A Narrativa da Arca, presente nos livros de Samuel (1 Sm 4-6; 2 Sm 6), descreve as vicissitudes da Arca da Aliança, símbolo da presença divina e objeto sagrado de Israel, durante um período turbulento da história do povo. Longe de ser um relato monolítico, a narrativa se apresenta como uma tapeçaria complexa, tecida a partir de diferentes tradições e perspectivas, que revelam a ambiguidade e o poder da Arca.
A história tem início com a captura da Arca pelos filisteus após a derrota dos israelitas em batalha. Levada como troféu de guerra, a Arca é colocada no templo do deus Dagom, em Asdode. No entanto, a presença da Arca desencadeia eventos misteriosos e catastróficos: a estátua de Dagom é encontrada prostrada diante da Arca, e pragas assolam a cidade. Aterrorizados, os filisteus decidem devolver a Arca a Israel, mas sua jornada de volta é marcada por tragédias e temor, culminando na morte de setenta homens de Bete-Semes por terem olhado para dentro da Arca.
Temendo a ira divina, os habitantes de Bete-Semes enviam a Arca para Quiriate-Jearim, onde permanece por vinte anos na casa de Abinadabe. É somente com o rei Davi que a Arca é trazida para Jerusalém, em meio a celebrações e sacrifícios. No entanto, a jornada é novamente marcada por tragédia, com a morte de Uzá ao tocar na Arca para impedir sua queda. Temeroso, Davi deixa a Arca na casa de Obede-Edom, onde permanece por três meses, trazendo bênçãos ao seu lar. Finalmente, Davi traz a Arca para Jerusalém, estabelecendo-a como centro do culto israelita.
A Narrativa da Arca apresenta diferentes facetas do objeto sagrado: ela é símbolo da presença divina, instrumento de guerra, fonte de bênçãos e, ao mesmo tempo, objeto de temor e perigo.
BIBLIOGRAFIA
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