Aceitável

A qualidade de algo ser aceitável, no contexto bíblico, transcende a mera aprovação, implicando um estado de favor e aproximação a Deus. No Antigo Testamento, o termo hebraico rasa descreve a aceitação de sacrifícios (Levítico 22:20) e orações (Salmos 119:108) por Deus. Essa aceitação, porém, depende da condição do ofertante: retidão moral (Provérbios 21:3) e um coração arrependido (Salmos 51:15-17) são essenciais. A oferta de Abel foi aceita porque ele mesmo era aceito por Deus (Gênesis 4:4-5; Hebreus 11:4), enquanto Caim foi exortado ao arrependimento (Gênesis 4:7).

“Tempo aceitável” (Salmos 69:13) designa um período de graça e favor divinos, uma oportunidade para reconciliação. No Novo Testamento, o termo grego dektos (“aceito”) significa “bem recebido” (Lucas 4:24). A aceitação divina é sempre espiritual, não cerimonial (Romanos 12:1). Deus não faz acepção de pessoas (Lucas 20:21), mas aceita quem o teme e pratica a justiça (Atos 10:35). A aceitação plena é possível em Cristo (Mateus 3:17; Efésios 1:5,6).

Meios de graça

Os Meios da Graça são princípios fundamentais em várias tradições cristãs, servindo como instrumentos através dos quais os crentes recebem bênçãos espirituais e salvação de Deus. Apesar de próximo, o conceito não se confunde com os sacramentos. Antes, os meios são instrumentos pelos quais o Espírito Santo atua no coração das pessoas, nutrindo a fé e concedendo perdão.

Na teologia luterana, os meios da graça abrangem a Palavra do Evangelho, tanto na forma escrita como proclamada, juntamente com os sacramentos do Batismo e da Eucaristia. Além disso, alguns luteranos incluem a Confissão e a Absolvição como meios de graça. As igrejas reformadas enfatizam a Palavra, principalmente pregada, mas também lida, e os sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor como meios comuns de graça. O Metodismo, seguindo os ensinamentos de John Wesley, identifica duas categorias de meios de graça: Obras de Piedade e Obras de Misericórdia. Estas abrangem práticas individuais e comunitárias, como oração, jejum, adoração, atos de caridade e envolvimento comunitário. Através destes meios, os crentes abrem-se à obra transformadora de Deus nas suas vidas, aprofundando a sua fé e o compromisso de viver os princípios do Cristianismo.

Donum Superadditum

Donum Superadditum é a doutrina escolástica de que graça foi superacrescentada a Adão. Seria um dom gratuito de Deus que vai além dos dons naturais que acompanham a natureza humana. Um exemplo desse dom sobrenatural é a graça divina salvítica.

O primeiro homem teria recebido tal graça além de seus poderes naturais, e cuja graça foi perdida pela Queda. Na teologia escolástica de Scotus Erigena w Boaventura, a justiça original (justitia originalis) foi adicionada aos poderes naturais do homem (pura naturalia) como um donum superadditum. Já para Tomás de Aquino o homem foi criado na posse da justiça original, mas ainda assim como uma graça acrescentada aos seus poderes naturais.

Fechamento da porta da graça

A doutrina do fechamento da porta da graça é a crença que em dado momento escatológico a salvação não mais estaria disponível à humanidade, pois a “porta da graça” se fechará.

A origem de tal crença surgiu durante o movimento milerita entre 1844 e 1854, embora não fosse defendida pelo próprio William Miller. Depois que Jesus não voltou em 22 de outubro de 1844, a doutrina propunha que quem não tivesse aceitado a mensagem de William Miller estaria perdido, pois a porta para a misericórdia e a graça havia se fechado. Essa teologia foi aceita por grupos que se designavam “Sabbath and Shut Door Adventists” (Adventistas sabáticos e da porta fechada) e, reinterpretado, passou-se a diversas denominação de cariz adventista. Uma variante ocorre entre o Movimento dos Estudantes da Bíblia (dentre eles, as Testemunhas de Jeová) de que a geração que viu os acontecimentos de 1914 estaria viva quando do retorno de Cristo.

Apesar de não ter bases bíblicas, textos-provas foram usados para justificar tal crença, tais como Mateus 25:10; Apocalipse 3:7-8.

Anawim

Anawim, em hebraico עֲנָוִ֣ים, são os pobres em espírito. O termo indica o pobre dos pobres, quem depende da graça alheia. Teologicamente, seria uma pessoa que depende do Senhor para sua salvação.

Deriva-se de anav, pobre, aflito, humilde, manso, sendo frequentemente traduzido com esses termos, mas seu significado é mais amplo. Conota os despossuídos que sofrem injustiça e exploração sistêmicas. Muitos deles estavam no quádruplo de vulnerabilidade.

Presentes no Sermão da Montanha, os anawim são o foco principal dos ensinamentos e do ministério de Jesus. A expectativa de atender os anawim com justiça e equidade era um anseio presente no Antigo Testamento (Salmo 147:6; 149:4; Isaías 11:4; etc.).

Termos tardios associados inclui ebionita.

BIBLIOGRAFIA

Fiorenza, Elisabeth Schüssler. In memory of her: A feminist theological reconstruction of Christian origins. Londres: : SCM Press, 1983.