Deuteronômio

Deuteronômio, em grego é “a segunda lei”, cujo título hebraico é devarim, de “estas são as palavras” é o último livro no conjunto do Pentateuco, onde serve de recapitulação da jornada e instrução da Lei aos israelitas. Consiste em três discursos de despedida (1-4, 5-26, 27-31:27) de Moisés nas planícies de Moabe, no final dos 40 anos de peregrinação pelos desertos durante o êxodo.

Em maior detalhe, o livro começa com um discurso de despedida proferido por Moisés nas planícies de Moabe (1:1-5). Recapitula como Deus trouxe o povo à beira do Jordão (1:1-4:43). Em um segundo discurso, Moisés explica o significado da aliança (5-11) e apresenta o Código de Leis Deuteronômicas (12-26), o cerne do livro. Seguem instruções para a renovação da aliança (27), uma lista de bênçãos e maldições (28) e uma exortação final para observar a aliança (capítulos 29-30). Seguem o Cântico de Moisés (31-32) esua bênção final a Israel (33). O relato de sua morte no Monte Nebo (34) encerra o livro.

Na comparação do Código Deuteronômico (Dt 12-26) com o Livro da Aliança ou Código da Aliança (Êx 20:22-23:33) e o Código de Santidade (Lv 17-26) há cinco tópicos únicos a Deuteronômio: a centralização da adoração (12:1-32; passim); as cidades apóstatas (13:12-16); deveres reais (17:14-20); direito da guerra (20:1-20); e o assassino desconhecido (21:1-9).

BIBLIOGRAFIA

Arnold, Bill T., and Paavo N. Tucker. Deuteronomy 12–26: A Handbook on the Hebrew Text. Baylor Handbook on the Hebrew Bible. Waco, TX: Baylor University Press, 2022.

Bratcher, Robert G., and Howard Hatton. A Handbook on Deuteronomy. United Bible Societies, 2000.

Mohrmann, Douglas C. Deuteronomion. Baylor-SBL Commentary on the Septuagint. Waco, TX: Baylor University Press, 2023.

Nelson, Richard D. Deuteronomy. Old Testament Library. Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 2002.

Robson, James E. Deuteronomy 1–11: A Handbook on the Hebrew Text. Baylor Handbook on the Hebrew Bible. Waco, TX: Baylor University Press, 2016.

Sherwood, Stephen K. Leviticus, Numbers, and Deuteronomy. Blackwell Bible Commentaries. Malden, MA: Blackwell Publishing, 2002.

Docetismo

Teoria de que Cristo não era plenamente humano, mas somente aparentava ser.

O docetismo (do grego koiné: δοκεῖν/δόκησις, dokeīn “parecer” ou dókēsis “aparição, fantasma”) foi uma heresia cristã primitiva que surgiu entre os séculos I e II d.C. O termo refere-se à crença de que Jesus Cristo apenas parecia ser humano, mas que, na realidade, era puramente divino e não possuía um corpo físico verdadeiro. Esta visão era fundamentada na ideia de que a matéria é inerentemente maligna ou corrupta, sendo incompatível com a santidade de Deus.

O termo Dokētaí (“ilusionistas”) apareceu pela primeira vez em uma carta do bispo Serapião de Antioquia (197-203 d.C.). Ele identificou a doutrina em uma comunidade cristã em Rhosus que utilizava o Evangelho de Pedro. Serapião condenou o texto como uma falsificação herética. O docetismo também era associado a debates teológicos sobre a interpretação literal ou figurativa da declaração do Evangelho de João: “o Verbo se fez carne” (João 1:14).

O docetismo negava a realidade da humanidade de Cristo e, consequentemente, minava vários aspectos fundamentais da fé cristã:

  • Negação da humanidade de Cristo: Para os docetistas, Jesus não tinha um corpo físico real. Seu corpo era considerado uma ilusão ou aparição espiritual. Isso derivava da crença de que Deus, sendo absolutamente bom, não poderia assumir uma forma material, vista como corrupta.
  • Desafios à doutrina da expiação: Ao negar que Jesus possuía um corpo físico, o docetismo colocava em questão a realidade da reconciliação. Sem um corpo real, a humanidade não possui acesso à divindade.
  • Contradição à ressurreição: Segundo os docetistas, a ressurreição também seria uma ilusão, uma vez que não haveria um corpo físico a ser ressuscitado. Isso contradizia os relatos bíblicos e enfraquecia a esperança cristã na ressurreição corporal.

O docetismo representou um desafio significativo ao cristianismo primitivo, pois atacava a base da doutrina da Encarnação e da mensagem do evangelho. Os Pais da Igreja responderam vigorosamente a essa heresia, reafirmando a verdadeira humanidade de Cristo:

  • Inácio de Antioquia: Defendeu que Jesus nasceu, comeu e sofreu de forma verdadeira, e que negar esses fatos era negar a fé cristã.
  • Irineu de Lyon: Destacou a importância do corpo físico de Cristo para a salvação, afirmando que “a carne de nosso Salvador nos salvou”.
  • Tertuliano: Apontou os relatos bíblicos da vida de Jesus, incluindo Seu nascimento, batismo e crucificação, como evidências de Sua verdadeira humanidade.

Os Concílios também condenaram o docetismo, reafirmando a doutrina ortodoxa da Encarnação e a união hipostática das naturezas divina e humana de Cristo.