Livro de Jó

O livro de Jó é uma série de discursos e diálogos que exploram as questões do sofrimento imerecido, o problema da teodiceia (por que há o mal no mundo), a natureza e o propósito da vida piedosa. A provação e restauração de Jó, bem como sua paciência, se tornaram proverbiais.

Está classificado na Bíblia Hebraica entre os Escritos (Ketuvim ou Hagiógrafos) e nas Bíblias protestantes como livro poético ou sapiencial, situado entre os livros históricos e proféticos.

COMPOSIÇÃO E CONTEXTO

É uma obra anônima. Uma nota final presente na Septuaginta referencia uma versão siríaca que localiza Uz em Edom e Jó como descendente de Esaú. Essa hipótese edomita tem apoio de materiais pseudepígrafos e do targum de Jó de Qumran. Autores recentes como Pfeiffer e Amzallag defendem essa hipótese. Edom era conhecido por sua sabedoria (Jeremias 49: 7; Obadias 8; 1 Reis 4:30).

Situar o tempo e cena da narrativa, bem como o local e época de sua composição ou textualização são tarefas conjecturais, dado a ausência de informações. As alusões na parte poética ao ferro como um material cotidiano (Jó 19:24; 20:24; 28:2; 40:18; 41:27) situa a narrativa na Idade do Ferro (1200–550 a.C.). Tal período é congruente com as alusões aos sabeus (Jó 1:15) que emergiram como povo entre 1200-800 a.C. e existiram como estado até 275 d.C.

Embora a terra de Uz seja desconhecida, vários costumes (sacrifícios patriarcais, Jó 1: 5; agropastoralismo de oásis; as filhas receberem herança junto com os filhos, Jó 42:15) bem como ausência de menções aos israelitas, ambienta Jó em uma região fora do antigo Israel.

Fora do livro, Jó é mencionado em Ezequiel 14:14–20 e Tiago 5:11.

A linguagem do livro é complexa e cheia de singularidades. Esse caráter excepcional de estilo e linguagem, com muitos termos desconhecidos levaram às hipóteses de serem aramaísmos, uma suposta tradução de outra língua, arcaísmos ou uma variante dialetal, sobretudo edomita. O prólogo e epílogo são em prosa, com uma linguagem equiparada à de outros livros da Hagiógrafa (Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Eclesiastes) do período persa, com uma notória ausência de aramaísmos. No epílogo há menção de uma unidade monetária, a quesitá (Jó 42:11), a qual aparece apenas em Gênesis 33:19 e Josué 24:32. Já na parte em poesia abundam linguagem peculiares e hapax legomena, especialmente nas falas de Deus. Foi sugerido que a obra teria sido escrita originalmente em um dialeto edomeu, árabe ou uma variante arcaica do hebraico e depois traduzida para o hebraico em sua forma canônica.

Outra tradição situa Jó no período patriarcal e atribui autoria a Moisés. Essa hipótese aparece de forma contraditória no Talmud (Bava Batra 14b-15a), com poucos biblistas contemporâneos (como Christensen ou Sarna) considerando plausível sua antiguidade anterior à Idade do Ferro.

I. Prólogo (em prosa): a calamidade de Jó (Jó 1-2)

II. Poema (Jó 3-42:6)

a. Solilóquio de abertura de Jó (Jó 3)

b. Diálogos com amigos (Jó 4-27)

1. Primeiro ciclo de diálogos (Jó 4-14)

2. Segundo ciclo de diálogos (Jó15-21)

3. Terceiro ciclo de diálogos (Jó 22-27)

c. Monólogos (Jó 28-37)

1. Meditação sobre a inacessibilidade da sabedoria (Jó 28)

2. O solilóquio final de Jó e alegações finais (Jó 29-31)

3.  O discurso de Eliú (Jó 32-37)

d. Diálogos com Deus (Jó 38: 1-42: 6)

1. A primeira resposta de Deus no redemoinho (Jó 38: 1-40: 2)

2. A primeira resposta de Jó (Jó 40: 3-5)

3. A segunda resposta de Deus (Jó 40: 6-41: 34)

4. A segunda resposta de Jó (Jó 42: 1-6)

III. Epílogo (em prosa): restauração de Jó (Jó 42: 7-17)

SAIBA MAIS

Amzallag, Nissim. Esau in Jerusalem: The Rise of a Seirite Religious Elite in
Zion in the Persian Period.
Cahiers de la Revue Biblique 85. Pendé, J.
Gabalda et Cie, 2015.

Bloom, Harold. The Book of Job. Chelsea House Publishers, 1988.

Christensen, Duane L. “Job and the age of the patriarchs in Old Testament narrative.” Perspectives in religious studies 13.3 (1986): 225-228.

Foster, Frank H. “Is the Book of Job a Translation from an Arabic Original?” The American Journal of Semitic Languages and Literatures, 49 (1932) 21–45.1932. p.651.

Hurvitz, Avi “The Date of the Prose-Tale of Job Linguistically Reconsidered,” HTR 67 (1974): 17–34.

Peiffer, Robert “Edomite Wisdom,” ZAW 44 (1926): 13-25.

Pfeiffer, Robert. Introduction to the Old Testament. New York: Harper & Brothers, 1941, p. 670.

Sarna, Nahum M. Understanding Genesis. Vol. 1. Heritage of Biblical Israel, 1966, p. 84.

Tur Sinai, Naphtali H. The Book of Job: A New Commentary. Jerusalem: Kiryath Sepher, 1967.


COMO REFERENCIAR

ALVES, Leonardo Marcondes (ed.). Livro de Jó. Círculo de Cultura Bíblica, 2021. Disponível em:  https://circulodeculturabiblica.org/2021/07/04/livro-de-jo/ Acesso em: 04 jul. 2021.


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