Auxêncio de Durostorum

Auxentius ou Auxêncio de Durostorum (fl. final do século IV d.C.) foi um bispo e teólogo gótico, responsável por preservar e transmitir os ensinamentos de Ulfilas, o missionário responsável por introduzir o cristianismo entre os godos. Sua oba De Fide (“Sobre a Fé”) é um breve tratado que resume as crenças teológicas de Ulfilas e oferece uma visão única das controvérsias arianas e da teologia gótica da época.

Provavelmente de origem gótica, Auxêncio foi educado e ordenado dentro da comunidade cristã fundada por Ulfilas. Ocupou o cargo de bispo em Durostorum, uma cidade estratégica na província romana de Moésia Inferior, que hoje corresponde a Silistra, na Bulgária. Alinhado ao Homoeanismo, uma vertente moderada do arianismo, Auxêncio defendia que o Filho era “semelhante” ao Pai em essência, mas não idêntico. Essa posição buscava evitar os extremos tanto do arianismo mais rígido quanto da ortodoxia nicena, em uma tentativa de conciliar diferentes perspectivas teológicas.

O De Fide é a principal fonte disponível para compreender os ensinamentos de Ulfilas, cuja teologia foi moldada pelas intensas disputas doutrinárias do século IV. Auxêncio destaca a crença no subordinacionismo, em que o Pai ocupa uma posição suprema dentro da Trindade, enquanto o Filho e o Espírito Santo lhe são subordinados. Ulfilas rejeitava a fórmula nicena que afirmava que o Filho era da “mesma substância” (homoousios) que o Pai, considerando que isso comprometia a singularidade divina do Pai. Ele também enfatizava a natureza “gerada” do Filho, destacando a diferença ontológica entre ambos, e atribuía maior ênfase ao papel de Cristo como mediador e redentor, sem negar sua divindade.

A obra de Auxêncio é valiosa por preservar os ensinamentos de Ulfilas, já que este não deixou escritos próprios. Ela também oferece uma perspectiva singular sobre o cristianismo praticado entre os godos, que apresentava diferenças significativas em relação às tradições cristãs dominantes. Além disso, o texto ilumina as complexidades e a diversidade interna do movimento ariano, bem como os debates teológicos que marcaram o período. No entanto, é importante notar que o De Fide reflete possíveis vieses de Auxêncio como discípulo de Ulfilas e, sendo um texto curto, contém declarações suscetíveis a múltiplas interpretações.

Eunomianismo

Os Eunomianos, também conhecidos como Anomoanos ou Heterousianos, eram seguidores de Eunômio, um bispo de Cízico do século IV.

Os eunomianos acreditavam em uma total assimetria dentro da Santíssima Trindade, afirmando que somente o Pai possuía o atributo de não gerado (ser sem origem) enquanto considerava o Filho e o Espírito Santo como seres criados, sendo funcionalmente subordinado. Enfatizavam uma definição precisa da essência de Deus e frequentemente eram associados ao arianismo extremo.

Opus Imperfectum in Matthaeum

Opus Imperfectum in Matthaeum é um antigo comentário latino sobre o Evangelho de Mateus, que se acredita ter sido escrito no século V.

Apesar de incompleto, omitindo certas passagens de Mateus, teve importância durante a Idade Média. Existem três grandes lacunas, como na narrativa da Paixão e da Ressurreição, as quais provavelmente nunca tenham sido comentadas pelo autor. A última homilia sobre Mateus 25 parece concluir toda a obra.

Inicialmente atribuído erroneamente a João Crisóstomo, sua verdadeira autoria permanece incerta. Os candidatos potenciais incluem Timóteo, um presbítero ariano em Constantinopla, Maximinus, um bispo ariano e Anianus de Celeda, um diácono da Síria.

O autor escreveu em latim e usou a Vulgata, mas era proficiente em grego, com vários empréstimos nessa língua. O local de composição seria uma zona de contato de populações de língua latina e grega, possivelmente nos Bálcãs. Por mencionar em sua obra um imperador Teodósio, possivelmente escreveu antes ou durante o reinado de Teodósio II (408-450).

É um comentário com observações inteligentes, análise teológica afiada e uma rica fonte de pensamento crítico sobre os problemas fundamentais da teologia. Demonstra conhecimento jurídico, citando o jurista romano Ulpiano, acerca do casamento (Matrimonium non facit coitus, sed voluntas – ‘Não é a relação sexual, mas a vontade que faz o casamento’). Além das análises ao estilo jurídico, também emprega alegoria em sua exegese, especialmente para as parábolas.

O comentário sobre o Sermão da Montanha faz uma análise precisa da sua estrutura, põe em destaque o sentido moral, com base do ponto de vista literal.

O comentário exibe uma cristologia levemente ariana, com tendências subordinacionistas em três passagens. Sustentou que o Filho é inferior ao Pai. Se na parábola o Pai é o chefe de família e o Filho o mordomo, portanto ele é inferior ao Pai, do qual recebe autoridade. Por fim, comentando sobre Mt 23,32 diz que crença em três pessoas divinas da mesma essência seria paganismo em disfarce cristão. Depois que Erasmo apontou as tendências arianas, em 1537 foi publicada uma edição expurgada, visto que a própria variação manuscrita punha em dúvida a autenticidade de muitas passagens dessa teologia.

Teve um amplo alcance e cerca de 200 cópias sobrevivem. Foi dividida em 54 homílias e pregada nas igrejas. A obra foi estimada por Aquino, Abelardo, Boaventura, a Devotio Moderna, Meister Eckhart, Wycliffe e Jan Hus. A primeira edição impressa veio de Koelhoff, um impressor de Colônia, e data de 1487. Embora outrora altamente considerado, a obra perdeu destaque após a crítica de Erasmo, que revelou a impossibilidade de João Crisóstomo tê-la escrito.