Dialogismoi

Na literatura bíblica e acadêmica, o termo grego διαλογισμοιˊ (dialogismoi), forma plural de διαλογισμοˊς (dialogismos), lista os vícios e males de Marcos 7:21-23, indica pensamentos maus que procedem do interior do coração humano.

A passagem menciona uma série de males, como adultério, imoralidade sexual, roubo e homicídio, todos originados dos διαλογισμοιˊ. A verdadeira impureza não viria de fora, por meio do que se come, mas de dentro, por meio das intenções e pensamentos

Este conceito se aprofunda além de simples “pensamentos”, sugerindo uma conotação de deliberações internas, cálculos maliciosos ou raciocínios que levam a atos pecaminosos. Nesse perícope, Jesus constrasta com as preocupações de pureza ritual dos judaísmos da época, demonstrando uma mudança de foco de preceitos externos para a moralidade interna. Esse contraste é fundamental para entender a mensagem de Jesus sobre o que realmente contamina o indivíduo.

Michele De Simone

Michele De Simone (1901-1942) foi um ministro pentecostal ítalo-americano.

Originário de San Giorgio a Liri (Frosinone), na região do Lácio, nos meados dos anos 1920 ouviu o evangelho por meio de Giovanna de Matteis Pagano. Emigrou, em seguida, para os Estados Unidos

Radicado em Shelton, Connecticut, onde serviu como ancião provavelmente desde 1925, também na igreja italiana de Himroad Street no Brooklyn, New York. Integrou a Unorganized Italian Christian Churches desde sua primeira convenção em 1928. Em 1931, foi enviado a Roma para avaliar o estado da igreja italiana. Criticou a falta de liberdade religiosa e o regime de Concordata entre os governos italiano e da Santa Sé.

Culto, hábil em grego e hebraico, De Simone buscou aproximar o movimento pentecostal italiano com as igrejas evangélicas norte-americanas, especialmente as Assemblies of God. Defendia que os jovens buscassem formação em escolas bíblicas americanas. Sua posição gerou oposição e certo isolado do movimento italo-americano, então avesso a um estudo formal da Bíblia, favorencendo a experiência carismática. Morreu pregando na igreja italiana de Syracuse, New York.

Constituição Dogmática Dei Verbum

A Constituição Dogmática Dei Verbum, promulgada pelo Papa Paulo VI em 18 de novembro de 1965, durante o Concílio Vaticano II, expressa a compreensão católica da Revelação Divina e da Sagrada Escritura.

Este documento conciliar, em continuidade com os Concílios de Trento e Vaticano I, visa apresentar a doutrina sobre como Deus se comunica com a humanidade e como essa comunicação é transmitida e compreendida pela Igreja Católica.

A Dei Verbum considera que a Revelação não é meramente um conjunto de verdades abstratas, mas um ato de amor de Deus que se dá a conhecer a si mesmo aos homens, convidando-os à comunhão. Essa “economia da revelação” se manifesta por meio de ações e palavras que estão intrinsecamente ligadas, onde as obras de Deus na história da salvação confirmam a doutrina, e as palavras, por sua vez, elucidam as obras e o mistério nelas contido.

A plenitude e a mediação de toda a Revelação encontram-se em Cristo, o Verbo encarnado. A Constituição aborda a transmissão da Revelação divina, destacando o papel dos apóstolos e seus sucessores como transmissores do Evangelho. Sublinha a íntima conexão e interpenetração entre a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura, ambas emanando da mesma fonte divina, formando um todo e convergindo para o mesmo fim.

Assim, para os católicos, a Igreja alcança a certeza sobre o que foi revelado não apenas pela Escritura, mas também pela Tradição, que devem ser recebidas com igual espírito de piedade e reverência.

O documento dedica capítulos específicos à inspiração divina e à interpretação da Sagrada Escritura, reconhecendo que, embora as palavras de Deus sejam expressas em linguagem humana, o Espírito Santo assiste a Igreja na compreensão e na atualização da Palavra de Deus. A historicidade dos Evangelhos é afirmada sem hesitação, e a Igreja é encorajada a venerar as Escrituras, promovendo seu estudo e difusão para que a Palavra de Deus se espalhe e encha os corações dos fiéis.

A Dei Verbum atribui importância do Antigo Testamento como preparação para a vinda de Cristo. Já o Novo Testamento seria manifestação plena da Palavra de Deus em Jesus Cristo. O documento, que culmina com a exortação à Igreja para que a Sagrada Escritura seja a alma da Teologia, estimula o aprofundamento da Palavra de Deus, inclusive através da tradução da Bíblia para todas as línguas, visando o bem da Igreja e de toda a humanidade.

Marco Antonio de Dominis

Marco Antonio de Dominis (1560-1624), clérigo, cientista e polímata dálmata.

Nascido na ilha de Rab (atual Croácia) em uma família nobre, de Dominis foi educado pelos jesuítas em Loreto e Pádua, onde lecionou matemática, lógica, retórica e filosofia em Pádua e Brescia. Sua trajetória eclesiástica ascendeu rapidamente, tornando-se bispo de Senj em 1596 e, em 1602, arcebispo de Split e primaz da Dalmácia e de toda a Croácia. Contudo, suas tentativas de reformar a Igreja Católica e a crescente interferência da cúria papal em seus direitos metropolitanos, intensificadas pela disputa entre o papado e Veneza, tornaram sua posição insustentável.

De Dominis, um homem de intelecto notável, mas descrito por seus contemporâneos como irascível, pretensioso e avarento, destacou-se por sua obra científica. Em 1611, publicou em Veneza o Tractatus de radiis visus et lucis in vitris, perspectivis et iride, no qual, segundo Isaac Newton, foi o primeiro a desenvolver uma teoria correta do arco-íris, explicando que a luz sofre duas refrações e uma reflexão interna em cada gota de chuva. Além disso, discorreu sobre lentes e telescópios, tendo contato com Galileu e sendo publicado pelo mesmo editor de Sidereus nuncius. Sua obra física foi complementada posteriormente por Euripus seu De fluxu et refluxu maris (Roma, 1624), sobre as marés.

Seu conflito com a Santa Sé culminou em sua partida para a Inglaterra em 1616, onde foi calorosamente recebido pelo Rei Jaime I e pela Igreja Anglicana. Convertido ao anglicanismo, foi nomeado deão de Windsor e mestre do Savoy. Na Inglaterra, de Dominis publicou ataques veementes ao papado, sendo sua obra mais proeminente De Republicâ Ecclesiasticâ contra Primatum Papæ (Vol. I, 1617, Londres; Vol. II, 1620, Londres; Vol. III, 1622, Hanau), na qual defendia que o Papa não tinha jurisdição sobre os bispos, sendo apenas um primus inter pares, e advogava pelos direitos das igrejas nacionais. Ele também publicou, sem autorização, a Istoria del Concilio di Trento de Paolo Sarpi, dedicando-a ao Rei Jaime I.

No entanto, a inconstância marcou sua vida. Com a elevação de seu parente, Alessandro Ludovisi, ao papado como Gregório XV em 1621, de Dominis buscou reconciliação com Roma, retornando em 1622 após renegar suas obras antipapais em Sui Reditus ex Anglia Consilium (Paris, 1623), onde admitiu ter mentido deliberadamente em suas críticas à Igreja Católica. Após a morte de Gregório XV em 1623, perdeu sua proteção e foi preso pela Inquisição sob acusação de heresia. Marco Antonio de Dominis morreu na prisão de Castel Sant’Angelo em setembro de 1624. Postumamente, foi condenado como herege, e seu corpo e escritos foram desenterrados e queimados publicamente no Campo de’ Fiori em Roma, em 21 de dezembro de 1624.

Apesar de sua turbulenta trajetória pessoal e eclesiástica, Marco Antonio de Dominis expressou uma das mais belas e influentes máximas sobre a unidade cristã: “Em coisas necessárias, unidade; em coisas incertas, liberdade; em todas as coisas, caridade.”

Em seu contexto original,

“Omnesque mutuam amplecteremur unitatem in necessariis, in non necessariis libertatem, in omnibus caritatem. Ita sentio, ita opto, ita plane spero, in eo qui est spes nostra et non confundemur.”

“E que todos abracemos mutuamente a unidade nas coisas necessárias; a liberdade nas coisas incertas; a caridade em todas as coisas. Assim sinto, assim desejo, assim claramente espero, n’Aquele que é a nossa esperança e não seremos confundidos.”

Embora por muito tempo atribuída erroneamente a Agostinho de Hipona ou ao teólogo luterano Peter Meiderlin, a autoria a de Dominis foi definitivamente comprovada por Henk Nellen (1999). A frase, em latim “In necessariis unitas, in non necessariis libertas, in omnibus caritas”, ou variações dela, aparece pela primeira vez na obra de Dominis, De Republica Ecclesiastica, publicada em Londres em 1617. Essa citação encapsula um ideal ecumênico, ressoando com a aspiração pela harmonia e tolerância religiosa em um período de intensas divisões. Veio a ser o lema da Igreja Morávia. É citada em documentos católicos, metodistas e ecumênicos.

BIBLIOGRAFIA

de Dominis, Marco Antonio (1617). De republica ecclesiastica, libri X, caput 8.

Nellen, Henk J. M. (1999). “De zinspreuk ‘In necessariis unitas, in non necessariis libertas, in utrisque caritas'”. Nederlands Archief voor Kerkgeschidenis. 79 (1): 99–106. doi:10.1163/002820399X00232.

Donatismo

O Donatismo, cisma que emergiu no norte da África um ano após a conversão de Constantino, renovou as questões levantadas anteriormente pelo Novacianismo. Liderado por Donato, bispo de Cartago, o movimento defendia que bispos que haviam vacilado durante as perseguições não poderiam permanecer em suas funções, invalidando os batismos e sustentando que a eficácia dos sacramentos dependia da santidade do ministro. Essa postura levou ao estabelecimento de bispos rivais em diversas cidades e fomentou movimentos radicais entre os camponeses africanos.

Em 314, um concílio de bispos reunido em Arles condenou os donatistas e ordenou seu retorno à igreja, sob pena de perderem direitos civis e propriedades a partir de 316. Contudo, um breve período de tolerância foi concedido cinco anos depois, em decorrência do Edito de Milão.

Dentro do Donatismo, surgiram diversas seitas. Os Rogatistas, pacifistas, rejeitavam os excessos dos circumceliões e dos próprios donatistas. Os Claudianistas foram reconciliados com a Igreja por Primiano de Cartago, enquanto os Urbanistas representavam outra facção. Ticônio, um pensador influente expulso pelos donatistas, rejeitava o rebatismo. Houve também os seguidores de Maximiano e os controversos circumceliões, grupos extremistas que vagavam pelo campo, vivendo dos camponeses que buscavam doutrinar. Consideravam o martírio a maior virtude cristã e defendiam a condenação da propriedade e da escravidão, pregando o amor livre, o cancelamento de dívidas e a libertação de escravos. As pouco conhecidas igrejas apostólicas buscavam emular os apóstolos. Na Mauritânia e Numídia, os grupos dissidentes eram tão numerosos que os donatistas não conseguiam nomeá-los a todos.

Apesar da condenação em concílios e da oposição de figuras influentes como Agostinho de Hipona, o movimento persistiu por séculos, tornando-se uma força religiosa e social dominante em algumas regiões. A controvérsia teológica e eclesiológica levantada pelos donatistas impactou o desenvolvimento da doutrina cristã sobre a Igreja, os sacramentos e a autoridade clerical. A radicalização de alguns grupos donatistas, como os circumceliões, também gerou instabilidade social e violência.

As últimas referências históricas concretas aos donatistas são escassas, mas indicam que o movimento sobreviveu até o século VII, após a conquista islâmica do norte da África. Alguns estudiosos sugerem que comunidades donatistas isoladas podem ter persistido por mais tempo, mas faltam evidências documentais para confirmar essa hipótese.