Astronomia na Bíblia

A Bíblia, embora não seja um texto científico, contém diversas referências a corpos celestes e fenômenos astronômicos. Essas referências refletem a compreensão do cosmos pelos povos do antigo Oriente Próximo (AOP) e do mundo bíblico, e são utilizadas com propósitos diversos, desde a marcação do tempo e das estações até a expressão de ideias teológicas e literárias.

Astronomia no Antigo Oriente Próximo

Os povos do AOP desenvolveram um conhecimento astronômico sofisticado, motivado por necessidades práticas como a agricultura e a navegação, bem como por crenças religiosas e astrológicas. Observavam o céu a olho nu, identificando estrelas, constelações e planetas, e registrando seus movimentos e ciclos. Associavam os corpos celestes a divindades e acreditavam que sua posição e seus movimentos influenciavam os eventos terrestres. A astronomia era, portanto, uma disciplina integrada à religião, à mitologia e à vida cotidiana.

Astronomia Bíblica

A Bíblia Hebraica contém inúmeras referências astronômicas, muitas vezes entrelaçadas com a cosmologia e a teologia. O Gênesis descreve a criação do universo, incluindo o Sol, a Lua e as estrelas, como obra de Deus. Outros livros mencionam constelações como as Plêiades (Kimah), Órion (Kesil) e a Ursa Maior (Mezarim), demonstrando familiaridade com o céu noturno. A Bíblia também alude a eventos astronômicos como eclipses solares e lunares, interpretados como sinais divinos.

No Novo Testamento, as referências astronômicas são menos frequentes e geralmente simbólicas. A “Estrela de Belém” guia os magos até o local de nascimento de Jesus, representando a manifestação divina. Em outros trechos, as estrelas são usadas como metáforas para pessoas ou eventos, como em Judas 1:13, onde “estrelas errantes” simbolizam indivíduos que se desviaram da fé.

Compreensão e Uso da Astronomia

É importante reconhecer que a compreensão astronômica na Bíblia reflete o conhecimento da época. A cosmologia bíblica era geocêntrica, com a Terra no centro do universo. As estrelas eram frequentemente vistas como “luzes” no firmamento, e os planetas eram considerados “estrelas errantes”. No entanto, a Bíblia também expressa admiração pela ordem e beleza do cosmos, reconhecendo a glória individual de cada corpo celeste (1 Coríntios 15:41).

As referências astronômicas na Bíblia cumprem diversas funções. Algumas são usadas para marcar o tempo e as estações, como no ciclo lunar que regia o calendário religioso. Outras servem como metáforas e alegorias, enriquecendo a linguagem poética e profética. Em alguns casos, os eventos astronômicos são interpretados como sinais divinos, prenunciando julgamentos ou eventos importantes.

LISTA DE CORPOS CELESTES

Ash/Ayish (עש): Possivelmente o aglomerado estelar das Híades, localizado na constelação de Touro. Jó 9:9; 38:31.

Hadre Theman (חדרי תימן) – “câmaras do sul”: Região do céu visível no hemisfério sul, possivelmente incluindo estrelas como Canopus, o Cruzeiro do Sul e Alfa Centauri. Jó 9:9.

Kesil (כסיל): Constelação de Órion, com estrelas brilhantes e formato distinto, facilmente reconhecível pelos povos antigos. Jó 9:9; 38:31; Amós 5:8.

Kimah (כימה): Identificado como o aglomerado estelar das Plêiades, um grupo de estrelas jovens visível a olho nu. Jó 9:9; 38:31; Amós 5:8.

Mazzaroth (מזרות): Um dos termos mais difíceis de identificar. Uma forte hipótese o associa ao planeta Vênus, como estrela da manhã (Lúcifer) e estrela da tarde (Vésper). Jó 38:32; 2 Reis 23:5.

Mezarim (מזרים): Provável referência às constelações Ursa Maior e Ursa Menor, importantes para a navegação por serem circumpolares. Jó 37:9.

Nachash (נחש): Constelação do Dragão, que serpenteia ao redor do polo norte celeste. Referências bíblicas: Jó 26:13.

Shemesh (שמש); hélios (ἥλιος) – Sol: A estrela central do nosso sistema solar, fonte de luz e calor para a Terra. Gênesis 1:16; Salmos 19:1; Mateus 24:29.

Yareach (ירח), selēnē (σελήνη) – Lua: Satélite natural da Terra, responsável pelas marés e pela iluminação noturna. Gênesis 1:16; Salmos 104:19; Mateus 24:29.

Balaão

Balaão era um profeta, filho de Beor e morador da cidade de Petor na Mesopotâmia (Nm 22; 23; 24; Dt 23:4). Aparece nas passagens da mula (Nm 22:33), da maldição tornada em bênção (Nm 23-24) e da idolatria de Peor (Nm 31:6; Dt 23:4). Aparece citado no Novo Testamento (2 Pe 2:15; Jd 11; Ap 2:14).

A inscrição de Deir ‘Alla (KAI 312), foi descoberta durante uma escavação de 1967 em Deir ‘Alla, na Jordânia. Escrita nas paredes de um casa, registra uma visão de Balaão. Sua datação é do século IX a.C.