Afeque

Afeque, em hebraico אפק, nome de vários locais na geografia bíblica.

  1. Cidade na planície de Sarom por cananeia conquistada por Israel na área de Efraim. (Josué 12:18). Local onde os israelitas perderam a arca para os filisteus (1 Samuel 4:1; 29:1). Na era romana foi reconstruída por Herodes, o Grande, com o nome de Antipátride (cf. Atos 23:31). Atual Ras el-‘Ain.
  2. Cidade cananeia de local incerto na região fenícia não capturada pela guerra de conquista dos israelitas (Josué 13:4).
  3. Cidade cananeia dada à tribo de Aser (Josué 19:30), mas que não foi conquistada (Juízes 1:31).
  4. Cidade transjordânia ou arameia, local de dois conflitos entre Israel e a Síria. Nesse local o rei sírio Ben-Hadade fugiu de Acabe, mas um muro ruiu sobre seu exército (1 Reis 20:26-30). Depois, Eliseu profetizou a derrota dos sírios por Joás neste local (2 Reis 13:17). Talvez seja o atual sítio de Fiq, próximo ao mar da Galileia.

BIBLIOGRAFIA

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Trono da Misericórdia

O Trono da Misericórdia (em hebraico כַּפֹּרֶת kaporet e em grego ἱλαστήριον hilastērion) ou propiciatório era a tampa de ouro colocada na Arca da Aliança, com dois querubins batidos nas pontas. Ali nesse espaço de propiciação, Deus se manifestava e as petições e purificações realizadas.

De acordo com Êxodo 25:19; 37:6, a tampa era feita de ouro puro. Ela se ajustava à arca abaixo dela, combinando a mesma largura e largura com 2,5 côvados de comprimento e 1,5 côvados de largura. Dois querubins de ouro foram colocados em cada extremidade da tampa, um de frente para o outro e para o propiciatório, com as asas abertas para envolver o propiciatório (Êxodo 25:18–21). Os querubins formaram um assento para Deus (1 Samuel 4:4). A arca e o propiciatório foram guardados dentro do Santo dos Santos, o santuário mais interno do templo.

O termo grego hilasterion pode significar tanto “propiciação” (agradar ou apaziguar) ou “expiação” (purificação) ou algo “expiatório”. Seria uma oferta votiva dada para obter favor de um deus. Contudo, nunca se refere a uma vítima animal sacrificada. Mas no grego bíblico da Seputaginta e do Novo Testamento hilasterion tinha o significado especial da tampa do propiciatório cobrindo a Arca da Aliança.

Notoriamente, Paulo invoca essa figura do Trono da Misericórdia em Rm 3:25, o qual em uma tradução informada pela semântica seria: “Deus o expôs publicamente [Jesus] em sua morte como o Trono da Misericórdia [hilastērion] acessível por meio da fé. Isso foi para demonstrar sua justiça, porque Deus em sua tolerância havia desconsiderados os pecados passados”.

Com esse sentido de propiciatório, o termo aparece também em Hebreus 9:5: “E sobre a [arca], os querubins da glória, que faziam sombra no Trono da Misericórdia [hilastērion]; das quais coisas não falaremos agora particularmente.”‘

BIBLIOGRAFIA

Bailey, D. P.“Jesus As the Mercy Seat: The Semantics and Theology of Paul’s Use of Hilasterion in Romans 3:25”. Dissertação doutoral na University of Cambridge, 1999.

Wallner, Karl Josef. Sühne: Suche nach dem Sinn des Kreuzes, Media Maria Verlag, 2015.

Arca da aliança

Arca da Aliança (אֲרוֹן בְּרִית, aron berith) era um objeto sagrado central na religião israelita. Consistia em uma caixa de madeira revestida de ouro que guardava as tábuas da lei. A Arca desempenhava funções práticas e simbólicas, sendo utilizada em rituais e associada a milagres. Para os israelitas, ela representava o trono de Yahweh, simbolizando Sua presença na Terra.A arca uma caixa retangular feita durante o êxodo que continha uma cópia dos Dez Mandamentos. Ficava guardada no Santo dos Santos do Tabernáculo e mais tarde do Templo de Salomão.

A Arca da Aliança também foi referida como a Arca de Deus ou Yahweh, Arca do Testemunho (Js 4:16), Arca da Aliança do Senhor (1 Sm 4:3-5), ou a Arca (Números 10:35).

A palavra hebraica usada para a arca significa “baú” (cf. 2 Reis 12: 9-10) ou “caixão” (cf. Gn 50:26). Uma palavra hebraica diferente é usada para a arca construída por Noé (Gn 6:14).

O termo hebraico para “arca” (ארון, ‘rwn) designa um baú ou caixão. No entanto, a Bíblia diferencia a Arca da Aliança de um baú comum. Embora o nome mais frequente seja “Arca da Aliança”, ela também é chamada de “Arca de Deus”, “Arca do poder”, “Arca sagrada” e “Arca do Testemunho” (ou simplesmente “o Testemunho”).

A Arca nas Escrituras

Pentateuco: A Arca da Aliança é mencionada pela primeira vez no livro de Êxodo, apresentada como o local de onde Yahweh falava com Moisés, como um rei se dirige a um conselheiro de seu trono. Detalhes de sua construção são encontrados em Êxodo 25, 35 e 37. Construída em madeira de acácia e revestida de ouro, a Arca possuía argolas para a inserção de varas que permitiam seu transporte. A tampa, chamada de propiciatório, era feita de ouro maciço e adornada com dois querubins. As dimensões da Arca eram de dois cúbitos e meio de comprimento, um cúbito e meio de largura e um cúbito e meio de altura. Embora a Bíblia não mencione seu peso, estimativas indicam que poderia chegar a 130 kg.

A Arca, assim como os demais utensílios do tabernáculo, foi construída com materiais doados pelo povo a mando de Yahweh. Bezalel, possivelmente, a construiu ou supervisionou sua construção. Em Números 10:33-35, a Arca aparece sem introdução ou explicação, guiando os israelitas em suas jornadas. Noth sugere que o livro de Números originalmente continha um relato da construção da Arca, posteriormente incorporado ao Êxodo durante a formação do Pentateuco. Em Deuteronômio 10 e 31, a Arca é mencionada como o local de armazenamento das tábuas da lei. Fretheim argumenta que Deuteronômio a apresenta de forma desmitificada, enquanto Wilson defende que o texto ainda sugere a presença divina associada à Arca.

Narrativas da Conquista: A Arca tem papel de destaque na travessia do rio Jordão em Josué 3. Os sacerdotes que carregavam a Arca fizeram as águas pararem, permitindo a passagem dos israelitas para Canaã. Doze pedras foram erguidas como memorial da travessia. Rösel sugere que o autor de Josué combinou duas tradições distintas, utilizando o milagre no Jordão para explicar a presença das pedras em Gilgal. Na queda de Jericó (Josué 6), a Arca tem papel menos proeminente. Sete sacerdotes carregavam sete trombetas de chifres de carneiro diante da Arca durante a marcha ao redor da cidade. Rösel argumenta que o toque das trombetas pelos sacerdotes causou o colapso das muralhas. Em Josué 8, a Arca representa a presença de Deus durante a escrita da lei no Monte Ebal.

Livros de Samuel: Em 1 Samuel 4:7-8, os filisteus identificam a Arca como “deuses” que causaram doenças e pestilência no Egito. Personificações de pragas em outras passagens bíblicas e a lista de deuses ugaríticos podem elucidar essa identificação. Os filisteus podem ter visto os querubins como representações de divindades como Resheph e Deber. A captura da Arca pelos filisteus é narrada em 1 Samuel 5:1. A Arca causa a queda da estátua de Dagom e traz pragas sobre os filisteus, que a devolvem aos israelitas com oferendas. Em 2 Samuel 6, Davi ordena que a Arca seja trazida de Quiriate-Jearim. Uzá morre ao tocar na Arca, e Davi a deixa aos cuidados de Obede-Edom. Ao testemunhar as bênçãos recebidas por Obede-Edom, Davi leva a Arca para Jerusalém. O relato da procissão da Arca em 2 Samuel 6 encontra paralelo em rituais religiosos babilônicos. 1 Crônicas 13 apresenta um relato paralelo da recuperação da Arca, reinterpretando o fracasso de Saul como rei por não tê-la buscado em Siló. 1 Crônicas 15 e 16 detalham a transferência da Arca da casa de Obede-Edom para a cidade de Davi.

A teoria da “Narrativa da Arca”, proposta por Wellhausen em 1878, sugeria que 1 Samuel 4-6 e 2 Samuel 6 pertenciam à mesma fonte. Essa teoria, porém, tem sido questionada devido a discrepâncias entre os relatos.

Após a conclusão do Templo de Salomão: Em 1 Reis 8, Salomão transfere a Arca da cidade de Davi para o templo recém-construído. Sweeney argumenta que esse relato conecta as ações de Salomão à atividade de Davi com a Arca, registrada na História Deuteronomista. 2 Crônicas 5 oferece um relato paralelo, incluindo uma teofania na qual a glória de Yahweh preenche o templo. 2 Crônicas 35:3 indica que a Arca permaneceu no templo.

Salmos e Profetas: A única menção à Arca nos Salmos ocorre no Salmo 132, que aborda seu transporte para Jerusalém. Em Jeremias 3, há a profecia de um futuro sem a Arca, devido ao domínio universal de Deus.

O Destino da Arca

O destino da Arca da Aliança é desconhecido. Descrições bíblicas do segundo templo e obras pós-exílicas não a mencionam. Jeremias 3:16 faz referência a um tempo em que a Arca não será mais mencionada, o que pode indicar seu desaparecimento ou um futuro em que ela se torna irrelevante. O saque do templo por Nabucodonosor antes do exílio babilônico é frequentemente associado ao desaparecimento da Arca, embora os relatos da invasão babilônica não mencionem seu destino.

Outros eventos, como a pilhagem do templo pelo rei Joás e a conquista de Jerusalém pelo faraó Sisaque, também podem estar relacionados ao desaparecimento da Arca.

É provável que a Arca tenha sido destruída ou saqueada durante a invasão babilônica. A ausência da Arca na lista de tesouros do templo levados por Nabucodonosor em Esdras 1:7-11 sugere que ela não foi levada para a Babilônia. Obras não bíblicas, como ensinamentos rabínicos e tradições samaritanas e etíopes, oferecem lendas sobre o destino da Arca.

Função no Antigo Oriente Próximo

A Arca da Aliança possui paralelos com objetos e costumes religiosos do antigo Oriente Próximo.

Arca como Trono: A presença dos querubins flanqueando o propiciatório encontra paralelos na iconografia egípcia e mesopotâmica, onde criaturas compostas guardam lugares sagrados. Versículos bíblicos posteriores descrevem Yahweh sentado sobre os querubins, com os pés apoiados na Arca. Representações de tronos reais semelhantes foram encontradas em Canaã e na Fenícia.

Arca como Depósito: 1 Reis 8:9 indica que a Arca continha apenas as tábuas da lei, mas Hebreus 9:4 menciona a presença de um ômer de maná e do cajado de Arão. O uso da Arca como depósito de objetos sagrados encontra paralelos no antigo Oriente Próximo, onde documentos importantes eram guardados em santuários.

Arca na Guerra: O uso da Arca em batalha pelos israelitas reflete a prática comum no antigo Oriente Próximo de carregar imagens ou representações divinas para obter apoio. Registros assírios descrevem deuses acompanhando exércitos e a captura de imagens divinas de inimigos. A devolução de deuses capturados como demonstração de poder contrasta com a devolução da Arca pelos filisteus devido ao seu poder.