Catherine Mowry LaCugna

Catherine Mowry LaCugna (1952-1997) foi uma teóloga católica americana.

A contribuição acadêmica de LaCugna se concentrou na teologia trinitária, com uma abordagem feminista e contextualizada. LaCugna obteve seu doutorado em Teologia pela Universidade de Notre Dame em 1979, onde estudou com Zachary Hayes. Lecionou no departamento de teologia da Universidade de Notre Dame de 1981 até 1997.

O trabalho de LaCugna sobre a doutrina da Trindade é central em sua produção. Ela criticou abordagens que considerava abstratas e especulativas, argumentando que se distanciavam da experiência da salvação. Defendeu um retorno à “Trindade econômica”, a revelação de Deus como Pai, Filho e Espírito Santo na história da salvação. Seu pensamento teológico se centrava na ideia de que a teologia deve ser feita “para nós” (pro nobis), a serviço da vida cristã e da transformação do mundo. A doutrina da Trindade, portanto, é vista como uma descrição de como Deus se relaciona com a humanidade e convida à participação na vida divina.

LaCugna é uma das pioneiras da teologia feminista. Argumentou que a teologia dominante foi moldada por perspectivas patriarcais, e que era preciso desenvolver novas abordagens que levassem em conta as experiências das mulheres. Enfatizou a importância da contextualização da teologia, a necessidade de considerar os contextos culturais e sociais nos quais a teologia é feita. Para LaCugna, teologia e espiritualidade estão ligadas. Ela defendeu uma espiritualidade trinitária, um convite à comunhão com Deus e com o próximo.

Sua obra mais conhecida é “God for Us: The Trinity and Christian Life” (1991). Neste livro, LaCugna apresenta sua reinterpretação da doutrina da Trindade, enfatizando seu caráter relacional e sua relevância para a vida cristã. “Freeing Theology: The Essentials of Theology in Feminist Perspective” (1993) é uma coleção de ensaios de teólogas feministas, na qual LaCugna contribuiu com um ensaio sobre a Trindade. Também publicou em periódicos acadêmicos, incluindo Theological Studies e Modern Theology. Alguns de seus ensaios e palestras foram publicados postumamente.

Leituras normativa e descritiva

As leituras normativa e descritiva da Bíblia representam abordagens distintas de interpretação, cada uma com implicações específicas para a compreensão das Escrituras e sua aplicação à vida contemporânea. Essas abordagens diferem em como tratam os ensinamentos bíblicos em termos de sua relevância e aplicabilidade.

Uma leitura normativa da Bíblia busca identificar e estabelecer padrões ou princípios considerados vinculantes para os crentes hoje. Esse enfoque interpreta as Escrituras como uma fonte de ensinamentos autoritativos que devem guiar o comportamento e as crenças dos cristãos. Aqui enfatiza princípios universais, como amor, justiça e santidade, que transcendem contextos históricos e culturais. Essa abordagem tende a prescrever ações ou crenças específicas com base nos textos bíblicos, afirmando que certas práticas são necessárias para uma vida de fé. Por exemplo, em Mateus 22:39, o mandamento “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” é frequentemente visto como uma orientação normativa, aplicável a todas as épocas e culturas como base para a ética cristã.

Em contraste, uma leitura descritiva da Bíblia busca compreender e descrever o que o texto afirma, sem necessariamente impor essas descrições como normas obrigatórias para os crentes contemporâneos. Esse enfoque valoriza o entendimento do contexto histórico e cultural em que os textos bíblicos foram escritos, reconhecendo que práticas e crenças podem ter sido específicas de comunidades ou situações particulares. Ele se concentra em observar o que o texto revela sobre as crenças, práticas e experiências dos personagens bíblicos, em vez de prescrever como os leitores modernos devem agir.

Essas abordagens, embora distintas, não são mutuamente exclusivas e frequentemente se complementam. Uma leitura normativa pode se beneficiar de informações históricas fornecidos por uma abordagem descritiva, enquanto uma leitura descritiva pode informar decisões sobre como aplicar princípios bíblicos de maneira relevante para o contexto atual. A escolha entre essas abordagens depende dos objetivos do intérprete e do público-alvo, destacando a riqueza e a complexidade do processo de interpretação bíblica.

Os critérios não são claros, tampouco universalmente concordados. Algumas dicas heurísticas, como Fee e Stuart sumarizam, auxiliam aplicar o texto bíblico:

a menos que a Escritura nos diga explicitamente para fazer algo, o que é apenas narrado não funciona de forma normativa – a menos que possa ser provado que o autor pretendia que funcionasse dessa forma.

A distinção entre conteúdo normativo e descritivo dos textos bíblicos depende em grande parte da comunidade interpretativa. Os critérios adotados por uma comunidade interpretativa, suas premissas e experiências afetam a recepção normativa e descritiva da Bíblia.

BIBLIOGRAFIA
Gordon Fee and Douglas Stuart. How to Read the Bible for All Its Worth. 2
nd edition. Grand Rapids: Zondervan, 1993, 106.

Geoffrey Hugo Lampe

Geoffrey Hugo Lampe (1912-1980) ou G. W. H. Lampe, foi um teólogo, ministro e acadêmico anglicano cujas contribuições tiveram impacto significativo nos estudos patrísticos, no Novo Testamento e no ecumenismo.

Nascido em Bournemouth, Inglaterra, formou-se no Exeter College, Oxford, destacando-se nos estudos de Literae Humaniores e Teologia. Ordenado sacerdote anglicano em 1937, iniciou seu ministério como cura na paróquia de Okehampton, Devon. Durante a Segunda Guerra Mundial, serviu como capelão no exército britânico, alcançando o posto de major e recebendo a Cruz Militar por bravura em 1945.

Após a guerra, Lampe iniciou uma carreira acadêmica notável. Foi Fellow e capelão do St John’s College, Oxford, de 1945 a 1953, e ocupou a cátedra Edward Cadbury de Teologia na Universidade de Birmingham entre 1953 e 1959. Em Cambridge, atuou como Ely Professor de Divindade de 1959 a 1970, tornando-se Regius Professor de Divindade em 1970 e permanecendo nessa posição até 1979. Também foi membro do Gonville and Caius College, Cambridge. Durante sua trajetória, exerceu influência tanto no meio acadêmico quanto na formação de novos estudiosos.

Sua obra no campo da patrística é notória, sendo o autor de A Patristic Greek Lexicon (1961), uma referência essencial para o estudo dos textos cristãos antigos em grego. Lampe dedicou-se ao estudo da doutrina do Espírito Santo, explorando-a em The Seal of the Spirit (1951) e nas Bampton Lectures intituladas God as Spirit (1977). Essas obras propuseram abordagens dinâmicas ao conceito do Espírito de Deus e revisaram formulações trinitárias tradicionais. Ele também participou do debate teológico contemporâneo como colaborador de The Myth of God Incarnate (1977), questionando aspectos centrais da cristologia.

Lampe era comprometido com o diálogo ecumênico, buscando cooperação entre diferentes denominações cristãs. Seus estudos de teologia bíblica destacaram a continuidade entre as revelações do Antigo e do Novo Testamentos. Como educador e líder acadêmico, influenciou gerações de teólogos e promoveu o avanço crítico da teologia.