Valentinianismo

O Valentinianismo, um sistema gnóstico do cristianismo primitivo, floresceu principalmente no século II d.C., derivado dos ensinamentos de Valentino de Roma. Embora nunca tenha constituído uma igreja separada no sentido estrito, seus adeptos formavam escolas de pensamento que ofereciam uma interpretação esotérica e mais completa da doutrina cristã, reivindicando uma linhagem de ensino que remontava ao apóstolo Paulo através de mestres como Teudas.

A cosmologia valentiniana era complexa, postulando um reino espiritual superior, o Pleroma, habitado por éons divinos. A criação do mundo material imperfeito era vista como resultado de uma falha ou paixão de Sofia, um dos éons. Um demiurgo ignorante, embora não inerentemente mau, era considerado o criador deste mundo inferior, inconsciente do Pleroma superior. A humanidade, nessa visão, continha uma centelha divina (pneuma) aprisionada na matéria (hyle) e na alma psíquica (psychē). A salvação, ou libertação dessa centelha, era alcançada através da gnose, um conhecimento intuitivo e espiritual das realidades divinas, trazido por Cristo, um ser superior do Pleroma.

As práticas valentinianas incluíam rituais de iniciação e uma compreensão distinta dos sacramentos cristãos, com alguns textos sugerindo diferentes tipos de batismo e eucaristia para os iniciados. A ética valentiniana variava, com alguns grupos tendendo ao ascetismo como forma de negar a matéria, enquanto outros supostamente adotavam uma postura mais libertina, argumentando que o espiritual estava imune à corrupção material.

O Valentinianismo foi combatido pela patrística, como Irineu de Lyon em sua obra “Contra as Heresias”, que viam suas doutrinas como desvios perigosos do cristianismo ortodoxo. Apesar da controvérsia e da eventual supressão, o Valentinianismo exerceu influência significativa no desenvolvimento do pensamento cristão primitivo. Seus textos, descobertos em Nag Hammadi, continuam a fornecer informações sobre a diversidade das crenças religiosas nos primeiros séculos da era cristã.

Cerdo

Cerdo (em grego: Κέρδων), um gnóstico sírio considerado herege pela Igreja primitiva por volta de 138 d.C., com doutrinas similares ao marcionismo.

Segundo a tradição, iniciou sua trajetória como seguidor de Simão Mago, a exemplo de Basilides e Saturnino, ensinando aproximadamente na mesma época que Valentino e Marcião. Segundo Ireneu, Cerdo foi contemporâneo do bispo romano Higino, residindo em Roma como um membro proeminente da Igreja até ser expulso.

Sua doutrina centralizava-se na existência de dois deuses distintos: um que exigia obediência, identificado como o Deus do Antigo Testamento e criador do mundo, e outro, superior, bom e misericordioso, conhecido apenas através de seu filho, Jesus. Alinhado com gnósticos posteriores, Cerdo era docetista, negando a ressurreição corporal dos mortos.

Ireneu relata que Cerdo não pretendia fundar uma seita separada da Igreja, comparecendo repetidamente para confessar publicamente seus erros, mas persistindo em ensinar sua doutrina secretamente, sendo eventualmente condenado e afastado da comunhão dos irmãos. Alguns interpretam seu afastamento como voluntário, enquanto outros entendem que foi uma exclusão. A doutrina atribuída a Cerdo por Ireneu contrastava o Deus justo do Antigo Testamento com o Pai bom de Jesus Cristo, sendo o primeiro conhecido e o segundo desconhecido.

Pseudo-Tertuliano, possivelmente ecoando o Syntagma de Hipólito, descreve Cerdo como introdutor de dois princípios primordiais e dois deuses, um bom e outro mau, sendo o último o criador do mundo. Uma diferença notável é que, para Ireneu, ao deus bom se opunha um deus justo, enquanto para Hipólito, um deus mau. Na posterior Refutação de Hipólito, Cerdo é dito ter ensinado três princípios do universo: o bom (agathon), o justo (dikaion) e a matéria (hylen).

Pseudo-Tertuliano acrescenta que Cerdo rejeitava a lei e os profetas, renunciando ao Criador. Afirmava que Cristo era filho da divindade superior e boa, que não veio em substância carnal, mas apenas em aparência, e que não morreu nem nasceu verdadeiramente de uma virgem. Adicionalmente, reconhecia apenas a ressurreição da alma, negando a do corpo. Pseudo-Tertuliano, sem o apoio de outras autoridades, alega que Cerdo aceitava apenas o Evangelho de Lucas, em uma forma mutilada, rejeitando algumas epístolas de Paulo e partes de outras, além de descartar completamente os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse. Há forte indicação de que Pseudo-Tertuliano atribuiu a Cerdo ideias que, em sua fonte, eram referentes a Marcião.

Macedonismo

Os macedônios eram seguidores do bispo Macedônio I, foram um grupo que surgiu no final do século IV.

O macedonismo ou pneumatomaquismo negava a divindade do Espírito Santo, vendo o Espírito como um ser criado ou um poder subordinado. Argumentaram contra a plena igualdade e co-eternidade do Espírito Santo com o Pai e o Filho, desafiando assim o entendimento trinitário tradicional.

Eunomianismo

Os Eunomianos, também conhecidos como Anomoanos ou Heterousianos, eram seguidores de Eunômio, um bispo de Cízico do século IV.

Os eunomianos acreditavam em uma total assimetria dentro da Santíssima Trindade, afirmando que somente o Pai possuía o atributo de não gerado (ser sem origem) enquanto considerava o Filho e o Espírito Santo como seres criados, sendo funcionalmente subordinado. Enfatizavam uma definição precisa da essência de Deus e frequentemente eram associados ao arianismo extremo.

Dominionismo

Dominionismo ou teologia do domínio é uma ideologia política de uma série de movimentos que aplicam aquilo que entendem como as bases bíblicas para a reforma e governo da sociedade civil. Tais normativas e princípios seriam aplicada-as mesmo para não cristãos ou para cristãos de outras perspectivas teológicas.

No geral, esses movimentos consideram Estados Unidos (ou o Brasil) como uma nação cristã a ser governada pelos legítimos representantes de Deus na Terra.

Há vertentes baseadas no reconstrucionismo de Rushdoony, teonomismo, mandado cultural de Francis Schaeffer, teologia do Reino Agora, integralismo católico, esferas de soberania do neo-kuyperianismo, teologia dos sete montes, nacionalismo branco cristão norteamericano, dentre outros. Em versões mais fracas, buscam influenciar o mundo político e cultural de acordo com suas ideologias, em versões mais agressivas, visam alcançar a hegemonia total.

O conteúdo da agenda política e teológica variam. Em comum consideram detrimental a tolerância a grupos religiosos divergentes de suas teologias ou a minorias. No geral, apregoam formas de subordinação feminina. Tendem ao pós-milenialismo em escatologia. Desconsideram políticas ambientais ou proteção de animais como desnecessárias ou contrárias à Bíblia. Em políticas sociais e econômicas variam desde individualismo libertário até comunitarismo, mas em comum as versões contemporâneas são contra medidas estatais ou públicas de bem-estar social.

No geral, essa ideologia é baseada na crença de que o mundo viva em “batalhas culturais” e na necessidade de impor a “cosmovisão cristã” na cultura. Por exemplo, Loren Cunningham, fundador do Jovens Com Uma Missão (JOCUM) e Bill Bright disseram ter recebido uma revelação em 1975 para que os cristãos deveriam dominar várias áreas da sociedade. Essas áreas seriam montanhas a serem dominadas: família, religião, educação, mídia, entretenimento, finanças e governo.

A ideologia fundamenta-se no comando para exercer em todo o mundo
domínio dado à humanidade por Deus em Gênesis 1:28.

BIBLIOGRAFIA

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