A Arca da Aliança (אֲרוֹן בְּרִית, aron berith) era um objeto sagrado central na religião israelita. Consistia em uma caixa de madeira revestida de ouro que guardava as tábuas da lei. A Arca desempenhava funções práticas e simbólicas, sendo utilizada em rituais e associada a milagres. Para os israelitas, ela representava o trono de Yahweh, simbolizando Sua presença na Terra.A arca uma caixa retangular feita durante o êxodo que continha uma cópia dos Dez Mandamentos. Ficava guardada no Santo dos Santos do Tabernáculo e mais tarde do Templo de Salomão.
A Arca da Aliança também foi referida como a Arca de Deus ou Yahweh, Arca do Testemunho (Js 4:16), Arca da Aliança do Senhor (1 Sm 4:3-5), ou a Arca (Números 10:35).
A palavra hebraica usada para a arca significa “baú” (cf. 2 Reis 12: 9-10) ou “caixão” (cf. Gn 50:26). Uma palavra hebraica diferente é usada para a arca construída por Noé (Gn 6:14).
O termo hebraico para “arca” (ארון, ‘rwn) designa um baú ou caixão. No entanto, a Bíblia diferencia a Arca da Aliança de um baú comum. Embora o nome mais frequente seja “Arca da Aliança”, ela também é chamada de “Arca de Deus”, “Arca do poder”, “Arca sagrada” e “Arca do Testemunho” (ou simplesmente “o Testemunho”).
A Arca nas Escrituras
Pentateuco: A Arca da Aliança é mencionada pela primeira vez no livro de Êxodo, apresentada como o local de onde Yahweh falava com Moisés, como um rei se dirige a um conselheiro de seu trono. Detalhes de sua construção são encontrados em Êxodo 25, 35 e 37. Construída em madeira de acácia e revestida de ouro, a Arca possuía argolas para a inserção de varas que permitiam seu transporte. A tampa, chamada de propiciatório, era feita de ouro maciço e adornada com dois querubins. As dimensões da Arca eram de dois cúbitos e meio de comprimento, um cúbito e meio de largura e um cúbito e meio de altura. Embora a Bíblia não mencione seu peso, estimativas indicam que poderia chegar a 130 kg.
A Arca, assim como os demais utensílios do tabernáculo, foi construída com materiais doados pelo povo a mando de Yahweh. Bezalel, possivelmente, a construiu ou supervisionou sua construção. Em Números 10:33-35, a Arca aparece sem introdução ou explicação, guiando os israelitas em suas jornadas. Noth sugere que o livro de Números originalmente continha um relato da construção da Arca, posteriormente incorporado ao Êxodo durante a formação do Pentateuco. Em Deuteronômio 10 e 31, a Arca é mencionada como o local de armazenamento das tábuas da lei. Fretheim argumenta que Deuteronômio a apresenta de forma desmitificada, enquanto Wilson defende que o texto ainda sugere a presença divina associada à Arca.
Narrativas da Conquista: A Arca tem papel de destaque na travessia do rio Jordão em Josué 3. Os sacerdotes que carregavam a Arca fizeram as águas pararem, permitindo a passagem dos israelitas para Canaã. Doze pedras foram erguidas como memorial da travessia. Rösel sugere que o autor de Josué combinou duas tradições distintas, utilizando o milagre no Jordão para explicar a presença das pedras em Gilgal. Na queda de Jericó (Josué 6), a Arca tem papel menos proeminente. Sete sacerdotes carregavam sete trombetas de chifres de carneiro diante da Arca durante a marcha ao redor da cidade. Rösel argumenta que o toque das trombetas pelos sacerdotes causou o colapso das muralhas. Em Josué 8, a Arca representa a presença de Deus durante a escrita da lei no Monte Ebal.
Livros de Samuel: Em 1 Samuel 4:7-8, os filisteus identificam a Arca como “deuses” que causaram doenças e pestilência no Egito. Personificações de pragas em outras passagens bíblicas e a lista de deuses ugaríticos podem elucidar essa identificação. Os filisteus podem ter visto os querubins como representações de divindades como Resheph e Deber. A captura da Arca pelos filisteus é narrada em 1 Samuel 5:1. A Arca causa a queda da estátua de Dagom e traz pragas sobre os filisteus, que a devolvem aos israelitas com oferendas. Em 2 Samuel 6, Davi ordena que a Arca seja trazida de Quiriate-Jearim. Uzá morre ao tocar na Arca, e Davi a deixa aos cuidados de Obede-Edom. Ao testemunhar as bênçãos recebidas por Obede-Edom, Davi leva a Arca para Jerusalém. O relato da procissão da Arca em 2 Samuel 6 encontra paralelo em rituais religiosos babilônicos. 1 Crônicas 13 apresenta um relato paralelo da recuperação da Arca, reinterpretando o fracasso de Saul como rei por não tê-la buscado em Siló. 1 Crônicas 15 e 16 detalham a transferência da Arca da casa de Obede-Edom para a cidade de Davi.
A teoria da “Narrativa da Arca”, proposta por Wellhausen em 1878, sugeria que 1 Samuel 4-6 e 2 Samuel 6 pertenciam à mesma fonte. Essa teoria, porém, tem sido questionada devido a discrepâncias entre os relatos.
Após a conclusão do Templo de Salomão: Em 1 Reis 8, Salomão transfere a Arca da cidade de Davi para o templo recém-construído. Sweeney argumenta que esse relato conecta as ações de Salomão à atividade de Davi com a Arca, registrada na História Deuteronomista. 2 Crônicas 5 oferece um relato paralelo, incluindo uma teofania na qual a glória de Yahweh preenche o templo. 2 Crônicas 35:3 indica que a Arca permaneceu no templo.
Salmos e Profetas: A única menção à Arca nos Salmos ocorre no Salmo 132, que aborda seu transporte para Jerusalém. Em Jeremias 3, há a profecia de um futuro sem a Arca, devido ao domínio universal de Deus.
O Destino da Arca
O destino da Arca da Aliança é desconhecido. Descrições bíblicas do segundo templo e obras pós-exílicas não a mencionam. Jeremias 3:16 faz referência a um tempo em que a Arca não será mais mencionada, o que pode indicar seu desaparecimento ou um futuro em que ela se torna irrelevante. O saque do templo por Nabucodonosor antes do exílio babilônico é frequentemente associado ao desaparecimento da Arca, embora os relatos da invasão babilônica não mencionem seu destino.
Outros eventos, como a pilhagem do templo pelo rei Joás e a conquista de Jerusalém pelo faraó Sisaque, também podem estar relacionados ao desaparecimento da Arca.
É provável que a Arca tenha sido destruída ou saqueada durante a invasão babilônica. A ausência da Arca na lista de tesouros do templo levados por Nabucodonosor em Esdras 1:7-11 sugere que ela não foi levada para a Babilônia. Obras não bíblicas, como ensinamentos rabínicos e tradições samaritanas e etíopes, oferecem lendas sobre o destino da Arca.
Função no Antigo Oriente Próximo
A Arca da Aliança possui paralelos com objetos e costumes religiosos do antigo Oriente Próximo.
Arca como Trono: A presença dos querubins flanqueando o propiciatório encontra paralelos na iconografia egípcia e mesopotâmica, onde criaturas compostas guardam lugares sagrados. Versículos bíblicos posteriores descrevem Yahweh sentado sobre os querubins, com os pés apoiados na Arca. Representações de tronos reais semelhantes foram encontradas em Canaã e na Fenícia.
Arca como Depósito: 1 Reis 8:9 indica que a Arca continha apenas as tábuas da lei, mas Hebreus 9:4 menciona a presença de um ômer de maná e do cajado de Arão. O uso da Arca como depósito de objetos sagrados encontra paralelos no antigo Oriente Próximo, onde documentos importantes eram guardados em santuários.
Arca na Guerra: O uso da Arca em batalha pelos israelitas reflete a prática comum no antigo Oriente Próximo de carregar imagens ou representações divinas para obter apoio. Registros assírios descrevem deuses acompanhando exércitos e a captura de imagens divinas de inimigos. A devolução de deuses capturados como demonstração de poder contrasta com a devolução da Arca pelos filisteus devido ao seu poder.