Sátiros

A palavra hebraica שְׂעִירִים (se’irim), aparece traduzida como “sátiros” em algumas versões da Bíblia. Sátiros, criaturas mitológicas da Grécia antiga, são traduzidos com esses termos em duas passagens da Almeida Revista e Corrigida em Isaías 13:21 e 34:14 como habitantes de lugares desolados e em ruínas.

Na mitologia grega, os sátiros eram seres híbridos, com corpo de homem e características de bode, conhecidos por sua natureza lasciva e selvagem.

Nessas passagens, os sátiros representam o caos e a desordem que se instalam em lugares abandonados por Deus e pelos homens. Em Isaías 13:21, os sátiros habitarão as ruínas da Babilônia, outrora poderosa e gloriosa, mas agora destruída e deserta.

Em Isaías 34:14, os sátiros se encontrarão com as criaturas da noite em Edom, terra devastada pelo juízo divino. A presença dessas criaturas simboliza a ausência de vida e de civilização, o triunfo da desolação e do medo.

Uma das possíveis traduções para se’irim é “seres peludos” ou “demônios-bode”. Esse entendimento enfatiza o aspecto bestial e selvagem das criaturas, vinculando-as ao mundo do deserto, considerado na mentalidade do antigo Oriente Próximo como um espaço liminar e caótico, habitado por forças incontroláveis e hostis. A figura do bode em si tinha conotações ambíguas na cultura israelita antiga, sendo usado tanto em rituais expiatórios (como o bode emissário em Levítico 16) quanto como símbolo de elementos potencialmente ameaçadores.

Outra interpretação sugere que se’irim poderia se referir a “demônios” ou “espíritos malignos”. Essa abordagem se alinha ao caráter sobrenatural do termo em seu contexto bíblico, onde se’irim parecem ser entidades associadas ao medo e ao isolamento. Essas criaturas poderiam ser vistas como símbolos de uma presença maligna ou como personificações de forças espirituais que habitam os locais desolados, criando uma sensação de terror na imaginação dos leitores antigos.

Uma terceira possibilidade considera se’irim como uma referência literal a “cabras selvagens” ou “criaturas do deserto”. Nesse caso, a menção ao termo nas passagens bíblicas destacaria a desolação e o abandono dos lugares descritos. O deserto, sendo o domínio de animais selvagens, reforçaria o contraste entre o caos desses espaços e a ordem associada à presença de Deus ou à habitação humana.

Al-Tachete

Embora Al-Tachete, em hebraico  אַל-תַּשְׁחֵת, seja um termo que aparece no título do Salmo 57, seu significado e origem permanecem obscuros. A palavra Al-Tachete não possui um sentido claro no hebraico, levando a diferentes interpretações e especulações. Uma tradução mais comum seria “não destruas”.

Algumas hipóteses sugerem que Al-Tachete possa ser uma expressão musical, indicando uma melodia específica ou um estilo de execução para o Salmo 57. A indicação de que este salmo deveria ser cantado com a melodia de “não destruas” reforça essa possibilidade. No entanto, a natureza precisa da melodia “não destruas” se perdeu ao longo da história.

Outra interpretação propõe que Al-Tachete seja uma palavra ou frase em uma língua estrangeira, possivelmente aramaico ou outra língua semítica, incorporada ao texto hebraico. Essa hipótese se baseia na presença de termos estrangeiros em outros textos bíblicos, refletindo o contato cultural e linguístico entre os israelitas e outros povos da região.

BIBLIOGRAFIA
Kraus, Hans-Joachim. Psalms 1-59: A Commentary. Minneapolis: Augsburg, 1988.