Agostinianismo

Agostinianismo ou agostinismo é um sistema teológico iniciado pelo bispo e filósofo norte-africano Agostinho de Hipona (354– 430 d.C.). Depois foi desenvolvido por outros pensadores, afetando profundamente as doutrinas do cristianismo ocidental e a interpretação da Bíblia no Ocidente.

Entre as obras mais importantes de Agostinho estão A Cidade de Deus, Sobre a Doutrina Cristã, Sobre a Trindade, Manual sobre fé, esperança e caridade, Contra os Acadêmicos e suas famosas Confissões.

Dentre as influências recebidas por Agostinho incluem o neoplatonismo, o estoicismo, a retórica e cultura jurídica romana. Seu embate com o maniqueísmo e com os adeptos de Pelágio refinaram seu pensamento. Os anos finais e decadentes do Império Romano do Ocidente também refletem em sua filosofia de história.

DOUTRINA

Doutrina central do agostinianismo é que a natureza do ser humano foi corrompida pela culpa do pecado original, mas quando se crê em Cristo mediante o Evangelho, o ser humano torna-se partícipe de sua Igreja, a qual porta a revelação divina através da história, e pela luz do Espírito Santo (o vínculo do amor de Deus) compreende essa revelação. 

Sumário extendido:

  • Deus ordenou desde a eternidade todas as coisas que deveriam acontecer com vistas à manifestação de sua glória;
  • Deus criou o homem puro e santo, com liberdade de escolha;
  • Neste plano, Adão foi testado, desobedeceu, perdeu sua liberdade e tornou-se escravo do pecado;
  • Toda a humanidade caiu com Adão e é justamente condenada nele à morte eterna, o que é chamado de pecado original;
  • O pecado original causou uma desordem do Eu de tal forma que a razão, a vontade e o desejo não são mais corretamente subordinados um ao outro, tampouco a Deus.
  • Deus, em sua presciência, enviou Cristo para a redenção e oferecer a vida eterna;
  • Cristo, nascido de Maria virgem, não possuía pecado. (Agostinho era adepto do seminalismo e acreditava que as mulheres eram somente um vaso, com o ser humano formando-se a partir do sêmen paterno. Portanto, Cristo não portaria ao pecado original);
  • Mas Deus, em sua misericórdia soberana, elegeu parte dessa massa corrupta para a vida eterna, sem qualquer consideração de mérito, ao que chama graça;
  • Pela graça os eleitos são convertidos, justificados, santificados e aperfeiçoados;
  • Os eleitos formam uma Igreja invisível conhecida somente por Deus;
  • A Igreja visível tem um papel importante na comunicação da graça, especialmente por meio dos sacramentos;
  • Somente pela iluminação divina seria possível compreender as coisas de Deus;
  • O Espírito Santo tem papel indispensável na compreensão das coisas de Deus bem como mover para praticar obras de justiça;
  • O Espírito Santo é o vínculo de amor entre Deus Pai e o Deus Filho. Por ser amor, o Espírito Santo dá a graça de alinhar a razão, a vontade e o desejo para o amor a Deus e ao próximo. Desse modo, todo bem vem de Deus.
  • Enquanto o conselho de Deus é inescrutável, porém justo, o resto da humanidade fica no estado de condenação.
  • Assim, no castigo eterno dos ímpios revela-se a glória de sua justiça.
  • A teodiceia agostiniana busca reconciliar a existência do mal com Deus onipotente e onibenevolente, localizando-se o mal na ausência de Deus.

LEGADO

O agostinianismo praticamente não impactou o cristianismo oriental. Adicionalmente, passou por críticas de vários outros teólogos da tradição cristã ocidental.

O agostinianismo extrapola os confins da teologia e tem ramificações na filosofia. Outros pensadores nessa tradição incluem Boécio, Gregório Magno, Anselmo de Cantuária, Boaventura, Lutero, Calvino, René Descartes, Cornélio Jansênio e Pascal.

Dentre os subsistemas e sistemas teológicos derivados ou baseados no agostinianismo se destacam o sistema penal-sacramental católico romano, a soteriologia forense, o luteranismo, os sistemas reformados e o jansenismo.

BIBLIOGRAFIA

Geerlof, Derek M. “Augustine and Pentecostals: Building a Hermeneutical Bridge between Past and Present Experience in the Psalms.” Pneuma 37.2 (2015): 262-280.

Arminianismo

O arminianismo intrega os sistemas teológicos da família reformada que enfocam a justiça de Deus e enfatizam a responsabilidade humana na salvação. Também referido como sinergismo (cooperação).

O arminianismo defende que a predestinação está condicionada à resposta livre do ser humano à graça de Deus. Essa doutrina se alinha a pensadores como Erasmo, Melanchton e os anabatistas.

Dentre seus formuladores estão os teólogos holandeses Jacobus Arminius (1560 – 1609) e Hugo Grotius (1583– 1645), bem como a Igreja Remonstrante. Nos países de língua inglesa, esse sistema foi reconceptualizado por John Wesley.

HISTÓRIA

Armínio argumentou contra a doutrina da predestinação incondicional, pois sentia que ela tornava Deus o autor do pecado. Em sua “Declaração de Sentimentos” de 1608, ele apresentou seus ensinamentos, defendendo que o primeiro decreto de Deus foi enviar Cristo para redimir os pecadores, o segundo foi receber na graça os que se arrependem, o terceiro foi a provisão da graça preveniente para que todos possam se arrepender e crer, e o quarto foi a salvação ou condenação com base no conhecimento prévio da resposta livre de cada pessoa.

Após a morte de Armínio, em 1610, seus seguidores, conhecidos como remonstrantes, publicaram um documento chamado Remonstrance, que delineava cinco pontos doutrinários: predestinação condicional, expiação universal de Cristo, a necessidade da graça, a capacidade de resistir à graça, e a possibilidade da queda da graça. Esse documento gerou uma resposta do partido gomarista, que apropriou-se da identificação “calvinista”, a Contra-Remonstrance, e a disputa se intensificou. Em 1618, foi convocado o Sínodo de Dort, que condenou o arminianismo como heresia. Embora a assembleia fosse majoritariamente calvinista gomarista, a decisão impôs severas perseguições aos remonstrantes na Holanda, embora o movimento tenha sobrevivido e mais tarde florescido.

Fora da Holanda, o arminianismo encontrou solo fértil, especialmente na Inglaterra. O teólogo John Wesley, fundador do metodismo, adotou e popularizou a teologia arminiana, que se tornou a base do movimento metodista. Wesley, como Armínio, enfatizava a depravação total da humanidade e a necessidade da graça preveniente de Deus para a salvação, mas sustentava que a vontade humana, embora caída, era libertada pela graça para poder responder à oferta de salvação. A ênfase na possibilidade de salvação para todos incentivou o grande avivamento e o fervor missionário.

DOUTRINA

De acordo com as distintivas teológicas do arminianismo, derivadas dos Cinco Artigos da Remonstrância de 1610, a salvação ou condenação final de uma pessoa está condicionada pela fé ou incredulidade dada por Deus a essa pessoa.

No ponto de vista arminiano, a doutrina ensina que Adão foi criado inocente, mas não santo. O pecado original resultou dos atos da vontade, dos quais herdamos a contaminação de Adão, mas não sua culpabilidade, nem uma natureza pecadora inerente. Portanto, o ser humano não é totalmente depravado, manifestando fome e sede de justiça e dependência da graça de Deus. Nesse contexto, o ser humano possui a capacidade de desejar fazer o bem, mas depende da obra de graça de Deus em Cristo para realizá-lo.

A expiação divinamente providenciada é suficiente para todas as pessoas, mas é aplicada apenas àqueles que confiam em Cristo, sendo, portanto, limitada aos crentes, não por Deus, mas pela pessoa que confia ou falha em confiar. Ninguém pode salvar a si mesmo, e sem a ajuda do Espírito Santo, ninguém pode responder à vontade de Deus de que todos sejam salvos. A graça de Deus, aplicada pelo Espírito Santo, é a única fonte do bem e da salvação humana, embora essa graça possa ser resistida. A graça de Deus na vida do crente capacita a resistir ao pecado, e Cristo os manterá firmes. Quanto à possibilidade de abandonar Deus, os pensadores arminianos concordam que, assim como Deus não força as pessoas a se relacionarem com Ele, Ele também não força aqueles que mudam de ideia a permanecerem nessa relação.

Os arminianos não acreditam que a fé da pessoa, por si só, a salva. Pelo contrário, a fé habilitada pelo Espírito aceita a salvação de Deus, não sendo uma salvação baseada em obras, nem para a entrada (eleição) nem para a manutenção (perseverança) da vida cristã.