A teoria do prêmio ou teoria premial da reconciliação é uma doutrina que explica a morte de Cristo como um benefício para a humanidade.
Essa doutrina há raízes em várias vertentes. Entre morávios e pietistas, a ideia do Cordeiro — frágil e obediente até a morte — providencia o sangue expiador de forma triunfal. A salvação seria o prêmio conquistado por Cristo. Essa posição contrastava com concepções de substituição penal prevalente entre luteranos e reformados na escolástica protestante.
No século XIX, em um sermão publicado no Pietisten em 1872, o teólogo sueco Waldenström sustentou que Cristo morreu na cruz para reconciliar a humanidade com Deus. Deus Pai era o sujeito da reconciliação, não o objeto como no processo penal substitutivo.
Seu raciocínio é o seguinte.
1) A queda do homem não causou nenhuma mudança no coração de Deus;
2) Portanto, Deus não ficou irado ou com desejo de vingança para com a humanidade. Assim, não haveria ofensas que tornaram-se um obstáculo para a salvação do homem;
3) A mudança trazida pela queda afetou somente o homem, pois ele se afastou de Deus e se tornou pecador, e se separou Dele;
4) Como um resultado, uma expiação era necessária. No entanto, esta expiação não para apaziguar a Deus e assim torná-lo misericordioso, mas para trazer uma reconciliação que salvaria o homem do pecado e o tornaria justo;
5) Esta expiação ocorreu em Jesus Cristo.
Waldenström enfatizou a natureza imutável e o amor infalível de Deus, ilustrados pela parábola de o filho perdido, tema semelhante em Moody. O evangelista americano, de forma inconsistente, empregava similar teologia.
Em contraste, enquanto as teorias forenses desde Anselmo depende da punição, a de Waldenström depende do perdão. É chamada de teoria premial, porque na analogia forense não se trata de evadir-se da condenação, mas ganhar a causa da salvação. É uma teoria de expiação vicária (Cristo morre pelos pecadores e em lugar dele), mas não punitiva ou substitutiva (Cristo não recebeu a punição humana). Antes, Cristo é o campeão da humanidade como Verdadeiro Homem.
Uma retomada da teoria premial foi proposta pela teóloga católica Eleonore Stump. Stump se baseia em várias fontes filosóficas e teológicas, incluindo as obras de Tomás de Aquino, Anselmo e Jonathan Edwards.
De acordo com Stump, a teoria premial da expiação trata o pecado não como uma violação da justiça de Deus, mas sim como uma falha em alcançar o bem que Deus pretende para nós. O objetivo da expiação, portanto, não é simplesmente apaziguar a ira de Deus, mas sim trazer uma restauração do relacionamento entre Deus e a humanidade e reparar o dano causado pelo pecado. Isso requer um processo de reconciliação, perdão e restauração focado em realizar o bem que Deus deseja para nós.
Para entender essa teoria, considere a analogia de uma bela peça de cerâmica que foi quebrada em vários pedaços. A teoria premial da expiação diz que o plano de Deus seria restaurar a cerâmica à sua beleza e ordem, em vez de simplesmente punir a pessoa que a quebrou. Isso envolveria reunir e remontar cuidadosamente as peças, preencher as rachaduras e lacunas e suavizar as arestas. O processo de restauração exigiria muito cuidado, habilidade e atenção aos detalhes, mas o resultado final seria uma bela peça de cerâmica restaurada. Foi o que Cristo fez, pois somente ele seria capaz de restaurar.
Da mesma forma, o pecado teria destruído a bela ordem da criação e danificado o relacionamento entre Deus e a humanidade. O objetivo da expiação não é simplesmente punir o pecador, mas restaurar cuidadosamente o relacionamento rompido e reparar o dano causado pelo pecado. Isso envolve um processo de reconciliação, perdão e restauração que requer grande cuidado, habilidade e atenção aos detalhes, mas que, por fim, leva à restauração completa da criação e à reconciliação de todas as coisas com Deus.
BIBLIOGRAFIA
Andersson, Axel Teodor. The Christian Doctrine of the Atonement According to PP Waldenstrom. Covenant Book Concern, 1937.
Stump, Eleonore. Atonement. Oxford University Press, 2019.
Waldenström, Paul Peter. The Reconciliation: Who was to be Reconciled?: God Or Man? Or God and Man?: Some Chapters on the Biblical View of the Atonenment. John Martenson, Publisher, 1888.