Movimento, sistema teológico e denominações cristãs com raízes na Reforma nos países germânicos no século XVI.
O movimento ganhou uma identidade com o ato de Martinho Lutero (1483-1546) disseminar suas 95 teses em 1517 na Alemanha. Contudo, muitos luteranos preferem a designação evangélico, como por exemplo na Igreja Evangélica Alemã, a maior denominação luterana da Alemanha.
TEOLOGIA
As raízes da teologia luterana vêm da Devotio Moderna, da Theologia Germanica, do humanismo renascentista e do neo-agostianianismo. Tematicamente, é uma teologia centrada na justificação pela fé mediante a graça.
Iniciada com os escritos de Martinho Lutero, o luteranismo ganhou corpo doutrinário sistemático com a obra Loci Communes de Filipe Melâncton. Outros documentos fundantes foram o Catecismo menor (1529) e a Confissão de Augsburgo (1530). Depois de várias disputas teológicas, o luteranismo encerrou sua fase de produção teológica distintiva com o Livro de Concórdia (1580). Nesse compêndio aparecem credos históricos (Apostólico, Niceno e Atanasiano), a Confissão de Augsburgo, a Apologia da Confissão de Augsburgo, os Artigos de Esmalcalde, o Tratado sobre o Poder e o Primado do Papa, o Catecismo Menor e o Catecismo Maior de Lutero e a Fórmula de Concórdia (Declaração Sólida e Epítome).
Desdobramentos posteriores (a escolástica luterana, o pietismo, o racionalismo, a teologia liberal, o confessionalismo, os avivamentos) resultaram em várias obras teológicas. Contudo, a fase de produção de teologia com caráter confessional no luteranismo encerrou-se com o Livro de Concórdia.
A teologia luterana caracteriza-se por uma série de relações dialéticas:
- Lei e Evangelho.
- Dois reinos e dois regimes: Deus trabalha no mundo de duas maneiras diferentes de governar (regimes), mediante duas esferas diferentes, igualmente originais e interligadas (reinos) em que os cristãos se encontram.
- Confessionalismo: quia x quatenus. A adesão ao Livro de Concórdia ser “quia” (porque) ou “quatenus” (na medida em que) expressa as verdades evangélicas oriundas do trilátero luterano: Escrituras, tradição e razão.
- Simul iustus et peccator. O ser humano como simultaneamente justificados e pecadores.
- Opus alienum e opus proprium: obra alheia de Deus e a própria obra de Deus.
- Deus absconditus e Deus revelatus: Deus oculto ao mesmo tempo que é Deus revelado.
- Coram deo e coram hominibus: o ser humano diante de Deus e diante da sociedade.
- Theologia gloriae e theologia crucis: teologia da glória e a teologia da cruz.
- Liberdade e serviço.
LITURGIA, ECLESIOLOGIA E PRÁXIS
A Reforma luterana teve como pináculo uma renovação no culto. Foi adotado o uso da língua vernácula, priozirou o canto congregacional e enfatizou
pregação.
Centrado na doutrina da justificação pela fé mediante a graça, a vida espiritual luterana desdobra-se dessa doutrina. Assim, no luteranismo há uma crença em uma salvação objetiva: não há meios humanos para se obter a salvação. A fé, a pregação da Palavra e os sacramentos são meios que levam a relação de salvos em Cristo.
O culto seria a resposta ao batismo, pois revela a promessa incondicional de Deus de estar para sempre com aqueles que confiam em Deus em Cristo.
O batismo e ceia do Senhor são os dois únicos sacramentos. Cristo está presente no, com e sob os elementos da ceior, A Igreja é manifesta localmente onde os sacramentos sejam apropriadamente administrados e a Palavra diligentemente pregada, irrespectivo das variantes ou ordens litúrgicas.
O luteranismo retém o batismo das crianças porque demonstra que a graça de Deus não é condicionada pela resposta humana.
As denominações luteranas tendem a ser sinodal. Nesse regime, representantes leigos e ordenados discutem e deliberam a gestão da Igreja em vários níveis: paróquias, região e nacionalmente. Em países onde houve igrejas luteranas estatais há uma confluência da organização sinodal com uma estrutura episcopal. Alguns grupos menores adotam uma posição congregacionalista. Há também fortes movimentos internos leigos, organizados e geridos por membros não ordenandos.
Estima-se que haja cerca de 80 milhões de luteranos no mundo. Suas maiores denominações são as seguintes:
- Igreja Evangélica Alemã
- Igreja da Suécia
- Igreja da Noruega
- Igreja do Povo da Dinamarca
- Igreja Evangélica da Finlândia
- Igreja da Islândia
- Evangelical Church of Lutheran Confession of America
- Lutheran Church – Synod of Missouri
- Igreja Evangélica Luterana do Brasil
- Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil
- Igreja Evangélica Etíope Mekane Iesus
- Igreja Cristã Protestante Batak (Indonésia)
- Igreja Evangélica Luterana da Tanzânia
- Igreja Luterana Malagasy
- Igreja Luterana Adhra (Índia)
BIBLIOGRAFIA
Courey, David J. What Has Wittenberg to Do with Azusa? : Luther’s Theology of the Cross and Pentecostal Triumphalism. New York: Bloomsbury T&T Clark, 2015.
Jackelén, Antje. “The need for a theology of resilience, coexistence, and hope.” The Ecumenical Review 71.1-2 (2019): 14-20.
Livro de concórdia: as confissões da Igreja Evangélica Luterana. São Leopolodo, Editora Sinodal, 2021.
Melanchthon, Filipe. Loci Theologici: Tópicos Teológicos, de 1521. Tradução de Eduardo Gross. Editora Sinodal; EST,2018.
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