Acepção de pessoas

Acepção de pessoas refere-se ao ato de tratar indivíduos de forma diferente, com base em critérios como riqueza, status social ou aparência, em vez de julgá-los com imparcialidade e justiça. A Bíblia condena veementemente a acepção de pessoas, tanto no Antigo como no Novo Testamento.

Deus é apresentado como o juiz supremo que não faz acepção de pessoas (Romanos 2:11; Hebreus 6:10; Colossenses 3:25; 1 Pedro 1:17). Ele julga a todos com base em seus atos e intenções, independentemente de sua posição social ou origem étnica.

No Antigo Testamento, Deus ordena aos juízes que ajam com imparcialidade (Levítico 19:15; Deuteronômio 1:17; 16:19), sem favorecer o rico ou desprezar o pobre (Provérbios 24:23; 28:21). Tiago reforça essa exigência no Novo Testamento, condenando o favoritismo na comunidade cristã (Tiago 2:1,9).

A imparcialidade é um princípio fundamental da justiça bíblica, refletindo o caráter de Deus e sua vontade para as relações humanas.

T. B. Maston

Thomas Buford Maston (1897-1988), conhecido como T. B. Maston, foi um eticista cristão e escritor.

Maston exerceu uma longa carreira como professor de ética no Southwestern Baptist Theological Seminary, onde lecionou de 1925 até 1963, quando foi forçado a se aposentar devido a suas posições sobre questões raciais. Durante sua carreira, Maston produziu uma extensa obra escrita que abordava temas éticos diversos. Contudo, um dos focos centrais de sua atuação ministerial foi a promoção de uma visão bíblica sobre a raça, buscando desafiar as estruturas e práticas associadas ao sistema de segregação racial conhecido como Jim Crow.

Maston argumentava que os ensinamentos cristãos exigiam a superação das divisões raciais e a construção de uma integração plena e respeitosa entre comunidades negras e brancas. Suas ideias confrontaram as normas culturais e sociais vigentes no sul dos Estados Unidos, particularmente durante o período de luta pelos direitos civis. Esse posicionamento, embora ancorado em uma interpretação teológica das Escrituras, gerou controvérsias significativas no contexto acadêmico e religioso de sua época, culminando em sua aposentadoria compulsória. O legado de Maston, no entanto, permanece como um testemunho de seu compromisso com uma ética cristã que busca a igualdade e a justiça social.

Aborto

O aborto, entendido como a interrupção intencional de uma gravidez, não é tratado explicitamente na Bíblia como prática comum ou com legislações diretas. No entanto, princípios e passagens bíblicas frequentemente informam o debate teológico e ético sobre o tema.

Em Êxodo 21:22-25, uma lei aborda o caso de uma mulher grávida ferida durante uma briga. Se houver apenas um aborto espontâneo sem dano adicional, o culpado paga uma multa; se a mulher sofrer lesão grave ou morte, aplica-se a penalidade de “vida por vida”. A interpretação dessa passagem é amplamente debatida. Alguns argumentam que ela sugere uma distinção entre o valor da vida da mulher e do feto, enquanto outros enfatizam o impacto sobre a mulher e sua família.

O uso de ervas abortivas é possivelmente aludido indiretamente em Números 5:11-31. Esta passagem há um ritual de prova para determinar a fidelidade conjugal de uma mulher. Embora o texto não trate diretamente do aborto, a menção de substâncias que poderiam afetar a gravidez sugere o conhecimento de métodos para interromper gestações.

A questão da infusão da alma, ou o momento em que a alma entra no corpo, é relevante para o entendimento histórico e teológico do aborto. No judaísmo talmúdico, as opiniões variavam. Uma visão proeminente situava a infusão da alma 40 dias após a concepção, enquanto outras associavam o início da alma ao nascimento ou viam o processo como gradual. As discussões frequentemente priorizavam a vida e o bem-estar da mãe, permitindo o aborto em certas circunstâncias.

Na patrística a influência da filosofia grega, como as ideias de Platão e Aristóteles, moldou as opiniões sobre a infusão da alma. Tertuliano defendia que ocorria na concepção, enquanto Agostinho sugeria estágios posteriores, como 40 dias ou mais. Essas diferenças impactaram as posições da Igreja primitiva, variando entre a condenação absoluta do aborto e sua permissão em casos específicos, especialmente no início da gestação.

Na teologia escolástica medieval, Tomás de Aquino combinou filosofia aristotélica e teologia cristã, propondo uma infusão da alma em etapas: alma vegetativa na concepção, alma animal posteriormente, e alma racional após 40 dias para fetos masculinos e 80-90 dias para femininos. Essa visão de infusão da alma tardia influenciou o Direito Canônico da Igreja Católica, que historicamente diferenciava entre abortos precoces e tardios, com menor gravidade moral atribuída ao primeiro.

Status confessionis

Status confessionis é um termo latino que se traduz como “estado de confissão.” Refere-se a uma situação crítica na vida da igreja que exige uma afirmação coletiva de fé em resposta a ameaças percebidas ao evangelho. Esse conceito emergiu com destaque na tradição luterana durante a Reforma, sendo utilizado para tratar questões de pureza e integridade doutrinária diante de desafios heréticos. Ele está associado particularmente à Fórmula de Concórdia, um documento central do confessionalismo luterano que define quando questões tradicionalmente consideradas adiaphora (indiferentes) tornam-se essenciais para a fé e prática devido às suas implicações para a salvação e a doutrina.

O conceito de status confessionis tem suas raízes nos debates entre os primeiros luteranos sobre os adiaphora durante o século XVI. Foi articulado por teólogos como Matthias Flacius, que argumentou que, em tempos de confissão, questões tipicamente consideradas não essenciais poderiam se tornar centrais para a fé quando tratadas como necessárias para a salvação. Essa mudança indica um momento em que a igreja deve afirmar publicamente suas crenças contra ensinos errôneos. Durante o regime nazista, Dietrich Bonhoeffer utilizou esse conceito como uma estrutura para resistir a ideologias opressivas que ameaçavam a integridade da igreja. Sua aplicação enfatizava que, quando o evangelho está sob ataque, os cristãos são compelidos a manter firme sua confissão.

Na prática, declarar um status confessionis significa reconhecer que certas questões éticas ou doutrinárias atingiram um nível em que ameaçam a identidade e a missão da igreja. Essa declaração não é feita de forma leviana; ela exige o reconhecimento de que a integridade do evangelho está em jogo. Por exemplo, discussões contemporâneas em diversas denominações têm motivado chamadas para um status confessionis em questões como sexualidade humana e justiça social, refletindo tensões persistentes nas comunidades eclesiásticas sobre como responder a dilemas éticos modernos.

A aplicação do status confessionis evoluiu ao longo do tempo. Em anos recentes, ele foi invocado em discussões sobre questões éticas como o apartheid e iniciativas de justiça social nas igrejas. A Aliança Mundial de Igrejas Reformadas, por exemplo, utilizou esse conceito para abordar injustiças sistêmicas e convocar uma resposta unificada das congregações em todo o mundo. Muitos teólogos contemporâneos argumentam que declarar um status confessionis pode servir como um catalisador para a renovação dentro da igreja, levando as congregações a reexaminar seus compromissos e práticas à luz dos ensinamentos bíblicos. Esse processo muitas vezes envolve a identificação de erros específicos ou desvios de doutrinas fundamentais que exigem uma resposta clara e unificada da comunidade eclesial.

O status confessionis é uma ferramenta teológica vital dentro das tradições protestantes, particularmente no luteranismo. Ele destaca momentos em que a igreja deve afirmar coletivamente sua fé em resposta a desafios que ameaçam suas crenças centrais. Assim, permanece relevante nas discussões contemporâneas sobre fé, ética e o papel da igreja na sociedade, convocando os fiéis à discernimento e à ação em defesa de suas convicções.

Pierre Charron

Pierre Charron (1541-1603) foi um teólogo e filósofo católico romano francês.

As obras filosóficas de Charron, influenciadas pelo ceticismo de Michel de Montaigne, centraram-se na separação entre ética e religião, promovendo um conceito fideísta de religião que enfatizava a fé sobre a razão. Suas principais obras, como “Les Trois Vérités” e “De la sagesse”, exploraram temas de ceticismo, a incognoscibilidade de Deus através da razão e o estabelecimento de uma moralidade independente do dogma religioso.

As ideias de Charron foram controversas. Foi visto como irreligioso, enquanto outros defenderam a sua posição filosófica. Lançou as bases para teorias éticas modernas que se baseiam no caráter natural e na moralidade fora das estruturas religiosas.