Estela de Sefira

As Estelas de Sefira, também conhecida como Inscrições de Sefira, é um tratado escrito em pedra entre dois pequenos reis, Matti’el e Barga’yah por volta de 750 a.C. em aramaico antigo. É um dos mais antigos textos escritos nessa língua e oferece uma valiosa visão sobre a cultura e a política da região na época.

As estelas Sfire ou Sefire são três estelas de basalto do século VIII aC contendo inscrições em aramaico descobertas perto de Al-Safirah (“Sfire”) perto de Alepo na Síria.

O texto contém uma série de maldições e juramentos entre as duas partes, envolvendo uma disputa territorial. O texto descreve a transferência de terras de Barga’yah para Matti’el, com a condição de que ele cuide do terreno e pague uma quantia anual em grãos. Caso contrário, uma série de maldições seriam invocadas, incluindo pragas semelhantes às pragas do Egito.

O artefato é objeto de debate e controvérsia. Há possibilidade de que o texto pode ter sido falsificado ou alterado ao longo dos séculos, enquanto outros apontam que a linguagem e o estilo do texto são consistentes com a época em que foi escrito.

História de Ahiqar

A História de Ahiqar (também Ahikar, Aquicar) é uma narrativa do antigo Oriente Próximo. É um conto da corte sobre um chanceler assírio chamado Ahiqar, que serviu sob os reis de Nínive. A história está escrita em aramaico e acredita-se que tenha sido composta no século V aC.

Na narrativa, Ahiqar é falsamente acusado de conspirar contra o rei e é condenado à morte. No entanto, ele é salvo por seu sobrinho, Nadan, que revela o verdadeiro conspirador. Ahiqar então se torna o regente da Assíria e serve como um sábio conselheiro do rei. A história também inclui uma série de ditos sábios atribuídos a Ahiqar, que são semelhantes aos encontrados no livro bíblico de Provérbios.

A história de Ahiqar foi popular, sendo traduzida para vários idiomas, incluindo siríaco, árabe e grego. Uma versão aramaica sobrevive entre os papiros de Elefantina. A versão grega da história, conhecida como narrativa Ahiqar, foi particularmente influente e amplamente lida no período helenístico. A história também teve um impacto na literatura judaica e pode ter influenciado o livro de Tobias.

No período medieval, a história de Ahiqar continuou a ser popular no mundo islâmico, onde era conhecida como a “História de Luqman”. Também foi adaptado para uma peça pelo poeta persa do século X Ferdowsi, que o incluiu em seu poema épico, o Shahnameh.

Estela de Kuttamuwa

A Estela de Kuttamuwa é uma inscrição funerária em aramaico datada do século VIII a.C..

A lápide foi encontrada em Sam’al, Turquia, em 2008, em uma expedição da Universidade de Chicago. Pesa cerca de 350 kg e mede 100 cm por 60 cm.

A inscrição, em primeira pessoa, pede para quem possuir o local faça oferendas da vinha e sacrifícios em benefício da “alma”. É a mais antiga atestação em contexto semítico levantino da alma como continuidade além da morte.

Uma interpretação é que a estela infere que o corpo de Kuttamuwa tenha sido cremano na crença de que sua alma passou para a estela. A cremação é característica das culturas indo-européias, mas incomum entre os semitas.

Uma reconstrução do texto seria:

“Eu sou Kuttamuwa, servo de Panamuwa, que encomendou para mim [esta] estela enquanto ainda vivia. Coloquei-a em uma câmara eterna e estabeleci um banquete [nesta] câmara: um touro para Hadad Qarpatalli, um carneiro para NGD/R ṢWD/RN [?], um carneiro para Šamš, um carneiro para Hadad dos Vinhedos, um carneiro para Kubaba , e um carneiro para minha alma que nesta estela. De agora em diante, qualquer um dos meus filhos ou dos filhos de qualquer um [outro] que vier a possuir esta câmara, que ele pegue do melhor desta vinha uma – oferenda ano a ano . Ele também deverá realizar o abate [prescrito acima] em minha alma e deve conceder para mim um corte da perna.”

Targum

Targum (plural targumim ou targuns, em aramaico significa “interpretação” ou “tradução”) são traduções da Bíblia Hebraica ao aramaico feitas na Antiguidade Tardia.

Os targuns talvez sejam, junto da Septuaginta grega, as traduções mais antigas da Bíblia. São provavelmente originárias das traduções orais feitas pelos intérpretes da Lei após o exílio, quando o hebraico se tornava uma língua estrangeira para o povo de Israel (cf. Ne 8:8). Tipicamente, o texto da Escrituras Hebraicas era lido nas sinagogas e seguido por uma interpretação em aramaico. Embora a língua-alvo fosse o aramaico, há indícios que o grego também fosse usado, como as versões de Símaco e Áquila da Septuaginta. Com o tempo, essas traduções orais foram ganhando formas padronizadas e depois registradas por escrito.

Existem targuns para todos os livros da Bíblia Hebraica, exceto Daniel e Esdras-Neemias, os quais foram parcialmente escritos em aramaico.

Os targuns mais conhecidos são:

  • Tg. Onq. Targum de Onkelos do Pentateuco: quase literal, composto durante o século I ou II d.C. na Judeia e revisado na Babilônia.
  • Tg. Neof Targum Neofiti. Manuscrito do século XVI redescoberto na Itália no século XX.
  • Tg. Neb. Targum de Jônatas ben Uziel dos Profetas: composto no século II d.C.
  • Tg. Ps.J. Targum Pseudo-Jônatas fundiu a tradução de Onkelos, os acréscimos dos Targums palestinianos e uma quantidade ainda maior de material próprio. Contém o Pentateuco.
  • Tg. Ket. Targum dos Escritos
  • Tg. sim I Targum Yerusalmi I
  • Tg. sim II Targum Yerusalmi II
  • Frg. Tg. Targum Fragmentado
  • Sam. Tg. Targum Samaritano
  • Sim. Tg. Targum iemenita
  • Tg. Isa Targum de Isaías
  • Tg. Ester I, II Primeiro ou Segundo Targum de Ester
  • Pal. Tgs. Fragmentos dos Targumim Palestinianos (Targum Jerusalém): escrito na Galileia no início do século III dC, tradução literal com consideráveis materiais adicionais.
  • 11QtgJob Targum de Jó da Caverna 11 de Qumran Cave dos Manuscritos do Mar Morto.

Os targumim tendem a parafrasear livremente o texto hebraico, sendo fonte importante para a história da recepção bíblica na Antiguidade Tardia. Uma marca são as leituras alegóricas preferidas aos antropomorfismos para evitar idolatria. Utilizaram versões hebraicas hoje perdidas.

Os Targum Onkelos e Jônatas aparecem nas edições impressas rabínicas da Tanakh (Escrituras Hebraicas ou Antigo Testamento). Ainda são utilizados no culto sinagogal entre judeus iemenitas.

Várias citações no Novo Testamento são do tipo targúmico. Elucida, por exemplo, a cristologia de João, para quem a Palavra (Verbo, Logos) é o Filho de Deus (Jo 1:1-3, 14; 3:16), leitura que ocorre no Targum Neofiti de Gênesis 1:1, com o Filho como o agente de criação. Outros exemplos são 1 Pe 1:10–11; Mt 13:17; Lc 10:24 aparentam citar uma versão do Targum Palestiniano de Gn 49:1, 8–12; Nm 24:3, 15. Mc 4:12 cita uma versão targúmica de Is 6:9,10, similar ao Targum de Jônatas. Mt 7:2 cita algo similar ao Targum de Jerusalém Gn 38:26.

BIBLIOGRAFIA

Flesher, Paul V. M., and Bruce Chilton. The Targums: A Critical Introduction. Waco, TX: Baylor University Press, 2011.

McNamara, Martin. “Targumim.” In The Oxford Encyclopedia of the Books of the Bible. Vol. 2. Edited by M. D. Coogan, 341–356. New York and Oxford: Oxford University Press, 2011.

McNamara, Martin. Targum and New Testament: Collected Essays. Vol. 279. Mohr Siebeck, 2011.

https://www.sefaria.org/texts/Tanakh/Targum

Mamon

Mamon (em grego μαμωνᾶς e em hebraico מָמוֹן) as riquezas ou sua personificação. O nome aparece em textos originalmente hebraicos (Sirácida 31:8; Pirkei Avot 2:12) ou de forma não traduzida em textos gregos (novamente Sirácida 31:8; Mt 6:24; Lc 16.9, 11, 13). Em aramaico aparece no Targum Jonathan Oseias 5:11; 1 Sm 8:3; 12:3b. Klein vê uma possível associação com אמן, confiança, firmeza.

Nas partes citadas de Mateus e Lucas, Jesus refere-se a Mamon como o apego idólatra às riquezas mundanas.

Sikkan

Tell Fekheriy é um sítio arqueológico na bacia do rio Khabur, no norte da Síria, identificado como o sítio de Sikkan, atestado desde cerca de 2000 aC.

Sikkan fazia parte do reino arameu de Bit Bahiani no início do primeiro milênio aC. Na área, vários montes (tells) podem ser encontrados nas proximidades: Tell Fekheriye, Ra’s al-‘Ayn e Tell Halaf, local da cidade arameu e neo-assírio de Guzana.

É o local da descoberta da inscrição bilíngue de Tell Fekheriye ou inscrição bilíngue de Hadad-yith’i. (KAI 309). A estátua de Adad-it’i (Hadd-yith’i), rei de Guzana e Sikan, no dialeto assírio do acadiano e em aramaico, apresenta muitos paralelos léxicos e temáticos com textos bíblicos. Mas é sua importância é por ser a mais antiga inscrição aramaica e mais antiga atestação textual da língua aramaica (anteriormente, só são registrados nomes ou palavras com “aramismos” em outros idiomas). A estátua constitui uma figura de pé vestindo uma túnica esculpida em basalto, com 2 metros de altura. É datada de cerca de 850-825 a.C.

A Adade, o cuidador do canal do céu e da terra, que faz chover em abundância, que dá pastagens bem regadas às pessoas de todas as cidades e que fornece porções de oferendas aos deuses, seus irmãos, cuidador dos rios que faz florescer o mundo inteiro, o deus misericordioso a quem é doce orar, aquele que reside na cidade de Guzana.

Hadad-yith’i, o governador da terra Guzana, filho de Sassu-nuri, governador da terra Guzana, dedicou e deu (esta estátua) ao grande senhor, seu senhor, por sua boa saúde e longos dias, por fazer seus números de anos, pelo bem-estar de sua casa, seus descendentes e seu povo, para remover as doenças de seu corpo, e que minhas orações sejam ouvidas e que minhas palavras sejam recebidas favoravelmente.

Que quem o encontrar em mau estado no futuro, renove-a e coloque meu nome nela. Quem remover meu nome e colocar o seu, que Adade, o herói, seja seu juiz.

Estátua de Hadad-yith’i, o governador de Guzana, Sikani e Zarani. Para a continuação de seu trono e o alongamento de sua região, para que suas palavras sejam agradáveis ​​a deuses e homens, ele fez esta estátua melhor do que antes. Diante de Adade que reside na cidade Sikani, senhor do rio Habur, ele ergueu sua estátua.

Quem remover meu nome dos objetos no templo de Adade, meu senhor, que meu senhor Adade não aceite suas oferendas de comida e bebida, que minha senhora Shala não aceite suas oferendas de comida e bebida.

Que semeie, mas não colha.

Que ele possa semear mil (medidas), mas colher apenas uma.

Que cem ovelhas não satisfaçam um cordeiro da primavera.

Que cem vacas não satisfaçam um bezerro.

Que cem mulheres não satisfaçam uma criança.

Que cem padeiros não encham um forno!

Que os respigadores respigam dos poços de lixo.

Que a doença, a peste e a insônia não desapareçam de sua terra!

BIBLIOGRAFIA

Crouch, Carly L., Jeremy M. Hutton. Jeremy M.  Translating empire: Tell Fekheriyeh, deuteronomy, and the Akkadian treaty tradition. Vol. 135. Mohr Siebeck, 2019.

Dušek, Jan; Mynářová, Jana. Tell Fekheriye Inscription. In Jan Dušek, Jan Roskovec (Orgs.): The Process of Authority, The Dynamics in Transmission and Receptionof Canonical Texts. Gruyter: Berlin/Boston, 2016.

Greenfield, Jonas; Shaffer, Aaron (1983). “Notes on the Akkadian-Aramaic Bilingual Statue from Tell Fekherye”Iraq. 45 (1): 109–16. doi:10.2307/4200185JSTOR 4200185.

Inscrição de Bukān

Inscrição aramaica descoberta em Bukān, Irã (KAI 320), a leste do império neo-assírio.

Nas 13 linhas que restaram da rocha de 80 x 150 cm contém um aviso e maldições contra quem removesse o monumento. Apresenta paralelos sintático, léxico e temático com outras fórmulas aramaicas e assíricas de maldição bem como Deuteronômio 28, Levítico e Jeremias.

BIBLIOGRAFIA

Ephʿal, Israel. The Bukān Aramaic Inscription: Historical Considerations. Israel Exploration Journal 49 (1–2).

Sokoloff, Michael. The Old Aramaic Inscription from Bukān. A Revised Interpretation. Israel Exploration Journal 49, 1999.

Apócrifo de Gênesis

Literatura parabíblica que expande o livro de Gênesis. Sobrevive em fragmentos dos manuscritos aramaicos descobertos no Mar Morto (1QapGen ou 1Q20).

Datado de entre 250 aC e 50 dC, o Apócrifo de Gênesis reconta as narrativas de Lameque, Enoque, Noé e Abraão ao estilo de midrash. Notoriamente, expande a narrativa de Lameque. Menciona um “livro perdido”, o Livro das palavras de Noé.

O Apócrifo de Gênesis tenta retratar os patriarcas com um tom moralmente melhor e dar uma interpretação teológica de suas vidas.

O livro é uma fonte importante para o aramaico palestiniano médio e é um dos mais antigos testemunhos que cita o livro de Gênesis.

O Apócrifo do Gênesis tem cerca de 17 colunas, o que corresponde a cerca de 20 páginas na tradução para as línguas ocidentais. O manuscrito está incompleto, com algumas seções faltando, tornando difícil determinar o tamanho exato.

BIBLIOGRAFIA

García Martínez, Florentino; Tigchelaar, Eibert J. C. . The Dead Sea Scrolls: Study Edition. 2 vols. Grand Rapids: Eerdmans, 1997.

Fitzmyer, J. A. The Genesis Apocryphon of Qumran Cave I: A Commentary. 2d rev. ed.; Rome: Biblical Institute Press, 1971.

Reeves, J.C. Translation Of 1Q Genesis Apocryphon II-XXII.

Steiner, Richard C. “The Heading of the Book of the Words of Noah On a Fragment of the Genesis Apocryphon: New Light On a” Lost” Work1.” Dead Sea Discoveries 2.1 (1995): 66-71.

Stuckenbruck, Loren T. “The Lamech Narrative in the Genesis Apocryphon (1QapGen) and Birth of Noah (4QEnochc ar): A Tradition-Historical Study.” Aramaica Qumranica. Brill, 2010. 253-275.

Línguas bíblicas

A maior parte da Bíblia foi escrita em hebraico, alguns trechos em aramaico e o Novo Testamento em grego koiné. As duas primeiras línguas descendem do Proto-Semítico, um conjunto de dialetos que teria sido falado entre 3750 e 2800 a.C., constituindo um ramo do Proto-Afro-Asiático, outro proto-língua que foi falada entre 16.000 e 10.000 a.C., provavelmente no noroeste da África. Por sua vez, o grego descende do Proto-Indo-europeu, o qual foi falado por pastoralistas que viviam próximo ao Mar Negro entre 4500 e 3500 a.C. Outras línguas indo-europeias com relevância bíblica são o hitita (provavelmente os mesmos heteus bíblicos) e o persa.