Hans Küng (1928 -1921) eticista e teólogo católico suíço.
Pesquisador e docente da Universidade de Tübingen, serviu como conselheiro teológico durante o Concílio Vaticano II. Durante seu doutorado buscou conciliar as doutrinas católica e de Barth a respeito da justificação.
Foi crítico contra o celibato clerical e a condenação do magistério católico acerca dos métodos contraceptivos. Em 1978, depois de rejeitar a doutrina da infalibilidade papal, foi proibido de lecionar teologia católica.
A Igreja
Hans Küng publicou A Igreja (Die Kirche) em 1967, questionando doutrinas católicas sobre a natureza, estrutura e missão da Igreja, buscando reinterpretá-las à luz das Escrituras, da história e das reformas do Concílio Vaticano II. Küng critica a Igreja pré-conciliar como excessivamente institucionalizada e hierárquica, distanciando-se do ideal cristão primitivo de uma comunidade carismática guiada pelo Espírito. Para Küng, a Igreja deve retornar a uma forma mais dinâmica e inclusiva, como sugerido no Novo Testamento e reafirmado na Lumen Gentium de 1964, que descreve a Igreja como o ‘Povo de Deus’.
Küng fundamenta sua eclesiologia na proclamação bíblica do Reino de Deus. Ele argumenta que Jesus não buscou criar uma instituição, mas formar uma comunidade baseada na solidariedade e na resposta ética ao chamado divino. Os evangelhos apresentam Jesus formando um movimento que transcende fronteiras sociais e religiosas, voltado para a transformação das relações humanas. Na tradição apostólica e nas epístolas paulinas, a Igreja aparece como uma ‘koinonia’, uma comunhão de fé e serviço, com liderança definida mais pela diaconia que pelo domínio.
Küng traça a evolução da Igreja desde suas origens carismáticas até as estruturas institucionais que emergiram no período pós-apostólico. Ele vê essa transição como uma ruptura com o ethos comunitário inicial, à medida que o episcopado e, posteriormente, o papado centralizaram o poder, criando uma elite clerical cada vez mais distante do laicato. Esse processo culminou no século XIX, com o Concílio Vaticano I definindo a infalibilidade e a jurisdição suprema do papa, reforçando um modelo centralizado de autoridade.
Para Küng, esse modelo hierárquico é uma construção histórica, não uma exigência divina, e pode ser reformado. Ele propõe uma forma de governo mais colegiada, com maior participação do laicato na vida eclesial, rejeitando o monopólio clerical sobre o ensino e os sacramentos. Küng também critica a ideia de uma Igreja autossuficiente e triunfalista, defendendo que a missão cristã deve incluir o diálogo com outras tradições cristãs e não cristãs, assim como um compromisso com a justiça social e a paz.
Ao final, Küng descreve a Igreja como um povo peregrino, sempre em processo de reforma. Para ele, a Igreja deve retornar à simplicidade evangélica, rejeitando o legalismo e as estruturas de poder que obscurecem sua verdadeira missão. Küng afirma que as estruturas eclesiásticas são criações humanas, sujeitas a mudanças históricas e culturais. Essa visão tem impacto significativo no debate sobre sinodalidade, descentralização e participação leiga na Igreja contemporânea.
