíficos. Hebreus contém expressões e temas participativos semelhantes à ideia de adoção e temas de união com Cristo nos escritos joaninos e paulinos.

A expiação na Igreja primitiva compreendia três aspectos: expiação vicária, a derrota escatológica de Satanás e a imitação de Cristo — nos termos de participação na morte e ressurreição de Jesus. Segundo Pate (2011) esses três aspectos estavam entrelaçados nas mais antigas literaturas cristãs. Mais tarde, cada aspecto foi isolado e passou a ter um status condutor nas diversas vertentes das doutrinas de salvação.

Posteriormente, esta teoria aparece marginalmente tanto na tradição reformada (Calvino e Edwards) quanto nas teorias de união mística do catolicismo romano. É próximo às teorias de influência moral de Agostinho e Abelardo.

O renovado interesse evangélico surgiu no final da década de 2000 em duas fontes. Por um lado, a teóloga Julie Canlis encontrou essa perspectiva na soteriologia de Calvino, o qual a utilizava junto da teoria da substituição penal. Por outro lado, a questão de não impor modelos modernos de justiça retributiva aos textos bíblicos levou o biblista Michael Gorman a articular a teoria da expiação sob aspectos da justiça restaurativa e participação da comunidade da nova aliança com Cristo.

Há controvérsia se a teoria participativa seja compatível com outras teorias acerca da expiação. Normalmente, a doutrina de salvação participatória é apresentada em conjunto com outras teorias da expiação, como faz o teólogo reformado Hans Boersma (2006). Contudo, teólogos e biblistas (especialmente da Nova Perspectiva sobre Paulo) argumentam que a respeito da salvação Paulo considerava a vida e morte de Jesus não como um sacrifício vicário, mas como meio de participar na comunhão com Deus pela fidelidade de Cristo. Para James F. McGrath, Paulo preferiria a linguagem da participação: Cristo morreu por todos, de modo que todos com Ele morreram (2 Coríntios 5:14). “Isso não seria apenas diferente da substituição, mas seria o oposto dela”. (2007).

A teoria participativa corrige muitos defeitos de foco de outras teorias. Mas, vai além dos focos no motivo e no meio de redenção para enfatizar a novidade de vida da pessoa justificada em Cristo.

BIBLIOGRAFIA

Bayne, Tim; Restall, Greg. “A participatory model of the atonement.” New Waves in Philosophy of Religion 150 (2009).

Boersma, Hans. Violence, Hospitality, and the Cross: reappropriating the atonement tradition. Grand Rapids: Baker, 2006.

Canlis, Julie. Calvin’s Ladder: A Spiritual Theology Of Ascent and Ascension. Grand Rapids: Eerdmans, 2010.

Gorman, Michael J. The Death of the Messiah and the Birth of the New Covenant: a (not so) New Model of the Atonement. Wipf and Stock Publishers, 2014.

McGrath, James F. What’s Wrong With Penal Substitution? Patheos, 2007.

Pate, C. Marvin. From Plato to Jesus: What Does Philosophy Have to Do with Theology?, Kregel Academic, 2011.

Teoria do exemplo moral

A teoria do exemplo moral ou exemplarismo é uma doutrina subjetiva da reconciliação para explicar o motivo da obra redentora de Cristo. Frequentemente é confundida (ou mesmo empregada intercambiavelmente) com a teoria da influência moral de Abelardo.

Deus teria enviado Cristo para revelar o amor divino mediante seus ensinos e exemplo de obediência fiel até a morte. Uma vez revelada a vontade divina de comportamento justo, a salvação resultaria da imitação das obras e seguir os exemplos de Cristo.

Os textos bases para essa teoria são 1 Pe 2:22; Fp 2:3-8; 2 Co 3:18; Jo 13:12-15; 1 Co 11:1; 1 João 2:6; Ef 4:32; Cl 3:13.

Alguns aspectos do examplarismo aparecem na era patrística. Esteve presente nas soteriologias de Epístola a DiogentePastor de Hermas, nas cartas de Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Clemente de Alexandria, Hipólito de Roma e no Martírio de Policarpo.

Nas polêmicas contra Pelágio, Celestino e Juliano de Eclanum, seus oponentes — Agostinho de Hipona, Próspero da Aquitânia, Mário Mercator, Paulo Orosius e Jerônimo — apresentaram o pelagianismo como reduzindo a ação de Cristo a um mero exemplo. Embora hoje seja sabido que a teologia de Pelágio era congruente com o pensamento ortodoxo corrente; o termo “pelagianismo” ficou associado ao exemplarismo.

Na Idade Média, a mística medieval valorizava A imitação de Cristo, título do devocionário de Tomas à Kempis. A reprodução de atos sacrificiais de Cristo permeava a religiosidade popular, principalmente nas peregrinações e reencenações de sua paixão.

Uma teoria própria de exemplo moral foi desenvolvida pelo reformador radical Fausto Socino. Foi adotada por igrejas unitárias do período da Reforma, principalmente a Igreja Unitária Húngara e os Irmãos Polacos. Outro articulador dessa doutrina foi Immanuel Kant. De forma superficial, o exemplarismo apareceu na teologia liberal em seu auge (século XIX até final da 1a Guerra). Contudo, com Hastings Rashdall foi reformulada e ganhou uma nova expressão. Denominacionalmente é empregada por grupos como cristadelfos, o segmento adventista das igrejas de Deus (fé abrâamica), alguns adeptos do movimento das raízes hebraicas e outros menores.

Alguns aspectos de exemplarismo estão presentes nas teorias de reconciliação de Aberlardo, Schleiermacher, Horace Bushnell e John Hick. Contudo, nesses autores aparece combinada com outras perspectivas.

Uma crítica à teoria da influência moral é que não explica o motivo da necessidade para a vinda e morte de Cristo, pois qualquer mártir poderia impactar a humanidade de modo despertar tal amor a Deus.

BIBLIOGRAFIA

Crisp, Oliver D. “Moral Exemplarism and Atonement.” Scottish Journal of Theology, vol. 73, no. 2, 2020, pp. 137–149., doi:10.1017/S0036930620000265.

Socino, Fausto. De Jesu Christo servatore. 1578.

Kotsko,Adam. ‘Exemplarism’, in Adam J. Johnson (ed.), T&T Clark Companion to the Atonement (London: Bloomsbury T&T Clark, 2017), p. 485.

Pedro Abelardo. Expositio in Epistolam ad Romanos.

Rashdall, Hasting. The Idea of Atonement in Christian Theology. Londres: Macmillan, 1919.

Teoria do bode expiatório

A teoria do bode expiatório é uma perspectiva soteriológica sacrificial de como a morte de Cristo proporciona a reconciliação da humanidade com Deus, porém rechaçando noções de redenção mediante violência.

O mitologista e antropólogo filosófico francês René Girard (1923 –2015) propõe a teoria mimética de que todo o desenvolvimento da cultura humana – a religião, as instituições, a organização social – fundamenta-se em mecanismos de contenção da violência.

Girard transpôs suas análises para textos bíblicos e para a teologia cristã da expiação. No entanto, seria James Alison quem refinaria em termos teológicos a teoria do bode expiatório.

Girard e Alison propõem uma substituição vicária, mas não penal. A humanidade odiou os ensinos e vida de Cristo porque não o podia imitar. Foi sacrificado como uma vítima do ódio humano. A morte gera um arrependimento e possibilidade de restaurar a ordem originalmente proposta.

A teoria do bode expiatório exonera Deus de uma injusta substituição penal e transfere a culpa à humanidade. Em algo próximo às teorias de influência moral e exemplo moral, pela teoria do bode expiatório o assassínio violento de Cristo altera o curso da história humana.

BIBLIOGRAFIA

Alison, James. Raising Abel: The Recovery of the Eschatological Imagination. New York: Crossroad Publishers, 1996.

Alves, Leonardo. O violento e o sagrado em dois filmes de suspense. Ensaios e Notas, 2019.

Girard, René. Violência e o Sagrado. São Paulo: Paz e Terra, 1990.

Kailey, Michelle (2008) “Redeeming the Atonement: Girardian Theory,” Denison Journal of Religion: Vol. 8 , Article 7.