Hino (ὕμνος, hymnos, em grego; no Antigo Testamento, termos como שִׁיר, shir, “cântico”, מִזְמוֹר, mizmor, “salmo”, e תְּהִלָּה, tehillah, “louvor”, são frequentemente associados a composições hínicas) refere-se, no contexto bíblico, a um cântico de louvor e adoração a Deus. Embora shir seja um termo genérico para “cântico”, mizmor e tehillah aparecem frequentemente nos títulos dos Salmos, indicando composições musicais com propósito litúrgico e devocional. O termo grego ὕμνος (hymnos) é usado no Novo Testamento com um significado semelhante.
No Antigo Testamento, os Salmos constituem a principal coleção de hinos de Israel. Eles abrangem uma variedade de temas, incluindo louvor, ação de graças, lamento, súplica, confissão de pecados, celebração da realeza de Deus, e reflexões sobre a Lei e a história de Israel. Muitos salmos são atribuídos a Davi, mas a coleção como um todo representa a expressão de fé de diversas gerações. Os salmos eram cantados no culto do Templo, acompanhados por instrumentos musicais (1 Crônicas 16:4-7; 25). Além dos Salmos, outros cânticos de louvor e vitória são encontrados em passagens como Êxodo 15 (o cântico de Moisés e Miriã após a travessia do Mar Vermelho) e Juízes 5 (o cântico de Débora).
No Novo Testamento, o termo ὕμνος (hymnos) é usado em algumas passagens-chave:
- Mateus 26:30 e Marcos 14:26: Após a Última Ceia, Jesus e seus discípulos cantam um hino (hymnesantes) antes de irem para o Monte das Oliveiras. Tradicionalmente, acredita-se que este hino tenha sido parte do Hallel (Salmos 113-118), cantado durante a celebração da Páscoa judaica.
- Efésios 5:19 e Colossenses 3:16: Paulo exorta os crentes a falarem entre si “com salmos (psalmois), hinos (hymnois) e cânticos espirituais (ōdais pneumatikais)”, cantando e louvando ao Senhor em seus corações. Aqui, hymnos parece distinguir-se de psalmos (referindo-se provavelmente aos Salmos do Antigo Testamento) e de ōdais (um termo mais geral para “cântico”). A natureza exata da distinção entre esses três termos, se houver, é debatida.
- Filipenses 2:6-11; 1 Timóteo 3:16; Colossenses 1:15-20: Essas passagens são frequentemente consideradas hinos cristológicos primitivos, que celebram a divindade, a encarnação, a humilhação, a exaltação e a obra redentora de Cristo. Embora não sejam explicitamente chamados de hymnos no texto, sua estrutura poética e conteúdo teológico sugerem que funcionavam como hinos na igreja primitiva.
HINÓDIA JUDAICA E CRISTÃ
Aqui está uma linha do tempo da história dos hinos judaicos e cristãos, destacando os principais desenvolvimentos e períodos:
I. Período do Antigo Testamento (c. 1500 – 400 a.C.)
- Elementos Hínicos Iniciais (c. 1500-1000 a.C.):
- Cântico do Mar (Êxodo 15): Atribuído a Moisés e Miriã, celebrando a libertação do Egito. Um dos exemplos mais antigos de poesia hebraica, provavelmente cantado antifonalmente.
- Cântico de Débora (Juízes 5): Um hino de vitória, celebrando o triunfo sobre as forças cananeias.
- Fragmentos de outros cânticos: Espalhados pelos livros históricos, indicando uma tradição de canto em adoração e celebração.
- Era Davídica e o Saltério (c. 1000-900 a.C.):
- Davi: Tradicionalmente creditado com a composição de muitos Salmos, estabelecendo uma tradição de música litúrgica em Israel.
- Salmos: A coleção de 150 Salmos torna-se o hinário do antigo Israel, usado no culto do Templo e na devoção pessoal. Os Salmos abrangem uma ampla gama de gêneros (louvor, lamento, ação de graças, reais, sabedoria).
- Culto no Templo: Os levitas são encarregados da música.
- Período Pós-Exílico (c. 539-400 a.C.):
- Reconstrução do Templo: Ênfase no culto litúrgico e no uso dos Salmos.
- Desenvolvimento do Culto na Sinagoga: Paralelamente ao culto do Templo, as sinagogas surgem como centros de oração e leitura das Escrituras, provavelmente incorporando o canto.
II. Período do Segundo Templo (c. 400 a.C. – 70 d.C.)
- Uso Contínuo do Saltério: Os Salmos permanecem centrais no culto judaico.
- Surgimento de Novos Hinos:
- Manuscritos do Mar Morto: Revelam hinos e orações usados pela comunidade de Qumran, refletindo sua teologia única.
- Apócrifos e Pseudepígrafos: Contêm hinos e orações que refletem diversas perspectivas judaicas.
- Influencia Helenistica: Septuaginta é escrita
III. Período do Novo Testamento (c. 30 – 100 d.C.)
- Jesus e os Salmos: Jesus cita e alude aos Salmos com frequência, demonstrando sua importância contínua.
- Hinos na Última Ceia (Mateus 26:30; Marcos 14:26): Provavelmente referindo-se aos Salmos do Hallel (113-118).
- Hinos Cristãos Primitivos:
- Epístolas Paulinas (Efésios 5:19; Colossenses 3:16): Incentivam o canto de “salmos, hinos e cânticos espirituais”.
- Hinos Cristológicos (Filipenses 2:6-11; 1 Timóteo 3:16; Colossenses 1:15-20): Passagens poéticas que refletem as primeiras crenças cristãs sobre Cristo.
- Cânticos:
- Magnificat (Lucas 1:46-55): O cântico de louvor de Maria.
- Benedictus (Lucas 1:68-79): O cântico de louvor de Zacarias.
- Nunc Dimittis (Lucas 2:29-32): O cântico de louvor de Simeão.
- Apocalipse contém diversos hinos
IV. Igreja Primitiva (c. 100 – 500 d.C.)
- Período Pós-Apostólico:
- Desenvolvimento da Liturgia Cristã: Os hinos tornam-se cada vez mais integrados aos cultos.
- Odes de Salomão: Uma coleção de hinos cristãos primitivos (provavelmente do século II), refletindo influências gnósticas.
- Didache e outros documentos mostram orações e adoração.
- Hinódia Grega:
- Clemente de Alexandria (c. 150-215): “Pastor do Jovem Tenro” – um dos primeiros hinos cristãos existentes com autoria conhecida.
- Desenvolvimento de cantos litúrgicos: O canto plano começa a se desenvolver.
- Hinódia Latina:
- Hilário de Poitiers (c. 310-367): Considerado o “pai da hinódia latina”.
- Ambrósio de Milão (c. 340-397): Introduziu os hinos ambrosianos, caracterizados por uma estrutura métrica simples.
- Desenvolvimento do Ofício Divino: As comunidades monásticas desenvolvem um ciclo de oração diária, incorporando hinos.
V. Período Medieval (c. 500 – 1500 d.C.)
- Canto Gregoriano: Torna-se a forma dominante de música litúrgica na Igreja Ocidental.
- Desenvolvimento de Sequências: Hinos elaborados cantados antes da leitura do Evangelho.
- Autores de Hinos Notáveis:
- Venâncio Fortunato (c. 530-609): “Vexilla Regis”, “Pange Lingua”.
- Bernardo de Claraval (1090-1153): “Ó Sagrada Cabeça, Agora Ferida”.
- Tomás de Aquino (1225-1274): “Pange Lingua Gloriosi Corporis Mysterium”, “Adoro te devote”.
- Hinódia Vernacular: Começa a surgir em algumas regiões, paralelamente aos hinos latinos.
VI. Reforma e Pós-Reforma (c. 1500 – 1800 d.C.)
- Reforma Luterana:
- Martinho Lutero (1483-1546): Enfatizou o canto congregacional na língua vernácula. Escreveu numerosos hinos, incluindo “Castelo Forte é Nosso Deus”.
- Desenvolvimento do Coral: Uma forma distintiva de hino luterano, frequentemente baseado em melodias existentes.
- Reforma Calvinista:
- João Calvino (1509-1564): Defendia a salmódia exclusiva (cantar apenas Salmos) no culto.
- Saltério de Genebra: Uma coleção de Salmos métricos em francês, amplamente influente.
- Reforma Inglesa:
- Livro de Oração Comum: Contém Salmos métricos e alguns hinos.
- Desenvolvimento do Canto Anglicano: Um estilo de cantar Salmos e cânticos.
- Contrarreforma: Uso contínuo de hinos latinos e canto gregoriano.
- Ascensão da Hinódia Inglesa:
- Isaac Watts (1674-1748): “Pai da Hinódia Inglesa”, escreveu centenas de hinos, incluindo “Alegria para o Mundo” e “Quando Eu Contemplo a Maravilhosa Cruz”.
- Charles Wesley (1707-1788): Prolífico autor de hinos metodista, incluindo “Ouvi! Os Anjos Mensageiros Cantam” e “Amor Divino, Todos os Amores Excedendo”.
VII. Séculos XIX e XX
- Movimento de Oxford: Renascimento do interesse em hinos antigos e medievais.
- Hinos Gospel: Populares em círculos evangélicos, enfatizando a experiência pessoal e o evangelismo.
- Explosão Hínica: Um vasto aumento no número de hinos escritos e publicados.
- Movimento Ecumênico: Compartilhamento de hinos entre as linhas denominacionais.
- Música Cristã Contemporânea (CCM): Surgimento de novos estilos de música de adoração, muitas vezes misturando estilos de música popular com letras cristãs.
- Hinódia Global: Maior conscientização e uso de hinos de diversas culturas e tradições.
- Comunidades Taizé e Iona: Desenvolvimento de cantos meditativos e repetitivos
VIII. Século XXI
- Diversificação contínua de estilos: Mistura de elementos tradicionais e contemporâneos.
- Hinários Digitais: Uso crescente de tecnologia no culto.
- Ênfase na profundidade teológica e na justiça social: Hinos abordando questões contemporâneas.

