Tecoa

A cidade de Tecoa, localizada na região de Belém, aproximadamente 12 km a sudeste de Belém (Efrata). Tecoa era situada numa região montanhosa de Judá e é mencionada em diversos contextos bíblicos.

Dois personagens bíblicos notáveis eram de Tecoa. Uma mulher sábia de Tecoa foi enviada por Joabe para interceder junto a Davi, buscando o perdão para seu filho Absalão após ele ter fugido por matar seu meio-irmão Amnom (2 Samuel 14:1-20). O profeta Amós também era de Tecoa, onde trabalhava como pastor e cultivador de sicômoros antes de ser chamado para profetizar em Israel durante o reinado de Jeroboão II (Amós 1:1).

Tecoa foi fortificada por Roboão, filho de Salomão, como parte de seu esforço para proteger o reino de Judá (2 Crônicas 11:5-6). Durante o reinado de Josafá, os exércitos de Moabe e Amom se reuniram perto de Tecoa para lutar contra Judá, mas foram derrotados pela intervenção divina (2 Crônicas 20:20-26). A menção de Tecoa nesses eventos históricos e proféticos destaca sua importância na geografia e na história de Judá.

Templo de Tel Motza

O sítio arqueológico de Tel Motza, situado a poucos quilômetros a oeste de Jerusalém, revelou evidências significativas de um templo judaíta que funcionou durante o período pré-exílico entre os séculos IX e VII a.C.

Tel Motza está localizado no interior, nas colinas da Judeia. A distância aproximada em linha reta até o Mar Mediterrâneo é de cerca de 50 a 55 quilômetros. Tel Motza está muito próximo a Jerusalém, localizado a aproximadamente 7 quilômetros a oeste do centro antigo da cidade.

O sítio arqueológico de Motza é conhecido há mais tempo e teve investigações anteriores (por exemplo, por E. Eisenberg nos anos 1990 e início dos 2000). No entanto, a descoberta específica do complexo do templo ocorreu durante escavações de salvamento realizadas principalmente entre 2012 e 2013, antes da expansão da Rodovia 1 de Israel. As escavações mais extensas que revelaram o complexo do templo foram codirigidas por Shua Kisilevitz (Autoridade de Antiguidades de Israel – IAA), Oded Lipschits (Universidade de Tel Aviv) e Zvi Lederman (Universidade de Tel Aviv).

Escavações trouxeram à luz um complexo monumental com orientação leste-oeste, típico de templos da região, incluindo um pátio, um possível altar e estruturas adjacentes. A descoberta de artefatos cultuais, como estatuetas antropomórficas e zoomórficas (notavelmente cavalos), suportes de culto e vasos de oferenda, confirma a natureza religiosa do local. A existência e operação deste templo em Motza durante a monarquia judaíta, contemporâneo ao Primeiro Templo em Jerusalém, demonstra que não foi total a centralização do culto em Jerusalém, promovida pela reforma deuteronômica atribuída ao Rei Josias (descrita principalmente em 2 Reis 22-23).

Não foram encontradas inscrições no templo que nomeiem explicitamente as divindades veneradas. A arquitetura geral do templo é compatível com práticas de culto cananeias e israelitas, sugerindo que Yahweh, o Deus nacional de Judá, era a principal divindade cultuada, de forma análoga ao Templo de Jerusalém. Contudo, a presença significativa de figurinhas de barro, tanto antropomórficas (humanas, possivelmente representando uma deusa consorte como Asherah, ou outras figuras femininas associadas à fertilidade e ao culto) quanto zoomórficas (animais, incluindo notavelmente cavalos, cujo significado exato é debatido, podendo estar ligados a Yahweh, a um culto solar ou a outras crenças), indica que o culto no local refletia práticas religiosas populares coexistindo com o culto a Yahweh.

A presença de um centro de culto oficial e ativo fora de Jerusalém sugere que a vida religiosa de Judá era mais diversificada do que a focada na exclusividade do Templo de Jerusalém, poderia indicar, ou que a implementação da centralização foi um processo gradual ou menos absoluto do que tradicionalmente compreendido.

Terceiro uso da lei

O “terceiro uso da lei” (em latim, tertius usus legis) é uma doutrina distintiva da teologia luterana, que busca clarificar o papel da lei mosaica na vida dos cristãos, após a justificação pela fé. Este conceito, embora derivado da teologia de Martinho Lutero, foi desenvolvido e debatido, principalmente, por Filipe Melâncton e outros teólogos luteranos. A questão central reside em se a lei possui um papel normativo e diretivo para os crentes, já justificados pela graça de Deus.

A Reforma Protestante trouxe uma ênfase renovada na justificação sola fide (somente pela fé), contrastando com as doutrinas católicas romanas que enfatizavam as obras. Lutero, ao interpretar as epístolas de Paulo, especialmente Romanos e Gálatas, destacou que a lei revela o pecado e condena, mas não pode justificar. Para ele, a justificação é um ato gracioso de Deus, recebido pela fé em Cristo.

No entanto, a questão de como a lei se relaciona com os cristãos após a justificação gerou debates. Lutero identificou dois usos principais da lei:

  1. Uso Teológico ou Pedagógico (usus theologicus/paedagogicus): A lei revela o pecado e a necessidade de Cristo, conduzindo o pecador à fé.
  2. Uso Civil ou Político (usus civilis/politicus): A lei mantém a ordem social e restringe o mal na sociedade.

O terceiro uso, que se refere ao papel da lei como guia para a vida cristã, foi o ponto de discórdia.

Filipe Melâncton, colaborador de Lutero, defendeu que a lei continua a ter um papel instrutivo para os crentes. Em sua Loci Communes, ele argumentou que a lei serve como um guia para a santificação, mostrando aos cristãos como viver em conformidade com a vontade de Deus. Melâncton enfatizou que a lei, agora vista à luz do evangelho, não condena, mas instrui.

No entanto, muitos luteranos, conhecidos como “luteranos estritos” ou “antinomistas”, resistiram a essa ideia. Eles temiam que o terceiro uso da lei pudesse obscurecer a doutrina da justificação sola fide, sugerindo que as obras de obediência à lei contribuem para a salvação. Eles enfatizaram que a vida cristã é guiada pelo Espírito Santo, e não pela lei.

Melâncton e seus seguidores:

  • A lei, em sua essência, reflete a vontade de Deus e, portanto, é relevante para os cristãos.
  • A lei, agora vista através das lentes do evangelho, instrui os crentes em como expressar sua gratidão a Deus através de uma vida de obediência.
  • O Espírito Santo capacita os crentes a obedecerem à lei, não como uma forma de alcançar a salvação, mas como uma expressão de sua fé.
  • Luteranos estritos:
    • A lei, após a justificação, não tem papel normativo para os crentes.
    • A ênfase na lei pode levar ao legalismo e obscurecer a graça de Deus.
    • O Espírito Santo é o único guia para a vida cristã.

A Formula de Concórdia (1577), um documento confessional luterano, buscou resolver essa controvérsia. Afirmou que a lei, no terceiro uso, é útil para os crentes, mas com algumas qualificações importantes:

  • A lei não é um meio de justificação, mas um guia para a santificação.
  • A lei é vista à luz do evangelho, que revela a graça e o amor de Deus.
  • A obediência à lei é uma resposta à graça de Deus, e não uma condição para ela.
  • A lei revela a vontade de Deus, e como a natureza humana, mesmo justificada, ainda possui tendencias pecaminosas, ela serve para instruir e exortar os crentes.

A Formula de Concórdia procurou equilibrar a ênfase na graça e na lei, afirmando que ambas são essenciais para a vida cristã.

O debate sobre o terceiro uso da lei tem implicações significativas para a ética cristã e a vida em igreja:

  • Manter a doutrina da justificação sola fide como o fundamento da vida cristã.
  • Reconhecer a relevância da lei como uma expressão da vontade de Deus.
  • Evitar o legalismo, que busca alcançar a salvação através das obras.
  • Entender que a obediencia é uma resposta a graça divina, e não um meio de consegui-la.

BIBLIOGRAFIA

  • Kolb, Robert. Luther’s Treatise on Christian Liberty and Its Significance for the Church Today. Baker Academic.
  • Nestingen, James A. Martin Luther: A Life. Fortress Press.
  • Veith, Gene Edward. Law and Gospel: How to Read and Apply the Bible. Concordia Publishing House.
  • Wengert, Timothy J. Human Freedom, Sin, and Justification in Luther. Eerdmans.
  • Formula of Concord. Solid Declaration, Article VI, “On the Third Use of the Law.”

Howard Thurman

Howard Thurman (1899-1981) foi um teólogo, educador e ativista dos direitos civis americano,

A obra Thurman foi permeada por uma interpretação da Bíblia centrada na experiência dos marginalizados. Thurman, formado em teologia, utilizou a Bíblia como fonte de esperança e resistência, especialmente para a comunidade afro-americana. Seus livros, como “Jesus and the Disinherited” (1949), discorrem sobre os ensinamentos de Jesus para aqueles que sofrem opressão, conectando a fé cristã com a luta pela justiça social.

A teologia de Thurman enfatiza a dignidade intrínseca de cada ser humano e a necessidade de uma espiritualidade que impulsione a ação social. Seus escritos têm sido objeto de estudo em diversas áreas, incluindo teologia, ética e estudos afro-americanos.

A influência de Thurman transcende o contexto acadêmico, impactando líderes do movimento dos direitos civis, como Martin Luther King Jr., que o considerava um mentor. A sua abordagem bíblica, que destaca a relevância da mensagem de Jesus para os oprimidos, continua a inspirar debates sobre fé, justiça e transformação social.

Terafins

Os terafins (תְּרָפִים, θεραφίμ) são mencionados na Bíblia Hebraica como objetos associados a práticas religiosas e divinatórias. A palavra hebraica terafim é plural, mas pode se referir a um único objeto ou a um conjunto deles. A etimologia da palavra é incerta, com possíveis ligações a termos acádios e ugaríticos relacionados a deuses domésticos ou ancestrais.

A natureza exata dos terafins é debatida. Algumas interpretações sugerem que eram ídolos ou imagens representando divindades, enquanto outras os veem como objetos utilizados para comunicação com os mortos ou para adivinhação. A Bíblia não oferece uma descrição detalhada de sua aparência ou função, o que contribui para a variedade de interpretações.

Os terafins são mencionados em diversos contextos bíblicos.

Em Gênesis 31:19, 30, 34-35: Raquel furta os terafins de seu pai, Labão. Embora o texto não descreva sua aparência, o fato de Raquel escondê-los sob a sela de um camelo sugere que eram portáteis. Labão os chama de “meus deuses”, indicando seu significado religioso ou familiar.

Em Juízes, Juízes 17:5; 18:14, 17-18, 20: Mica, um efraimita, possui um santuário doméstico com um terafim, juntamente com um ídolo esculpido e um éfode. Isso associa os terafins a outros objetos de culto e sugere seu uso em práticas religiosas familiares.

Em 1 Samuel 19:13, 16: Mical, esposa de Davi, usa um terafim para enganar os enviados de Saul, colocando-o na cama e fingindo que era Davi doente. Essa passagem indica que o terafim tinha forma humana, possivelmente em tamanho natural. Também indica sua presença entre cultuadores de Yahweh.

Os profetas Isaías, Jeremias e Ezequiel condenam o uso de terafins, associando-os à idolatria e práticas religiosas proibidas. Esta perspectiva sugere que, em certos momentos da história de Israel, os terafins eram considerados incompatíveis com a adoração a Yahweh.

Ezequiel 21:21 menciona terafim no contexto da adivinhação de Nabucodonosor. O rei da Babilônia usa a adivinhação para decidir se deve atacar Jerusalém ou Rabá dos amonitas. Ele “consultou os terafins” como um de seus métodos de adivinhação, além de olhar para o fígado de animais sacrificados e usar flechas para adivinhação.

Isaías 2:6 menciona terafim também. O versículo afirma que Judá está cheio de “adivinhadores e adivinhos, como os filisteus”, e eles “fazem acordos com os filhos de estrangeiros”. A menção de adivinhação neste contexto, juntamente com a associação com práticas estrangeiras, vincula este versículo ao uso de terafim para fins de adivinhação.

Oseias 3:4: O profeta menciona os terafins em conjunto com o éfode e as imagens de escultura, condenando seu uso como parte da idolatria de Israel.

Zacarias 10:2: Os terafins são criticados por darem “oráculos vazios”, indicando seu uso em práticas de adivinhação.

Apesar da condenação profética, a presença de terafins em alguns relatos bíblicos indica que esses objetos faziam parte da religião popular em Israel, especialmente em contextos domésticos. A relação exata entre os terafins e a religião oficial de Israel é complexa e objeto de debate entre os estudiosos.

Estudos arqueológicos revelaram a existência de objetos que podem ser relacionados aos terafins, como pequenas estatuetas e placas votivas encontradas em sítios arqueológicos do antigo Oriente Próximo.

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