Teose

Teose ou Theosis é uma principal doutrina de salvação esposada no cristianismo grego. É a soteriologia padrão na Igreja Ortodoxa Grega, e adotada marginalmente por católicos de rito oriental (uniatas) e por alguns protestantes, notoriamente os evangélicos finlandeses.

Teose traduz-se como “tornar-se um deus” ou “tornar-se como Deus”, indica o estágio final da salvação, quando os seres humanos têm união real com Deus.

Teose é o processo de divinação, algo distinto de deificação. Deificação refere-se à “apoteose”, quando seres humanos mortais eram elevados a status de deuses em Roma e outras sociedades da Antiguidade. Por sua vez, a teose fundamenta-se na diferença fundamental entre os seres humanos e Deus. Portanto, a teose cristã é sempre metafórica – os crentes não se tornam literalmente Deus ou membros da Trindade.

No cristianismo oriental a salvação é compreendida como um processo de tornar-se participante da natureza divina (2 Pe 1:4). Assim, esta soteriologia não aborda aspectos forenses ou de remoção de culpa, condenação ou estado pecaminoso. Tampouco na soteriologia da teose não se separa justificação ou regeneração de santificação. Antes, é uma soteriologia focada na transformação. À medida que o crente se aproxima de Deus é transformado por esse relacionamento – ao refletirmos a imagem e semelhança de Deus, exatamente como Deus planejou para sua criação.

As bases bíblicas são diversas. Uma delas é de Jo 10:34, quando Cristo cita Sl 82:6, que diz: “Eu disse: ‘Vocês são deuses; sois todos filhos do Altíssimo.’”. Assim, o objetivo da obra salvítica de Cristo é proporcionar que todos cheguem à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ef 4:13).

A patrística grega adotou essa abordagem de modo dominante no século IV. No Ocidente, poucos autores expressaram alguma forma de teose. Irineu via na recapitulação uma oportunidade de aperfeiçoamento da criatura humana redimida. Justino Mártir viu na desobediência original uma hiato que só temporariamente protelou mas não impediu o plano divino (concretizado pela obediência de Cristo) de tornar a humanidade imortal. Hilário de Poitiers empregava uma doutrina de expiação: toda a vida de Cristo desde a encarnação até sua morte, ressurreição e ascensão alterou a realidade humanda e da criação. Cristo, ao tomar nossa natureza humana pecaminosa, leva-a finalmente para a sepultura e assim destrói e recria a natureza humana em si mesmo.

No Ocidente, inspirado em Aquino, várias congregações beneditinas no século XVI viram a justificação como a restauração da Imago Dei no ser humano.

No final do século XIX a teose como doutrina foi divulgada por luteranos e pentecostais finlandeses, com teólogos como Tuomo Mannermaa e Veli-Matti Kärkkäinen. De forma independente, foi a soteriologia desenvolvida na teologia do processo, especialmente a noção de cristificação presente em Teilhard de Chardin.

BIBLIOGRAFIA

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Gross, Jules. The Divinization of the Christian according to the Greek Fathers. A & C Press, 2002.

Kärkkäinen, Veli-Matti. One with God: Salvation as deification and justification. Liturgical Press, 2004.

Meyendorff, John. A study of Gregory Palamas. St. Vladimir’s Seminary Press, 1974.

Ortiz, Jared. Deification in the Latin patristic tradition. Vol. 6. Studies in Early Christianity. CUA Press, 2019.

Lossky, Vladimir. The Mystical Theology of the Eastern Church, 1991.

Zizoulas, John. Lectures in Christian Dogmatics. London T&T Clark, 2009.

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