Pastor de Hermas

O Pastor de Hermas é uma novela autobiográfica e apocalíptica em linguagem alegórica, parte da literatura cristã do século II. Discorre sobre arrependimento, penitência e perdão de pecados após a conversão e batismo.

Hermas, do qual o pouco que sabemos vem de seu próprio livro, foi um escravo liberto, depois enriqueceu por meios nebulosos, por fim perdeu tudo durante uma perseguição. O Cânon Muratoriano (c. 180) diz que Hermas seria irmão do bispo de Roma, Pio I (?-155). A obra é ambientada em Roma e poderia ter sido composta entre os anos 100 e 160 d.C.

São cinco visões de Hermas. Na quinta visão apareceu um anjo vestido de pastor, daí o nome do livro. Registra 12 mandatos (mandamentos morais) e 10 similitudes (parábolas).

O livro foi lido como “Escrituras” por diversos autores do século II (Irineu, Clemente de Alexandria, Orígenes e Tertuliano). Porém, havia reservas sobre sua canonicidade, conforme atestado por Tertuliano e o Cânon Muratoriano. Jerônimo relata que em sua época o livro não era tão conhecido na Igreja ocidental. Integra o Codex Sinaiticus (século IV) além de manuscritos em grego, latim e etíope e fragmentos em copta, ge’ez, georgiano e persa, este último encontrado em Turfan, na China ocidental.

Crítica confessional

O termo crítica confessional aplica-se a duas abordagens de exegese homônimas, porém não relacionadas, além de o termo servir para leituras teológicas sem critérios exegéticos.

A primeira abordagem refere-se à Interpretação Teológica das Escrituras. Desde a distinção proposta por Johann Philipp Gabler entre teologia e estudos bíblicos, a primeira disciplina ficou relegada em fases posteriores da exegese, notoriamente na atualização ou aplicação das Escrituras ou totalmente não considerada. Por outro lado, a reflexão teológica passou a considerar as ciências bíblicas como anciliar da teologia. No entanto, um movimento heterogêneo de exegetas desde dos anos 1950 discutem como conciliar ambas disciplinas.

O segundo significado reflete a utilização de análises literárias voltadas para autobiografias, confissões pessoais, autoetnografia, testimonios para compreender os textos bíblicos.

Ambas abordagens são importantes por transparecer o quanto as interpretações são carregadas de perspectivas pessoais ou pressupostos teológicos. Adicionalmente, legitimam leituras que sirvam para professar experiências de fé, tanto pessoais quanto alinhadas às tradições das confissões históricas.

Vale ressaltar que, por vezes, o termo de interpretação confessional implica em um criticismo às práticas eisegéticas de muitos teólogos que imprimem no textos bíblicos significados alinhados às suas ideologias e tradições teológicas. Nessa linhagem, o termo leitura confessional ou leitura teológica pressupõe uma interpretação sem consciência de critérios exegéticos.

BIBLIOGRAFIA

Allison, Gregg R. “Theological Interpretation of Scripture: An Introduction and Preliminary Evaluation,” Southern BaptistJournal oJ Theology 14/2 (2010), 28-36.

Blocher, Henri. La Bible au microscope: Exégèse et théologie biblique. Vaux-sur-Seine: Edifac, 2006.

Fowl, Stephen E. (ed.), The Theological Interpretation of Scripture: Classic and Contemporary Readings. Blackwell Readings in Modern Theology: Cambridge: Blackwell, 1997.

Green, Joel B.  Practicing Theological Interpretation: Engaging Biblical Texts for Faith and Formation. Grand Rapids: Baker, 2011.

Hays, Richard B. “Reading the Bible with eyes of faith: The practice of theological exegesis.” Journal of Theological Interpretation 1.1 (2007): 5-21.

Kitzberger, Ingrid R. Autobiographical Biblical Criticism: Between Text and Self. BRILL, 2019.

Rosenthal, M.L. The Poet’s Art. New York: Norton, 1989.

Trimm, Charlie. “Evangelicals, Theology, and Biblical Interpretation: Reflections on the Theological Interpretation of Scripture.” Bulletin for Biblical Research 20.3 (2010): 311-330.

Treier, Daniel. Introducing Theological Interpretation oj Scripture: Recovering a Christian Practice. Grand Rapids, MI: Baker, 2008.

Topping, Richard R. Revelation, Scripture and Church: Theological Hermeneutic Thought of James Barr, Paul Ricoeur, and Hans Frei. Aldershot: Ashgate, 2007.

Wolters, Al. “Confessional Criticism and the Night Visions of Zechariah.” Renewing Biblical Interpretation 1 (2000): 90.

Vanhoozer, Kevin (ed.), Dictionary of Theological Interpretation of the Bible Grand Rapids, MI: Baker, 2005.