Declaração de Barmen

A Declaração de Barmen, redigida em 1934, foi um manifesto teológico de resistência ao nazismo, elaborado por cristãos alemães, liderados por Karl Barth, que se opunham à ideologia do “cristianismo alemão”. Essa declaração reafirmava a soberania de Cristo sobre a Igreja e rejeitava qualquer tentativa de subordinação ao Estado ou ideologia política.

O documento condenava a interferência do regime nazista nos assuntos da igreja, a manipulação da teologia para fins políticos e a perseguição aos judeus. A Declaração de Barmen enfatizava que a Igreja deve sua lealdade somente a Jesus Cristo e que sua missão é proclamar o Evangelho, independentemente das pressões do governo.

A Declaração de Barmen inspirou a formação da Igreja Confessante, um movimento de resistência dentro da Igreja Protestante Alemã, que se opôs ativamente ao nazismo. Esse documento histórico continua sendo uma referência para a reflexão teológica sobre a relação entre Igreja e Estado, e um testemunho da importância da fidelidade a Cristo em tempos de perseguição e opressão.

Württemberg Confession

A Confissão de Württemberg, conhecida como Confessio Wirtembergica, é um documento teológico luterano elaborado em 1551 por Johannes Brenz ou Brentius, reformador no Ducado de Württemberg, no sudoeste da Alemanha, a pedido do Duque Christopher de Württemberg. Seria aprovada por comissões da Suábia, Estrasburgo, e outras localidades luteranas do sul da Alemanha. Apresentada ao Concílio de Trento em 1552, a confissão busca articular a fé luterana em diálogo com as questões debatidas durante a Reforma Protestante.

A confissão afirma a autoridade das Escrituras como a única fonte infalível de doutrina e prática cristã. As Escrituras são interpretadas à luz da compreensão histórica da igreja, especialmente conforme expressa nos credos ecumênicos. Nesse contexto, rejeita-se qualquer tradição ou ensino que contradiga a autoridade bíblica.

A doutrina da justificação pela fé ocupa posição central, enfatizando que a salvação é um dom da graça de Deus, recebido unicamente pela fé em Jesus Cristo. Obras humanas ou méritos não contribuem para a salvação, em contraste com as doutrinas defendidas pela Igreja Católica Romana na época.

A confissão descreve a igreja como uma comunhão espiritual de crentes unidos em Cristo, rejeitando a estrutura hierárquica e o poder político da igreja romana. O foco é a comunidade de fé, onde o Evangelho é pregado e os sacramentos são administrados em conformidade com os ensinos das Escrituras.

Diversos ensinamentos e práticas católicas são repudiados, incluindo a ideia da Missa como sacrifício, a doutrina do purgatório, a invocação de santos e a valorização da vida monástica como um estado espiritual superior. Cada uma dessas rejeições é fundamentada na crença de que tais práticas carecem de respaldo bíblico ou obscurecem a obra redentora de Cristo.

Sobre os sacramentos, a Confissão de Württemberg enfatiza o Batismo e a Ceia do Senhor como meios de graça essenciais para a vida cristã. No entanto, rejeita a doutrina da transubstanciação, ao mesmo tempo que sustenta a presença real de Cristo na Ceia, discernida espiritualmente por meio da fé.

A confissão também aborda o papel da autoridade civil, reconhecendo sua legitimidade para manter a ordem e a justiça. Contudo, insiste na separação entre igreja e estado, refutando as reivindicações de poder temporal da Igreja Católica Romana.

A Confissão de Württemberg contém 35 artigos que ampliam os temas presentes na Confissão de Augsburgo e refletem as tensões teológicas e eclesiológicas do século XVI. Reafirma os pilares centrais do luteranismo enquanto responde ao diálogo teológico entre luteranos e católicos no Concílio de Trento. Contudo, o Livro de Concórdia absorveu os temas e substituiu essa confissão como instrumento normativo.

Afraates

Afraates, Afraate ou Aphrahat (c. 280–c. 345) foi um teólogo cristão siríaco vindo do Império Sassânida, talves de origens iranianas.

Pouco se sabe sobre a sua infância, mas provavelmente teve sua proeminência durante um período de intensa perseguição aos cristãos sob o domínio da dinastia sassânida. Teria sido um ascético e celibatário.

As contribuições notáveis de Afraates para a literatura cristã consistem principalmente em sua série de vinte e três exposições ou homílias, conhecidas como Demonstrações, que são formas sistemáticas de exposição teológica.

É provável que as Demonstrações tenham sido produzidas mais tarde em sua vida, durante uma época de convulsões e perseguições religiosas. As primeiras dez homilias enfocam o ascetismo, abordando temas como fé, jejum, oração, arrependimento e humildade. A interpretação dos textos bíblicos revela o uso do Diatessaron e uma hermenêutica similar ao judaísmo talmúdico da Babilônia.

Sua cristologia diverge dos debates contemporâneos sobre a natureza de Cristo no Império Romano. Não tinha sido influenciado pelos concílios, como o de Niceia, nem por conceitos filosóficos gregos. A cristologia de Afraates baseia-se nas narrativas do Antigo Testamento, particularmente na história de Adão. Ele vê Adão e Jesus como seres perfeitos criados diretamente por Deus, com Jesus incorporando a forma humana ideal através de sua morada divina.

As percepções teológicas de Afraates estendem-se a temas escatológicos, com seus escritos oferecendo um relato detalhado da descida de Cristo ao submundo. As manifestações também se envolvem em discursos polêmicos, especialmente contra os críticos judeus do cristianismo, abordando temas como dias de festa, circuncisão, a virgindade de Maria e a divindade de Jesus.

Credo de Afraates

Na Demonstrações, Homília 1.9 há um sumário da fé que Afraates pretende demonstrar. Essa reconstituição feita por Connolly atesta um credo pessoal conforme as crenças das igrejas cristãs siríacas. É um testemunho notável da ortodoxia existente fora da esfera mediterrânea e uma tradição independente da teologia nicênica.

  1. Eu creio em Deus, Senhor de tudo,
    que criou os céus e
    a terra e os mares e tudo
    o que neles há;
  2. [E em nosso Senhor Jesus Cristo,]
    [o Filho de Deus,]
    Deus, Filho de Deus,
    Rei, Filho do Rei,
    Luz da Luz
    (Filho, Conselheiro, e Guia,
    e Caminho, e Salvador, e Pastor, e Reunidor, e Porta,
    e Pérola, e Lâmpada,)
    e Primogênito de todas as criaturas,
  3. Que veio e vestiu um corpo
    em Maria a Virgem (da
    semente da casa de Davi, do
    Espírito Santo),
    e assumiu nossa humanidade,
  4. e sofreu, ou, e foi crucificado,
  5. desceu ao lugar dos
    mortos, ou, ao Sheol,
    e viveu novamente, e ressuscitou ao
    terceiro dia,
  6. e ascendeu às alturas, ou,
    ao céu,
    e sentou-se à direita de
    Seu Pai,
  7. e Ele é o Juiz dos mortos
    e dos vivos, que está sentado no
    trono;
  8. [E no Espírito Santo:]
  9. [E eu creio] na ressurreição dos
    mortos;
  10. [e] no mistério do Batismo
    (da remissão dos pecados)

BIBLIOGRAFIA

Connolly, Richard Hugh. “The Early Syriac Creed.” Zeitschrift für die Neutestamentliche Wissenschaft und die Kunde der Älteren Kirche 7.Jahresband (1906): 202-223.

Neusner, J. Aphrahat and Judaism: The Christian Jewish Argument in Fourth-Century Iran. Leiden, 1971. Pp. 130–131.

Pass, H. L. “The Creed of Aphraates.” Journal of Theological Studies 9 (1908): 267–284.

Petersen, W. L. “The Christology of Aphrahat, the Persian Sage: an Excursus on the 17th Demonstration.” Vigiliae Christianae 46 (1992): 241–255.

Pierre, M.-J. Aphraate le sage persan: Les exposés. SC 349. Paris, 1988. SC 359. Paris, 1989. Pp. 144–145, 156–162.

Ruzer, S., and A. Kofsky. “Chapter One. Aphrahat: A Witness Of Pre-Nicene Syrian Theology.” In Syriac Idiosyncrasies, 7-39. Brill, 2010.

Schwen, P. Afrahat: Seine Person und sein Verständnis des Christentums. Ein Beitrag zur Geschichte der Kirche in Osten. Berlin, 1907. Pp. 56–59.

Wright, W. The Homilies of Aphraates, the Persian Sage. London, 1869.

Murray, R. “Hellenistic-Jewish Rhetoric in Aphrahat.” In R. Lavenant (ed.), III Symposium Syriacum: Les contacts du monde syriaque avec les autres cultures. Rome, 1983. Pp. 79–85.

Declaração de Princípios da Igreja Cristã Livre na Itália

Em 1870 a Igreja Cristã Livre na Itália adotou essa seguinte declaração de Princípios. Esses artigos de fé refletem a teologia do risveglio e uma busca pela unidade entre evangélicos italianos. Certamente constituem um predecessor dos artigos de fé de Niagara Falls de 1927, com o qual compartilha muito de sua estrutura e terminologia.

Credos e confissões de fé

Credos e confissões de fé são declarações de doutrinas expressas por comunidades cristãs para diversos propósitos.

Credos são declarações universais que resumem as crenças básicas da fé cristã. São normalmente curtos e concentram-se nos princípios fundamentais, como a crença em um Deus, na divindade de Jesus Cristo e na Trindade. Originalmente, os credos eram declarações de fé pessoais. Os credos são frequentemente usados para ensinar aos novos convertidos os fundamentos da fé e para unir todos os cristãos na sua profissão comum de fidelidade a Deus. Também aparecem em elementos litúrgicos como recitação antes da Ceia ou no batismo. Exemplos de credos incluem o Credo dos Apóstolos e o Credo Niceno.

Confissões de fé são mais detalhadas e específicas. Originaram-se dos artigos de fé, as explicações escolásticas de cada implicação teológica derivada das proposições dos credos. Também, na Idade Média as confissões de fé passaram a ser exigidas para esclarecer posicionamentos de candidatos a certas posições do clero, ou como posições de réus em processos eclesiásticos, além de explicitar pontos comuns para discussões acadêmicas e disputas teológicas. A partir da Reforma, as confissões de fé passaram a ser escritos por grupos ou denominações específicas para abordar as crenças e preocupações distintas de sua comunidade. As confissões muitas vezes tratam de doutrinas secundárias, como origem do pecado ou detalhes escatólogicos, ou tratam de explicações para práticas e condutas, como o batismo e a santa ceia. Fornecem uma explicação mais aprofundada da teologia no que se refere à vida cotidiana e à identidade denominacional. Exemplos de confissões incluem a Fórmula de Concórdia (Luterana), a Confissão Belga (Reformada) e os Vinte e Cinco Artigos de Religião (Metodista). Visto serem mais detalhadas, não são incorporadas ao culto, mas aparecem nas classes de instruções de membros ou candidatos ao ministério.

A discussão do papel dos credos e confissões são tratadas pelo ramo da teologia sistemática chamada de teologia credal, enquanto a teologia dogmática cuida do conteúdo dessas declarações de fé.

Várias tradições cristãs rejeitaram o uso de credos ou confissões por motivos diversos como a adesão estrita às Escrituras, a ênfase na fé vivida, desconfiança de seus empregos normativos e disciplinares. Essa postura, chamada de não-credalismo ou anti-confessionalismo, não implica na inexistência de um conteúdo de fé comum ao grupo, mas contra sua formalização.