Odres

Odres (em grego: ἀσκοί; em hebraico: נֹאדִים) são recipientes feitos de pele de animal, utilizados para armazenar líquidos como água, vinho, azeite e leite. Sua presença é notável em diversas passagens bíblicas, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, ilustrando seu uso comum na vida cotidiana dos povos antigos.

No Antigo Testamento, os odres são mencionados em contextos variados, desde a história de Agar e Ismael no deserto (Gênesis 21:14-19) até a descrição dos suprimentos levados pelos israelitas em sua jornada pelo Egito (Êxodo 12:34). A imagem do odre também é utilizada metaforicamente, como em Jó 32:19, onde o profeta se compara a um odre cheio de vinho, pronto para romper.

No Novo Testamento, a parábola dos odres novos e velhos (Mateus 9:17, Marcos 2:22, Lucas 5:37-38) é uma das mais conhecidas. Jesus utiliza a imagem dos odres para ilustrar a necessidade de adaptar as tradições religiosas aos novos tempos, assim como o vinho novo requer odres novos para não se perder.

Órfão

Órfão (יָתוֹם, yatom, em hebraico; ὀρφανός, orphanós, em grego) é um termo que, na Bíblia, se refere principalmente a uma criança que perdeu o pai, embora em alguns contextos possa abranger a perda de ambos os pais. A condição de órfão era vista como particularmente vulnerável na sociedade antiga, e a Bíblia enfatiza repetidamente a necessidade de cuidar e proteger os órfãos.

No Antigo Testamento, a lei mosaica continha provisões específicas para o cuidado dos órfãos, juntamente com as viúvas e os estrangeiros, como grupos vulneráveis:

  • Deuteronômio 10:18: Deus é descrito como aquele que “faz justiça ao órfão (yatom) e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e roupa”.
  • Deuteronômio 14:29; 16:11, 14; 24:17-22; 26:12-13: Essas passagens instruem os israelitas a incluir os órfãos (yatom) nas festas e a compartilhar com eles os dízimos e as colheitas. A negligência ou opressão dos órfãos era vista como uma grave ofensa a Deus.
  • Êxodo 22:22-24: “A nenhuma viúva nem órfão (yatom) afligireis. Se de alguma maneira os afligirdes, e eles clamarem a mim, eu certamente ouvirei o seu clamor. E a minha ira se acenderá, e vos matarei à espada; e vossas mulheres ficarão viúvas, e vossos filhos órfãos 1 (yatom).” Esta passagem destaca a proteção especial que Deus oferece aos órfãos.  
  • Salmos: Muitos salmos clamam a Deus como “Pai dos órfãos” (Salmo 68:5) e defensor dos necessitados.
  • : Jó, ao defender sua integridade, enfatiza que nunca negligenciou as necessidades do órfão yatom (Jó 29:12, 31:17,21)

Os profetas também denunciam a injustiça contra os órfãos como uma das principais transgressões de Israel (Isaías 1:17, 23; Jeremias 7:6; 22:3; Ezequiel 22:7; Zacarias 7:10).

No Novo Testamento, o termo grego ὀρφανός (orphanós) aparece duas vezes:

  • Tiago 1:27: “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos (orphanós) e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.” Este versículo define o cuidado dos órfãos como um elemento essencial da verdadeira religião.
  • João 14:18: Jesus diz a seus discípulos: “Não vos deixarei órfãos (orphanós); voltarei para vós.” Aqui, o termo é usado metaforicamente, referindo-se ao sentimento de abandono que os discípulos poderiam experimentar após a partida de Jesus, mas ele promete sua presença contínua através do Espírito Santo.

Oração

Oração (תְּפִלָּה, tefillah, em hebraico; προσευχή, proseuché, em grego) é um ato de comunicação com a divindade, central na experiência religiosa bíblica. Embora existam várias palavras hebraicas e gregas relacionadas à oração, tefillah e proseuché são os termos mais abrangentes e frequentes. Tefillah deriva da raiz פלל (pll), que significa “julgar”, “intervir”, “interceder”, e implica um apelo à intervenção divina. Proseuché vem de πρός (pros, “em direção a”) e εὔχομαι (eúchomai, “orar”, “desejar”), enfatizando a orientação da comunicação para Deus.

Na Bíblia, a oração assume diversas formas:

  1. Petição: Pedir a Deus por necessidades, tanto materiais quanto espirituais (Salmo 5:1-3; Mateus 6:11; Filipenses 4:6).
  2. Ação de Graças: Expressar gratidão a Deus por suas bênçãos e provisão (Salmo 100:4; Filipenses 4:6; 1 Tessalonicenses 5:18).
  3. Adoração e Louvor: Exaltar a Deus por seus atributos e obras (Salmo 95:1-7; Apocalipse 4:8-11).
  4. Confissão: Reconhecer os pecados e pedir perdão a Deus (Salmo 51; Daniel 9:4-19; 1 João 1:9).
  5. Intercessão: Orar em favor de outras pessoas (Gênesis 18:22-33; Êxodo 32:11-14; Tiago 5:16).
  6. Lamento: Expressar a angústia a Deus em tempos de adversidade (Salmos 13; 22).

A Bíblia apresenta exemplos de oração individual (1 Reis 18:36-37; Daniel 6:10; Mateus 6:6) e coletiva (2 Crônicas 6:12-42; Atos 4:24-31). A oração pode ser espontânea ou seguir fórmulas estabelecidas (como o Pai Nosso, em Mateus 6:9-13 e Lucas 11:2-4).

No Antigo Testamento, a oração é frequentemente associada ao sacrifício no Tabernáculo e, posteriormente, no Templo (1 Reis 8:22-53). No entanto, a oração pessoal e em outros locais também é evidente (Daniel 6:10).

No Novo Testamento, Jesus enfatiza a importância da oração sincera, em secreto (Mateus 6:5-6), e da fé (Mateus 21:22; Marcos 11:24). Ele próprio é apresentado como um modelo de oração, passando tempo em comunhão com o Pai (Marcos 1:35; Lucas 6:12). O ensino de Jesus sobre a oração culmina no Pai Nosso, que serve como modelo para a oração cristã, abrangendo adoração, petição, confissão e submissão à vontade de Deus.

Ônix

A pedra de ônix (שֹׁהַם, shoham, em hebraico; ὄνυξ, ónyx, em grego) é mencionada na Bíblia em diversos contextos, desde o Gênesis até o Apocalipse. Em Gênesis 2:12, é descrita como um dos produtos da terra de Havilá. Sua presença mais significativa, contudo, encontra-se nas vestes do sumo sacerdote de Israel. No peitoral (Êxodo 28:20; 39:13), o shoham era uma das doze pedras preciosas, cada uma representando uma das tribos. Duas pedras de shoham, gravadas com os nomes das tribos, eram também colocadas sobre as ombreiras do éfode (Êxodo 28:9-12; 39:6-7). A identificação precisa da pedra shoham permanece incerta, com estudiosos sugerindo, além do ônix, outras gemas como berilo, malaquita ou turquesa. A tradução para ὄνυξ na Septuaginta e na Vulgata (onde aparece como lapis onychinus) influenciou a tradição ocidental. A dificuldade na identificação precisa reside, em parte, na variação da terminologia antiga para pedras preciosas e na falta de descrições mineralógicas detalhadas nos textos bíblicos. Em Ezequiel 28:13, o shoham é listado entre as pedras preciosas que adornavam o rei de Tiro, simbolizando sua riqueza e esplendor. No Apocalipse (21:20), o ônix (ὄνυξ) figura como um dos fundamentos da Nova Jerusalém. Independentemente de sua exata composição mineralógica, o shoham bíblico representava beleza, valor e, especialmente no contexto sacerdotal, a união e a representação do povo de Israel perante Deus.

Ouro

O ouro (זהב, zahav; χρυσός, chrysós), um metal precioso de cor amarela brilhante, é mencionado extensivamente na Bíblia, desde o Gênesis até o Apocalipse. Valorizado por sua beleza, raridade e maleabilidade, o ouro desempenhava múltiplos papéis nas culturas do antigo Oriente Próximo e no mundo bíblico. Era utilizado na fabricação de ornamentos, joias, objetos de culto, utensílios reais e como moeda de troca. No contexto religioso, o ouro simbolizava a divindade, a realeza, a pureza e a glória celestial.

No Antigo Testamento, o ouro é associado à riqueza e ao poder, como nas descrições do Templo de Salomão, adornado com grandes quantidades do metal. Também era empregado na confecção de objetos sagrados, como o propiciatório da Arca da Aliança e os utensílios do Tabernáculo. No Novo Testamento, o ouro é um dos presentes oferecidos pelos magos ao menino Jesus, simbolizando sua realeza. Em Apocalipse, a Nova Jerusalém é descrita como uma cidade de ouro puro, representando a glória e a perfeição do reino de Deus.