Pastor

A figura do pastor, central na vida do antigo Israel, permeia a Bíblia, tanto literal quanto metaforicamente. No Antigo Testamento, o termo hebraico רֹעֶה (ro’eh) designa o indivíduo responsável por cuidar do rebanho, protegendo-o de predadores, guiando-o para pastos e fontes de água, e garantindo seu bem-estar. O pastor era uma figura essencial na sociedade agrária e pastoril, e a metáfora do pastor cuidando de suas ovelhas tornou-se uma imagem poderosa para descrever a relação de Deus com seu povo.

Deus é frequentemente chamado de Pastor de Israel (Salmo 23:1; Isaías 40:11), enfatizando seu cuidado, proteção e liderança sobre seu povo. Os líderes de Israel, como reis e sacerdotes, também são chamados de pastores, com a responsabilidade de guiar o povo em justiça e retidão (Jeremias 3:15; Ezequiel 34; Salmos 78:70-72). No entanto, a Bíblia também critica os “pastores infiéis” que negligenciavam o rebanho, buscando seus próprios interesses em vez do bem-estar do povo (Jeremias 2:8; Ezequiel 34).

No Novo Testamento, Jesus se autodenomina o “Bom Pastor” (João 10:11, 14), que dá a sua vida pelas ovelhas. Essa imagem ressalta o amor sacrificial de Jesus e seu compromisso em proteger e guiar seus seguidores. Os ministros da igreja primitiva também são chamados de pastores (Efésios 4:11; 1 Pedro 5:2), com a responsabilidade de cuidar da comunidade cristã, ensinando, exortando e guiando os crentes no caminho da fé.

O verbo grego ποιμαίνω (poimainō) significa “pastorear”, “cuidar” e “alimentar” ou “dirigir” (no sentido de um pastor que guia e protege seu rebanho). Nos trechos bíblicos onde aparece, o verbo carrega tanto um significado literal quanto metafórico, referindo-se ao cuidado e à ministério em favor das pessoas, utilizando a imagem familiar do pastor e suas ovelhas.

No Evangelho de Mateus 2:6, o termo é usado em uma citação de Miqueias 5:2, referindo-se ao Messias que “apascentará” (ποιμανεῖ, poimanei, futuro) Israel. O contexto é uma profecia messiânica, onde “apascentar” significa governar e guiar o povo de Deus, estabelecendo um paralelo entre liderança e o zelo de um pastor por suas ovelhas.

Já em João 21:16, Jesus ordena a Pedro: “Apascenta minhas ovelhas” (ποίμαινε, poimaine, imperativo presente). Aqui, o termo representa um chamado direto para que Pedro exerça um cuidado pastoral na Igreja primitiva. As “ovelhas” simbolizam os seguidores de Cristo, e a tarefa de “apascentá-las” envolve cuidado espiritual, orientação e ensino.

No livro de Atos 20:28, Paulo exorta os presbíteros da igreja de Éfeso a “pastorear” (ποιμαίνειν, poimainein, infinitivo presente) a Igreja de Deus. A metáfora do pastor reforça a responsabilidade dos ministros eclesiásticos de proteger, orientar e nutrir espiritualmente a comunidade cristã.

Na Primeira Carta de Pedro 5:2, foi instruído aos presbíteros a “pastorear o rebanho de Deus” (ποιμάνατε, poimanate, imperativo aoristo). O texto destaca o dever pastoral dos ministros cristãos, especificando que esse cuidado deve ser exercido voluntariamente, sem buscar vantagens pessoais, mas com dedicação genuína.

No entanto, na Epístola de Juda 12, o verbo assume um tom negativo ao descrever os falsos mestres como pastores que cuidam apenas de si mesmos” (ἑαυτοὺς ποιμαίνοντες, heautous poimainontes, particípio presente). O contraste entre o verdadeiro pastor, que se dedica ao rebanho, e aqueles que exploram suas posições em benefício próprio ilustra um desvio da verdadeiro ministério espiritual.

No livro do Apocalipse, o verbo aparece em um contexto mais complexo, combinando a ideia de “pastorear” com a de “governar”, às vezes de forma firme e até punitiva:

  • Apocalipse 2:27: Cristo regerá (ποιμανεῖ, poimanei, futuro) as nações com um cetro de ferro. Aqui, a imagem do pastor se une à do juiz e soberano.
  • Apocalipse 7:17: O Cordeiro “pastoreará” (ποιμανεῖ, poimanei, futuro) os que passaram pela grande tribulação, conduzindo-os às fontes de águas vivas. Essa passagem ressalta um cuidado amoroso e protetor.
  • Apocalipse 12:5: O filho varão está destinado a “governar” (ποιμαίνειν, poimainein, infinitivo presente, mas com sentido futuro) todas as nações com um cetro de ferro, associando a figura do pastor à de um rei vitorioso.
  • Apocalipse 19:15: Cristo, agora apresentado como um guerreiro triunfante, “regerá” (ποιμαίνει, poimainei, futuro) as nações com um cetro de ferro, unindo o pastoreio à aplicação firme da justiça divina.

A metáfora do pastor e das ovelhas expressa a relação de cuidado, proteção e dependência que existe entre Deus e seu povo, e entre Cristo e seus seguidores. Ela também destaca a responsabilidade dos ministros em servir e cuidar daqueles que estão sob seus cuidados, seguindo o exemplo do Bom Pastor.

André Trocmé

André Trocmé (1901-1971) foi um pastor protestante francês, mais conhecido por seu papel no resgate de judeus durante o Holocausto.

Trocmé serviu como pastor da Igreja Reformada na vila de Le Chambon-sur-Lignon, no sul da França, que se tornou um centro de resistência contra a perseguição nazista.

Juntamente com sua esposa Magda e outros residentes locais, Trocmé organizou uma rede de esconderijos e rotas de contrabando que ajudaram a salvar centenas de refugiados judeus da deportação para campos de concentração.

O compromisso de Trocmé com a não-violência e sua crença no poder do amor e da compaixão inspirou muitos outros a se juntarem ao esforço de resistência. Após a guerra, Trocmé continuou a defender a justiça social e trabalhou para promover a reconciliação entre a França e a Alemanha. Ele é lembrado como um herói do Holocausto e um modelo de pacifismo cristão.

Dan Kimball

Dan Kimball (nascido em 1965) é um pastor, autor e palestrante que fez contribuições significativas para o campo do ministério e da teologia.

Nascido na Califórnia, onde cresceu em um lar cristão, mas foi só na adolescência que começou a levar sua fé a sério.

Depois de sua graduação, Kimball começou sua carreira ministerial como pastor de jovens, trabalhando com adolescentes e ajudando-os a entender e viver sua fé. Mais tarde, ele se tornou pastor professor na Vintage Faith Church em Santa Cruz, Califórnia, onde serviu por mais de 20 anos.

Kimball foi pioneiro do movimento da igreja emergente, que surgiu no início dos anos 2000 como uma resposta ao que alguns viram como a estagnação do evangelicalismo tradicional. Em particular, o livro de Kimball de 2003 “The Emerging Church: Vintage Christianity for New Generations” foi amplamente influente na definição e formação do movimento.

Neste livro, Kimball argumentou que a igreja emergente era um retorno ao cristianismo “vintage” da igreja primitiva, caracterizado por um foco na comunidade, na justiça social e nas artes. Enfatizou a importância da contextualização ou adaptação da mensagem do evangelho à cultura em que está sendo pregada e desafiou o foco do evangelicalismo tradicional na salvação individual e na piedade pessoal.

Brian McLaren

Brian D. McLaren (nascido em 1956) é um pastor, autor e líder do movimento da igreja emergente.

McLaren nasceu em uma família aderente ao movimento dos Irmãos. Nos anos 1980 tornou-se pastor em uma igreja evangelical, testemunhando seu crescimento.

Nos anos 2000 foi expoente de uma tendência evangelical ecumênica e progessista, defendendo uma “ortodoxia generosa” pluralista.

BIBLIOGRAFIA

McLaren, Brian. A Generous Orthodoxy: Why I Am a Missional, Evangelical, Post/Protestant, Liberal/Conservative, Mystical/Poetic, Biblical, Charismatic/Contemplative, Fundamentalist/Calvinist, Anabaptist/Anglican, Methodist, Catholic, Green, Incarnational, Depressed-yet-Hopeful, Emergent, Unfinished CHRISTIAN. Zondervan, September 2004.