David ben Abraham al-Fasi

David ben Abraham al-Fasi (ou Alfasi) (morte em 1026) foi um lexicógrafo e biblista originário de Fes, Marrocos.

Al-Fasi nasceu em uma família judia caraíta, o que implicava em estudar somente a Bíblia hebraica como fonte da lei e prática judaica. Mudou-se para a Palestina, onde compilou seu dicionário.

David ben Abraham al-Fasi tornou-se um estudioso prolífico e uma autoridade respeitada em lexicografia hebraica. Sua contribuição mais significativa para este campo foi o Kitāb Jāmiʿ al-Alfāẓ, também conhecido como “O Livro dos Significados Coletados”. Este foi um dos primeiros dicionários judaico-árabe conhecidos e o primeiro dicionário de hebraico bíblico.

Neste trabalho, David ben Abraham al-Fasi classificou as raízes das palavras hebraicas de acordo com o número de suas letras. Esse sistema facilitou a busca de palavras no dicionário e permitiu que os leitores entendessem o significado de palavras desconhecidas na Bíblia Hebraica.

O Kitāb Jāmiʿ al-Alfāẓ não era apenas um recurso valioso para estudiosos do hebraico, mas também um importante artefato cultural por si só. Foi escrito em judaico-árabe, uma língua que misturava hebraico e árabe e era falada por comunidades judaicas em todo o Oriente Médio e Norte da África. O dicionário ajudou a preservar esse idioma único e a herança cultural do povo judeu que o falava.

Caraísmo

O Judaísmo caraíta ou caraísmo é uma religião israelita que reconhece como autoridade somente as Escrituras Hebraicas (Tanakh). É distinto do judaísmo rabínico ou rabanita, que considera a tradição ou Torá Oral, conforme codificada no Talmud e obras subsequentes, como de proveniência divina.

Desde o Segundo Templo o judaísmo estava dividido entre aqueles que aceitavam ou não a tradição oral como de origem divina. A compilação dessas tradições na Mishná e da Gemará entre os séculos III e VI d.C. contribuiu para a emergência do judaísmo rabínico, que ganhou hegemonia depois das últimas revoltas samaritanas de 630 d.C. e da unificação política proporcionada pelo advento do islã. Contudo, nem todas comunidades aceitaram a autoridade rabínica. Um exemplo de reação foi o movimento de Anan ben David (715-795), no califado abássida. No século IV d.C., vários grupos que rejeitavam a Torá Oral passaram ser conhecidas como caraítas.

Segundo algumas tradições, o judaísmo chegou a contar com 40% dos judeus do mundo do Mediterrâneo em sua fase áurea (séc. IX-XI). Teve centros significantes no Egito, Espanha, Rússia, Ucrânia, Mesopotâmia e Palestina. Na Crimeia a comunidade caraíta de língua turca, os Karaims ou Qarays mantém uma longa história distinta. Um de seus hakham Abraham Firkovich (1786-1874) foi um erudito bíblico, escritor e colecionador de manuscritos antigos. Outro membro dessa comunidade, Seraya Shapshal (1873–1961), tentou argumentar a origem turca dos caraítas diante do panturquismo e do antissemitismo.

Os caraítas tem suas próprias tradições — embora sujeitas à validação do texto escrito da Bíblia. Suas congregações (kenessa) são lideradas por anciãos leigos (hakham). Os serviços consistem em recitações de trechos bíblicos e orações com complexos rituais de genuflexão. Comem um cordeiro assado na páscoa. Não usam filactérios (tefilin) ou mezuzá. Normalmente não acendem luzes nos sábados.

Atualmente cerca de 50 mil caraítas existem, a maior parte vivendo em Israel.