Esclarecimentos sobre a CCUS e a CCB

No final de janeiro de 2024, os anciães mais velhos dos Estados Unidos apresentaram propostas de alteração dos Estatutos e Doutrina da Congregação Cristã nos Estados Unidos (CCUS) em uma reunião regional.

Uma série de fatores possíveis — desconhecimento jurídico, histórico e doutrinário da Congregação Cristã, falta de competência intercultural, oportunismo e disseminação de notícias falsas — levou àlgumas pessoas do Conselho dos Anciães Mais Velhos do Brasil a entenderem que seria uma tentativa de ruptura entre a CCUS e a Congregação Cristã no Brasil (CCB).

Em uma resposta apressada, sem o devido processo legal e sem direito de defesa ou resposta, foi emitida e publicada a Circular 178 no site da CCB, com o intuito de destituir cinco anciães dos Estados Unidos.

A pedido de alguns anciães do Brasil, considerando minhas posições de jurista, membro e pesquisador, redigi estas notas de esclarecimento e enviei-as ao Conselho de Anciães Mais Velhos do Brasil.

Elas contém em paralelo os Estatutos de 1996 e as propostas de alteração de 2024; elenco de riscos jurídicos resultantes pela emissão da Circular 178; as bases históricas e doutrinárias para o relacionamento entre as diversas denominações nacionais da Congregação Cristã; recomendações para aprofundarem-se em questões de missiologia, formas de associação internacional para denominações e estabelecimento de um memorando de entendimento.

Apesar de ter escutado envolvidos tanto do Brasil quanto dos Estados Unidos, essas notas fundamenta-se em análise documental, ou seja, daquilo que esteja posto nos documentos.

A carta não obteve resposta do Conselho de Anciães Mais Velhos do Brasil. Contudo, no mesmo dia, um de seus membros vazou esta carta e a fez chegar a um polemista de Youtube, em descumprimento ao sigilo requerido pelo Código de Ética ministerial, buscando desacreditar seu autor. Diante dessa atitude, é necessário que se torne público o inteiro teor destas notas.

Convenção Internacional das Congregações Cristãs

A Convenção Internacional das Congregações Cristãs é uma comunhão e uma associação de fato sob direito privado de denominações nacionais com similares bases históricas, doutrinárias e organizacionais.

As bases de comunhão foram firmadas em 19 de abril de 2003 por signatários representando vinte denominações nacionais da Congregação Cristã, reunidos em São Paulo, Brasil.

Uma retroversão em português

Congregação Cristã na América do Norte

Este ensaio foi um trabalho que resumia para fins didáticos o desenvolvimento histórico da Congregação Cristã na América do Norte. No entanto, ainda serve como uma introdução à sua história como um movimento global.

Congregação Cristã no Brasil

A Congregação Cristã é uma denominação cristã evangélica brasileira. Apesar de origem, práticas e teologia pentecostal, não utiliza essa identidade como autodesignação. Esposa uma eclesiologia das Igrejas Livres, típicas do Avivamento Continental e uma soteriologia do pentecostalismo clássico da obra consumada, além de um ideal primitivista.

Sua origem no Brasil, no início do século XX, resulta da vinda de missionários leigos ítalo-americanos. Comissionados por várias igrejas na América do Norte, Louis Francescon, Lucia Menna, Agostino Lencioni, Giuseppe Petrelli e Luigi Terragnoli plantaram as sementes que fruiriam em várias conversões no Brasil. Cresceu originalmente nas colônias italianas do estado de São Paulo e Paraná, mas logo ganhou adesão de outros povos, notoriamente de uma origem migrante, tanto na capital paulista quanto na fronteira agrícola. Nos anos 1930 abrasileirou-se, realizando sua primeira convenção em 1936, bem como iniciou uma política de manter-se afastada de relacionamento interdenominacional e rejeição de mídia de massa. Nos anos 1950 e 1960 acompanhou o crescimento das grandes cidades brasileiras, ciclos migratórios internos. Nessa época alcançou todos os estados, além de iniciar congregações em comunhão no exterior.

Apresentou uma queda de membresia no início do século XXI. Em reação, adotou medidas para um aggiornamento. Essas medidas incluem escolas bíblicas infantis (espaço infantil), um novo hinário, uma nova reestruturação administrativa (com a formação de várias instâncias regionais e centrais em um regime presbítero-sinodal), atenção a surdos, missões em presídios, universidades e aldeias indígenas, bem como migrantes (falantes de espanhol e haitianos).

Sua teologia é centrada na Bíblia e acredita no batismo pelo Espírito Santo, na doutrina da trindade, na ressurreição e no retorno de Jesus. Crê que a salvação é mediante a graça, manifesta pela fé na obra redendora de Jesus Cristo. Pratica o batismo por imersão a partir da idade de consentimento de doze anos e a santa ceia. Crê na atualidade dos dons do Espírito Santo — com ênfase no falar em línguas como sinal do batismo no Espírito. Pratica a unção dos enfermos com o azeite, crendo em cura divina e na agência da medicina humana.

Considera que o Espírito Santo compele individualmente e guia coletivamente a Igreja. Em razão disso, valoriza aspectos de uma igreja livre e voluntária:

A Igreja acredita que é necessário um chamado celestial para aceitar e viver de acordo com sua fé e doutrina. Isso ocorre através da resposta interior de um indivíduo à iluminação e inspiração divinas; portanto, a Igreja respeita a liberdade de determinação do indivíduo. A adesão à doutrinada Igreja deve ser voluntária, livre de coerção do indivíduo.

CCUS, by-laws 1998

O lócus de sua teologia e prática ocorre nos cultos. Alternando hinos com atividades de oração, testemunhos, pregação, valoriza sua orquestra e o canto congregacional. Combina uma ordem rígida de sequência de eventos no culto com uma livre participação extemporânea, com a escolha dos hinos e as manifestações discursivas sem prévio preparo.

BIBLIOGRAFIA

Alves, Leonardo Marcondes. “Christian Congregation in Brazil.” Brill’s Encyclopedia of Global Pentecostalism Online. Brill, 2020.

Corrêa, Manoel Luiz Gonçalves. “Ritual e representação: o discurso religioso da Congregação Cristã no Brasil.” Mestrado em linguística, Universidade Estadual de Campinas, 1986.

Foerster, Norbert Hans Christoph. “A Congregação Cristã No Brasil Numa Área de Alta Vulnerabilidade Social No ABC Paulista: Aspectos de Sua Tradição e Transmissão Religiosa – a Instituição e Os Sujeitos.” Tese de doutorado em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo, 2010.

Hollenweger, Walter J. The Pentecostals. Minneapolis: Ausburg Publishing House, 1972.

Monteiro, Yara Nogueira. “Congregação Cristã No Brasil: Da Fundação Ao Centenário – A Trajetória de Uma Igreja Brasileira.” Estudos de Religião 24, no. 39 (December 31, 2010): 122–163.

Valente, Rubia R. “Christian Congregation in Brazil, Congregação Cristã No Brasil.” In Encyclopedia of Latin American Religions, edited by Henri Gooren, 1–8. Cham: Springer International Publishing, 2018.

Miguel Spina

Miguel Spina (1913-1993) foi um ministro do evangelho e industrial brasileiro, pertencente à Congregação Cristã no Brasil.

Filho de imigrantes italianos estabelecidos no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, com seus irmãos montou uma gráfica que veio ser uma das maiores do Brasil.

Aos 28 anos foi ordenado ao ministério de ancião para a Congregação do Brás. No início de seu ministério, liderou a construção de uma enorme casa de oração que viria ser sede administrativa da denominação em São Paulo e centro para reuniões do ministério da Congregação Cristã no Brasil.

Ocupou a função de moderador, presidindo as reuniões anuais do ministério a partir dos anos 1960 até sua morte.

No início dos anos 1950 seus irmãos e sócios liberaram-no de vários compromissos na gráfica para que poderia viajar pelo Brasil e pelo mundo em missões.