Pontos de doutrina e da fé: uma exposição bíblica

ALVES, Leonardo Marcondes. Pontos de Doutrina e da Fé: uma exposição bíblica. Círculo de Cultura Bíblica, 2024. ISBN 978-65-266-2284-1

O livro “Pontos de Doutrina e da Fé: uma exposição bíblica” de Leonardo Marcondes Alves oferece uma análise detalhada das principais doutrinas da fé cristã. Escrito em linguagem acessível e com profundo embasamento bíblico, o livro examina os doze pontos fundamentais das crenças cristãs, redigidos na histórica convenção de Niagara Falls em 1927.

Explicado a partir de um ponto de vista de um membro da Congregação Cristã no Brasil, é destinado aos membros da CCB e aos leitores interessados a conhecerem seus fundamentos doutrinários. A obra destaca temas essenciais para o discipulado e a edificação na fé. Alves, como biblista e pesquisador, proporciona uma leitura essencial para compreender as bases doutrinárias do movimento pentecostal italiano.

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ISBN 9786526622841 (Brasil)

ISBN: 979-8335135290 (Amazon)

DOI 10.5281/zenodo.11212072

Igrejas autossustentáveis

A teoria missiológica das igrejas autossustentáveis, comumente conhecida como fórmula dos Três Autos ou Princípio dos Três Autos, é uma doutrina que defende o estabelecimento de igrejas indígenas caracterizadas por autogoverno, autossuporte e autopropagação. Prevê-se que estas igrejas sejam lideradas por líderes locais, financeiramente independentes e ativamente empenhadas na difusão da sua fé, tanto local como globalmente.

A teoria surgiu no século XIX como uma reação às preocupações relativas à natureza paternalista das atividades missionárias. Os missionários ocidentais, embora estabelecessem igrejas em terras estrangeiras, muitas vezes exerciam um controle autoritário sobre elas, resultando na dependência de recursos externos e liderança. Esta dependência dificultou o crescimento e a autonomia das congregações locais.

Antes de ser formulada teoricamente por missiólogos, foi na prática empregada nas missões de Hudson Taylor, Robert Reid Kalley, o movimento dos Irmãos, William Taylor, além de amplamente empregada pela primeira geração de missionários pentecostais como Louis Francescon, Fredrick Mebius, Willis Collins Hoover, Gunnar Vingren, dentre outros.

Os pincipais proponentes como teoria missiológica foram Henry Venn e Rufus Anderson. Venn foi Secretário Geral da Sociedade Missionária da Igreja, enfatizou o cultivo da liderança local e da independência financeira. Já Rufus Anderson, Secretário de Relações Exteriores do Conselho Americano de Comissários para Missões Estrangeiras, enfatizou a importância dos crentes locais assumirem o comando do evangelismo e da plantação de igrejas.

Fudamentando-se no sacerdócio universal dos crentes, esse paradigma missiológico possui várias vantagens. Ao promover a liderança e a responsabilidade locais, as igrejas autossustentáveis capacitam os cristãos locais, levando a um envolvimento e crescimento mais profundos dentro da comunidade. A independência financeira reduz a dependência de financiamento externo, garantindo estabilidade a longo prazo e adaptabilidade aos contextos locais. As igrejas autossuficientes estão melhor posicionadas para desenvolver expressões de fé que ressoem com as nuances culturais das suas comunidades específicas.

Algumas críticas e desafios existem para esse modelo missiológico. Alcançar a verdadeira autossuficiência pode ser um desafio, especialmente em contextos de recursos limitados, onde o apoio externo ainda pode ser necessário durante um determinado período. Também é desafiador balancear o respeito às práticas e valores culturais com as tradições eclesiológicas das denominações que enviam missionários. A ênfase excessiva na autossuficiência pode levar à falta de colaboração e de redes de apoio entre as igrejas, isolando-as potencialmente de movimentos e recursos mais amplos.

Um quarto “auto” apareceu com o trabalho do missiólogo e antropólogo Paul Hiebert. Trata-se da “autoteologização” ou a autonomia da reflexão teológica. Como cada cultura possuem categorias não traduzíveis para outros contextos, é importante que as igrejas locais desenvolvam uma familiaridade com as Escrituras, sejam elas próprias intérpretes confiantes. Assim, seriam as igrejas em cada nação seriam suficientemente autônomas para desenvolver suas próprias agendas teológicas em diálogos com as igrejas em contextos globais.

BIBLIOGRAFIA

Anderson, Rufus. A Heathen Nation in Favor of the Gospel: Or, Hints on the Means by Which the Population of a Heathen Nation May Be Led to an Early Knowledge of Christianity. Press of T.R. Marvin, 1845.

Anderson, Rufus. Foreign Missions: Their Relations and Their Claims. Congregational Board of Publication, 1869.

Bosch, David J. Transforming Mission: Paradigm Shifts in Theology of Mission. Orbis Books, 1991.

Hiebert, Paul G. Anthropological Insights for Missionaries. Baker Book House, 1985.

Hiebert, Paul G. Transforming Worldviews: An Anthropological Understanding of How People Change. Baker Academic, 2008.

Taylor, J. Hudson. China’s Spiritual Need and Claims. Morgan and Scott, 1865.

Venn, Henry. Retrospect of the First Ten Years of the Church Missionary Society. Church Missionary House, 1851.

Walls, Andrew F. The Missionary Movement in Christian History: Studies in the Transmission of Faith. Orbis Books, 1996.

Missiologia

A Missiologia é uma disciplina acadêmica e ramo da teologia focada no estudo da missão cristã, abrangendo sua história, doutrina e metodologia. Como discipina, aprofunda-se nas preocupações centrais da missão como iniciativa de Deus, o papel da igreja na missão e os métodos e objetivos de compartilhar o Evangelho em contextos culturais diversos.

A Missiologia desempenha um papel vital na compreensão e orientação dos esforços de missão cristã, facilitando a reflexão, o diálogo e o engajamento eficaz com diversos contextos culturais e desafios contemporâneos.

A Missiologia como disciplina

As preocupações centrais da missiologia são as seguintes

  • Missão como iniciativa de Deus: a missiologia busca compreender a missão como originária do desejo de Deus de reconciliar a humanidade consigo mesmo.
  • Participação da Igreja na missão: explorar o papel da Igreja em realizar a missão de Deus (missio Dei).
  • Compartilhar o Evangelho em diferentes contextos: abordar os desafios e oportunidades de comunicar a mensagem cristã através de fronteiras culturais e sociais.

Em razão desses temas acima, a missiologia geralmente se revolve em torno de quatro grandes questões:

  1. Qual é a natureza da missão?
  2. Quem são os agentes da missão?
  3. Quais são os métodos da missão?
  4. Quais são os objetivos da missão?

A Missiologia é uma disciplina interdisciplinar que utiliza o conhecimento da teologia, história, antropologia, sociologia, estudos de comunicação, comunicação intercultural, geografia, serviço social, diaconia e outras mais. Ela abrange diversas expressões de missão, incluindo evangelização, justiça social, diálogo inter-religioso, educação, saúde e engajamento cultural. A Missiologia também oferece uma perspectiva global, analisando tendências históricas e contemporâneas na missão cristã.

Visão Histórica das Missões Cristãs

Durante a Igreja Primitiva e Período Patrístico o Cristianismo se espalhou pelo mundo mediterrâneio, sobretudo nos impérios Romano e Parta principalmente através dos esforços de figuras como o Apóstolo Paulo e Agostinho. O foco estava na conversão e no estabelecimento de comunidades cristãs.

O período medieval viu atividades missionárias entrelaçadas com o monasticismo e a conversão de tribos tidas como bárbaras na Europa, além de propagação gradual e formação de igrejas nativas na África e Ásia. As Cruzadas também desempenharam um papel na disseminação do catolicismo romano através de meios forçados entre populações cristãs não católicas, judeus e muçulmanos.

A expansão europeia durante a Era da Exploração levou ao estabelecimento de impérios coloniais, acompanhados por empreendimentos missionários católicos e protestantes nas Américas, África e Ásia. No entanto, essas missões muitas vezes se envolveram com o colonialismo e enfrentaram críticas. Ações de franciscanos e jesuítas destacaram-se. No século XVII aparecerem missões protestantes nas Índias Orientais e, sobretudo, no século seguinte as missões globais e transculturais dos morávios.

O século XIX testemunhou o surgimento de sociedades missionárias protestantes, focadas em educação, saúde e desenvolvimento social ao lado da evangelização. Surgiram debates sobre métodos missionários e sensibilidade cultural.

O século XX viu movimentos de descolonização e o surgimento de igrejas indígenas, bem como o surgimento de movimentos de evangelização e Pentecostalismo. As respostas missiológicas à globalização e ao secularismo enfatizaram a contextualização e a parceria com igrejas locais.

Teorias e Paradigmas do Trabalho Missionário

Paradigmas Missionários Clássicos:

  1. Paradigma da Salvação: centra-se na conversão individual e a vida eterna.
  2. Paradigma da Civilização: considera a missão como um veículo de levar a cultura e valores, sobretudo ocidentais, para outras sociedades.
  3. Paradigma do Desenvolvimento: concentra-se em melhorar as condições materiais e o desenvolvimento socioeconômico.

Paradigmas Missionários Contemporâneos:

  1. Igrejas Indígenas e Autossustentáveis: busca estabelecer e fortalecer igrejas locais indígenas. Os clássicos três “autos”, depois acrescido por um quarto “auto” resumem esse paradigma: igrejas com autogoverno, autossuporte e autopropagação e autônomas na reflexão teológica.
  2. Cristianismo global: demograficamente o cristianismo deslocou-se do mundo ocidental e norte global para concentrar-se no mundo majoritário da América Latina, África e Ásia. Assim, fluxos sul-norte e sul-sul são responsáveis pela propagação do evangelho em uma larga escala, mas sem se guiar por ditames euroamericanos.
  3. Missão Integral: ligado ao movimento evangélico de Lausanne, busca uma abordagem holística, abordando dimensões espirituais, sociais e econômicas.
  4. Inculturação e Contextualização: encoraja a adaptação da fé às culturas e contextos locais.
  5. Teologia da Libertação: aborda a injustiça social e capacita comunidades marginalizadas. Tipicamente latinoamericana, sul-africana e sul-coreana, além de missiologias
  6. Igrejas Missionais: movimentos que encorajam igrejas locais a se tornaram epicentros de comunicação do evangelho em contextos urbanos e segmentos onde o cristianismo perdeu relevância política ou cultural, como a academia.
  7. Parceria e Mutualidade: Destaca a colaboração entre missões e igrejas locais, enfatizando aprendizado mútuo e respeito.
  8. Missões de todo lugar a qualquer lugar, de toda pessoa a qualquer pessoa.

A Grande Comissão e a teologia da Missão


A Grande Comissão (Mateus 28:16-20), dada por Jesus a Seus discípulos, serve como pedra angular para a missão cristã. Neste texto, Jesus ordena a Seus seguidores que vão, façam discípulos, batizem e ensinem, indicando a natureza universal e o alcance da missão.

Ao longo de Seu ministério, Jesus personificou a missão de Deus. Ele proclamou o Reino de Deus, abraçou os marginalizados e excluídos, demonstrou o amor de Deus por meio de curas e milagres, e comissionou Seus discípulos para continuarem Sua obra.

O Livro de Atos narra a expansão da igreja primitiva por meio do evangelismo e do empoderamento do Espírito Santo. Por meio de jornadas missionárias, como as de Paulo, os primeiros cristãos enfrentaram desafios culturais e religiosos, enfatizando a importância da comunidade e da comunhão no avanço da missão.

Perspectivas do Antigo Testamento sobre Missão e a Missão de Deus no Mundo:

O Antigo Testamento estabelece o fundamento para o plano redentor de Deus para a humanidade. Isso inclui a aliança com Abraão, com a promessa de bênção para todas as nações, a história do Êxodo simbolizando a libertação da escravidão, e a visão dos profetas de paz e justiça universais.

Israel, como povo escolhido de Deus, tinha uma missão de ser luz para as nações, testemunhando o caráter e os propósitos de Deus. Isso envolvia servir como um modelo de justiça e compaixão, embora muitas vezes não conseguissem cumprir essa missão completamente.

O Antigo Testamento também destaca os desafios e críticas da missão de Israel. Apesar de seu chamado único, Israel frequentemente falhou em cumpri-lo, levando a tensão entre sua missão universal e identidade particular. Essas implicações teológicas continuam a moldar nossa compreensão da missão de Deus hoje.

Reflexões Teológicas sobre Evangelismo, Discipulado e Edificação do Reino

O evangelismo é central para a missão cristã, envolvendo o compartilhamento da mensagem do Evangelho de Jesus Cristo. É um convite à transformação pessoal e à salvação, empregando diversas abordagens e métodos de comunicação fundamentados em motivações teológicas.

O discipulado envolve crescimento e transformação em Cristo, aprendendo e vivendo os ensinamentos de Jesus, e capacitando e fortalecendo outros para o ministério. Trata-se de construir comunidades de fé e amor, nutrindo indivíduos para se tornarem seguidores fiéis de Jesus.

A edificação do Reino reflete o reinado de Deus de justiça, paz e amor, chamando os cristãos a trabalharem pela transformação de indivíduos e da sociedade. Envolve-se com questões e estruturas sociais, guiadas pela esperança escatológica e pela antecipação do cumprimento futuro.

Desafios e Oportunidades nas Missões Contemporâneas

As missões enfrenta uma série de desafios e oportunidades no contexto contemporâneo. Eis alguns deles.

  1. Ética Missionária e Imperialismo Cultural: separar evangelho de etnocentrismo.
    A ética missionária é fundamental para o respeito às culturas locais, valores e autonomia das comunidades-alvo. Isso contrasta com o imperialismo cultural, que pode impor valores e estruturas dos missionários. Navegar nas diferenças culturais requer sensibilidade, adaptação e inculturação. Examinaremos estudos de caso, como missões coloniais, perspectivas indígenas e diretrizes éticas.
  2. Missões e Justiça:
    As bases bíblicas para a justiça enfatizam o cuidado com os pobres, marginalizados e oprimidos. As missões são vistas como um ministério compreensivo, abordando tanto as necessidades espirituais quanto materiais. No entanto, há inevitáveis conflitos entre uma missão apolítica e a necessidade de envolvimento com estruturas sociais e injustiças. Exemplos incluem educação, cuidados de saúde, advocacia em favor dos vulneráveis e desenvolvimento comunitário.
  3. O Papel da Tecnologia e da Globalização nas Missões:
    A tecnologia oferece oportunidades significativas para a comunicação, colaboração, compartilhamento de recursos e alcance global. No entanto, também apresenta desafios, como a divisão digital, sensibilidade cultural, riscos online e uso ético de dados. Tecnologias emergentes, como mídias sociais, plataformas móveis e narrativas digitais, através de casos de estudo envolvendo ministérios online, evangelismo baseado em tecnologia e parcerias globais.
  4. Perseguição e Martírio:
    O enfrentamento da perseguição religiosa é uma realidade histórica e contemporânea para muitos cristãos. Há exemplos bíblicos e históricos de perseguição, bem como a teologia do martírio, destacando a importância do testemunho cristão em tempos de adversidade. A missiologia também aborda maneiras de apoiar os cristãos perseguidos por meio de ativismo, oração e assistência prática.
  5. Grupos de Pessoas Não Alcançadas e Missões de Fronteira:
    Identificar e alcançar grupos de pessoas não alcançadas apresenta desafios únicos, como barreiras linguísticas, acesso e preocupações com segurança. A missiologia discute abordagens em uma reflexão crítica para alcançar esses grupos, enfatizando a colaboração, respeito cultural e engajamento a longo prazo. Também há considerações éticas, como evitar a interrupção sociocultural, construir confiança e promover a sustentabilidade.
  6. Sustentabilidade e Impacto de Longo Prazo das Iniciativas Missionárias:
    Além de projetos de curto prazo, as missões devem se concentrar na construção de autossuficiência e liderança local. A missiologia busca construir bases comunitárias e parcerias, capacitando igrejas e organizações locais. Isso requer avaliação do impacto a longo prazo, incluindo resultados mensuráveis, transformação social e mudanças duradouras.
  7. Ecumenismo:
    O ecumenismo moderno nasceu das iniciativas missionárias. Ainda hoje os movimentos ecumênicos promovem a unidade e cooperação entre as denominações cristãs, oferecendo oportunidades para projetos conjuntos, diálogo e iniciativas evangelísticas compartilhadas. Enquanto desafios como divisões históricas e diferenças teológicas persistem, o ecumenismo continua a ser uma força positiva nas missões contemporâneas. É um remédio ao proselitismo e ao exclusivismo denominacional.
  8. Fraternidade Intradenominacional:
    Conectar e colaborar dentro de uma única denominação globalmente oferece oportunidades para compartilhar recursos, melhores práticas e experiências. No entanto, as denominações com alcance global enfrentam desafios como diversidade cultural, barreiras de comunicação e estruturas de liderança. Desentendimentos quanto aos papéis das igrejas que enviam e recebem obras missionárias, bem como o desenvolvimento da autonomia exigida normalmente por questões legais nacionais e necessidades culturais são desafios constantes. Exemplos de iniciativas colaborativas incluem missões denominacionais, conferências globais e ministérios compartilhados.

BIBLIOGRAFIA

Bosch, David J. Transforming Mission: Paradigm Shifts in Theology of Mission (1991).
Jenkins, Philip. The Next Christendom: The Coming of Global Christianity (2002)
Newbigin, Lesslie. The Gospel in a Pluralist Society (1989).
Sanneh, Lamin. The Changing Face of Christianity: Africa, the West, and the World (2009).
Tennent, Timothy C. Theology in the Context of World Christianity: How the Global Church Is Influencing the Way We Think about and Discuss Theology (2007).
Walls, Andrew F. The Missionary Movement in Christian History: Studies in the Transmission of Faith (1996).

Imagens de Deus

As imagens preconcebidas de Deus influenciam na hermenêutica bíblica, como outras categorias e pressupostos que o leitor traz para a leitura.

No âmbito da hermenêutica, deve-se levar em conta a influência de ideias preconcebidas na leitura das Escrituras sagradas. Uma delas é a concepção de Deus. O psicólogo e teólogo Karl Frielingsdorf propôs uma tipologia de imagens de Deus. Aqui utilizamos essa tipologia para retratar as diferentes concepções que os indivíduos portam para lerem as Escrituras.

Frielingsdorf afirma que a compreensão que uma pessoa tem de Deus começa nos anos de formação. São moldadas pela socialização religiosa, experiências familiares e influências culturais. Essas primeiras imagens de Deus, sejam provedoras e protetoras ou punitivas e julgadoras, tornam-se os “Grundfolien” ou modelos fundamentais que influenciam pensamentos, emoções e ações subsequentes (Frielingsdorf 1993).

O leitor avaliará todas as representações de Deus na Bíblia de acordo com o que ele ou ela imagina. Então, este exercício eisegético afetaria mais tarde a sua percepção da realidade, da vida espiritual e da teologia.

Os quatro tipos de imagens de Deus propostas por Frielingsdorf são:

  1. O Deus da lacunas e a hermenêutica dualista: Indivíduos que percebem Deus como um substituto para necessidades não satisfeitas podem abordar a Bíblia com uma predisposição para interpretações dualistas, dividindo o texto num reino de bondade divina e num mundo humano repleto de mal. Isto pode levar a uma leitura seletiva, enfatizando passagens que reforçam um Deus benevolente e negligenciando aquelas que desafiam este imaginário reconfortante. Buscam ver milagres todos os dias ao invés de cada dia como um milagre. Possuem dificulades de verem Deus no cotidiano, no ordinário, no profano, mas somente no sobrenatural, no miraculoso, no extraordinário.
  2. O Deus Juiz Punitivo e a hermenêutica do medo: Os leitores com essa imagem de um Deus punitivo podem interpretar as narrativas bíblicas através das lentes do medo. Cada evento bíblico pode ser visto como consequência da retribuição divina, dificultando uma compreensão matizada do contexto cultural e histórico da Bíblia. São incapazes de enxergar um Deus gracioso e misericordioso. Por considerar Deus como incapaz de perdoar, vivem com medo do castigo divino, moldando suas orientações morais e éticas.
  3. O Deus Contabilista e a hermenêutica legalista: Aqueles que têm uma imagem de Deus como um contador exigente tendem a abordar a Bíblia com uma mentalidade legalista, percebendo os mandamentos e as leis como um registro meticuloso dos atos humanos. Isto pode levar a uma interpretação intransigente dos textos bíblicos. Esse leitor terá foco na adesão às regras, em vez de na compreensão dos princípios espirituais subjacentes.
  4. O Deus gestor por desempenho e Teologia Baseada nas Obras: Indivíduos que veem Deus como uma divindade que valoriza o desempenho e o sucesso podem interpretar a Bíblia através de lentes teológicas baseadas nas obras. Isto pode levar a uma ênfase na realização pessoal e na justiça a qual se sentem receptores. Gera uma concepção meritocrática da relação com Deus. Assim, é fácil negligenciar os temas centrais da graça, da misericórdia e do poder transformador da fé nas narrativas bíblicas.

BIBLIOGRAFIA

Frielingsdorf, Karl. Dämonische Gottesbilder. Mainz: Mattias Grünewald, 1993.

VEJA TAMBÉM

Teologia dos atributos

Teologia Própria