Filhos de Deus

Filhos de Deus, em hebraico בְנֵי־הָאֱלֹהִים, Bnei ha-Elohim, cuja primeira menção de “filhos de Deus” na ordem canônica da Bíblia ocorre em Gênesis 6:1–4 é sujeita a debate.

Esta passagem distingue entre os “filhos de Deus” e as “filhas dos homens”. A identidade dos Filhos de Deus geralmente é apontada a diferentes pessoas:

  • A linhagem de Sete;
  • Anjos;
  • Seres divinos do panteão sírio-cananeu;
  • Governantes poderosos, muitas vezes vistos como pretendentes a um status deificado.

A frase “filhos dos Elohim” e suas variantes também ocorrem em:

  • Jó 1:6 os filhos de Elohim.
  • Jó 2:1 os filhos de Elohim.
  • Jó 38:7 filhos de Elohim.
  • Deuteronômio 32:8 filhos de Elohim ou filhos de El em dois Manuscritos do Mar Morto (4QDtj e 4QDtq). Contudo, “anjos de Deus” (αγγελων θεου) na LXX (às vezes “filhos de Deus” ou “filhos de Israel”); “filhos de Israel” no Texto Massorético.
  • Salmos 29:1 filhos de Elim.
  • Salmos 82:6 bilhos de Elyon.
  • Salmos 89:6 filhos dos deuses
  • Uma expressão aramaica relacionada ocorre em Daniel 3:25: bar elahin – Filho de Deus

Filiação divina

A filiação divina é uma doutrina cristã que afirma que Jesus Cristo é o Filho unigênito de Deus por natureza e, por meio de Jesus, os crentes se tornam filhos (e filhas) de Deus por adoção (João 1:11–13; Romanos 8:14–17).

A filiação divina é a peça central do Evangelho, fornecendo a razão para a salvação da humanidade e o propósito por trás do batismo (2 Pedro 1:4). Implica divinização, permitindo que os crentes participem da natureza divina (2 Pedro 1:4). As referências bíblicas em João e Romanos destacam o poder transformador do Espírito Santo, afirmando os crentes como filhos de Deus e herdeiros com Cristo.

A noção de Imago Dei na Bíblia reivindica que toda a humanidade seja filha de Deus (Gn 1:26-27; Sl 8:4-5; Tg 3:9; Cl 3:9-10; At 17:28). Na mesma linha, diversas genealogias ligam a humanidade a Deus. O Novo Testamento retrata Jesus Cristo como cabeça da família cristã (Ef 5:23; Cl 1:18) e conectando a humanidade com o Pai.

O tema da filiação divina é apresentado com destaque no Evangelho de João. Esse evangelho enfatiza a relação transformadora entre Jesus Cristo e aqueles que nele creem. Escrito a uma audiência quando os crentes em Jesus eram minoritários entre os israelitas, argumenta que filiação ou pertencimento étnico não seria vantagem, “Mas a todos os que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de serem feitos filhos de Deus.” (João 1:12). Essa e outras passagens joaninas (João 3:3; 4:19-24; 8:39-59; 11:52; 20:17; 14:20) salientam a salvação como integração à família de Cristo, não contradizendo a doutrina da filiação divina como origem da humanidade.

Essa doutrina, defendida pela maioria dos cristãos, encontra uso particular na teologia católica. Na teologia católica, a doutrina da filição divina deriva-se da doutrinas da Criação, Trindade e da Encarnação, assim Deus Filho assumiu a natureza humana como Jesus de Nazaré (João 1:14).

Em algumas vertentes reformadas, especialmente entre adeptos da doutrina da expiação limitada, a filiação divina é entendida como restrita somente aos eleitos, citando textos-provas como João 1:12; 8:44.

O tema da filiação divina no Novo Testamento não se confunde com o conceito de filhos de Deus (bnei Elohim) presente no Antigo Testamento e na literatura sírio-cananeia.