Gilberto Gorgulho

Gilberto da Silva Gorgulho (1933-2012), conhecido como Frei Gorgulho, foi um biblista brasileiro.

Sua contribuição para o estudo bíblico no Brasil inseri-se no movimento de leitura popular da Bíblia. Gorgulho foi um dos coordenadores, ao lado de Ivo Storniolo e Ana Flora Anderson, da edição em língua portuguesa da renomada Bíblia de Jerusalém, publicada pela Paulus em 2002 e atualizada em 2012. Além dessa obra de referência, Gorgulho foi coautor de outros livros e estudos bíblicos, incluindo trabalhos sobre os Evangelhos de Marcos e João, e o livro A Justiça dos Pobres – Mateus. Também se dedicou à preparação de “círculos bíblicos”, uma iniciativa que visava promover o estudo e a reflexão sobre a Bíblia em comunidades.

Além de sua produção bibliográfica na área da teologia e exegese bíblica, Gilberto da Silva Gorgulho foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás e da Academia Goiana de Letras (AGL), além de Conselheiro do Conselho Estadual de Cultura de Goiás e fundador da Academia Itaberina de Letras e Artes (AILA).

Richard Hays

Richard B. Hays (1948-2025) foi um estudioso do Novo Testamento que contribuiu para a ética cristã e a hermenêutica bíblica. Ministro na Igreja Metodista Unida, Hays lecionou em Yale e Duke Divinity School, onde também foi reitor.

Em “The Moral Vision of the New Testament” (1996), Hays explora a relação entre a Bíblia e a ética. Ele argumenta que a narrativa bíblica oferece uma visão moral para os cristãos.

Hays escreveu sobre as epístolas paulinas e os Evangelhos, com obras como “Echoes of Scripture in the Letters of Paul” (1989) e “The Faith of Jesus Christ” (1983).

Hays participou de círculos acadêmicos e eclesiásticos, motivando o estudo das Escrituras e a vida cristã de acordo com o Novo Testamento.

Dewey Beegle

Dewey Maurice Beegle (1919-1995) foi um biblista e bibliologista evangelical americano, calcado no metodismo.

Beegle nasceu em Seattle, Washington. Seus pais eram membros ativos da Igreja Metodista Livre, e seu pai foi professor de matemática no Seattle Pacific College. A família Beegle trabalhou como missionária por um curto período no Panamá, mas retornou a Seattle devido a problemas de saúde.

Desde cedo, a vida de Dewey Beegle esteve ligada aos estudos acadêmicos. Ele formou-se no Seattle Pacific College e concluiu seu curso Summa Cum Laude no Asbury Theological Seminary. Em 1952, obteve o título de Doutor em Filosofia (Ph.D.) pela Universidade Johns Hopkins.

Após sua graduação no Seattle Pacific College, trabalhou como professor em uma escola primária. Assumiu um cargo no Serviço de Imigração e Naturalização dos Estados Unidos como patrulheiro de fronteira. Posteriormente, ingressou na Guarda Costeira dos Estados Unidos. Durante esse período, participou de um culto de avivamento em San Francisco, Califórnia, onde decidiu dedicar-se ao ministério. Pouco depois, matriculou-se no Asbury Theological Seminary, onde sentiu o chamado para a docência.

Após sua formação no Asbury Theological Seminary, Beegle mudou-se com sua família para a Universidade Johns Hopkins. Lá, estudou sob a orientação de William F. Albright, pesquisador do Antigo Testamento, e começou a explorar questões acadêmicas relacionadas à doutrina das escrituras. No final de seu período em Johns Hopkins, iniciou seu trabalho no Departamento de Traduções da American Bible Society e tornou-se presbítero na Igreja Metodista Livre.

Em 1952, começou a lecionar no New York Theological Seminary, anteriormente conhecido como Biblical Seminary. Durante esse período, publicou obras que provocaram debates, como God’s Word into English e The Inspiration of Scripture. Esta última, publicada em 1973, foi lançada no contexto do “Battle for the Bible”, período em que instituições fundamentalistas enfrentaram disputas internas sobre a inerrância bíblica. Essas controvérsias levaram Beegle a deixar a Igreja Metodista Livre e ingressar na Igreja Metodista Unida, bem como a abandonar sua posição no Biblical Seminary.

Entre 1964 e 1965, Beegle tirou uma licença sabática e viajou para terras bíblicas. Após esse período, aceitou uma posição no Wesley Theological Seminary. Durante sua permanência nessa instituição, atuou também como pastor de uma pequena igreja, publicou artigos em periódicos acadêmicos, escreveu outros livros, colaborou com a American Bible Society e foi incluído no “Who’s Who in Biblical Studies”.

Após se aposentar do Wesley Theological Seminary em 1986, continuou a trabalhar em equipes de tradução e liderou excursões às terras bíblicas e ao Oriente.

A bibliologia de Beegle

Dewey Beegle defendia uma abordagem indutiva para a compreensão das escrituras, em oposição à dedutiva, com ênfase na observação direta do texto bíblico. Criticava os métodos tradicionais de muitas vertentes evangélicas e fundamentalistas americanas, que dependiam do raciocínio dedutivo, argumentando que esses métodos tendem a obscurecer os fenômenos reais presentes nas escrituras.

A abordagem indutiva parte de dados concretos ou observações específicas do texto e busca derivar princípios gerais a partir deles. Para Beegle, esse método permite que o texto bíblico fale por si, sem a imposição de noções pré-concebidas. Por exemplo, ao analisar o Evangelho de Marcos, uma abordagem indutiva examinaria passagens específicas, os gêneros textuais, o contexto, as interações de Jesus com diferentes grupos, para derivar conclusões sobre seus ensinamentos e caráter da passagem e inferir doutrinas a partir dessas leituras.

Já a abordagem dedutiva começa com um princípio geral ou doutrina e busca aplicá-lo a instâncias específicas do texto bíblico. Esse método frequentemente interpreta as escrituras por meio de pressupostos teológicos estabelecidos. Por exemplo, ao partir do princípio da inerrância bíblica, as aparentes discrepâncias no texto seriam interpretadas como metáforas ou explicadas teologicamente, em vez de permitir que os dados textuais moldem a compreensão da doutrina.

Beegle argumentava que os métodos dedutivos tradicionais poderiam obscurecer o verdadeiro significado das escrituras e dificultar sua capacidade de corrigir interpretações errôneas baseadas na tradição. Ele acreditava que uma abordagem indutiva respeita a integridade do texto, promovendo um engajamento mais honesto e permitindo uma compreensão mais autêntica da mensagem bíblica.

Em sua obra Scripture, Tradition and Infallibility, Beegle explicou as interconexões entre escritura, tradição e autoridade, destacando como esses conceitos moldam o discurso teológico. Demonstrou que discussões sobre inspiração devem incluir considerações sobre revelação e canonicidade, promovendo uma abordagem holística à interpretação bíblica.

Beegle via a teologia como um campo dinâmico, onde as escrituras desempenham um papel central, mas não isolado. Defendia que o estudo crítico e indutivo do texto é essencial para uma interpretação teológica mais robusta e fundamentada.

S. R. Driver 

Samuel Rolles Driver (1846–1914) foi um acadêmico inglês e especialista em hebraico e nos estudos do Antigo Testamento.

Nascido em Southampton, Driver foi educado no Winchester College e no New College, Oxford, onde obteve formação em Literae Humaniores, alcançando reconhecimento por sua excelência acadêmica. Recebeu bolsas de estudo em estudos hebraicos, que marcaram o início de sua carreira acadêmica.

Em 1870, Driver tornou-se membro e tutor no New College, Oxford, e, em 1883, foi nomeado Regius Professor de Hebraico, posição que ocupou até sua morte em 1914. Integrou o Comitê de Revisão do Antigo Testamento entre 1876 e 1884, contribuindo para a Versão Revisada da Bíblia.

Sua obra acadêmica abrangeu comentários influentes sobre diversos livros do Antigo Testamento, como Notes on the Hebrew Text of the Books of Samuel (1890), The Book of Daniel (1900), e The Book of Deuteronomy (1902). Colaborou na produção de um marco nos estudos linguísticos bíblicos, A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament, ao lado de Francis Brown e Charles Briggs, que permanece utilizado.

Driver foi reconhecido como um exegeta de destaque e atuou como editor e colaborador da série International Critical Commentary. Seus estudos sobre a interpretação medieval judaica do capítulo 53 de Isaías, realizados em parceria com Adolph Neubauer, evidenciaram sua competência no hebraico pós-bíblico e sua disposição para o diálogo inter-religioso em uma época em que tal colaboração era rara.

Embora identificado como conservador em questões teológicas, Driver adotava conclusões da crítica das fontes, especialmente as de Wellhausen, após análise sistemática dos textos da Torá. Sintetizou essas ideias em An Introduction to the Literature of the Old Testament (1891), obra que influenciou profundamente os estudos bíblicos em inglês, sendo revisada várias vezes até 1913.

W. M. A. Schniedewind

William M. A. Schniedewind (n. 1962) é um biblista e especialista em línguas semíticas e na composição bíblica.

Nascido em 1962, na cidade de Nova York, Schniedewind recebeu o cargo de Professor de Estudos Bíblicos e Línguas Semíticas do Noroeste e a Cátedra Kershaw de Estudos Antigos do Mediterrâneo Oriental na Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA).

Schniedewind obteve seu B.A. em Religião pela George Fox University em Newberg, Oregon, um M.A. em Geografia Histórica do Antigo Israel pelo Jerusalem University College, e um M.A. e Ph.D. em Estudos do Oriente Próximo e Judaicos pela Brandeis University.

A pesquisa de Schniedewind se concentra na história e literatura do antigo Israel, com ênfase particular na história textual da Bíblia Hebraica. Schniedewind é autor de vários livros e artigos influentes, incluindo How the Bible Became a Book (2004), que explora o desenvolvimento da Bíblia Hebraica como um artefato físico e literário, e The Finger of the Scribe: The Beginnings of Scribal Education and How It Shaped the Hebrew Bible (2019), que examina o papel dos escribas na formação da Bíblia Hebraica.

Schniedewind participou de escavações em Tel Dan e Tel Afeq, em Israel. Ele também é diretor do Qumran Visualization Project, que cria modelos de realidade virtual da antiga Qumran.

Schniedewind é um membro ativo da Sociedade de Literatura Bíblica e da Associação Americana de Escolas Orientais de Pesquisa. Ele atuou como editor de rede para a seção Pergaminhos do Mar Morto e Judaísmo do Segundo Templo da Religious Studies Review e faz parte dos conselhos editoriais do Bulletin of the American Schools of Oriental Research, do Journal of Biblical Literature e de Tel Aviv.

“Como a Bíblia se tornou um livro: a textualização do antigo Israel”, de William Schniedewind, é um livro que traça o desenvolvimento da Bíblia hebraica (Antigo Testamento), desde suas tradições orais até sua forma escrita. O livro discute como a Bíblia foi criada ao longo de séculos de escrita, edição e compilação, com vários autores, editores e redatores acrescentando suas próprias contribuições ao texto.

Schniedewind considera os fatores sociais, políticos e religiosos na escrita e organização da Bíblia. Discute o papel dos escribas, a evoluação do alfabeto e as instituições do estado dos antigos hebreus. Analisa as controvérsias e conflitos que surgiram sobre a interpretação e transmissão do texto bíblico, como o o papel do sacerdócio e a tensão entre diferentes tradições religiosas.