Dewey Beegle

Dewey Maurice Beegle (1919-1995) foi um biblista e bibliologista evangelical americano, calcado no metodismo.

Beegle nasceu em Seattle, Washington. Seus pais eram membros ativos da Igreja Metodista Livre, e seu pai foi professor de matemática no Seattle Pacific College. A família Beegle trabalhou como missionária por um curto período no Panamá, mas retornou a Seattle devido a problemas de saúde.

Desde cedo, a vida de Dewey Beegle esteve ligada aos estudos acadêmicos. Ele formou-se no Seattle Pacific College e concluiu seu curso Summa Cum Laude no Asbury Theological Seminary. Em 1952, obteve o título de Doutor em Filosofia (Ph.D.) pela Universidade Johns Hopkins.

Após sua graduação no Seattle Pacific College, trabalhou como professor em uma escola primária. Assumiu um cargo no Serviço de Imigração e Naturalização dos Estados Unidos como patrulheiro de fronteira. Posteriormente, ingressou na Guarda Costeira dos Estados Unidos. Durante esse período, participou de um culto de avivamento em San Francisco, Califórnia, onde decidiu dedicar-se ao ministério. Pouco depois, matriculou-se no Asbury Theological Seminary, onde sentiu o chamado para a docência.

Após sua formação no Asbury Theological Seminary, Beegle mudou-se com sua família para a Universidade Johns Hopkins. Lá, estudou sob a orientação de William F. Albright, pesquisador do Antigo Testamento, e começou a explorar questões acadêmicas relacionadas à doutrina das escrituras. No final de seu período em Johns Hopkins, iniciou seu trabalho no Departamento de Traduções da American Bible Society e tornou-se presbítero na Igreja Metodista Livre.

Em 1952, começou a lecionar no New York Theological Seminary, anteriormente conhecido como Biblical Seminary. Durante esse período, publicou obras que provocaram debates, como God’s Word into English e The Inspiration of Scripture. Esta última, publicada em 1973, foi lançada no contexto do “Battle for the Bible”, período em que instituições fundamentalistas enfrentaram disputas internas sobre a inerrância bíblica. Essas controvérsias levaram Beegle a deixar a Igreja Metodista Livre e ingressar na Igreja Metodista Unida, bem como a abandonar sua posição no Biblical Seminary.

Entre 1964 e 1965, Beegle tirou uma licença sabática e viajou para terras bíblicas. Após esse período, aceitou uma posição no Wesley Theological Seminary. Durante sua permanência nessa instituição, atuou também como pastor de uma pequena igreja, publicou artigos em periódicos acadêmicos, escreveu outros livros, colaborou com a American Bible Society e foi incluído no “Who’s Who in Biblical Studies”.

Após se aposentar do Wesley Theological Seminary em 1986, continuou a trabalhar em equipes de tradução e liderou excursões às terras bíblicas e ao Oriente.

A bibliologia de Beegle

Dewey Beegle defendia uma abordagem indutiva para a compreensão das escrituras, em oposição à dedutiva, com ênfase na observação direta do texto bíblico. Criticava os métodos tradicionais de muitas vertentes evangélicas e fundamentalistas americanas, que dependiam do raciocínio dedutivo, argumentando que esses métodos tendem a obscurecer os fenômenos reais presentes nas escrituras.

A abordagem indutiva parte de dados concretos ou observações específicas do texto e busca derivar princípios gerais a partir deles. Para Beegle, esse método permite que o texto bíblico fale por si, sem a imposição de noções pré-concebidas. Por exemplo, ao analisar o Evangelho de Marcos, uma abordagem indutiva examinaria passagens específicas, os gêneros textuais, o contexto, as interações de Jesus com diferentes grupos, para derivar conclusões sobre seus ensinamentos e caráter da passagem e inferir doutrinas a partir dessas leituras.

Já a abordagem dedutiva começa com um princípio geral ou doutrina e busca aplicá-lo a instâncias específicas do texto bíblico. Esse método frequentemente interpreta as escrituras por meio de pressupostos teológicos estabelecidos. Por exemplo, ao partir do princípio da inerrância bíblica, as aparentes discrepâncias no texto seriam interpretadas como metáforas ou explicadas teologicamente, em vez de permitir que os dados textuais moldem a compreensão da doutrina.

Beegle argumentava que os métodos dedutivos tradicionais poderiam obscurecer o verdadeiro significado das escrituras e dificultar sua capacidade de corrigir interpretações errôneas baseadas na tradição. Ele acreditava que uma abordagem indutiva respeita a integridade do texto, promovendo um engajamento mais honesto e permitindo uma compreensão mais autêntica da mensagem bíblica.

Em sua obra Scripture, Tradition and Infallibility, Beegle explicou as interconexões entre escritura, tradição e autoridade, destacando como esses conceitos moldam o discurso teológico. Demonstrou que discussões sobre inspiração devem incluir considerações sobre revelação e canonicidade, promovendo uma abordagem holística à interpretação bíblica.

Beegle via a teologia como um campo dinâmico, onde as escrituras desempenham um papel central, mas não isolado. Defendia que o estudo crítico e indutivo do texto é essencial para uma interpretação teológica mais robusta e fundamentada.

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