Leitura da recapitulação

A leitura da recapitulação (ou, por vezes, a visão dos Passagens Paralelas ou Cíclica) é uma abordagem hermenêutica da interpretação do Livro do Apocalipse que contrasta diretamente com a leitura linear e cronológica (tal como é comum no dispensacionalismo), que entende os eventos dos capítulos 4-22 como uma sequência estrita de acontecimentos futuros.

Recapitulação como estratégia hermenêutica para o Apocalipse

O princípio central da recapitulação postula que as sete principais seções proféticas de Apocalipse—os selos, as trombetas e as taças, juntamente com outras visões—não são eventos sequenciais, mas sim paralelos. Cada uma dessas seções descreve o mesmo período da história—a era da igreja, desde a primeira vinda de Cristo até a sua segunda—mas de diferentes perspectivas, com intensidade crescente e um foco distinto.

O livro é visto como uma série de visões que se sobrepõem, como um fotógrafo que tira várias fotos da mesma catedral: um plano geral (os Selos), um plano focado em detalhes da fachada (as Trombetas) e uma foto do drama interior (as Taças e outras visões). Cada imagem é do mesmo tema, mas revela um aspecto diferente.

Estrutura e Ciclos da Recapitulação

Uma estrutura quádrupla ou sêxtupla se repete ao longo do livro, em que cada ciclo culmina no juízo final e na consumação do reino de Deus. Embora as divisões exatas variem, um esquema comum propõe sete ciclos principais.

As sete igrejas (capítulos 1–3) representam a profecia simbólica de toda a era da Igreja, o plano “terrestre” da luta da comunidade cristã no mundo.

Os sete selos (capítulos 4–7) mostram o mesmo período sob a perspectiva do trono celestial, revelando o plano redentor de Deus e as tribulações — guerra, fome, morte — que caracterizam toda a era.

As sete trombetas (capítulos 8–11) oferecem uma visão mais intensa e “plagueada” do mesmo período, ecoando as pragas do Egito como juízos de Deus que visam chamar o mundo ao arrependimento.

As sete figuras simbólicas (capítulos 12–14) constituem o núcleo teológico do livro, expondo a guerra espiritual por trás dos eventos históricos: o dragão (Satanás) versus a mulher (o povo de Deus) e o menino Cristo, cobrindo o conflito desde o nascimento de Cristo até a colheita final.

As sete taças (capítulos 15–16) representam a efusão final e irrestrita da ira de Deus — uma visão rápida e conclusiva dos juízos que se desdobram nas trombetas e nos selos, levando o tema do juízo ao seu clímax.

O julgamento da Babilônia (capítulos 17–19) foca na derrota do sistema mundial anti-Deus e de seus aliados, constituindo o ápice do conflito sintetizado em todos os ciclos anteriores.

Por fim, o juízo final e a nova criação (capítulos 20–22) representam a consumação definitiva. O milênio (capítulo 20) não é visto como um reino literal futuro de mil anos, mas como um quadro simbólico da presente era da Igreja, em que Satanás está “amarrado” — isto é, restrito de enganar as nações — e as almas dos mártires reinam com Cristo, culminando na derrota final de Satanás e na criação dos novos céus e da nova terra.

A teoria encontra suporte em várias evidências. A estrutura literária do livro, repleta de interlúdios e pausas (como o selamento dos 144 mil no capítulo 7), sugere uma narrativa não linear. Os finais paralelos de cada ciclo principal — o sétimo selo, a sétima trombeta e a sétima taça, todos encerrando com sinais de juízo final e a proclamação do reino de Deus — apontam para o mesmo ponto culminante.

Além disso, há precedentes no Antigo Testamento: livros proféticos como Isaías e Ezequiel frequentemente repetem e expandem temas, em vez de seguir uma cronologia estrita. A natureza eminentemente simbólica do Apocalipse reforça essa interpretação, tratando-o como um drama teológico e pastoral sobre a luta entre o bem e o mal e sobre a vitória de Cristo.

Tradições teológicas

Esta interpretação está associada ao historicismo (vendo Apocalipse como um panorama da história da igreja), ao idealismo (vendo-o como um retrato atemporal do conflito espiritual) e, especialmente, ao amilenismo e ao pós-milenismo na escatologia após o século XIX.

Os fundamentos da leitura da recapitulação remontam aos autores patrísticos, como Justino Mártir (c. 100–165 d.C.) e, Irineu (c. 130–202 d.C.), que, em sua obra Contra as Heresias, contrapôs a uma leitura estritamente linear e viu as visões como a repetição e expansão do tema da vitória de Cristo. Durante a Reforma, o historicismo, frequentemente empregando a recapitulação, foi adotado por figuras como Martinho Lutero, que via os ciclos como descrições paralelas das lutas históricas da igreja. Exegetas posteriores como Joseph Mede (1586–1638) e até mesmo Sir Isaac Newton (1642–1727), mediante abordagens historicistas, propuseram uma estrutura sincrônica para os ciclos.

Atualmente, essa leitura tem aceitação entre círculos milenistas e reformados, como William Hendriksen, cujo livro Mais do que Vencedores é uma apresentação clássica da visão. Outros autores nessa leitura são Anthony A. Hoekema, Kim Riddlebarger, Dennis E. Johnson e G.K. Beale, cuja obra monumental defende uma “progressão recapitulatória”, vendo os ciclos como repetições que se intensificam em direção à consumação.

Avaliação exegética

Do ponto de vista literário e das ciências bíblicas, há uma apreciação com ressalvas dessa estratégia hermenêutica. A recapitulação é valorizada por seu distanciamento de uma leitura estritamente linear e futurista — considerada anacrônica, uma vez que o Apocalipse é um produto do século I, voltado para a crise da perseguição romana.

Exegetas concordam que a estrutura cíclica ressoa com o gênero apocalíptico judaico, que fazia uso frequente da repetição e da recapitulação como recursos literários conhecidos. Essa abordagem é considerada mais sensível ao gênero e oferece soluções coerentes para os enigmas cronológicos do texto — como a presença do templo no capítulo 11, após sua destruição implícita no capítulo 6, ou o reinado dos santos no capítulo 20 antes do juízo final —, explicando tais fenômenos como visões paralelas e não eventos sequenciais.

No entanto, os biblistas levantam algumas reservas. A principal é que o esquema específico de sete ciclos tende a ser uma construção teológica externa, imposta ao texto por intérpretes, em vez de uma intenção original e demonstrável do autor. Além disso, ao enfatizar a generalidade da era da Igreja, a recapitulação pode negligenciar a particularidade histórica urgente da mensagem do Apocalipse ao seu público do primeiro século — uma crítica política codificada à Roma imperial e ao seu culto.

Há também a consideração, levantada pela crítica das fontes, de que as aparentes repetições e ciclos podem ser um artefato do processo de composição — resultado da junção de múltiplas tradições apocalípticas anteriores pelo autor ou redator —, e não necessariamente um plano literário intencional.

Um exame literário, contudo, tende a interpretar essa estrutura como produto de uma técnica narrativa deliberada e sofisticada. Críticos literários não veem mera repetição, mas uma amplificação progressiva ou narrativa em espiral, na qual cada ciclo — dos selos, que afetam um quarto da terra, às trombetas, que atingem um terço, e às taças, que são totais — retorna ao tema do juízo e da salvação com escopo e intensidade crescentes, conferindo ao livro um senso de clímax e movimento.

Esse modelo explica também a função das passagens de interlúdio (como o selamento dos 144 mil ou as duas testemunhas), que deixam de ser interrupções desconexas e passam a constituir pausas teológicas essenciais. Elas oferecem ao leitor a interpretação espiritual dos juízos e reafirmam a proteção divina em meio ao caos.

As reservas literárias, por outro lado, tendem a ser menores. Argumenta-se que o esquema exato de sete ciclos pode ser excessivamente rígido, e alguns estudiosos preferem modelos mais complexos, como a estrutura quiástica ou outros padrões de encadeamento. O foco do crítico literário recai menos sobre a precisão da fórmula teológica e mais sobre a função retórica da repetição — instigar no leitor uma sensação de urgência, assegurar a confiança no controle divino e provocar uma resposta de perseverança fiel.

A despeito de a teoria da recapitulação não ser intrinsecamente avessa ao contexto do século I, versões excessivamente rígidas ou centradas apenas na teologia atemporal da luta entre a Igreja e o mundo tendem a diluir ou ignorar o impacto imediato e específico que as visões do Apocalipse tinham para as sete comunidades da Ásia Menor, sob a opressão do Império Romano e do culto ao imperador.

O risco da generalização excessiva reside em transformar figuras vívidas — como a besta que sobe do mar — em meros símbolos de todo poder político anticristão ao longo da história, perdendo a sátira política imediata: uma caricatura direta do imperador romano (possivelmente Domiciano ou o Nero redivivus) e do sistema imperial.

Assim, ao interpretar “Babilônia, a grande” apenas como uma figura do mal espiritual, anula-se a força do ataque ousado e subversivo do autor contra a cidade de Roma, sua riqueza e sua perseguição aos cristãos, descontextualizando a função primária do gênero apocalíptico como literatura de resistência nascida em meio à crise.

Contudo, a crítica histórica moderna não rejeita necessariamente a recapitulação, mas a refina, reconhecendo os ciclos como uma técnica literária intencional utilizada pelo autor para abordar uma crise histórica específica. Nessa perspectiva, a estrutura cíclica parte de princípios gerais de julgamento (os selos) e progride em intensidade — ecoando as pragas do Egito (as trombetas) — até concentrar-se inegavelmente no opressor imediato, Roma, nas taças e nas visões da besta e da Babilônia. Dessa forma, cumpre uma função pastoral de consolar os perseguidos, desmistificar o poder imperial e assegurar-lhes que a perseguição fazia parte do plano soberano de Deus.

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A leitura da recapitulação de Apocalipse vai além das leituras lineares, pois considera o gênero e a estrutura interna do livro.

BIBLIOGRAFIA

Beale, G. K. The Book of Revelation: A Commentary on the Greek Text. New International Greek Testament Commentary. Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Publishing Company. 1999. 

Hendriksen, William. More Than Conquerors: An Interpretation of the Book of Revelation. Grand Rapids, MI: Baker Book House. 1940. 

Hoekema, Anthony A . The Bible and the Future. Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Publishing Company.1979

Johnson, Dennis E.  Triumph of the Lamb: A Commentary on Revelation. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing. 2001.

Poythress, Vern S. The Returning King: A Guide to the Book of Revelation. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing. 2000. 

Riddlebarger, Kim. A Case for Amillennialism: Understanding the End Times. Grand Rapids, MI: Baker Books. 2003. 

Leitura preterista

A leitura preterista (do latim praeter, “passado”) interpreta as profecias do Livro do Apocalipse como eventos que se cumpriram primária ou completamente no século I, culminando na destruição de Jerusalém e do Templo em 70 d.C. Para o preterista, o Apocalipse não é uma previsão para o futuro distante, mas uma mensagem codificada de encorajamento e juízo dirigida ao seu público original, assegurando a soberania de Deus sobre seus opressores imediatos — o Império Romano e o judaísmo apóstata.

Princípios fundamentais

O preterismo é fundamentado na premissa de que o contexto histórico imediato é decisivo para a interpretação. Insiste que o livro foi escrito para as sete igrejas reais da Ásia Menor, a fim de tratar de suas lutas específicas sob a pressão do poder imperial romano.

Sua hermenêutica é ancorada nas declarações de tempo do próprio livro (Apocalipse 1:1; 1:3; 22:10), que afirmam que os eventos estavam “prestes a acontecer” e que “o tempo está próximo” para os primeiros leitores.

Símbolos e contexto do século I

Nessa visão, o simbolismo vívido do livro é uma linguagem codificada que se refere a entidades e acontecimentos históricos do século I.

A Besta (666): É identificada como o imperador romano Nero César, cujo nome soma 666 pela numerologia hebraica (gematria). Ele foi um notório perseguidor de cristãos. A “ferida mortal que foi curada” (Apocalipse 13:3) é vista como referência à lenda de Nero redivivus, a crença de que o imperador retornaria ao poder.

Babilônia, a Grande: É interpretada como a cidade de Roma, a “grande cidade” assentada sobre “sete colinas”, conhecida por governar o mundo e estar “embriagada com o sangue dos santos”. A Grande Prostituta (Apocalipse 17) simboliza o sistema imperial romano — sedutor, idólatra e perseguidor — e sua religião estatal.

A Grande Tribulação: O intenso sofrimento descrito nos selos, trombetas e taças é interpretado como o período da guerra judaico-romana (66–70 d.C.), que culminou no cerco e na destruição de Jerusalém pelos exércitos romanos. Esse seria o “grande dia da ira” (Apocalipse 6:17), lançado sobre a nação judaica que rejeitou o Messias.

Os mil anos (Apocalipse 20): O preterismo parcial — a forma mais comum — entende o reinado de mil anos como o presente período da Igreja. O aprisionamento de Satanás, que o impede de enganar as nações e obstruir a propagação do Evangelho, teria começado com a vitória de Cristo, enquanto os mártires “reinam com Cristo” espiritualmente no céu.

O novo céu e a nova terra (Apocalipse 21–22): Representam o estabelecimento da nova ordem da aliança. Com a destruição definitiva do sistema da antiga aliança — a velha “terra” e o “céu” que passaram —, o povo de Deus habita na realidade da nova criação, identificada com a Igreja, a Nova Jerusalém.

Variações e avaliação

Existem duas variações principais: o preterismo parcial, majoritário, que sustenta que a maior parte das profecias se cumpriu no século I, mas ainda aguarda o retorno físico de Cristo e a ressurreição final dos mortos; e o preterismo pleno (ou consistente), uma visão minoritária e frequentemente considerada não ortodoxa pelas principais tradições cristãs, que afirma que toda a profecia bíblica, incluindo a segunda vinda e a ressurreição, foi espiritualmente cumprida em 70 d.C.

A força do preterismo reside em sua coerência histórica, por levar a sério as declarações de tempo do livro e por fornecer referenciais concretos do século I para o simbolismo (Babilônia = Roma; 666 = Nero), evitando a especulação sobre figuras contemporâneas.

Suas fraquezas, contudo, incluem a crítica de que, se o cumprimento é primariamente passado, o livro perde parte de seu poder preditivo e de sua urgência para as gerações posteriores. Além disso, o preterismo parcial enfrenta o desafio teológico de explicar como o “fim” pôde ocorrer em 70 d.C., mas um “fim” final ainda está por vir.

BIBLIOGRAFIA

DeMar, Gary.  Last Days Madness: Obsession of the Modern Church. 4th ed. Atlanta, GA: American Vision. 1997.

Gentry, Kenneth L. Before Jerusalem Fell: Dating the Book of Revelation. Revised ed. Atlanta, GA: American Vision. 1998. 

Hanegraaff, Hank. The Apocalypse Code: Find Out What the Bible Really Says About the End Times and Why It Matters Today. Nashville: Thomas Nelson. 2007.

Mathison, Keith A.  Postmillennialism: An Eschatology of Hope. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing. 1999.

Riddlebarger, Kim. A Case for Amillennialism: Understanding the End Times. Grand Rapids, MI: Baker Books. 2003. 

Russell, J. Stuart. The Parousia: A Critical Inquiry into the New Testament Doctrine of Our Lord’s Second Coming. London: T. Fisher Unwin 1887.. Reprint, Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1999.

As Sete Petições de Elias

O Sheva Elijjahu (As Sete Petições de Elias) é um encantamento baseado em orações litúrgicas, encontrado na Geniza do Cairo. Seu título é atribuído a Elias, mas a obra em si é uma coleção de material litúrgico e mágico com paralelos na literatura Hekhalot e outros encantamentos antigos. Embora o manuscrito específico date do século XI d.C., a idade exata de sua composição é incerta. A obra consiste em várias orações ou hinos de louvor, cada um com elementos de encantamento com o nome de Elias para fins mágicos e litúrgicos.

Gradação da comunhão ecumênica

A gradação da comunhão ecumênica reflete os diferentes níveis de unidade doutrinária e reconhecimento mútuo alcançados por denominações cristãs separadas. Essa estrutura, utilizada por teólogos como cardeal Walter Kasper, J.M.R. Tillard, Günther Gassmann e Harding Meyer baseia-se na ideia da koinonia (comunhão) e se manifesta em níveis progressivos de compartilhamento espiritual, desde a cooperação até a unificação estrutural.

No extremo oposto das relações ecumênicas, há grupos que rejeitam até mesmo a comunhão em oração, aderindo ao conceito unitário de comunhão (unit concept of fellowship). Para eles, qualquer atividade espiritual compartilhada é uma confissão de unidade doutrinária total, e a participação em oração com grupos que sustentam erros doutrinários constituiria um pecado de unionismo. O principal exemplo dessa postura é a Wisconsin Evangelical Lutheran Synod (WELS), que, juntamente com a Evangelical Lutheran Synod (ELS), recusa-se sistematicamente a realizar oração conjunta com outras denominações, incluindo a Lutheran Church—Missouri Synod (LCMS), para evitar dar uma falsa impressão de unidade onde as diferenças doutrinárias persistem.

O grau inicial de relacionamento é a comunhão em oração (Communion in Prayer), ou cooperação, que se manifesta no compartilhamento de orações e na colaboração em ações sociais e evangelísticas, como nas Semanas de Oração pela Unidade Cristã. Tal prática reconhece um batismo comum e a devoção a Cristo, mesmo com diferenças doutrinárias significativas. O Decreto sobre o Ecumenismo do Concílio Vaticano II, Unitatis Redintegratio (UR), endossa o princípio da oração em comum “onde isto for permitido” (UR 8), estabelecendo um nível imperfeito ou parcial de comunhão (imperfect communion).

Avançando, encontra-se a comunhão no púlpito (Communion in Pulpit ou Pulpit Fellowship), um passo mais substancial que denota acordo doutrinário suficiente para permitir que ministros de uma igreja preguem ou ensinem no púlpito de outra. Essa prática implica um reconhecimento mútuo da validade da Ministério da Palavra de cada clero, sendo um conceito proeminente em acordos entre certas tradições protestantes, como as luteranas e reformadas.

O ponto culminante da unidade visível é a comunhão no altar (Communion in Altar ou Altar Fellowship), também conhecida como comunhão plena (Full Communion) ou communio in sacris (comunhão nas coisas sagradas) no vocabulário católico. Esta é a partilha mútua da eucaristia (Santa Ceia/Comunhão), que exige o mais alto grau de acordo em doutrina, sacramentos e ministério. Exemplos de acordos de comunhão plena entre denominações que mantêm estruturas separadas incluem a Concord of Leuenberg (1973), que estabeleceu comunhão de púlpito e altar entre a maioria das Igrejas Luteranas e Reformadas na Europa, e o acordo “Called to Common Mission” (2001) entre a Igreja Evangélica Luterana na América (ELCA) e a Igreja Episcopal (TEC). A Igreja Católica Romana restringe o communio in sacris a igrejas que ela considera que possuem a mesma fé, sacramentos e ministério válido, como as Igrejas Ortodoxas Orientais, com as quais a comunhão é considerada “tão profunda que pouco falta para alcançar a plenitude”.

Finalmente, o nível mais profundo de unidade institucional é a comunhão orgânica (Organic Communion ou Organic Union), onde dois ou mais corpos eclesiais fundem suas estruturas para formar uma única nova denominação, com um único sistema de governança e ministério unificado. Exemplos históricos incluem a Igreja Unida do Canadá (1925) e a Igreja do Sul da Índia (1947), que transcenderam identidades anglicanas, metodistas e presbiterianas para manifestar a unidade de forma estrutural e visível.

Torre de Siloé

A Torre de Siloé é mencionada exclusivamente no Evangelho de Lucas 13:4, quando Jesus a utiliza como exemplo em seu ensino sobre arrependimento e sofrimento.

Localizava-se em Jerusalém, provavelmente perto do Tanque de Siloé no sudeste da Cidade de Davi, uma área associada à fonte de Giom, vital para o abastecimento de água.

No relato, Jesus se refere a um evento trágico recente: “Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis” (Lucas 13:4-5, ARC).

A estratégia retórica empregada por Jesus era não de explicar a causa da tragédia, provavelmente vista como uma punição divina por pecados específicos das vítimas. Assim, refuta essa crença, desassociando a calamidade do infortúnio individual e direcionando a atenção de todos para a urgência do arrependimento universal diante da fragilidade da vida e da morte iminente. A queda da torre, um acidente sem inimigos ou interesses políticos, ilustra a condenação geral e da necessidade de salvação.

A arqueologia na área revelou ruínas poderiam ser a base de uma torre, circular e com aproximadamente seis metros de diâmetro, o que poderia corroborar a existência de tal estrutura. O evento da Torre de Siloé, juntamente com o massacre de galileus por Pilatos (Lucas 13:1-3), demonstra a postura crítica de Jesus contra a ideologia que criminalizava as vítimas de tragédias, além do tema lucano na necessidade de conversão imediata para evitar a perdição eterna.

BIBLIOGRAFIA
Buchanan, G. W. (2003). The Tower of Siloam. The Expository Times, 115(2), 37-45. https://doi.org/10.1177/001452460311500201