Os Profetas de Zwickau ou os Abecedarianos, um movimento religioso radical do início do século XVI, emergiram da cidade têxtil de Zwickau, na Saxônia, notórios por uma postura anti-intelectual e anti-teologia acadêmica.
Liderados por Nikolaus Storch, Thomas Dreschel e Markus Stübner, o movimento foi influenciado por Thomas Müntzer, embora a relação exata seja disputada, com alguns historiadores sugerindo que Storch influenciou a radicalização de Müntzer.
Os Profetas de Zwickau defendiam uma “igreja de membros cheios do Espírito”, priorizando revelações diretas do Espírito Santo sobre a autoridade escritural. Acreditavam que a verdade divina era acessível até aos mais ignorantes, rejeitando a necessidade de educação formal ou estudo bíblico, o que lhes valeu o apelido de “Abecedarianos”. Essa ênfase na revelação direta era acompanhada pela crença em um apocalipse iminente e pela defesa do batismo de crentes, embora não tenham instituído a prática do batismo adulto. Também apoiavam a eleição congregacional de pastores e criticavam a institucionalização da igreja, refletindo uma abordagem restauracionista.
Suas origens remontam à influência de Thomas Müntzer, um pregador luterano que serviu em Zwickau de 1520 a 1521. Embora a associação de Müntzer com o grupo seja complexa, com alguns historiadores sugerindo que Storch influenciou a radicalização de Müntzer, os Profetas de Zwickau desenvolveram suas próprias posições teológicas distintas. Em 1521 tentaram avançar seu programa de Reforma em Zwickau, sendo expelidos pelos magistrados locais.
Exilados de Zwickau, Storch, Dreschel e Stübner chegaram a Wittenberg em 1521, onde ganharam apoio de reformadores como Andreas Karlstadt. No entanto, sua presença causou agitação, levando Philipp Melanchthon a buscar a intervenção de Martinnho Lutero, que retornou a Wittenberg em 1522 e pregou contra os “Schwärmer” (fanáticos), suprimindo o radicalismo crescente. Após um confronto com Lutero, onde se recusaram a autenticar suas reivindicações com um milagre, denunciaram Lutero e deixaram Wittenberg.
Após sua partida, os Profetas se dispersaram. Storch continuou sua agitação em vários lugares, enquanto Stübner permaneceu mais tempo em Wittenberg, ganhando seguidores, incluindo Gerhard Westerburg e Martin Borrhaus antes de desaparecer dos registros históricos. Storch pode ter liderado uma seita anabatista na Francônia, e possivelmente retornou a Zwickau. Embora não tenham estabelecido uma igreja ou movimento duradouro, os Profetas de Zwickau deixaram uma marca significativa na paisagem religiosa da Reforma, desafiando a autoridade estabelecida e enfatizando a revelação espiritual.
A relação entre os Profetas e o anabatismo é controversa e não provada. Exceto a rejeição teórica do batismo infantil, não há conexões atestadas entre os dois movimentos.
BIBLIOGRAFIA
Burnett, Amy Nelson. “Karlstadt and the Zwickau Prophets: A Reevaluation” Archiv für Reformationsgeschichte – Archive for Reformation History, vol. 114, no. 1, 2023, pp. 105-128. https://doi.org/10.14315/arg-2023-1140106