Conciliarismo

O Conciliarismo foi um movimento de reforma e uma teoria eclesiológica na Igreja Católica Romana, proeminente entre os séculos XIV e XVI, que sustentava que a autoridade suprema na Igreja residia num concílio ecumênico, e não exclusivamente no Papa.

Em tempos medivieis, esse princípio foi invocado principalmente como resposta à crise do Grande Cisma do Ocidente (1378-1417), quando múltiplos papas reivindicavam legitimidade, gerando a necessidade urgente de uma solução que transcendesse as reivindicações papais individuais e restaurasse a unidade da Igreja. Teóricos como Marsílio de Pádua, em seu Defensor Pacis, e Guilherme de Ockham já haviam lançado bases para questionar a plenitude do poder papal, mas foram juristas e teólogos como Jean Gerson, Pierre d’Ailly e Francisco Zabarella que articularam mais diretamente os argumentos conciliaristas durante o cisma. Eles argumentavam, com base em interpretações do direito canônico e da história da Igreja primitiva, que o Papa, embora detentor de um ofício de grande importância, era um membro da Igreja e, como tal, sujeito ao corpo da Igreja universal, representado mais adequadamente por um concílio geral.

O Concílio de Pisa (1409) tentou, sem sucesso, resolver o cisma aplicando princípios conciliaristas, mas acabou por adicionar um terceiro pretendente ao papado. Foi o Concílio de Constança (1414-1418) que representou o ápice prático do Conciliarismo. Este concílio conseguiu depor os papas rivais e eleger Martinho V, restaurando a unidade. De fundamental importância foram seus decretos Haec Sancta (1415), que afirmava a superioridade do concílio sobre o Papa em questões de fé, reforma da Igreja “em sua cabeça e em seus membros” e a resolução do cisma, e Frequens (1417), que determinava a convocação regular de concílios ecumênicos para assegurar a continuidade da reforma e da boa governança.

O Concílio de Basileia-Ferrara-Florença (iniciado em 1431) buscou dar continuidade a essa agenda reformista, reafirmando a autoridade conciliar. Contudo, entrou em conflito prolongado com o Papa Eugênio IV, que defendia a primazia papal. As divisões internas no concílio e a habilidade política papal em transferi-lo para Ferrara e depois Florença, focando na união com as Igrejas Orientais, enfraqueceram gradualmente a posição conciliarista. Apesar de alguns sucessos iniciais, o radicalismo de uma facção em Basileia acabou por desacreditar o movimento aos olhos de muitos.

Papas subsequentes trabalharam ativamente para reverter os ganhos conciliaristas. Pio II, com a bula Execrabilis (1460), condenou os apelos a um concílio futuro como uma tentativa de escapar da jurisdição papal, declarando-os heréticos. Embora o Conciliarismo como teoria dominante tenha sido suplantado pela reafirmação da monarquia papal, consolidada dogmaticamente no Concílio Vaticano I (1869-1870) com a definição da infalibilidade e primazia jurisdicional do Papa, suas ideias não desapareceram por completo. Elas influenciaram movimentos como o Galicanismo na França e outras formas de episcopalismo, e continuaram a informar debates sobre a estrutura de poder e a governança eclesial. O Concílio Vaticano II (1962-1965), ao enfatizar a colegialidade episcopal e o papel do colégio dos bispos em união com o Papa no governo da Igreja, revisitou de certa forma a dinâmica entre a autoridade papal e a participação mais ampla do episcopado, embora dentro de um quadro que reafirma a primazia do Pontífice Romano como sucessor de Pedro e cabeça do colégio episcopal.

Congregação

A palavra “congregação” possui nuances de significado, refletidas nos termos hebraicos qahal (קהל) e edah (עֵדָה), bem como nos gregos ekklesia (ἐκκλησία) e synagoge (συναγωγή) na Septuaginta e no Novo Testamento.

No Antigo Testamento hebraico, tanto qahal quanto edah são usados para se referir a uma assembleia ou ajuntamento de pessoas, frequentemente com conotação religiosa ou comunitária. Qahal é geralmente traduzido como “assembleia”, “congregação” ou “multidão”, enfatizando o caráter convocado ou reunido do grupo, muitas vezes para um propósito específico, como adoração, instrução ou deliberação. Um exemplo proeminente é a “congregação de Israel” (qahal Yisrael). Edah, por sua vez, também significa “congregação” ou “companhia”, mas pode carregar uma ênfase maior na ideia de uma comunidade estabelecida, com laços e identidade compartilhados, como a “congregação dos filhos de Israel” (edat bnei Yisrael). Embora haja sobreposição em seu uso, alguns estudiosos sugerem que qahal pode se referir a uma assembleia mais formal ou convocada, enquanto edah pode denotar a comunidade em seu estado mais contínuo.

A Septuaginta (LXX), a tradução grega do Antigo Testamento, frequentemente traduz qahal por ekklesia (ἐκκλησία). Este termo grego, derivado de ek-kaleo (ἐκ-καλέω), que significa “chamar para fora”, era comumente usado no mundo grego para se referir a uma assembleia de cidadãos convocada para fins deliberativos ou administrativos. Ao adotar ekklesia para traduzir qahal, os tradutores da Septuaginta imbuíram o termo com as conotações do povo de Deus reunido.

No Novo Testamento, ekklesia assume um significado central, referindo-se primariamente à igreja cristã, tanto em seu sentido universal (o corpo de todos os crentes) quanto em suas manifestações locais (as comunidades cristãs em cidades ou regiões específicas). O uso de ekklesia no Novo Testamento ecoa sua utilização na Septuaginta para designar a congregação de Israel, sugerindo uma continuidade entre o povo da antiga aliança e a nova comunidade de fé em Cristo.

O termo grego synagoge (συναγωγή), que literalmente significa “ato de reunir” ou “lugar de reunião”, aparece tanto no Novo Testamento quanto na Septuaginta. Na Septuaginta, synagoge pode ocasionalmente traduzir edah. No Novo Testamento, synagoge refere-se principalmente ao local de reunião dos judeus para oração, leitura das Escrituras e instrução, bem como à própria congregação judaica local. Em contraste com ekklesia no contexto cristão, synagoge geralmente se refere à assembleia ou ao edifício religioso judaico. No entanto, no início do cristianismo, antes da distinção clara entre as comunidades judaicas e cristãs, o termo synagoge também pode ter sido usado para as reuniões dos seguidores de Jesus.

Karl Kertelge

Karl Kertelge (1926-2009) foi um teólogo católico alemão e estudioso do Novo Testamento.

Kertelge estudou teologia católica e filosofia em Paderborn e Munique. Foi ordenado sacerdote em 1952. Obteve seu doutorado em teologia em 1957, em Munique. Kertelge completou sua habilitação em 1967. Tornou-se professor de exegese do Novo Testamento na Universidade de Trier em 1968. Em 1973, Kertelge foi nomeado professor na Universidade de Münster, onde lecionou até sua aposentadoria em 1991.

Sua pesquisa concentrou-se na teologia paulina, eclesiologia do Novo Testamento e hermenêutica bíblica. Kertelge publicou livros e artigos. Serviu como editor e coeditor de periódicos acadêmicos e séries de comentários bíblicos. Foi membro de diversas sociedades teológicas.

Trusteísmo

O trusteísmo no catolicismo romano nos Estados Unidos era uma prática em que administradores leigos, em vez do clero ou da hierarquia, tinham controle sobre os assuntos temporais de uma paróquia.

O trusteísmo foi controverso porque no século XIX gerou conflitos entre os curadores leigos e e o clero. A Santa Sé interveio por vezes para restaurar a paz, impor a autoridade da hierarquia contra as pretensões dos administradores.

Storefront mission

Storefront mission ou storefront church são prédios comerciais que abrigam congregações, tipicamente nos grandes centros urbanos da América do Norte.

Coloquialmente chamadas de simplesmente “a missão”, compreendem qualquer estrutura reaproveitada para atividades religiosas que já foi utilizada para varejo comercial, incluindo lojas, teatros e vários tipos de casas. Apesar dos debates sobre a sua categorização, o termo prevalece nos bairros centrais das cidades dos Estados Unidos e desempenha um papel significativo no cenário cultural e religioso.

Após a Guerra Civil, os espaços do centro da cidade tornaram-se o lar de casas improvisadas de oração e serviços diaconais. Figuras como A.B. Simpson em Nova York e D.L. Moody, em Chicago, foram pioneiros em missões para migrantes, trabalhadores e pobres. Esta estratégia baseada na missão foi fundamental para o terceiro Grande Despertar.

Em Chicago destacaram-se a Pacific Garden Mission, as missões ligadas ao YMCA e ao movimento de Moody, as quais eram adenominacionais.

Michele Nardi e sua esposa Blanche adotaram uma abordagem semelhante. O casal alugavam salas em áreas urbanas lotadas para evangelização e serviços sociais. Foi assim em missões que fundaram nas pequenas itálias em Chicago, Pennsylvânia e Califórnia.

O pentecostalismo encontrou terreno fértil para esse tipo de instalação. A missão da Rua Azusa e outras nascidas de espaços comerciais reaproveitados. A missão de North Avenue e a missão italiana de West Grand Avenue em Chicago são outros exemplos. A missão Hebden em Toronto e o Glad Tidings Tabernacle em Nova York foram outros centros importantes que funcionaram como uma missão em salas comerciais. Estas missões, muitas vezes situadas no coração de bairros urbanos, desempenharam um papel crucial na disseminação do pentecostalismo durante os seus primeiros anos.

O movimento da missões em salas comerciais teve proliferação significativa dessas instituições entre o início dos anos 1900 e meados da década de 1930. Este período coincidiu com a migração em massa de afro-americanos do Sul rural para as áreas urbanas do Norte. Migrantes da Europa e da Ásia também utilizaram tais recrusos. As igrejas montras, neste contexto, podem ser vistas como movimentos de revitalização. Representam esforços deliberados, conscientes e organizados dos migrantes para adaptar as práticas religiosas rurais a um ambiente urbano.

Estas igrejas serviram como pontos de encontro comunitários vitais, ajudando na integração dos migrantes nos seus novos ambientes urbanos.

Apesar do seu papel positivo na construção e integração comunitária, as igrejas comerciais muitas vezes enfrentavam oposição dos residentes do bairro. Preocupações com a desvalorização de propriedades, aumento de multidões, interrupções no trânsito e ruído foram comumente expressas. Esta oposição destacou as tensões entre o desejo de expressão religiosa e os desafios práticos associados à presença destas igrejas em ambientes urbanos.

Bibliografia

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