Patronato

A relação patrono-cliente era uma instituição social fundamental na Roma antiga que se desenvolveu no início da República Romana e persistiu durante o período imperial. Tratava-se de uma relação de mútua dependência e obrigação entre indivíduos de situação social e econômica desigual, sendo o patrono (patronus) uma pessoa de maior status e o cliente (clientes) de menor status.

Nessa relação, o patrono prestava a seus clientes diversas formas de assistência, como representação jurídica, apoio financeiro e proteção. Em troca, esperava-se que os clientes fornecessem a seus patronos apoio político, serviço militar e lealdade. Essa relação era muitas vezes recíproca, pois esperava-se que os clientes permanecessem fiéis e prestassem serviços aos seus clientes mesmo após a morte do cliente.

A relação patrono-cliente estava profundamente enraizada na sociedade romana e tinha implicações políticas e econômicas significativas. Os patronos dependiam de seus clientes para obter apoio nas eleições e em outros empreendimentos políticos, enquanto os clientes dependiam de seus patronos para ter acesso ao poder e aos recursos. Essa relação também era a base da hierarquia social romana, pois esperava-se que os clientes mostrassem deferência e lealdade a seus patronos em gratidão por sua proteção e apoio.

Cornélio, um centurião romano que se torna patrono do apóstolo Pedro e seus seguidores em Atos 10. Cornélio fornece-lhes comida e abrigo e eventualmente se converte ao cristianismo.

Em Atos 16, Lídia, uma rica empresária que se torna patrona do Apóstolo Paulo e seus companheiros. Lídia abre sua casa para eles, fornecendo-lhes comida e alojamento e, por fim, torna-se cristã.

Em Romanos 16, Paulo se refere a Febe como patrona de muitas pessoas, inclusive de si mesmo. Febe é descrita como uma diaconisa da igreja e acredita-se que tenha sido uma mulher rica que forneceu apoio financeiro à comunidade cristã primitiva.

Em Lucas 10, lemos sobre Maria e Marta, irmãs que se tornaram patronas de Jesus e de seus discípulos. Elas convidam Jesus para sua casa e lhe fornecem comida e hospitalidade, demonstrando sua devoção a ele.

Em Lucas 8, Joana e Susana, duas mulheres são descritas como patronas de Jesus e seus discípulos. Dizem que eles forneceram apoio financeiro ao grupo, permitindo que continuassem seu ministério.

Na correspondência corintiana Paulo defende sua autonomia e que não dependeu do patrocínio dos coríntios (cf. 2 Coríntios 12:14–18)

Vale a pena notar que, embora a relação patrono-cliente fosse muitas vezes hierárquica e baseada em status social e econômico, alguns desses exemplos de patrocínio no Novo Testamento envolvem mulheres que eram capazes de fornecer apoio e hospitalidade, apesar de sua posição subordinada na sociedade.

BIBLIOGRAFIA

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Rice, Joshua. Paul and Patronage: The Dynamics of Power in 1 Corinthians. Wipf and Stock Publishers, 2013.

Erev Rav

Erev Rav era um grupo de povos diversos que se juntaram às tribos de Israel no Êxodo.

Diz em Êxodo 12:38 “E subiu também com eles uma mistura de gente, e ovelhas, e vacas, uma grande multidão de gado.” A versão ARC segue a Vulgata (vulgus promiscuum) e a Septuaginta (ἐπίμικτος) que dá uma ideia tanto de uma variedade de pessoas ou, como alguns intérpretes tardios, pessoas de origens étnicas mistas.

Seguindo esse termo da Septuaginta e Vulgata, em Números 11:4 diz que “E o vulgo, que estava no meio deles, veio a ter grande desejo; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar e disseram: Quem nos dará carne a comer?” Este termo “vulgo” traduz o hebraico אֲסְפְּסֻף, asafsuf, o qual só aparece nessa passagem. Algumas versões aparece como “plebe, populacho”, dando uma dimensão de classe.

O termo erev também aparece em Neemias 13:3, onde é usado para se referir a não judeus.

Uma tradição rabínica associou essa população com idolatria e imoralidade, alimentando preconceitos de segmentos de comunidades israelitas contra povos estrangeiros ou israelitas de origem mestiça.

BIBLIOGRAFIA

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