Versões latinas

As versões da Bíblia em latim são traduções feitas para essa língua, sendo importante para o culto e formulação teológica das igrejas ocidentais.

VETUS LATINA OU ÍTALA

A Vetus Latina ou Ítala refere-se às diversas traduções feitas desde o final do século II d.C. até o século IV por vários tradutores anônimos.

Alguns subgrupos são identificáveis. Haveria as versões norte-africanas, como o códex Bobiensis, Códex Palatinus e as citações de Cipriano. Outra vertente seriam do latim europeu, como o Códex Veromensis e o Códex Colbertinus.

As edições impressas da Vetus Latina remontam desde 1750, quando Petrus Sabatier publicou “Bibliorum sacrorum latinae versiones antiquae”. Mais de um século depois, Carlo Vercellone lançou “Variae lectiones Vulgatae latinae editionis Bibliorum” em Roma de 1860 a 1864. Finalmente, o Vetus-Latina-Institut em Beuron, Alemanha, iniciou o trabalho de publicação de edições críticas esde 1945, com die Reste der altlateinischen Bibel, possuindo 10 livros publicados até 2020.

VULGATA

A Vulgata foi uma revisão de partes da Vetus Latina ou traduções originais, obra de Jerônimo finalizada no início do século V.

Jerônimo fez duas traduções para o salmos, embora a versão anterior (versio romana) também continuasse a circular junto da coletânea da Vulgata. No Novo Testamento fez uma versão dos evangelhos e manteve a versão Vetus Latina de Atos, epístolas paulinas e universais e Apocalipse.

O livro de Salmos possui mais versões adaptadas ao uso litúrgico:

  • Psalterio Cyprianico – recensão norte-africana do qual resta fragmentos citados em Cipriano de Cartago, sendo utilizado pelos donatistas. É o possível que a quarta coluna do Saltério do Monte Cassino (Ms. Cas. 557) seja essa versão.
  • Romana – o equivalente à Vetus Latina.
  • Ambrosiana – saltério preservado no rito ambrosiano de Milão.
  • Mozarábe – saltério preservado no rito moçárabe de Toledo.
  • Gallicana – versão de Jerônimo com base na Septuaginta Hexapla. É o saltério da Vulgata Sixto-Clementina.
  • Juxta Hebraicum – versão de Jerônimo com base nos textos hebraicos.
  • Saltérios metrificados – feitos no século XVI como exercício neolatinos e para canto. Às vezes acompanham os livros de Cantares e Lamentações.
  • Piana – feita no século XX, também conhecida como e Bea psalter, Psalterium Vaticanum ou Novum Psalterium, por encomenda de Pio XII.
  • Nova Vulgata – feita no século XX, com base no Texto Massorético.

Apesar de seu caráter semi-oficial, a Vulgata de Jerônimo levou ainda tempo para ganhar aceitação. Até o século XII, essa versão competia com a Vetus Latina.

Com a publicação da Vulgata Sixto-Clementina em 1592 padronizou-se essa versão e diminuiu o interesse por novas traduções. Todavia, ainda seguiram-se outras edições. O dominicano Tomaso Malvenda fez uma nova tradução até Ez 16:16, quando faleceu, sendo publicada postumamente em 1650. Uma nova tradução completa foi feita por Sebastian Schmidt em 1696.

A revisão da Vulgata, promulgada como oficial para a Igreja Católica como Nova Vulgata em 1979, é a mais recente versão latina.

Dentre as versões impressas destacam-se

  • Bíblia de Gutenberg (1452/54),
  • Poliglota Compultense (1514),
  • 4ª edição da vulgata de Erasmo (1527),
  • Edição da Vulgata de Wittenberg (1529),
  • Edição Vulgata de Robert Stephanus (1540), edição Vulgata de Leuven (1547), edição Vulgata de Christopher Plantinus (1583). Posteriormente, os médicos da Sorbonne atacaram duramente as tendências luteranas de algumas notas da Bíblia de Estienne. As notas da Bíblia de Estienne são um modelo de exegese literária e crítica clara, concisa.
  • Edição Sixtina da Vulgata (1590),
  • Edição Clementina da Vulgata (1592),
  • Edição Wordsworth-White da Vulgata (1889-1954)
  • Edição de Stuttgart da Vulgata (1994).

OUTRAS VERSÕES LATINAS

O Renascimento e a Reforma deram novos ímpetos para novas traduções latinas. No século XIV Lorenzo Valla anotou vários problemas de tradução e edição na Vulgata. Com base nessas anotações, Erasmo fez uma edição crítica do Novo Testamento acompanhada de uma nova versão latina, a Novum Instrumentum omne. Uma revisão dessa versão Erasmo foi feita pelo anabatista holandês Galterus Deloenus: Testamentum Novum Latinum em 1540. Nessa mesma época saiu a Septuaginta Latina interlinear e o Tergum em latim por Alfonso de Alcalá na Poliglota Complutense.

Pagninus publicou em 1527 uma nova versão, totalmente baseada nos textos hebraicos e gregos, a Veteris et Novi Testamenti nova translatio. Essa edição muito literal seria a primeira com divisão em versos, embora o sistema de Pagninus não tenha predominado.

Bíblia de Zurique, de Leo Jud, contava com uma versão ao texto latino padrão da Vulgata. Os teólogos de Salamanca, com a autorização da Inquisição espanhola, publicaram uma nova edição completamente revisada deles na sua Bíblia latina de 1584.

Novo Testamento grego e latino publicado por Jan Jansson, editor e cartógrafo cristão.

Outras versões latinas apareceram durante a Reforma: Sebastian Münster (Velho Testamento), Theodore Beza (Novo Testamento), Sebastian Castellio (Completa), Immanuel Tremellius (Velho Testamento com os Deuterocanônicos, esses por seu genro Junius).

Sanctus Pagninus

Santes (Sacte, Sanctus ou Xantes) Pagnino ou em latim Xanthus Pagninus, também Sante Pagnini ou Santi Pagnini (1470–1536), foi um frade dominicano e biblista italiano, cuja versão latina da Bíblia foi altamente elogiada no século XVI.

Em 1516 foi para Roma, onde o Papa Leão X incentivou seu trabalho. De 1523 a 1526 viveu em Avignon, depois se estabeleceu em Lyon. Em 1529, Pagninus publicou um léxico hebraico, Thesaurus linguae sanctae. Publicou também um Psalterium tetraglottum, uma edição poliglota de 29 salmos. Publicou também um manual Enchiridion ChaldaicumHebraicae institutiones.

Pagninus começou sua tradução por volta do ano de 1493 e a completou antes de 1520, utilizando textos em hebraico e grego. Desde Jerônimo, foi o primeiro biblista a ter um domínio amplo tanto das principais línguas para os estudos bíblicos como também domínio da filologia aplicada à exegese bíblica. Sua Veteris et Novi Testamenti nova translatio, publicada em Lyon em 1527 influenciou grandemente as traduções da era da Reforma, quer em línguas vernáculas, quer na revisão da Vulgata. Trata-se de uma tradução altamente literal e destinada para uso de eruditos. Essa diglota hebraico-latim seria usada por tradutores e ganharia ampla aceitação, rara na época, entre judeus, protestantes e católicos.

Foi a edição mais antiga dividida em versos numerados. Os apócrifos, pela primeira vez em uma Bíblia latina impressa, formam uma seção separada no final do Antigo Testamento. Contudo, as versificações posteriores, especialmente as propagadas por Estienne e Clemente VII ganharam maior aceitação.

Ítala

A Vetus Latina ou Itala são as diferentes traduções surgidas antes da Vulgata de Jerônimo.

Os primeiros indícios da Ítala remontam de sua menção no mais antigo texto cristão em latim, os Atos dos mártires scillitanos. Esse processo contra cristãos do norte da África menciona um homem chamado Speratus, decapitado em 180, que possuía “livros e cartas de Paulo, um homem justo”. Aparecem também em citações patrísticas do século II, especialmente Tertuliano e Cipriano de Cartago.

Utilizada popularmente nos cultos, mesmo depois da publicação da Vulgata no século V continuou em uso. Os grandes códices da Vetus Latina foram produzidos até 1250. Parte da Vulgata preserva leituras da Ítala. Adicionalmente, seções inteiras como os livros de Salmos, Atos, as Epístolas e o Apocalipse foram mantidos nas coleções da Vulgata.