Dídimo, o cego

Dídimo, o Cego (c. 313-398 d.C.), também conhecido como Didymus, foi um teólogo e exegeta cristão do século IV.

Nascido em Alexandria, Dídimo foi contemporâneo de Atanásio e Gregório de Nissa. Apesar disso, poucos detalhes de sua vida são conhecidos. Ele foi cego desde a infância, o que não impediu sua produtividade intelectual. Dídimo escreveu comentários sobre diversos livros da Bíblia e tratados teológicos, sendo muitos deles preservados até hoje.

Com uma mente perspicaz. Dídimo valorizava a interpretação alegórica. Buscava o sentido espiritual dos textos sagrados, e enfatizava a importância da vida ascética e da contemplação divina. Sua teologia trinitária e cristológica, marcada pela influência de Orígenes, contribuiu para o desenvolvimento do pensamento cristão no século IV.

Doutor

O termo “doutor” se refere a diferentes títulos e funções, como didaskalos (διδάσκαλος) no Novo Testamento e nomikos (νομικός). É crucial distinguir esses usos de noções contemporâneas, como um grau acadêmico avançado.

Didaskalos, traduzido como “mestre” ou “doutor”, designava no mundo greco-romano um instrutor ou professor, inclusive de crianças (Romanos 2:19). No Novo Testamento, o termo é aplicado a Jesus, correspondendo ao título hebraico “Rabbi” (Mateus 8:19; João 3:2), enfatizando sua autoridade como ensinador da verdade divina. Também se refere a outros ministros responsáveis por instruir a comunidade cristã (Atos 13:1; Efésios 4:11). A função de didaskalos envolvia a interpretação das Escrituras, a transmissão do ensino apostólico e a exortação moral. Didaskalos é usado como designação para Jesus às vezes acompanhado de outros títulos como “rei e professor” em Martírio de Policarpo 17:3. A frase “ὁ διδάσκαλος καὶ ὁ κύριος” (“o professor e o senhor”) é usada como título de respeito a Jesus (João 13:13). O termo também se aplica a João Batista (Lucas 3:12), estudiosos das escrituras em Jerusalém (Lucas 2:46; João 3:10) e um oficial de uma assembleia cristã, às vezes remunerado por seu ensino (Atos 13:1; 1 Coríntios 12:28). Paulo é chamado de “professor dos gentios” (1 Timóteo 2:7), e Policarpo é descrito com os títulos de “professor apostólico e profeta” e “distinto professor” (Martírio de Policarpo 16:2; 19:1). Contudo, διδάσκαλος também pode referir-se a “professores da maldade” (Pastor de Hermas 9, 19, 2).

Nomikos, frequentemente traduzido como “intérprete da lei” ou “advogado”, referia-se a especialistas na lei mosaica. No Novo Testamento, o termo aparece em referência a estudiosos da lei, talvez mosaica ou greco-romana, como Zenas (Tito 3:13), que possuíam conhecimento e expertise em sua interpretação. A função de nomikos envolvia a análise da lei, sua aplicação a casos concretos e seu ensino ao povo. É importante ressaltar que nomikos não se refere a um profissional do direito no sentido moderno, mas sim a um especialista na lei religiosa judaica.

O termo doutor é apresentado como um dom carismático, ou seja, uma habilidade especial concedida pelo Espírito Santo para o serviço na comunidade cristã. O dom de ensino (didaskalos) capacita o indivíduo a comunicar e explicar a verdade bíblica de forma clara, precisa e relevante para os cristãos. Embora o ensino seja um dom distinto, ele se relaciona com outros dons, como o de sabedoria, conhecimento e exortação. Enquanto o ensino se concentra na exposição da mensagem cristã, a sabedoria permite aplicar essa verdade de forma prática e discernente, o conhecimento proporciona uma compreensão mais profunda das coisas relevantes à vida em Cristo, e a exortação motiva e encoraja os ouvintes a viverem de acordo com a verdade ensinada.

Em Atos 13:1, a igreja em Antioquia é apresentada com profetas e mestres, evidenciando o reconhecimento e valorização do ensino como função importante. Paulo, em 1 Coríntios 12:28, inclui os “mestres” na lista de dons divinos concedidos à igreja, ressaltando a relevância do ensino para o corpo de Cristo. A natureza específica e especial do dom de ensino é enfatizada na pergunta retórica de Paulo em 1 Coríntios 12:29: “São todos apóstolos? São todos profetas? São todos mestres?”. Por fim, em Efésios 4:11, Paulo descreve os “mestres” como parte do equipamento dado por Deus à igreja, juntamente com apóstolos, profetas, evangelistas e pastores, com o propósito de promover o crescimento e edificação da comunidade.

No Antigo Testamento, não há um termo único equivalente a “doutor”. Sacerdotes (Levítico 10:11; Deuteronômio 17:8-13) e escribas (Esdras 7:6; Neemias 8:1-9) desempenhavam papéis de ensino e interpretação da Lei, funções que se assemelham, em parte, às dos didaskalos e nomikos do Novo Testamento.

Demônio

O termo “demônio” deriva do grego δαίμων (daímōn), originalmente referindo-se a uma divindade ou espírito intermediário, nem sempre malévolo. A Septuaginta, tradução grega do Antigo Testamento, emprega δαίμων para traduzir palavras hebraicas como shedim (שֵׁדִים), entidades associadas a cultos estrangeiros e consideradas destrutivas, como em Deuteronômio 32:17 e Salmo 106:37.

No Novo Testamento, daímōn adquire uma conotação predominantemente negativa, referindo-se a espíritos malignos subservientes a Satanás, causadores de doenças físicas e espirituais, e antagonistas de Deus e dos seres humanos.

A possessão demoníaca, descrita nos Evangelhos, ilustra essa concepção, sendo Jesus frequentemente retratado exorcizando demônios.

A teologia cristã posterior desenvolveu a demonologia, elaborando hierarquias e classificações de demônios. A crença em demônios, embora presente em diversas culturas e religiões, assume na tradição bíblica uma dimensão específica, ligada à luta cósmica entre o bem e o mal, e à atuação de forças espirituais contrárias ao plano divino.