Recepcionismo e presença mística

Recepcionismo é uma perspectiva doutrinária sobre a natureza do pão e do vinho na Santa Ceia na tradição anglicana e metodista.

O recepcionismo postula que o pão e o vinho permanecem inalterados durante a oração de consagração, mas que o crente por fé recebe o corpo e o sangue de Cristo na comunhão.

A presença mística é um entendimento derivado, encontrado entre metodistas, movimento de santidade (Holiness) e alguns reformados. Semelhante à postura luterana de que Cristo está presente “em, com e sob” o pão e no vinho, há uma visão integradora subjetiva (a lembrança da obra de Cristo por parte do comungante) e objetiva (comunicação eficaz por graça do Deus triuno).

RECEPCIONISMO NA TRADIÇÃO ANGLICANA

O recepcionismo era a teologia eucarística predominante nos dois primeiros séculos do Anglicanismo, visível nos 39 Artigos de Religião:

ARTIGO XXVIII – DA CEIA DO SENHOR

A Ceia do Senhor não só é um sinal de mútuo amor que os cristãos devem ter uns para com os outros; mas antes é um Sacramento da nossa Redenção pela morte de Cristo, de sorte que para os que devida e dignamente, e com fé o recebem, o Pão que partimos é uma participação do Corpo de Cristo; e de igual modo o Cálice de Bênção é uma participação do Sangue de Cristo.

A Transubstanciação (ou mudança da substância do Pão e Vinho) na Ceia do Senhor, não se pode provar pela Escritura Sagrada; mas antes repugna às palavras terminantes da Escritura, subverte a natureza do Sacramento, e tem dado ocasião a muitas superstições. O Corpo de Cristo é dado, tomado, e comido na Ceia, somente dum modo celeste e espiritual. E o meio pelo qual o Corpo de Cristo é recebido e comido na Ceia é a Fé.

O Sacramento da Ceia do Senhor não foi pela ordenança de Cristo reservado, nem levado em procissão, nem elevado, nem adorado.

A postura anglicana combinou matrizes filósoficas do nominalismo e do realismo. Rejeitou os polos extremos de realismo (transubstanciação) e o nominalismo (memorialismo). Tido por vezes como uma hesitação em precisar seus termos teológicos, essa corrente doutrinária recebeu tal designação em 1867.

RECEPCIONISMO E PRESENÇA MÍSTICA NA TRADIÇÃO METODISTA

Na formulação dos 25 Artigos de Religião do Metodismo, John Wesley revisou os artigos de fé anglicanos, mas manteve esse entendimento, dentro da Ceia do Senhor como graça e meio de graça:

Artigo 18 — Da Ceia do Senhor
A ceia do Senhor não é apenas um sinal do amor que os cristãos devem ter uns pelos outros, mas é um sacramento da nossa redenção pela morte de Cristo; de modo que, para aqueles que corretamente, dignamente e com fé recebem o mesmo, o pão que partimos é uma participação do corpo de Cristo; e da mesma forma o cálice de bênção é uma participação do sangue de Cristo.

A transubstanciação, ou a mudança da substância do pão e do vinho na ceia de nosso Senhor, não pode ser provada pela Sagrada Escritura, mas é repugnante às palavras claras da Escritura, derruba a natureza de um sacramento e deu ocasião a muitas superstições .

O corpo de Cristo é dado, tomado e comido na ceia, somente de uma maneira celestial e espiritual. E o meio pelo qual o corpo de Cristo é recebido e comido na ceia é a fé. O Sacramento da Ceia do Senhor não foi reservado pela ordenança de Cristo, levado, exaltado ou adorado.

Gradativamente o metodismo americano e o movimento de santidade adotaram uma posição memorialista, ainda que entendimentos da ceia como mistério e recepcionismo persistam.

Diferente dos reformadores magistrais, o recepcionismo considera o lado do comungante tanto quanto dos elementos na Santa Ceia. Assim, o entendimento metodista evoluiu para uma união mística com Cristo na Ceia. Essa celebração remete à vida Cristo, mas não é primariamente uma lembrança ou memorial. Tampouco é transubstanciação, embora valorizem o pão e o vinho como meios tangíveis essenciais pelos quais Deus opera. A presença divina ocorre de forma temporal e relacional. Na Santa Ceia da igreja, o passado, presente e futuro do Cristo vivo se reúnem pelo poder do Espírito Santo para que possam receber e incorporar Jesus Cristo como a graça do salvador para o mundo inteiro.

PRESENÇA MÍSTICA NA TRADIÇÃO REFORMADA

Apesar da teoria da presença real de Calvino e o memorialismo de Zwínglio sejam predominantes, entre reformados alemães nos Estados Unidos há uma vertente que adere à presença mística. A chamada Teologia de Mercersburg chegou a esse entedimento reavaliando as posturas históricas da Igreja e aproximando-se da posição luterana.

RECEPCIONISMO NO MOVIMENTO PENTECOSTAL ITALIANO

A linguagem recepcionista aparece na formulação original dos pontos de doutrina aprovados em Niagara Falls, mas alterados em 1933. No entanto, faltam subsídios para afirmar quais as posturas teológicas de seus formuladores à epoca de sua redação.

VIII. Cremos que na santa ceia o corpo de Cristo é dado, recebido, comido em um modo celeste e espiritual. É que esse meio pelo qual é recebido e comido é a fé. Luc. 22:19; 1 Cor. 11:24.

VEJA TAMBÉM

Santa Ceia

Transubstanciação

Consubstanciação

Presença real

Memorialismo

BIBLIOGRAFIA

Douglas, Brian. A Companion to Anglican Eucharistic Theology. 2 V. Boston: Brill, 2012.

Nevin, John Williamson. The Mystical Presence: A Vindication of the Reformed or Calvinistic Doctrine of the Holy Eucharist. JB Lippincott, 1867.

United Methodist Church. This Holy Mystery: A United Methodist Understanding of Holy Communion. General Conference of The United Methodist Church, 2004.

Roberto Silvestre Bento

Roberto Silvestre Bento (1940-2021) foi advogado, jurista e teólogo brasileiro.

Nascido em Igarapava, São Paulo, graduou-se em Direito e foi professor da Universidade Federal de Uberlândia. Como advogado, atuou como diretor do Núcleo Juridico do Banco do Brasil em Uberlândia.

Membro da Congregação Cristã no Brasil em Uberlândia, Minas Gerais, Roberto Bento refletiu sobre eclesiologia, teologia ministerial e escatologia, além de temáticas devocionais. Publicou por sua conta quatro livros teológicos e um jurídico.

BIBLIOGRAFIA

https://derlibento.wixsite.com/livrosroberto

Bento, Roberto Silvestre. Cardápio de Reflexões. Uberlândia, n.d.

Bento, Roberto Silvestre. O Governo Da Igreja. Uberlândia, n.d.

Bento, Roberto Silvestre. O Resgate Do Cooperador de Jovens e Menores. Uberlândia, n.d.

Bento, Roberto Silvestre Sequências Escatológicas. Uberlândia, n.d.

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Horvat Rosh Zayit

Horvat Rosh Zayit, em árabe Khirbet Ras Zetun (“Ruína da Ponta da Oliveira”), é um sítio arqueológico do início do período israelita situado na Floresta Segev na Baixa Galileia.

Escavações realizadas sob a direção do arqueólogo Zvi Gal encontraram uma grande fortaleza (16 x 15,5 metros) do século 10 a.C. Possui um pátio central cercado por salas, todas cercadas por imponentes fortificações sem portão. A entrada na fortaleza parece ter sido feita com a ajuda de escadas de madeira. Entre os itens encontrados dentro do complexo estavam dezenas de vasos de barro contendo sementes de trigo e jarros para armazenar vinho e azeite.

O sítio não deve ser confundido com Tel Zayit, onde foi encontrado o Abecedário de Zayt, próximo a Jerusalém.

A proximidade com uma vila árabe ainda hoje chamada de Cabul (a 2 km do sítio) fez com que Gal identificasse este sítio com a Terra de Cabul de 1 Reis 9:11-13.

11 (para o que Hirão, rei de Tiro, trouxera a Salomão madeira de cedro e de faia e ouro, segundo todo o seu desejo). Então, deu o rei Salomão a Hirão vinte cidades na terra de Galileia. 12 E saiu Hirão de Tiro a ver as cidades que Salomão lhe dera, porém não foram boas aos seus olhos. 13 Pelo que disse: Que cidades são estas que me deste, irmão meu? E chamaram-nas: Terra de Cabul, até hoje.

BIBLIOGRAFIA

Gal, Zvi. “The Iron Age ‘Low Chronology’ in Light of the Excavations at Ḥorvat Rosh Zayit.” Israel Exploration Journal 53, no. 2 (2003): 147-50.

Dorothy Ripley

Dorothy Ripley (1767–1832) foi uma evangelista britânica, que viajou nove vezes como missionária aos Estados Unidos, a primeira em 1801 e a última quando morreu em 1831 na Virgínia.

Ripley era quaker, mas era filha de um pregador leigo metodista. Nascida em Whitby, Inglaterra, cresceu entre os metodistas. Em 1797 sentiu compelida pelo Espírito Santo a pregar o evangelho aos povos escravizados no sul dos Estados Unidos. Compromissada em seu ministério, decidiu nunca se casar.

Ela viajou extensivamente nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha como evangelista no circuito de reuniões campais e nas igrejas que lhe franqueavam os púlpitos. Embora seu ministério não fosse ligado a denominação alguma, o movimento que ela influenciou no Reino Unido resultou no Metodismo Primitivo, valorizando a participação da irmandade leiga nos cultos e na administração das igrejas.

Seu ministério foi voltado para os muitos desprivilegiados. Pregou aos indígenas Oneida, a homens e mulheres nas prisões, nas igrejas afroamericanas e às populações escravizadas no sul dos Estados Unidos.

Vivendo de fé e doação voluntária, muitas vezes foi acusada de ser uma mulher lasciva e até de se prostituir. No entanto, conseguiu publicar seis livros, cuja renda permitiu seu ministério e atendimento aos necessitados. Os títulos são Extraordinary Conversion and Religious Experience of Dorothy Ripley (1810); The Bank of Faith and Works United (1819); An Account of Rose Butler (1819); Letters Addressed to Dorothy RIpley (1807),  An Address to All Difficulties.

Ripley ganhou uma audiência com o presidente Thomas Jefferson para pedir sua permissão para ministrar aos escravos, pregar aos senhores de escravos e fundar uma escola para educar os libertos. Durante a reunião, ela repreendeu Jefferson por manter gente em cativeiro. Mais tarde, em março de 1806, Ripley foi convidada a pregar em um culto na igreja no edifício do Capitólio. Seria a primeira mulher a fazê-lo. Apesar da audiência lotada, Ripley concluiu que poucos ali haviam nascido de novo e fez uma exortação insistente que “o corpo de Cristo era o pão da vida e Seu sangue a bebida dos justos”.

BIBLIOGRAFIA

Everson, Elisa Ann, “A Little Labour of Love”: The Extraordinary Career of Dorothy Ripley, FemaleEvangelist in Early America. Dissertation, Georgia State University, 2007.
https://scholarworks.gsu.edu/english_diss/17

Estela de Rimah

Estela de Rimah ou Estela de Adad-nirari III (810-782 aC), é um monumento monolítico descoberto em Tell er-Rimah, Iraque.

(filho de Hazael), rei da Síria, narrada em 2 Reis 13:5. Lista “Joás, o Samaritano” entre os reis estrangeiros que prestaram homenagem ao rei assírio.

Reino de Deus

O reino sobre o qual Deus governa e a vontade de Deus é cumprida. No Evangelho de Mateus, aparece o evidente sinônimo “reino dos céus”, aparentemente uma circunlocução para “reino de Deus” e contraste entre o reino celestial de Deus e os reinos humanos terrestres. Aparece proeminente na proclamação de João Batista, Jesus e apóstolos.

Várias passagens do Antigo Testamento contenham expressões correlatas, nenhuma explicitamente diz “reino de Deus”. Deus é descrito como o rei de todo o mundo (Sl 22:8; 1Cr 29:11) e do povo de Israel (Êx 19:6; Sl 114:2).

Os Evangelhos sinópticos referem-se claramente à vinda do reino como um evento dramático. O reino, às vezes, é mencionado como uma bênção futura (Mt 7:21; 8:11), às vezes como uma realidade presente (Lc 16:16; 17:20; Jo 3: 3-5). Há indicações que aconteceria durante a vida dos ouvintes da mensagem de Jesus (Mt 4:17; 6:10; 10:7; Mc 1: 14-15; 9:1; Lc 10:8-12; 11:2; 21:31). Outras passagens falam da “vinda” do reino, sem indicar se Jesus quis dizer que já havia chegado ou que viria no futuro (Lc 4:43; Lc 9:11). Outras passagens mencionam pessoas “entrando” no reino, mas não fica claro se no presente ou apenas uma possibilidade futura.

Em João, Jesus fala do reino de Deus em apenas uma passagem (Jo 3: 3-5).

Fora dos Evangelhos, é mencionado em Atos (Atos 1:3; 6-8: 3; 3: 17-21; 28:23; 28:30-31) e algumas vezes nas cartas de Paulo (1Co 6: 9; Gl 5:21; 1Ts 5: 1-2; 1Ts 5:23; 2Ts 1:5).

O reino de Deus ultrapassa as questões de adesão à Lei veterotestamentária ou da busca pelo domínio material, pois o reino consiste na justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14:17). Quando Jesus disse que o reino de Deus estava próximo (Mc 1:15), anunciou que Deus governaria as vidas humanas pelo perdão dos pecados. Não seria um reino externo como o de Davi ou o Império Romano, mas para algo espiritual e universal. Nesse reino, há o mandado de cristãos cumprirem seu decreto de cuidado com os pobres e necessitados (Mt 25:35; Tg 1:27), perdão e reconciliação (Mt 18: 21-35; Ef 4: 1-6), trazer vida e luz a todas as nações (Mt 5: 13-16).

O cristianismo ocidental tende a enfatizar Jesus como o servo sofredor, enquanto o cristianismo oriental destaca Jesus como rei — o Pantocrator.

Período dos reis de Israel e Judá

O período dos reis compreende entre a monarquia dividida (928 a.C.) e a queda de Jerusalém (586 a.C.).

É o período com maior atestação histórica do Antigo Testamento. É registrado nos livros de 1 Reis, 2 Reis, 1 Crônicas e 2 Crônicas, bem como em informações esparsas nos livros dos profetas. Diversas fontes literárias e arqueológicas desse período também corroboram para uma reconstrução de sua história.

Esse período coincide com um relativo declínio do Egito e a emergência da Assíria e mais tarde da Babilônia como poderes políticos. A Idade do Ferro IIB (c.920-722 a.C.) foi o apogeu do reino de Israel enquanto a Idade do Ferro IIC (c.720-586 a.C.) seria a vez do reino de Judá.

Todos os reis israelitas e todos, exceto três reis da Judá (Asa, Ezequias e Josias) foram denunciados por infidelidade no culto a Deus.

Ramsés II

Ramsés II, cujo reinado foi entre 1279 e 1213 a.C., foi o terceiro faraó da 19ª Dinastia (1292-1186 a.C.) no Novo Reino (c.1550–c.1069).

Deixou registros revindicando uma vitória decisiva sobre os hititas na Batalha de Cades, dando-lhe a reputação de grande guerreiro. Na realidade, a batalha foi mais um empate, mas resultou no primeiro tratado de paz conhecido em 1258 a.C.

Embora seja regularmente associado ao faraó do livro bíblico do Êxodo, não há nenhuma evidência histórica ou arqueológica.

Papiros Rylands

Os Papiros Rylands são uma coleção de milhares de fragmentos de papiros e documentos do norte da África e da Grécia, guardados pela Biblioteca da Universidade John Rylands, em Manchester. É uma das maiores coleções de papiros e uma com exemplares mais antigos de alguns títulos.

Os Papiros Rylands inclui textos religiosos, devocionais, literários e administrativos. A coleção consiste de papiros hieróglifos, hieráticos e demóticos datam do século XIV aC ao século II dC. Além deles, cerca de 500 papiros coptas e cerca de 800 papiros árabes. Há cerca de 2.000 papiros gregos.

Contém fragmentos do Evangelho de João e Deuteronômio, os primeiros fragmentos sobreviventes do Novo Testamento e da Septuaginta (Papiro 957, Papiro Rylands iii.458); Papiro 31, um fragmento da Epístola aos Romanos; Papiro 32, um fragmento da Epístola a Tito; Papyrus Rylands 463, Evangelho apócrifo de Maria em grego; John Rylands Papyrus 470, uma oração em grego koiné para Maria (tratada como Theotokos), escrita por volta de 250.