Gradação da comunhão ecumênica

A gradação da comunhão ecumênica reflete os diferentes níveis de unidade doutrinária e reconhecimento mútuo alcançados por denominações cristãs separadas. Essa estrutura, utilizada por teólogos como cardeal Walter Kasper, J.M.R. Tillard, Günther Gassmann e Harding Meyer baseia-se na ideia da koinonia (comunhão) e se manifesta em níveis progressivos de compartilhamento espiritual, desde a cooperação até a unificação estrutural.

No extremo oposto das relações ecumênicas, há grupos que rejeitam até mesmo a comunhão em oração, aderindo ao conceito unitário de comunhão (unit concept of fellowship). Para eles, qualquer atividade espiritual compartilhada é uma confissão de unidade doutrinária total, e a participação em oração com grupos que sustentam erros doutrinários constituiria um pecado de unionismo. O principal exemplo dessa postura é a Wisconsin Evangelical Lutheran Synod (WELS), que, juntamente com a Evangelical Lutheran Synod (ELS), recusa-se sistematicamente a realizar oração conjunta com outras denominações, incluindo a Lutheran Church—Missouri Synod (LCMS), para evitar dar uma falsa impressão de unidade onde as diferenças doutrinárias persistem.

O grau inicial de relacionamento é a comunhão em oração (Communion in Prayer), ou cooperação, que se manifesta no compartilhamento de orações e na colaboração em ações sociais e evangelísticas, como nas Semanas de Oração pela Unidade Cristã. Tal prática reconhece um batismo comum e a devoção a Cristo, mesmo com diferenças doutrinárias significativas. O Decreto sobre o Ecumenismo do Concílio Vaticano II, Unitatis Redintegratio (UR), endossa o princípio da oração em comum “onde isto for permitido” (UR 8), estabelecendo um nível imperfeito ou parcial de comunhão (imperfect communion).

Avançando, encontra-se a comunhão no púlpito (Communion in Pulpit ou Pulpit Fellowship), um passo mais substancial que denota acordo doutrinário suficiente para permitir que ministros de uma igreja preguem ou ensinem no púlpito de outra. Essa prática implica um reconhecimento mútuo da validade da Ministério da Palavra de cada clero, sendo um conceito proeminente em acordos entre certas tradições protestantes, como as luteranas e reformadas.

O ponto culminante da unidade visível é a comunhão no altar (Communion in Altar ou Altar Fellowship), também conhecida como comunhão plena (Full Communion) ou communio in sacris (comunhão nas coisas sagradas) no vocabulário católico. Esta é a partilha mútua da eucaristia (Santa Ceia/Comunhão), que exige o mais alto grau de acordo em doutrina, sacramentos e ministério. Exemplos de acordos de comunhão plena entre denominações que mantêm estruturas separadas incluem a Concord of Leuenberg (1973), que estabeleceu comunhão de púlpito e altar entre a maioria das Igrejas Luteranas e Reformadas na Europa, e o acordo “Called to Common Mission” (2001) entre a Igreja Evangélica Luterana na América (ELCA) e a Igreja Episcopal (TEC). A Igreja Católica Romana restringe o communio in sacris a igrejas que ela considera que possuem a mesma fé, sacramentos e ministério válido, como as Igrejas Ortodoxas Orientais, com as quais a comunhão é considerada “tão profunda que pouco falta para alcançar a plenitude”.

Finalmente, o nível mais profundo de unidade institucional é a comunhão orgânica (Organic Communion ou Organic Union), onde dois ou mais corpos eclesiais fundem suas estruturas para formar uma única nova denominação, com um único sistema de governança e ministério unificado. Exemplos históricos incluem a Igreja Unida do Canadá (1925) e a Igreja do Sul da Índia (1947), que transcenderam identidades anglicanas, metodistas e presbiterianas para manifestar a unidade de forma estrutural e visível.

Marco Antonio de Dominis

Marco Antonio de Dominis (1560-1624), clérigo, cientista e polímata dálmata.

Nascido na ilha de Rab (atual Croácia) em uma família nobre, de Dominis foi educado pelos jesuítas em Loreto e Pádua, onde lecionou matemática, lógica, retórica e filosofia em Pádua e Brescia. Sua trajetória eclesiástica ascendeu rapidamente, tornando-se bispo de Senj em 1596 e, em 1602, arcebispo de Split e primaz da Dalmácia e de toda a Croácia. Contudo, suas tentativas de reformar a Igreja Católica e a crescente interferência da cúria papal em seus direitos metropolitanos, intensificadas pela disputa entre o papado e Veneza, tornaram sua posição insustentável.

De Dominis, um homem de intelecto notável, mas descrito por seus contemporâneos como irascível, pretensioso e avarento, destacou-se por sua obra científica. Em 1611, publicou em Veneza o Tractatus de radiis visus et lucis in vitris, perspectivis et iride, no qual, segundo Isaac Newton, foi o primeiro a desenvolver uma teoria correta do arco-íris, explicando que a luz sofre duas refrações e uma reflexão interna em cada gota de chuva. Além disso, discorreu sobre lentes e telescópios, tendo contato com Galileu e sendo publicado pelo mesmo editor de Sidereus nuncius. Sua obra física foi complementada posteriormente por Euripus seu De fluxu et refluxu maris (Roma, 1624), sobre as marés.

Seu conflito com a Santa Sé culminou em sua partida para a Inglaterra em 1616, onde foi calorosamente recebido pelo Rei Jaime I e pela Igreja Anglicana. Convertido ao anglicanismo, foi nomeado deão de Windsor e mestre do Savoy. Na Inglaterra, de Dominis publicou ataques veementes ao papado, sendo sua obra mais proeminente De Republicâ Ecclesiasticâ contra Primatum Papæ (Vol. I, 1617, Londres; Vol. II, 1620, Londres; Vol. III, 1622, Hanau), na qual defendia que o Papa não tinha jurisdição sobre os bispos, sendo apenas um primus inter pares, e advogava pelos direitos das igrejas nacionais. Ele também publicou, sem autorização, a Istoria del Concilio di Trento de Paolo Sarpi, dedicando-a ao Rei Jaime I.

No entanto, a inconstância marcou sua vida. Com a elevação de seu parente, Alessandro Ludovisi, ao papado como Gregório XV em 1621, de Dominis buscou reconciliação com Roma, retornando em 1622 após renegar suas obras antipapais em Sui Reditus ex Anglia Consilium (Paris, 1623), onde admitiu ter mentido deliberadamente em suas críticas à Igreja Católica. Após a morte de Gregório XV em 1623, perdeu sua proteção e foi preso pela Inquisição sob acusação de heresia. Marco Antonio de Dominis morreu na prisão de Castel Sant’Angelo em setembro de 1624. Postumamente, foi condenado como herege, e seu corpo e escritos foram desenterrados e queimados publicamente no Campo de’ Fiori em Roma, em 21 de dezembro de 1624.

Apesar de sua turbulenta trajetória pessoal e eclesiástica, Marco Antonio de Dominis expressou uma das mais belas e influentes máximas sobre a unidade cristã: “Em coisas necessárias, unidade; em coisas incertas, liberdade; em todas as coisas, caridade.”

Em seu contexto original,

“Omnesque mutuam amplecteremur unitatem in necessariis, in non necessariis libertatem, in omnibus caritatem. Ita sentio, ita opto, ita plane spero, in eo qui est spes nostra et non confundemur.”

“E que todos abracemos mutuamente a unidade nas coisas necessárias; a liberdade nas coisas incertas; a caridade em todas as coisas. Assim sinto, assim desejo, assim claramente espero, n’Aquele que é a nossa esperança e não seremos confundidos.”

Embora por muito tempo atribuída erroneamente a Agostinho de Hipona ou ao teólogo luterano Peter Meiderlin, a autoria a de Dominis foi definitivamente comprovada por Henk Nellen (1999). A frase, em latim “In necessariis unitas, in non necessariis libertas, in omnibus caritas”, ou variações dela, aparece pela primeira vez na obra de Dominis, De Republica Ecclesiastica, publicada em Londres em 1617. Essa citação encapsula um ideal ecumênico, ressoando com a aspiração pela harmonia e tolerância religiosa em um período de intensas divisões. Veio a ser o lema da Igreja Morávia. É citada em documentos católicos, metodistas e ecumênicos.

BIBLIOGRAFIA

de Dominis, Marco Antonio (1617). De republica ecclesiastica, libri X, caput 8.

Nellen, Henk J. M. (1999). “De zinspreuk ‘In necessariis unitas, in non necessariis libertas, in utrisque caritas'”. Nederlands Archief voor Kerkgeschidenis. 79 (1): 99–106. doi:10.1163/002820399X00232.

Krister Stendahl

Krister Stendahl (1921-2008) foi um teólogo e bispo sueco que teve um impacto significativo no campo dos estudos bíblicos e do diálogo inter-religioso.

Stendahl obteve seu doutorado em estudos do Novo Testamento na Universidade de Uppsala, na Suécia, em 1954. Em seguida, lecionou na Harvard Divinity School por muitos anos, onde atuou como reitor de 1968 a 1979. Em 1976, foi ordenado bispo de Estocolmo na Igreja da Suécia, e em 1984 tornou-se Bispo de Lund. Ele também foi professor visitante em várias universidades, incluindo Yale, Princeton e a Universidade da Califórnia em Berkeley.

Foi um proponente de uma teologia bíblica que buscava entender as crenças presentes e subjacentes a cada texto delimitado (perícope, livro) da Bíblia. Sua área de especialidade era os estudos paulinos.

As ideias teológicas de Stendahl focavam na importância de entender as diferentes religiões em seus próprios termos, em vez de julgá-las de uma perspectiva estreita e etnocêntrica.

Quando questionado sobre sua opinião acerca da construção de um templo mórmon na Suécia, respondeu com suas três regras para compreensão da religião alheia:

  1. Quando você tentar entender outra religião, deve perguntar aos adeptos dessa religião e não aos seus inimigos.
  2. Não compare o melhor de sua religião com o pior da religião alheia.
  3. Deixe espaço para a “inveja santa”: esteja disposto a reconhecer elementos na outra religião para admirá-la e que possa, de alguma forma, refletir em sua própria religião.

David du Plessis

David Johannes du Plessis (1905 – 1987) foi um ministro pentecostal sul-africano da Missão da Fé Apostólica, influenciando a fundação do movimento carismático na década de 1960 e ativo no movimento ecumênico.

Du Plessis trabalhou com Donald Gee para promover a cooperação entre grupos pentecostais e esteve envolvido na organização da primeira Conferência Mundial Pentecostal. Nesta capacidade, ele visitou Louis Francescon.

Foi um observador pentecostal junto do Concílio Mundial de Igrejas e foi convidado para servir como observador pentecostal no Concílio Vaticano II.

John McTernan

John Blake McTernan (1920–1975) foi ministro e missionário pentecostal americano na Itália.

Originário de Newbern, Tenneesee, estabeleceu-se em Los Angeles, onde participou da Assembleia Cristã e casou-se com Grace Angelica Lo Monico (1922-2022). Estudou no L.I.F.E College, instituição ligada à Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular e tornou-se executivo, participando das reuniões de Demos Shakarian.

O casal partiu em missão para Itália depois da 2a Guerra como missionários. Em 1958 decidiu fundar uma congregação independente, a Chiesa Evangelica Internationzale em Roma. McTernan considerava as normas de conduta e práticas cultuais das igrejas pentecostais italianas um entreve à evangelização. Assim, abandonou o assento separado, o véu das mulheres, a proibição de comer panetone ou a colomba pascal nas datas correlatas, dentre outras coisas

Entre 1972 e 1975, junto com Rodman Williams, David DuPlessis, Arnold Bittlinger e Vinson Synan McTernan participou de debates teológicos com representantes católicos romanos. Alguns dos participantes católicos foram Louis Bouyer, Balthasar Fischer, Killin McDonnel e Heribert Muhlen.

McTernan tornou-se associado a John Levin Meares (n. 1920), o pastor do Evangel Temple, uma igreja pentecostal independente em Washington, DC e junto dele participou de uma rede neopentecostal que incluia o bispo Robert McAleister no Brasil e igrejas na Nigéria lideradas pelo bispo Benson Idahosa (1938–1998).

BIBLIOGRAFIA

McTernan, John. “The Importance, the Significance and the Results of Water Baptism.” In One in Christ, 13:3–8, 1977.

McTernan, John. . “Water Baptism: A Response to the Paper ‘the Distinguishing Characteristics of Charismatic Spirituality’ by Fr. Killin McDonnel, OSB.” In One in Christ. Vol. 10, 1974.