Feminismo cristão

O feminismo cristão é a atitude e os vários movimentos que compreendem que em Cristo não há distinções sociais entre os gêneros (Gálatas 3:28), visto ser a mulher e o homem criados igualmentes à semelhança de Deus (Gênesis 1:27).

Como um fenômeno da história recente, vários movimento esposaram tais ideais, mas sem plenamente adotar essa identidade de feminismo cristão. São exemplos o feminismo francês liderado por Sarah Monod, o movimento de temperança e abolicionismo norteamericano, o pentecostalismo siciliano, a reforma do machismo latino-americano, dentre outros. Não se trata de um fenômeno social ou movimento unificado, mas várias agendas e expressões diversas que buscam a igualdade de agência humana em diversas áreas independente de gênero.

Uma vertente que encampou a designação de feminismo cristão é um movimento evangélico que surgiu nos Estados Unidos durante as décadas de 1960 e 1970, com o objetivo de promover a igualdade de gênero dentro da igreja cristã e corrigir as interpretações patriarcais acerca das Escrituras. Esse movimento estava enraizado no movimento feminista mais amplo da época, que buscava abordar questões de desigualdade de gênero em todas as áreas da sociedade.

Uma das figuras-chave no desenvolvimento do feminismo cristão evangélico foi Letha Dawson Scanzoni, co-autora do livro “All We’re Meant to Be: A Biblical Approach to Women’s Liberation” com Nancy Hardesty em 1974. Este livro foi um dos a primeira a aplicar princípios feministas à interpretação bíblica, argumentando que a Bíblia não justifica o domínio masculino e que as Escrituras afirmam a missão das mulheres na liderança da Igreja.

Outra figura importante no movimento feminista cristão evangélico foi Pamela Cochran, que fundou a organização Cristãos pela Igualdade Bíblica (CBE) em 1987. A CBE defende a inclusão total de mulheres na liderança da igreja e apoia o uso de linguagem neutra em termos de gênero na tradução das escrituras . Cochran também escreveu extensivamente sobre teologia feminista e a interseção do cristianismo e do feminismo.

Nancy Hardesty, co-autora de “All We’re Meant to Be”, também foi uma figura proeminente no movimento feminista cristão evangélico. Escreveu vários livros sobre o tema, incluindo “Women Called to Witness: Evangelical Feminism in the 19th Century” e “Great Women of Faith”, que destacou as contribuições das mulheres na tradição cristã.

Juntas, Scanzoni, Cochran, Hardesty e outras feministas cristãs evangélicas fizeram contribuições significativas para o esforço contínuo de promover a igualdade de gênero dentro da igreja cristã. O trabalho delas desafiou as interpretações patriarcais das escrituras e ajudou a criar espaço para as mulheres assumirem papéis de liderança na igreja.

Feminilidade bíblica

O termo feminilidade bíblica refere-se a duas coisas distintas.

  1. Feminilidade bíblica como termo geral para descrever os diversos papéis em diferentes sociedades retratadas na Bíblia.
  2. Termo para referir-se aos ideais de comportamento e valores atribuídos às mulheres entre alguns segmentos dos evangelicals e fundamentalistas norteamericanos, normalmente vinculados aos movimentos de complementarismo ou de patriarcalismo bíblico. Às vezes, apresenta-se com a designação feminilidade cristã.

Sarah Monod

Alexandrine Elisabeth Sarah Monod (1836 – 1912) foi uma diaconisa, filantropa e feminista evangélica francesa.

Nasceu em Lyon, filha de Hannah Honyman e Adolphe Monod, uma família pastoral huguenote aderente ao réveil. A quarta de sete filhos, Sarah era a mais ativa no ministério desde sua infância.

Depois das mortes dos pais, Sarah juntou-se às Diaconisas de Reuilly em Paris. Com as diaconisas, serviu cuidando dos feridos na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871).

Monod passou a dirigir as Diaconisas de Reuilly. Expandiu a atuação ministerial com programas de reeducação prisional e da campanha pelo abolicionismo — o movimento a favor de liberar a prostituição.

Na época, as regulamentações governamentais penalizavam as mulheres e facilitava abusos, tráfico internacional e facilitava a escravidão das prostitutas. O movimento buscava o direito das mulheres de terem acesso a um respeito moral e a uma família estável. Para garantir esse direito, o movimento abolicionista buscava desenvolver a autonomia das mulheres, assegurando direitos de adquirir habilidades e trabalho. Defendiam também a isonomia jurídica e moral no casamento, o que dificultaria os casos extraconjugais dos homens, então protegidos legalmente pelo monopólio masculino sobre os bens e direitos das esposas.

Considerando que as mulheres não tinham acesso à decisão política, Monod articulou a causa feminina através da rede de evangélicos avivados na Europa Continental e no Império Britânico. Boa parte dessa pauta alcançou sucesso na virada do século XX.

Junto de outras líderes feministas (muitas delas evangélicas, como Julie Siegfried, Isabelle Bogelot e Emilie de Morsier), Monod organizou um congresso internacional de mulheres em Paris, com participantes das Américas e da África.

O Conseil national des femmes françaises foi fundado em 1901, com Monod eleita presidente. Esta organização feminista conseguia reunir e articular mulheres de diversas posições políticas e religiosas, desde socialistas como Louise Saumoneau e Elisabeth Renaud até ativistas do conservadorismo católico como Marie Maugeret. Marcou a transição de uma agenda assistencialista para uma proatividade participatória na esfera pública para abordar os problemas sociais.

Sob sua liderança, o movimento avançou juridicamente nas novas as pautas. Estavam em prioridade dar às mulheres casadas o controle sobre seus salários, regulamentação do trabalho feminino, responsabilização da autoridade parental e políticas de reeducação para menores infratores.

Para garantir educação, oportunidades e ambiente moral, fundou pouco antes de sua morte,com Camille Vernes, o ramo francês da Associação Cristã das Moças, a Union chrétienne des jeunes filles.

Como autora, escreveu biografias (de seu pai e da diaconisa Malvesin), um devocional (oração e culto), além de traduções de literatura feminista cristã.

Devido à sua austeridade e influência, a jornalista Jane Misme dizia que Sarah se vestia como uma Quaker e que era a “papisa do protestantismo”.

Foi homenageada com um logradouro em seu nome em Paris, próximo ao Hospital das Diaconisas de Reuilly.

BIBLIOGRAFIA

Cadier-Rey, Gabrielle. “Autour d’un centenaire Sarah Monod.” Bulletin de la Société de l’Histoire du Protestantisme Français (1903-2015) (2012): 771-792.

Poujol, Geneviève. Un féminisme sous tutelle: les protestantes françaises, 1810-1960. Paris: les Éditions de Paris, 2003.