Codex de Leningrado

O Codex de Leningrado, o manuscrito completo mais antigo da Bíblia Hebraica datado de cerca de 1008 d.C., é a base para a maioria das edições críticas modernas e um testemunho relevante da tradição do Texto Massorético. Atualmente, ele se encontra na Biblioteca Nacional da Rússia em São Petersburgo.

O códice, escrito em pergaminho com tinta marrom escura, contém os 24 livros da Bíblia Hebraica em escrita quadrada hebraica, com três colunas por página, vocalização e notas massoréticas. As decorações são limitadas, incluindo a micrografia. Acredita-se que tenha sido copiado no Cairo, Egito, e pertencido a uma comunidade caraíta no Cairo Antigo até ser adquirido por Abraham Firkovich no século XIX e transferido para a Biblioteca Pública Imperial em São Petersburgo.

O Codex de Leningrado preserva o Texto Massorético, incluindo a vocalização e a acentuação, e serve como uma fonte primária para comparar diferentes manuscritos bíblicos, reconstruindo de um texto original. É inestimável para estudos linguísticos e históricos. Registra a evolução do hebraico e as práticas dos escribas. Embora acessível a estudiosos na Biblioteca Nacional da Rússia, o códice foi totalmente digitalizado, facilitando o acesso e a pesquisa.

Comparado a outros códices importantes como o Codex de Aleppo, mais antigo, porém incompleto, e o Codex Cairensis, que contém os Profetas e os Escritos, o Codex de Leningrado se destaca por sua integridade e influência. O Codex de Aleppo, datado do século X d.C., contém o texto consonantal sem vocalização ou acentuação massorética, enquanto o Codex Cairensis, do século IX d.C., apresenta um sistema de vocalização diferente do de Leningrado.

Codex Cairensis

O Codex Cairensis, Codex Prophetarum Cairensis, Códice Cairo dos Profetas é um manuscrito hebraico contendo o texto completo dos Nevi’im (Profetas) da Bíblia Hebraica. Seu colofão é do ano 895.

Contém os livros de Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel e o livro dos Doze Profetas Menores. É composto por 575 páginas, incluindo 13 páginas decorativas.

Foi presenteado à comunidade caraíta em Jerusalém, mas pilhado pelo saque dos cruzados em 1099. Mais tarde a comunidade caraíta no Cairo recuperou-o. Quando os caraítas deixaram o Egito, depositaram o códice em 1983 na Universidade Hebraica de Jerusalém.

O Códice dos Profetas do Cairo exibe variações na ortografia, gramática, vocabulário e até mesmo no conteúdo textual, indicando que não havia uma única versão oficial da Bíblia hebraica durante este período.

Os biblistas usaram essa versão para reconstruir a história da Bíblia hebraica e entender como o texto evoluiu ao longo do tempo. Eles também usaram esses manuscritos para comparar e contrastar com outros manuscritos bíblicos de diferentes regiões e períodos de tempo, fornecendo informações sobre a transmissão da Bíblia hebraica ao longo da história.

Massorá

Massorá parva (pequena) e massorá magna (grande) são notas marginais feitas pelos massoretas, copistas eruditos judeus medievais, no texto bíblico hebraico.

Por volta de 600 d.C., os massoretas desenvolveram um sistema de vogais e marcas de acento para registrar com precisão a pronúncia e o significado das palavras bíblicas.

Os massoretas também marcaram situações contra erros de cópia e correções de erros existentes. Os massoretas empregavam técnicas e metodologias das anotações críticas alexandrinas e do cristianismo, similar a Orígenes, Jerônimo e do Livro siríaco de Palavras e Leituras (Smohe w-qroyoto).

A massorá parva são notas detalhadas sobre variantes de escrita (ortografias), informações sobre a frequência de determinadas palavras e até mesmo orientações sobre onde consideravam necessária uma leitura diferente do texto consonantal transmitido.

A massorá magna são listas de passagens inteiras do texto bíblico com alguma variante ortográfica característica, uma sequência particular de palavras ou outra peculiaridade. Aparecem no topo e no pé das páginas dos manuscritos massoréticos.

Massorético, Texto

O Texto Massorético é uma família textual da Bíblia Hebraica editada meticulosamente por um grupo de copistas medievais chamados massoretas.

Quando o hebraico deixava de ser uma língua falada, os massoretas codificaram regras de cópia e desenvolveram sinais diacríticos para permitir a pronúncia das vogais. Também anotavam questões textuais, variantes, grafias estranhas, gramática incomum, discrepâncias, sinais para cantilação, além de dois comentários de referências cruzadas, a massorá. Também providenciaram listas com contagens de palavras, letras e linhas para uma edição padronizada, compilando extensas listas léxicas.

Esta obra monumental foi iniciada por volta do século VI d.C e concluída no século X nas academias talmúdicas da Babilônia e da Palestina. Duas escolas principais (ou famílias) de massoretas, ben Naftali e ben Asher, criaram versões do Textos Massoréticos ligeiramente diferentes.

Entre os massoretas destacam-se as cinco gerações da família Asher, uma família aparentemente de tendências caraítas de Tiberíades. Essa dinastia de copista iniciou-se com Asher, o Ancião (VIII d.C.) , vieram Nehemias Ben Asher, Asher Ben Nehemias, Moses Ben Asher e, finalmente, Aaron Ben Moisés Ben Asher, (X d.C.). Aaron compilou a gramática “Sefer Dikdukei ha-Te’amim”. A versão de Ben Asher prevaleceu e forma a base dos textos bíblicos recebidos como padrão.

O texto base é o Proto-Massorético. Esse texto hipotético consiste de consoantes e elementos para-textuais que aparentemente estavam estabilizando-se na época dos Manuscritos do Mar Morto. O EgLev é o primeiro exemplar a corresponder totalmente às formas consonantais encontradas nos Textos Massoréticos.

Mesmo entre os massoretas havia diferentes edições e leituras da Bíblia. Por exemplo, o códice dos Profetas, copiado em Tiberíades em 897 por Moisés Ben Asher e pertencente à sinagoga caraíta no Cairo, contém apenas um terço de vocalização e a cantilação similar ao texto produzido de seu filho Aaron Ben Moisés, cujo método é a base do moderno Texto Massorético. No entanto, mais da metade das leituras concordam com Moisés ben David ben Naftali, de outra família massorética tiberiana.

Os massoretas adotaram o formato códice para fazer cópias-matrizes e, a partir delas, copiar os rolos para uso litúrgico. Ben Asher compilou o Códice de Aleppo. Ben Naftali provavelmente também tenha feito um texto padrão, embora não tenha sobrevivido.

A fonte mais famosa do Texto Massorético é o célebre Códice de Aleppo (c. 925 d.C.). Possui uma história peculiar de sobrevivência, pois perdeu-se de quase todo o Pentateuco. O manuscrito completo mais antigo é o Códice de Leningrado B 19A (codex L) de 1009 a.C.

As edições impressas da Bíblia Hebraica seguem uma abordagem diplomática, ou seja, partem de um manuscrito real e anota-se as divergências e leituras alternativas. (Em contraposição ao modelo de edição eclética adotada no Novo Testamento). No caso do Texto Massorético, o Códice de Leningrado serve de base para a Biblia Hebraica Kittel, Biblia Hebraica Stuttgartensia e a Biblia Hebraica Quinta. Já o Códice de Aleppo é o texto base para a Hebrew Bible University Project.

Já na era da imprensa, a segunda edição da Grande Bíblia Rabínica (1525), editada em Veneza por Daniel Bomberg e Jacob ben Hayyim ibn Adonias, tornou-se a mais popular. Trata-se de um texto eclético. Esta foi a base para a tradução das versões dos Reformadores. Outras edições do Texto Massorético, notavelmente a Poliglota Complutense e a versão latina e hebraica de Pagninus, também serviram de fontes para as traduções da era da Reforma.

BIBLIOGRAFIA

Khan, Geoffrey. “The Role of the Karaites in the Transmission of the Hebrew Bible and Their Practice of Transcribing It into Arabic Script.” Intellectual History of the Islamicate World 8.2-3 (2020): 233-264.

Francisco, Edson de F. . Edições Impressas da Bíblia Hebraica: do Século XV até Hoje. Caminhando, v. 11, p. 9-36, 2003.

Francisco, Edson de F. Manual da Bíblia hebraica: introdução ao texto massorético: guia introdutório para a Bíblia Hebraica Stuttgartensia. Edições Vida Nova, 2005.

Friedman, Matti. The Aleppo Codex: In Pursuit of One of the World’s Most Coveted, Sacred, and Mysterious Books. Algonquin Books, 2013.

Tawil, Hayim, and Bernard Schneider. Crown of Aleppo: The Mystery of the Oldest Hebrew Bible Codex. Jewish Publication Society, 2010.

Tov, Emanuel. Textual Criticism of the Hebrew Bible: Revised and Expanded. Fourth Edition. ‎Fortress Press, 2022.