Joannes Stobaeus

Joannes Stobaeus (século V – desconhecido), um compilador e antologista bizantino, responsável preservação de muito da sabedoria clássica e cristã por meio de sua monumental obra, o “Anthologion” (Florilegium ou Excerpta ex libris). Este compêndio é uma coleção vasta de extratos de diversos filósofos e poetas gregos, incluindo autores cristãos. Tornou-se uma fonte valiosa para o pensamento da Antiguidade Tardia.

O “Anthologion” foi originalmente compilado para seu filho, Septimius, com o propósito de educá-lo sobre a filosofia e a moral. A obra é dividida em quatro livros, que cobrem temas como ética, política, física e teologia. Cada livro é subdividido em capítulos. Cada capítulo contém uma série de citações de diferentes autores, muitas vezes introduzidas por uma breve contextualização ou comentário de Stobaeus. A amplitude e a diversidade das fontes citadas tornam o “Anthologion” uma fonte importante para o estudo de autores antigos cujas obras originais se perderam. Sem Stobaeus, grande parte do pensamento de figuras como Eurípides, Menandro e os filósofos estoicos e platônicos seria desconhecida. A inclusão de autores cristãos no “Anthologion” é particularmente notável.

Embora Stobaeus fosse um compilador e não um pensador original, a organização e a curadoria de seu “Anthologion” demonstra uma erudição filológica digna de nota.

João Malalas

João Malalas (c. 491- c. 578) foi um cronista bizantino de origem síria. É o autor da Chronographia, uma compilação histórica em 18 livros que cobre eventos desde a Criação até, possivelmente, 574. Contudo, o único manuscrito existente termina em eventos ocorridos em 563.

A obra dá destaque à cidade de Antioquia e apresenta uma perspectiva monofisita. O trecho final do Livro 18 parece ter sido adicionado posteriormente por um autor ortodoxo, possivelmente em Constantinopla. Escrita em grego popular, acessível aos círculos cristãos menos eruditos, a Chronographia é frequentemente imprecisa e pouco crítica, mas possui valor como fonte histórica, especialmente para a primeira metade do século VI.

Alguns estudiosos associam João Malalas a João III Escolástico, patriarca de Constantinopla entre 565 e 577, que anteriormente havia atuado como advogado em Antioquia. Essa identificação, entretanto, permanece incerta.

Filostórgio

Filostórgio ou Philostorgius (c. 368–c. 439) foi um historiador e teólogo bizantino associado aos partidos do heteroousianos e ao arianismo, uma heresia cristã que afirmava a inferioridade do Filho em relação a Deus Pai.

Nascido em Borissus, na Capadócia, Filostórgio se mudou para Constantinopla aos vinte anos, onde se tornou seguidor de Eunômio de Cízico, um defensor do arianismo radical.

 Escreveu uma História Eclesiástica (Ἐκκλησιαστικὴ ἱστορία), escrita entre 425 e 433, que abrangia a história da controvérsia ariana desde os tempos de Ário até o início do século V. A obra consistia em doze livros e tinha como objetivo continuar a História Eclesiástica de Eusébio de Cesareia, oferecendo uma perspectiva ariana sobre os eventos e personagens da história da Igreja. Embora o texto original tenha se perdido, fragmentos e resumos foram preservados na Biblioteca de Fócio, um patriarca do século IX.

A narrativa de Filostórgio é marcada por sua defesa do arianismo e sua crítica aos teólogos ortodoxos, como Gregório de Nazianzo e Basílio de Cesareia. Ele elogiou Eunômio e outros líderes arianos, enquanto minimizava as contribuições dos adversários ortodoxos. Sua obra também inclui elementos de história secular e detalhes geográficos, refletindo seu interesse por uma ampla gama de tópicos.

Apesar de sua importância como fonte de informações sobre a controvérsia ariana, Filostórgio foi criticado por seu viés e obscuridade. Sua abordagem historiográfica é uma alternativa da história da Igreja primitiva, destacando as tensões entre diferentes facções cristãs 

BIBLIOGRAFIA

Friedhelm Winkelmann, ed., Philostorgius Kirchengeschichte, GCS 21 (Berlin: Akademie, 1972), 18; trans. Philip R. Amidon, Philostorgius: Church History, Writings from the Greco-Roman World 23 (Atlanta: Society of Biblical Literature, 2007), 22.

Nicetas Estetatos

Nicetas Estetatos (c. 1000–1080) foi um místico e teólogo bizantino, com contribuições à espiritualidade e à prática ascética monástica.

Nascido em Constantinopla, tornou-se discípulo de Simeão, o Novo Teólogo, de quem herdou a tradição espiritual e a ênfase na experiência mística. Posteriormente, assumiu a posição de abade do Mosteiro de Estúdio, onde promoveu as práticas hesicastas e uma vida dedicada à busca espiritual.

Nicetas ingressou no Mosteiro de Estúdio aos quatorze anos e tornou-se um dos seguidores mais próximos de Simeão. Escreveu a biografia de seu mestre, intitulada Vida de Simeão, uma obra fundamental para a compreensão da espiritualidade cristã da época. Sua trajetória foi marcada pelo compromisso com a ascese e pela busca pela união mística com Deus, aspectos centrais de sua vida e obra.

Nicetas enfatizava a prática ascética como um meio de alcançar a iluminação divina, defendendo que a verdadeira espiritualidade dependia da experiência direta de Deus por meio da oração e da meditação. Em seus escritos, abordou temas como a alma, o paraíso e a hierarquia espiritual, destacando a relação entre o homem e Deus, a graça divina e as etapas do caminho espiritual.

Entre suas principais obras está Centúrias sobre Práticas, Físicas e Capítulos Gnósticos, que descreve três estágios na jornada espiritual: praktiki (prática dos mandamentos), physiki (meditação sobre a essência da criação) e gnosis (conhecimento direto de Deus). Seus tratados místicos exploram a experiência de Deus como luz divina e ressaltam a importância do amor ao próximo, que ele considerava superior à oração solitária. Nicetas também defendia que a vida espiritual podia ser vivida independentemente das circunstâncias externas, colocando a prática interior como o fundamento da união com Deus.

Gemistos Plethon

Georgios Gemistos Plethon (c. 1355–1450/1454), comumente conhecido como Gemistos Plethon, foi um filósofo e erudito grego durante o final da era bizantina. Nascido em Constantinopla, mais tarde se estabeleceu em Mistras, no Peloponeso, onde se tornou uma figura chave na revitalização do pensamento grego e do neoplatonismo na Europa Ocidental.

Plethon foi educado em Constantinopla e Adrianópolis. Lá, desenvolveu uma admiração por Platão, adotando o nome “Plethon”, que significa “o pleno” em referência à filosofia platônica. Sua carreira inicial incluiu papéis como professor e funcionário público, onde atuou como juiz e conselheiro dos imperadores bizantinos.

Plethon reintroduziu o pensamento platônico na Europa Ocidental, particularmente durante o Concílio de Florença (1438–1439). Lá, ele apresentou seu tratado Sobre as Diferenças Entre Aristóteles e Platão, que revitalizou o interesse pela filosofia platônica após séculos de domínio aristotélico. Em sua obra, Plethon argumenta que Platão via Deus como o criador do universo a partir de substâncias inteligíveis, mas não necessariamente do nada, enquanto Aristóteles via Deus como o motor imóvel, uma parte do universo e não como um criador. Seus ensinamentos influenciaram figuras notáveis como Cosimo de’ Medici, levando à fundação da Academia Platônica de Florença, que se tornou um centro do humanismo renascentista.

A obra filosófica mais significativa de Plethon é o Livro das Leis, que delineia uma visão para uma sociedade utópica baseada em princípios helênicos antigos e incorpora elementos de várias tradições filosóficas, incluindo estoicismo e zoroastrismo. Plethon acreditava que o universo era eterno, mas que foi criado em um ponto além do tempo, posicionando Deus como um soberano supremo e criador separado do universo pelo qual é responsável. Suas ideias sobre governança refletiam sua crença em um renascimento do Império Bizantino centrado na cultura helênica, afirmando que “somos helenos por raça e cultura”.

A influência de Plethon se estendeu além da filosofia. Introduziu a geografia de Estrabão para estudiosos ocidentais, questionando as teorias geográficas de Ptolomeu e impactando o pensamento renascentista sobre a exploração global. Sua rejeição do cristianismo em favor do paganismo antigo gerou discussões sobre seu papel na formação da identidade grega e sua visão de um futuro onde as tradições clássicas poderiam prosperar novamente. Plethon argumentou que a concepção de Deus por Platão era mais consistente com a doutrina cristã do que a de Aristóteles. Apesar de enfrentar acusações de heresia por parte da Igreja Ortodoxa, o legado de Plethon como filósofo que uniu a ciência antiga ao pensamento renascentista perdura. Frequentemente é considerado tanto “o último heleno” quanto “o primeiro grego moderno”, numa transião na história intelectual europeia.