Magos

Em Mateus 2 relata que um grupo de homens do oriente — magoi — viajou para prestar adoração ao menino Jesus quando nasceu.

Gentios, apesar de utilizaram as estrelas como referências (Mt 2:28), desconheciam as profecias das Escrituras Hebraicas sobre o local do nascimento do Messias (Mt 2:2-6).

Mais tarde, tradições populares passram a contá-los em três e a atribuir o título de reis, em uma inferência do número de presentes (Mt 2:11) e aos reis que contemplariam a luz de Deus (Is 60:3).

TERMO

“Homens sábios” é uma tradução imprecisa. A origem do termo mago vem do antigo persa magu– (transmitido ao elamita, aramaico e caldeu maguš, grego mágos μάγος, latim magus) para a designação do sacerdotes dos iranianos nos períodos mediano, aquemênida, parta e sassânida. Sua primeira menção está na inscrição de Bisutum de Dario I, o Grande. A partir do século IV a.C., o uso do termo mago tornou-se ambíguo com a conotação desdenhosa para designar conjuradores, feiticeiros e adivinhos. Já durante os períodos parta e sassânida, esse termo foi usado para os sacerdotes zoroastrianos.

De acordo com Heródoto (Histórias 1.101), os magos seriam uma das seis tribos medas e formaram o clã sacerdotal hereditário, com membros influentes na corte como intérpretes e adivinhos de sonhos (1.107). Para os autores gregos e romanos os magos tinham funções rituais conectadas com astrologia e magia, daí o termo mágica e magia. Há também uma confusão das palavras “magos” e “caldeus” na literatura grega, sendo-as atribuídas tanto aos sacerdotes babilônios e quanto aos magos iranianos.

As porções preservadas da Avesta, no entanto, não contêm referências indiscutíveis aos magos, além de empregar o termo āθravan- para os sacerdotes. No entanto, os ensinos de Zoroastro tornaram-se conhecidos dos gregos e romanos principalmente durante o período helenístico como a religião dos magos. No Ocidente fora das fronteiras dos impérios persas havia adeptos na Ásia Menor e no Egito.

RECEPÇÃO DO PERÍCOPE DOS MAGOS DE MATEUS

Várias reinterpretações da passagem dos magos ocorreram nos primeiros séculos do cristianismo na bacia do Mediterrâneo, talvez pelo embaraço de sua associação ou com o concorrente império persa ou com as práticas divinatórias caldeias. Dentre os principais documentos a referirem-se a essa passagem de Mateus estão:

  1. Protevangelho de Tiago: simplifica e reconta a passagem sob o gênero de literatura parabíblica.
  2. Justin Mártir; chama os magos de “árabes” e os associa a uma profecia de Isaías 8:4,
  3. Irineu de Lyon: contrapõe a estrela de Balaão com o discernimento tido pelos magos (Haer. 3.9 , 16; Epid. 58).
  4. Tertuliano: denunciou as práticas de magia e sugeriu que os magos fossem reis (Idol. 9.3).
  5. Orígenes: interpreta os magos de Mateus pela profecia de Balaão (Nm 23).
  6. Hipólito: empregou os magos ‘caldeus’ de Mateus para interpretar Daniel (Dan. 2; Danielem 1.8-9, 2.1-9).
  7. Há uma tradição de que As Profecias de Hystapes, obra perdida dos meados do século IV a.C., supostamente teria profecias messiânicas, as quais os magos esperavam e a viram cumpridas no nascimento de Cristo. Posteriormente, vários autores cristãos citaram tal obra.

SIMÃO MAGO

O praticante de magia entre os samaritanos convertidos que se chamava Simão em Atos 8:9, 11 é tradicionalmente referido como Simão Mago, entretanto, o contexto indica o uso genérico do termo, sem conexão com os magoi persas.

BIBLIOGRAFIA
Alves, Leonardo M. Zoroastrismo: o louvor ao Bem. Ensaios e Notas, 2018.

Dandamayev, M. A. Magi. Encyclopaedia Iranica, 2012.

Magia

A Bíblia, ao mesmo tempo que condena veementemente a magia, também revela um profundo fascínio por suas práticas e seus poderes. Essa ambivalência se manifesta em diversos textos, desde a proibição explícita de práticas divinatórias em Deuteronômio 18:10-11 (cf. 2 Reis 21:6; 2 Crônicas 33:6) até a narrativa de Moisés transformando seu cajado em serpente diante de Faraó (Êxodo 7:8-13).

A condenação da magia na Bíblia se concentra principalmente em práticas que buscam conhecimento ou poder fora da vontade de Deus, como adivinhação, astrologia e necromancia. Essas práticas são frequentemente associadas à idolatria e à infidelidade, representando um desvio do caminho da fé e da confiança em Deus. Textos como Miqueias 5:11 e Jeremias 27:9 alertam contra aqueles que se desviam para a magia, enquanto Êxodo 22:17-23 prescreve punições severas para feiticeiros.

No entanto, nas culturas dos povos da Bíblia o poder da magia era reconhecido como real. A Bíblia contém referências a amuletos e práticas apotropaicas, como o hitef hinnom, pequenos rolos de prata contendo inscrições com a bênção sacerdotal (Números 6:24-26), descobertos em Jerusalém e datados do século VII a.C. Esses amuletos, utilizados para proteção contra o mal, revelam a coexistência de crenças mágicas e religiosas na cultura do antigo Israel.

A ambivalência da Bíblia em relação à magia reflete a complexa relação entre o mundo natural e o sobrenatural no antigo Israel. A magia, enquanto expressão do desejo humano de controlar o desconhecido, é ao mesmo tempo condenada como uma afronta à soberania divina e utilizada como ferramenta narrativa para exaltar o poder de Deus.