Turquesa

A palavra “turquesa”, embora designe um mineral específico conhecido por sua cor azul-esverdeada, não aparece explicitamente nas versões hebraicas ou gregas originais da Bíblia, nem nas traduções mais antigas, como a Septuaginta ou a Vulgata. A presença da turquesa em contextos bíblicos depende da interpretação e tradução de termos hebraicos que designam pedras preciosas cuja identificação exata é incerta. Algumas traduções modernas, em Êxodo 28:18 e 39:11, usam “turquesa” para traduzir a palavra hebraica נֹפֶךְ (nofekh), que tradicionalmente é mais associada a pedras vermelhas, como granada ou rubi (como visto na discussão sobre “carbúnculo”). A Septuaginta traduz nofekh como ἄνθραξ (anthrax, “carvão”). Outras traduções, no mesmo contexto do peitoral do sumo sacerdote, optam por termos como “esmeralda”, tornando a identificação ainda mais ambígua. A associação com a turquesa é, portanto, uma interpretação moderna e minoritária, baseada em possíveis conexões arqueológicas e comerciais entre o antigo Israel e regiões produtoras de turquesa, como o Sinai. Contudo, não há evidência textual direta, seja no hebraico bíblico, no grego da Septuaginta ou em outras fontes antigas, que sustente de forma inequívoca a presença da turquesa como uma das pedras do peitoral ou em outras passagens bíblicas. A maioria dos estudiosos e traduções tradicionais favorece outras gemas para nofekh.

Tribulação

A palavra “tribulação” é um motivo literário que aparece na Bíblia para descrever períodos de aflição, sofrimento e provação. O termo hebraico צָרָה (tsarah) e o grego θλῖψις (thlipsis) carregam a ideia de angústia, aperto e pressão. A Bíblia Hebraica usa o termo para descrever diversas situações de dificuldade, desde opressão por inimigos até calamidades naturais e crises pessoais.

Este motivo literário era amplamente conhecido na Antiguidade. Aparece em relatos mesopotâmicos, como Épico de Atrahasis e o Épico de Gilgamesh, como narrativas de grandes catástrofes, como dilúvios, que ilustram o sofrimento infligido por forças divinas e eventos naturais. Já o Épico de Erra apresenta uma visão de caos, onde sete demônios são os agentes de um período de intensa perturbação. Na literatura ugarítica, a Lenda de Keret também aborda o tema do sofrimento, narrando as provações de um rei e sua perseverança. Os textos egípcios, como As Admoestações de Ipuwer, retratam um Egito em tumulto, refletindo períodos de instabilidade social e os impactos de desastres naturais.

No Antigo Testamento, a tribulação é frequentemente associada à opressão por inimigos, como no caso do Egito (Êxodo 1-15) e da Babilônia (2 Reis 24-25). O conceito de “tempo de angústia de Jacó” (Jeremias 30:7) prenuncia um período de intenso sofrimento para Israel, seguido de restauração divina. Os Salmos também expressam o clamor e a angústia diante de situações de aflição (Salmos 22, 130). Os profetas, por sua vez, alertam sobre as consequências da desobediência a Deus, que incluem a tribulação (Deuteronômio 28).

A literatura intertestamentária retrata a tribulação como um período de sofrimento e provação, mas também como um tempo de esperança, resistência e reafirmação da fé. Aparece em 2 Macabeus e em obras como o Martírio de Isaías.

No Novo Testamento, Jesus fala sobre a tribulação que seus seguidores enfrentarão (Mateus 24:21; João 16:33). O livro de Apocalipse descreve um período de grande tribulação que os fiéis enfrentam.

As interpretações sobre a natureza e a duração acerca da tribulação variam entre as diferentes tradições cristãs. Algumas interpretações postulam que haveria uma Grande Tribulação como um evento futuro específico, enquanto outras interpretações consideram a Grande Tribulação uma representação arquetípica do sofrimento que os cristãos enfrentarão ao longo da história e no cotidiano.

Apesar dos sofrimentos associados à tribulação, o foco nas Escrituras é na perseverança e da fé em meio ao sofrimento. Em Romanos 5:3-5, Paulo escreve que a tribulação produz perseverança, a perseverança gera caráter e o caráter, esperança. Essa esperança não decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações por meio do Espírito Santo que nos deu.

Tiratitas

Tiratitas (תִּרְעָתִים, tir’atim) são mencionados em 1 Crônicas 2:55 como um grupo de escribas que habitavam a cidade de Jabez. Descritos como descendentes de Hamate, pai da casa de Recabe, os Tiratitas eram queneus (קֵינִי, qeyni), um povo nômade associado aos midianitas e conhecido por sua habilidade na metalurgia e por seus costumes singulares, como a abstenção de vinho (Jr 35:6-10).

A presença de escribas queneus em Jabez sugere uma interação cultural e possivelmente religiosa entre os israelitas e esse grupo. A função de escriba era crucial na sociedade israelita, responsável por registrar leis, histórias e genealogias, além de desempenhar papéis administrativos e religiosos.

Tisbe

Tisbe (תֹּשָׁבֵי, toshavey), termo que aparece em 1 Reis 17:1 para descrever a origem do profeta Elias, apresenta dificuldades interpretativas.

Tradicionalmente, Tisbe é entendida como uma localidade em Gileade, terra natal de Elias. Profetas frequentemente eram identificados por suas cidades de origem (1Rs 11:29; 19:16; 2Rs 14:25), e em seis passagens (1Rs 17:1; 21:17, 28; 2Rs 1:3, 8; 9:36) Elias é chamado de “o tisbita” (הַתִּשְׁבִּ֜י, hattishbiy).

No entanto, essa interpretação geográfica apresenta problemas. Não há evidências arqueológicas de assentamentos em El-Istib, local frequentemente associado a Tisbe, antes da era romana. Além disso, a repetição “Elias, o tisbita, de Tisbe em Gileade” é considerada redundante, pois a expressão “o tisbita” já indicaria a procedência de Elias.

A Septuaginta (LXX) traduz o termo como um nome próprio, “Tesbom”, localizando-o na Transjordânia (ἐκ Θεσβων τῆς Γαλααδ, ek Thesbōn tēs Galaad), assim como Josefo (Antiguidades 8.13.2). Tobias 1:2 menciona uma “Tisbe” na Galileia, o que pode ter influenciado a tradução da LXX.

Diante dessas dificuldades, surgem interpretações alternativas. Alguns estudiosos, baseados na leitura do Targum Jonathan, sugerem que “Tisbe” se refira a uma classe social, significando “colono” ou “residente”. Elias, então, seria um residente permanente em Gileade, mas não originário da região.

Outra proposta considera a possibilidade de Elias ter sido deslocado de sua aldeia natal, Tisbe na Galileia, para Gileade devido a conflitos, como a invasão aramaica durante o reinado de Baasa (1Rs 15:16-22). Essa hipótese, embora plausível, carece de evidências arqueológicas que confirmem a existência de uma Tisbe na Galileia.

Testimonia

Testimonia seriam coleções de passagens das Escrituras usadas para apoiar ou provar doutrinas, particularmente aquelas de significado messiânico, empregadas por judeus e cristãos antigos. A hipótese dos testimonia sustenta que os primeiros cristãos reuniram, editaram e deram status autoritativo a essas coleções de excertos bíblicos. Embora haja debate sobre a extensão do uso de testimonia no primeiro século, a hipótese estimulou pesquisas sobre o uso do Antigo Testamento no Novo Testamento.

Características dos Testimonia:

  • Citações compostas, combinando várias passagens. (Rm 3:10-18)
  • O mesmo conjunto de citações usado por diferentes autores. (Sl 118:22-23 em Mt 21:42; Mc 12:10; Lc 20:17; Ef 2:20; At 4:11; 1 Pe 2:6-8)
  • Atribuição aparente de citações ao autor errado. (Mc 1:2-3)
  • Citações que não correspondem perfeitamente ao texto original hebraico ou à Septuaginta. (Is 28:16 em Rm 9:33 e 1 Pe 2:6)

A falta de evidências físicas de testimonia anteriores ao segundo século d.C. levanta dúvidas sobre a hipótese. As características acima podem ser explicadas por outros fatores, como a tradição oral rabínica de citar passagens temáticas. A teoria do “cânon dentro do cânon” propõe que a igreja primitiva usava um conjunto de textos do Antigo Testamento para apologética e adoração, circulando por tradição oral.

Documentos do Mar Morto como 4Q175 (4QTestimonia) e 4Q174 (4QFlorilegium) contêm listas de Escrituras, às vezes com interpretações. Isso demonstra que grupos judaicos no primeiro século da Palestina criavam testimonia, apoiando a possibilidade do uso de tais listas pela igreja primitiva.