Congregação

A palavra “congregação” possui nuances de significado, refletidas nos termos hebraicos qahal (קהל) e edah (עֵדָה), bem como nos gregos ekklesia (ἐκκλησία) e synagoge (συναγωγή) na Septuaginta e no Novo Testamento.

No Antigo Testamento hebraico, tanto qahal quanto edah são usados para se referir a uma assembleia ou ajuntamento de pessoas, frequentemente com conotação religiosa ou comunitária. Qahal é geralmente traduzido como “assembleia”, “congregação” ou “multidão”, enfatizando o caráter convocado ou reunido do grupo, muitas vezes para um propósito específico, como adoração, instrução ou deliberação. Um exemplo proeminente é a “congregação de Israel” (qahal Yisrael). Edah, por sua vez, também significa “congregação” ou “companhia”, mas pode carregar uma ênfase maior na ideia de uma comunidade estabelecida, com laços e identidade compartilhados, como a “congregação dos filhos de Israel” (edat bnei Yisrael). Embora haja sobreposição em seu uso, alguns estudiosos sugerem que qahal pode se referir a uma assembleia mais formal ou convocada, enquanto edah pode denotar a comunidade em seu estado mais contínuo.

A Septuaginta (LXX), a tradução grega do Antigo Testamento, frequentemente traduz qahal por ekklesia (ἐκκλησία). Este termo grego, derivado de ek-kaleo (ἐκ-καλέω), que significa “chamar para fora”, era comumente usado no mundo grego para se referir a uma assembleia de cidadãos convocada para fins deliberativos ou administrativos. Ao adotar ekklesia para traduzir qahal, os tradutores da Septuaginta imbuíram o termo com as conotações do povo de Deus reunido.

No Novo Testamento, ekklesia assume um significado central, referindo-se primariamente à igreja cristã, tanto em seu sentido universal (o corpo de todos os crentes) quanto em suas manifestações locais (as comunidades cristãs em cidades ou regiões específicas). O uso de ekklesia no Novo Testamento ecoa sua utilização na Septuaginta para designar a congregação de Israel, sugerindo uma continuidade entre o povo da antiga aliança e a nova comunidade de fé em Cristo.

O termo grego synagoge (συναγωγή), que literalmente significa “ato de reunir” ou “lugar de reunião”, aparece tanto no Novo Testamento quanto na Septuaginta. Na Septuaginta, synagoge pode ocasionalmente traduzir edah. No Novo Testamento, synagoge refere-se principalmente ao local de reunião dos judeus para oração, leitura das Escrituras e instrução, bem como à própria congregação judaica local. Em contraste com ekklesia no contexto cristão, synagoge geralmente se refere à assembleia ou ao edifício religioso judaico. No entanto, no início do cristianismo, antes da distinção clara entre as comunidades judaicas e cristãs, o termo synagoge também pode ter sido usado para as reuniões dos seguidores de Jesus.

Igreja

No Novo Testamento Igreja é a tradução da palavra grega ecclesia, que é sinônimo do hebraico qahal do Antigo Testamento (cf. Atos 7:38). Ambas as palavras significando simplesmente um ajuntamento de pessoas ou uma assembleia.

A partir de Atos, “igreja” pode se referir à totalidade dos remidos em Cristo na terra (como em 1 Coríntios 15:9; Efésios 5:23, 25, 27, 29; Hebreus 12:22, 23; Gálatas 1:13; Mateus 16:18) como também a qualquer congregação individual (a igreja de Corinto, a igreja de Antioquia, a igreja em Roma, etc), tal como é mencionado em Atos 5:11; 8:3, etc.. Coletivamente, aparece na forma plural de “igrejas” no Novo Testamento.

As quatro menções do termo “igreja” no evangelho de Mateus 16 e 18 seria anacronística. No entanto, podem ser entendidas como uma atualização do termo para o tempo das audiências originais do evangelho quando já havia igrejas como instituição ou, outra leitura possível, é que simplesmente corresponde ao conceito de qahal, o ajuntamento de todos os povos de Deus.

Dentre as várias palavras gregas para diversos tipos de reunião, o Novo Testamento usa ecclesia ou ekklesia. Era a reunião convocada e revestida de poder deliberativo (cf. Mateus 18:17). Em contraste com outros tipos de reunião (gerousia, conselho de anciãos; synedrion, congresso de líderes; archon e aeropago, concílio de notáveis), a ekklesia era aberta a uma membresia ampla e com iguais direitos e deveres, constituindo a base da democracia ateniense. É nesse sentido de ajuntamento popular que aparece em Atos 19:32, 39, 41.

O uso do termo Igreja para o local ou edifício de culto, bem como para referir-se às redes distintas de igrejas locais com similar ordem e identidade institucional (denominação) é inexistente no Novo Testamento.